Anais: Interações pedo-geomorfológicas
CARACTERIZAÇÃO DE UM SISTEMA PEDOLÓGICO NA BACIA DO RIBEIRÃO ÁGUA DO SETE, MARUMBI-PR
AUTORES
Fumiya, M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ) ; Gasparetto, N. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ) ; Watanabe, G. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ) ; Abreu, M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ)
RESUMO
Neste trabalho foram desenvolvidos estudos em topossequência de solos com vistas a
evidenciar o sistema pedológico Nitossolo, Nitossolo latossólico e Cambissolo da
bacia do ribeirão Água do Sete no município de Marumbi –PR. O conhecimento da
organização do sistema pedológico fornece instrumentos para avaliar tanto a
evolução do relevo como para auxiliar a compreensão da dinâmica evolutiva desse
sistema. O objetivo foi estudar a organização e evolução de solos.
PALAVRAS CHAVES
topossequência; sistema pedológico; Marumbi –PR
ABSTRACT
The aim of this study was to characterize a toposequence located on the slope of
brook basin Água do Sete in the municipality of Marumbi-PR. The field work shows a
pedologic system constitued by Nitisol, Latosolic Nitisol and Cambisol. The
knowledge of the organization of the pedologic system provides tools to evaluate
the topographic evolution and understand the evolutionary dynamics of this system.
The objective was to study the organization and evolution of soils.
KEYWORDS
topossequence; pedologic system; Marumbi-PR
INTRODUÇÃO
A gênese de Nitossolos ainda é uma questão contraditória, podendo envolver
diversos processos na formação desse tipo de solo.
Em seus estudos, Birkeland (1984) relaciona a geração de horizontes com
diferenças texturais a processos como eluviação no horizonte superior e
iluviação das argilas em solução no horizonte inferior, que se apresenta na
forma de preenchimentos e revestimentos ao redor dos poros.
Porém, quando se analisam os Nitossolos, que possuem características
diferentes dos solos que têm diferenças texturais no teor de argila entre os
Horizontes A e B (20%), porém em lâminas, apresentam feições pedológicas
texturais. Os Nitossolos caracterizam-se por uma quantidade alta de argila (>
40%), além de uma distribuição homogênea, em profundidade na distribuição da
argila, na qual a porcentagem não excede uma diferença de 20% de argila entre os
horizontes A e B, numa faixa entre 150cm da superfície. A mineralogia tem
predominância de caulinita e/ou metahaloisita (CREUTZBERG & SOMBROEK, 1987).
Segundo os autores supracitados, ao analisarem as lâminas delgadas de
solo de prováveis Nitossolos, advindos de 15 países diferentes, definiram uma
combinação de propriedade micromorfológica que denominaram de Sindrome Nito-
argílico, que caracterizam o horizonte Nito-argílico. Entre as características
apresentadas, destaca-se a formação de revestimentos de ferri-argilãs nos poros,
com espessura de 2 a 3 micron, como sendo a feição que mais caracteristiza o
horizonte Nito-argílico, chamando-os de lepto-coating. Esses explicam a formação
de lepto-coating, como resultado da reorientação por estress da argila
depositada dentro do horizonte. Estas feições nos horizontes Nito-argílico
combinado com as superfícies de fraqueza do fundo matricial podem ser
considerados responsáveis pela presença de superfícies lisas e brilhantes
(cerosidade) que caracterizam o horizonte Nito-argílico no campo.
O objetivo desse trabalho foi compreender a evolução desse sistema.
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi realizado de acordo com a metodologia da Análise Estrutural da
Cobertura Pedológica (BOULET et al., 1982), no que se refere ao levantamento
bidimensional do sistema pedológico. O levantamento da topossequência iniciou-
se com a elaboração do perfil topográfico, conforme proposto por Marques et al.
(2000). Na etapa seguinte procedeu-se à realização das sondagens, ao longo do
transecto, utilizando trado holandês, no sentido da alta para a baixa vertente.
