Anais: Interações pedo-geomorfológicas
Aplicação da Metodologia ZERMOS no Diagnóstico das Zonas de Risco de Movimento de Solo na bacia do Córrego Gurupá – Floraí – PR
AUTORES
Camolezi, B.A. (UEM) ; Serikawa, V.S. (UFSCAR)
RESUMO
A intensa ocupação humana associada à suscetibilidade natural dos solos do
Noroeste do Paraná ocasionaram uma série de problemas de ordem ambiental e
socioeconômico. Desta forma, este trabalho teve o objetivo de aplicar uma
adaptação da metodologia ZERMOS (Zonas Expostas à Riscos de Movimento de Solo) na
bacia do córrego Gurupá, no município de Floraí, Estado do Paraná. Para isso foram
classificadas 4 zonas e propostas algumas medidas preventivas para o uso e
ocupação do solo desta área.
PALAVRAS CHAVES
morfopedologia; processos erosivos; zermos
ABSTRACT
The intense human occupation associated with the natural susceptibility of soils
in the Northwest of Paraná led to a series of environmental and socioeconomic
issues. Thus, this study aimed to apply an adaptation of the methodology ZERMOS
(Zones Exposed to Risk of Ground Movement) in the Gurupá creek basin, in the city
of Floraí, State of Parana. To this were classified four zones and some preventive
measures were proposed for use and occupation of this area.
KEYWORDS
morphopedology; erosive processes; zermos
INTRODUÇÃO
As mudanças no uso e ocupação do solo no Noroeste paranaense trouxeram uma série
de problemas ambientais para essa região. Esse crescimento ocorreu, muitas
vezes, de forma desordenada, sendo que os pequenos municípios dessa região não
possuem equipes técnicas disponíveis para realização de diagnósticos e
prognósticos (SOUZA et al. 2008).
Segundo Santos (2003), o Instituto Agronômico do Paraná (IAP) vem estudando o
Noroeste do Estado desde 1970 e buscando alternativas para recuperação dos
solos, a preservação de recursos naturais e o crescimento da atividade local,
podem-se citar as contribuições acadêmicas de Nóbrega et al. (1992), Cunha
(1996), Nakashima (1999), Gasparetto (1999), Souza et al. (2008) dentre outras,
que procuraram compreender a gênese e evolução do meio físico do Noroeste do
Estado do Paraná, associando essas questões ao desenvolvimento dos processos
erosivos.
O município de Floraí tem sua economia baseada essencialmente na agricultura e,
desta forma, os problemas erosivos acabam trazendo grandes problemas
principalmente aos pequenos agricultores que muitas vezes acabam arrendando suas
terras para grandes usinas sucroalcooleiras (ANDRADE, 2005). A área de estudo
possui uma área de aproximadamente 9 km² e seu alto curso está localizado nas
proximidades da área urbana de Floraí. Ocorrem na bacia, arenitos finos, de
deposição eólica, da Formação Caiuá sobrepostos aos basaltos da Formação Serra
Geral.
Este trabalho teve o objetivo de aplicar a cartografia geotécnica apresentada
por Nóbrega et al. (1992), na bacia hidrográfica do córrego Gurupá, município de
Floraí no Noroeste do Paraná. Assim, o trabalho apresenta áreas com problemas de
uso e ocupação do solo rural e urbano, classificadas em zona de instabilidade
declarada, zona de instabilidade potencial, zona de estabilidade precária e zona
estável.
MATERIAL E MÉTODOS
Para e a elaboração deste trabalho foi realizada revisão bibliográfica sobre o
tema, elaboração de produtos cartográficos básicos a partir de cartas
topográficas e de fotointerpretação. Foram realizados dois trabalhos de campo
para aferição dos resultados e levantamento de informações sobre a pedologia e a
morfologia das vertentes.
O mapeamento geotécnico é um importante processo de investigação, com
finalidades bem específicas de: (a) levantar dados; (b) caracterizar; (c)
classificar e; (d) avaliar e analisar os atributos do meio físico. Apresentando
através de produtos cartográficos, tabelas, quadros, gráficos e textos, dados
quantitativo e/ou qualitativo (GOMES, 2002).
A metodologia utilizada foi aquela proposta por Nóbrega et al. (1992 e 2003). Os
autores apresentaram uma adaptação da cartografia ZERMOS (Zonas Expostas aos
Riscos de Movimentos de Solo), empregada na França a partir de 1975, que tem o
objetivo de fornecer subsídios para os planos de ocupação dos solos,
principalmente quanto à existência de riscos naturais que possam comprometer as
construções e outros modos de ocupação (HUMBERT, 1977 apud NÓBREGA et al.,
2003).
O objetivo do diagnóstico é levantar informações sobre a Geologia, pedologia,
rede de drenagem e formas do relevo, produzindo assim uma síntese dos processos
que comprometem ou podem comprometer o uso de determinada área, definindo zonas
de instabilidade ou estabilidade. As classes apresentadas para essa síntese são:
zona de instabilidade declarada, zona de instabilidade potencial, zona de
estabilidade precária, zona estabilizada com cobertura vegetal e zona estável.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os solos formados nessa bacia são: Latossolo Vermelho, Argissolo Vermelho,
Neossolo Quartzarênico, Nitossolo Vermelho e Gleissolo, apresentados na figura
1.
Os latossolos ocorrem em uma pequena área, nas altas vertentes, onde a
declividade é baixa, possuem textura areno-argilosa, apresenta uma boa
fertilidade e podem ser corrigidos com poucos insumos agrícolas. Essas áreas
foram consideradas estáveis, sendo passíveis de ocupação humana.
