Anais: Interações pedo-geomorfológicas
RELAÇÃO PEDO-GEOMORFOLÓGICA NUMA SECÇÃO DE VERTENTE NO DISTRITO DE PAINS, MUNICIPIO DE SANTA MARIA/RS
AUTORES
Facco, R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA) ; Brasil do Nascimento, V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA) ; Kumpfer Werlang, M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA) ; Aita, R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA)
RESUMO
A representação da cobertura pedológica permite estudar os processos
biogeodinâmicos, o sentido e a evolução da pedogênese. Permite a reconstituir o
mecanismo responsável pela diferenciação pedológica. O objetivo foi relacionar a
conformação da vertente com o manto pedológico. Para tanto foram determinadas
propriedades físicas num segmento da vertente. O resultado reforçou a relação
solo-paisagem e a tese que a vertente evolui a partir da influência dos processos
morfogenéticos nesse manto.
PALAVRAS CHAVES
cobertura pedológica; conformação da vertente; relação solo-paisagem.
ABSTRACT
The representation of pedological cover allows to study the biogeodinâmicos
processes, the meaning and evolution of pedogenesis. Allows to reconstruct the
mechanism responsible for the pedological differentiation. The objective was to
relate the conformation of the slope with the pedological mantle. In order to
perform certain physical properties of a segment of the slope. The result
reinforced the relation soil-landscape and the thesis that the strand evolves from
the influence of morphogenetic processes in this mantle.
KEYWORDS
pedological cover; conformation of the slope; relation soil-landscape.
INTRODUÇÃO
A distribuição dos solos em uma paisagem pode ser entendida levando-se
em conta a distribuição a organização morfológica dos horizontes pedogenéticos
do solo. A descrição detalhada dos perfis de solo permite o estabelecimento de
um modelo espacial do comportamento dos volumes pedológicos ao longo de uma
encosta. De acordo com Lucas (1989) esta abordagem facilita a aplicação prática
desses conhecimentos em várias áreas do conhecimento, entre elas a Geografia.
Um estudo da cobertura pedológica deve considerar que esta possui uma
distribuição espacial em todos os sentidos. Conforme Jenny, (1941) e Marcos,
(1979) o conceito de perfil de solo traz consigo a idéia de anisotropia
vertical. Esta deve ser superada no sentido de que as variações na cobertura
pedológica ocorrem tanto na direção vertical como na horizontal. Somente assim é
possível aprender a natureza do solo em todas as amplitudes das variações. O
perfil vertical é uma visão incompleta do solo, pois as variações laterais não
são observadas. Portanto, ao considerar-se os volumes pedológicos é possível
caracterizar-se o tipo de passagem entre os horizontes incluindo o grau de
progressividade das transformações. É essencial para a compreensão da dinâmica,
principalmente quanto a circulação da água e soluções do solo. O relevo atua
como fator de formação do solo e determinadas propriedades dos solos variam ao
longo das vertentes nos volumes pedológicos que são diferenciados dos horizontes
pois o grau de detalhamento para classificação dos mesmos não foi utilizado
nesse trabalho.
O presente trabalho tem por objetivo relacionar a conformação da vertente com o
manto pedológico na tentativa de caracterizar a dinâmica da vertente a partir
das propriedades físicas dos volumes pedológicos numa secção da vertente.
MATERIAL E MÉTODOS
A área está localizada na Latitude de 29°43’06” S e Longitude de 53°08’58” W no
município de Santa Maria-RS, referente ao relevo, reflete a condição da sua
posição situada numa área de transição geomorfológica entre os Planaltos e
Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná e a Depressão Periférica Sul-
riograndense, onde a atuação dos agentes erosivos morfogenéticos definiram as
formas de relevo que estão associadas à diversidade litoestrutural da área
abrangida pelo Município.
No que se refere ao clima, de acordo com a classificação de Köppen apud Ayoade
(1986), a região apresenta domínio climático do tipo Cfa, ou seja, temperado
chuvoso e quente, onde se registram temperaturas entre –3ºC e 18ºC nos meses
mais frios e nos meses mais quentes temperaturas superiores a 22ºC, sem nenhuma
estação seca.