Os argissolos ocorrem na alta à média vertente, onde as declividades são
superiores a 5%, possuem textura areno-argilosa e apresentam mais problemas
erosivos do que os latossolos.
Os Neossolos Quartzarênicos possuem estrutura fraca e problemas relativos com a
drenagem, em função da proximidade do lençol freático com a superfície. São
muito suscetíveis à erosão, apresentando baixo teor de matéria orgânico e baixa
capacidade de agregação de partículas, não sendo indicados para o cultivo.
Os nitossolos ocorrem no baixo curso, onde ocorrem os basaltos da Formação Serra
Geral. Apresentam textura argilosa e são menos susceptíveis à erosão do que os
Argissolos. Os gleissolos ocorrem em pequenas áreas próximas ao canal fluvial,
onde a oscilação do lençol freático condiciona solos muito argilosos, com
ressurgência de água a pouco menos de 1 metro.
No alto curso da área de estudo há uma maior concentração dos processos
erosivos. Ocorre nessa área ravinas com mais de 5 metros de largura por 30
metros de comprimento. Essas ravinas estão próximas à cabeceira de drenagem do
córrego Gurupá, onde pode estar sofrendo influência antrópica (o interflúvio Sul
da bacia está junto à rodovia de acesso ao município) e também por erosão
remontante.
Junto ao perímetro urbano as declividades são mais acentuadas, onde se
desenvolveram processos de rastejamento, formando pequenos degraus na vertente.
Além disso, por toda a bacia são encontrados sulcos provocados pelo pisoteio do
gado, que em alguns lugares estão mais evoluídos formando ravinas. Foi observado
também solapamentos nas margens do córrego Gurupá.
As informações levantadas acerca da pedologia e das formas erosivas na área de
estudo possibilitaram delimitar as áreas expostas a riscos de movimentos de solo
(Figura 2). Essas zonas foram estabelecidas de acordo com a proposta de Nóbrega
et al. (1992; 2003) sendo:
Zonas de Instabilidade Declarada: áreas afetadas por ravinas, voçorocas,
deslizamentos ativos, solifluxão evidente, várzeas e fundos de vales sujeitos a
assoreamento;
Zonas de Instabilidade Potencial: áreas com indícios de solifluxão,
áreas periféricas às voçorocas, áreas afetadas por antigos processos de erosão
regressiva, vertentes de declividade fortes, cabeceiras de drenagem, áreas
sujeitas à concentração de água em superfície, a coluvionamento, a abatimentos
de partes do solo por efeito de piping e erosão remontante;
Zonas de Estabilidade Precária: área periférica à zona de instabilidade
potencial que pode ser afetada pelos processos desencadeados nessa, áreas de
colos e vales em berço com solos de textura mais arenosa que os circundantes,
zonas de média e alta encosta;
Zona Estável: corresponde às áreas de topo dos interflúvios e setores de
alta vertente com fraca declividade.
Figura 1
Carta pedológica da bacia hidrográfica do Córrego
Gurupá, Floraí, Paraná
Figura 2
Carta de Zonas expostas à riscos de movimentos de
solos da bacia do córrego Gurupá
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para as zonas estabelecidas foram propostos algumas medidas mitigatórias:
Zona de instabilidade declarada: os processos ativos devem ser contidos,
recomenda-se o reflorestamento das áreas marginais para evitar a evolução
remontante dos processos erosivos na paisagem. Zona não adequada à ocupação;
Zona de instabilidade potencial: todas as construções, ocupação agrícola com
culturas, que tendem a modificar o equilíbrio destas áreas devem ser evitados. A
facilidade de ocorrência de movimentos em massa de solo põem em risco todo o tipo
de ocupação. Zona não adequada para ocupação;
Zona de estabilidade precária: zona mais adequada que as anteriores para ocupação
desde que sejam tomadas medidas para o controle de escoamento das águas, evitando
a sua concentração em superfície. Zona adequada para ocupação;
Zona estável: esta zona também está sujeita a processos erosivos causados por
escoamento difuso e concentrado se a drenagem não for controlada. Zona adequada à
ocupação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
ANDRADE, J.A. As Unidades de Paisagens e os Sistemas de Produção Agrícolas no Município de Floraí-PR. 2005. Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Estadual de Maringá. Maringá, 2005.
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GASPARETTO, N. V. L. As Formações Superficiais do Noroeste Paranaense e sua Relação com o Arenito Caiuá. 130 f. Tese (Doutorado), Programa de Pós-Graduação em Geoquímica e Geotectônica, USP, 1999.
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NAKASHIMA, P. Sistemas pedológicos da região noroeste do Paraná: distribuição e subsídios para o controle da erosão. 162 p. Tese (Doutorado), Departamento de Geografia da FFLCH, USP, São Paulo, v. 1, 1999.
NÓBREGA, M. T.; GASPARETTO, N. V. L.; NAKASHIMA, P. Mapeamento de Zonas de Riscos a Erosão de Cidade Gaúcha-PR. In: I Encontro Geotécnico do Terceiro Planalto Paranaense, 2003, Maringá. Anais... p. 102-129, 2003.
NÓBREGA, M. T.; GASPARETTO, N. V. L.; NAKASHIMA, P. Metodologia para cartografia Geotécnica de Umuarama, Paraná. Boletim de Geografia, Maringá, v. 10, n. 1, p. 5-10, 1992.
SANTOS, L.W. Arenito Nova Fronteira: em busca do desenvolvimento sustentável para o noroeste do Paraná. In: Monografias premiadas no 3º concurso de monografias sobre a relação universidade/empresa. Curitiba: IPARDES/IEL, 2003, 259p.
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