A partir da toposseqüência selecionada foi descrito o perfil do solo na base da
vertente. Nesse perfil foram identificados quatro volumes pedológicos. Desses
volumes, foram coletadas amostras de solo deformadas e indeformadas para a
realização de ensaios em laboratório. As coletas das amostras foram feitas sob
condições atmosféricas de tempo bom e com o solo apresentando condições de
umidade que permitissem a coleta de amostras indeformadas. As coletas foram
realizadas no outono de 2011. Os ensaios foram realizados no laboratório de
sedimentologia do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa
Maria cujos parâmetros físicos determinados foram a distribuição do tamanho de
partículas (análise granulométrica), densidade de partículas ( ), densidade
aparente ( ), densidade aparente natural ( nat), condutividade hidráulica (K),
índice de vazios (e), índice de vazios máximo (e máx), índice de vazios mínimo
(e min), Grau de compacidade (GC), porosidade (n).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para uma melhor observação do comportamento do perfil da vertente, foi
elaborada uma topossequência (figura 1). Nela foi constatado um desnível
vertical de 8 metros e uma distância horizontal, desde o divisor topográfico até
o curso d’água junto a base da vertente, de 360 metros. Obteve-se assim a
granulometria dos volumes pedológicos e na tabela 1 os atributos físicos dos
mesmos.
Figura 1: Aspecto geral da toposseqüência da vertente selecionada para o estudo.
O P2 indica o local onde foram descritos os volumes pedológicos e coletadas as
amostras.
Fonte: Trabalho de campo realizado em outubro de 2011.
Análise granulométrica dos volumes pedológicos da base(P2) da toposseqüência :
Volume A, profundidade de 0-47cm, Areia grossa(2-0,2mm)=11,71, Areia fina(0,20-
0,05mm)=21,29, Silte(0,05-0,002mm)=35,06 e Argila(<0,002mm)=31,92, Volume AB,
profundidade de 47-85cm, Areia grossa=14,12, Areia fina=22,92, Silte=37,45 e
Argila=25,49, Volume B, profundidade de 85-164cm, Areia grossa=12,61, Areia
fina=17,95, Silte=30,15 e Argila=39,27, Volume BC, profundidade de 164 +cm,
Areia grossa=11,50, Areia fina=17,45, Silte=37,48 e Argila=33,54.
Tabela 1: Atributos físicos dos volumes pedológicos da base(P2) da
toposseqüência caracterizada por uma vertente convexa-côncava, tomada como
representativa das vertentes que ocorrem no Distrito de Pains - Município de
Santa Maria-RS.
Fonte: Ensaios de laboratório.
e Max=índice máximo de vazios; = densidade aparente; e=índice de vazios;
n=porosidade total; e min= índice mínimo de vazios; GC%= grau de compacidade;
= densidade de partículas; nat= densidade aparente natural; K= condutividade
hidráulica saturada.
A topossequência, quando observada em relação a forma do perfil, apresenta-se
com perfil convexo-côncavo. A maior convexidade na porção superior e a maior
concavidade na porção inferior da vertente relacionam-se ao comportamento do
manto pedológico. Na seção convexa o volume B apresenta maior espessura, maior
quantidade na fração argila, baixo coeficiente de infiltração e alta
plasticidade. O volume BC apresenta o mais baixo coeficiente de infiltração,
caracterizando uma condição de solo hidromórfico nesse segmento da vertente.
figura 1
Topossequência da vertente em estudo
Tabela 1
Atributos físicos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que há relação da conformação da vertente com o manto pedológico. O
resultado obtido reforça a relação solo-paisagem e a tese de que a vertente evolui
a partir da influência dos processos morfogenéticos nesse manto. As
características morfológicas indicam a presença de um Gleissolo evidenciado pelo
hídromorfismo junto a base da vertente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
AYOADE, J. Introdução a Climatologia dos Trópicos. São Paulo: Difel. 1986.
JENNY, H. Factors of soil formation. New York: McGraw-Hill. 1941.
LUCAS,V. Systemes pedologiques en Amazonie bresilien ne-equilibres, desequilibres et transformations. Poitiers, 1989. 158p. Tese Doutorado -Université de Poitiers, 1989.
MARCOS, Z.Z. Ensaio sobre epistemologia pedológica. USP, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. 1979. (Tese Livre Docência).