As sondagens foram efetuadas com intervalo de 50m de distância, observando-se a
cor e textura do solo em intervalos de 10cm de profundidade, e sondagens
intermediárias, caso houvesse uma alteração na cor ou textura.
Foram realizados 23 pontos de sondagens a partir da análise destes, foi
feita a abertura de 6 trincheiras, nas quais foram coletadas amostras
indeformadas para análise micromorfológica.
As amostras foram preparadas nos laboratórios GEMA-UEM/IG-USP, e
seguiram os procedimentos de impregnação, corte e polimento propostos por Castro
(2008). Quanto à descrição das lâminas, foram utilizadas a nomenclatura e a
terminologia contidas em Bullock et al. (1985).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A topossequência estudada situa-se no bacia do Ribeirão Água do Sete, município
de Marumbi – PR (Figura 1). Apresenta comprimento de 730 metros, declividade
variando entre 13% e 45%, sucessão lateral de solos do tipo Nitossolo, Nitossolo
latossólico e Cambissolo de montante para jusante, associados a mudanças na
topografia da vertente marcada por patamares estruturais e presença de
afloramento de rocha a montante. A disposição vertical e lateral dos horizontes
dos solos condiciona os fluxos hídricos superficiais e subsuperficiais que,
consequentemente, condicionam a própria evolução dos solos, ao favorecer setores
mecanismos de acumulação ou erosão na vertente. Assim, constatou-se filiação
entre o afloramento a montante e os minerais constituintes da linha de pedras,
indicando que foi área-fonte destas como mostram as trincheiras 3 e 5, enquanto
que a da trincheira 1 apresenta minerais mais resistentes ao intemperismo
químico, como a calcedônia, em relação à outros minerais ferro-magnesianos ambos
relacionados ao substrato. Essas diferenças permitiram deduzir processos de
remoção e deposição de materiais, que influenciaram a formação do sistema
pedológico atual. No que se refere ao segmento em que estão localizadas as
trincheiras 3 e 4, com maior comprimento e ausência de afloramento de rocha,
constatou-se maior acúmulo de materiais transportados derivados da parte mais
alta da vertente, mais facilmente intemperizáveis e, consequentemente,
favorecendo o desenvolvimento de solo mais profundo, como o Nitossolo
latossólico. Por outro lado, os segmentos com menor comprimento, maior declive,
mais rasos e próximos aos afloramentos são menos desenvolvidos e menos espessos,
como era esperado. A descrição micromorfológica dos horizontes desses solos
(figura 2) revelou feições pedológicas que permitiram compreender os processos
pedogenéticos sobre os materiais de origem e sua evolução, como feições de
iluviação nos horizontes Bníticos, presença de microagregação no horizonte Bw e
presença de litorrelíquias nos horizontes superficiais (horizonte A) “indicando
sua origem alóctone".
Figura 1
Mapa de localização da área estudada e a
topossequência.
Figura 2
Microfotografias das trincheiras 3 e 4, apresentando
processos de iluviações, presença de estrutura
microagregado e indícios de coluvionamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Análise Estrutural da Cobertura Pedológica permitiu maior eficiência na
identificação e caracterização do sistema pedológico, como também contribuiu para
desvendar a origem alóctone ou autóctone do material de origem dos solos
estudados. A análise micromorfológica das feições pedológicas revelou presença de
feições características de processos de iluviação como preenchimentos densos
completos, revestimentos típicos, alguns crescentes e de capeamento, indicam
processos de argiluviação. Por outro lado, a mudança da estrutura em blocos do
Nitossolo para microagregada do Latossolo indica possível transformação do
horizonte Bnítico em Bw, o que, juntamente com as demais evidências de mobilização
de materiais, ilustra a complexidade dos processos de pedogênese do sistema
pedológico estudado, em parte litodependente, em parte morfodependente.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq, pelo apoio financeiro e concessão de bolsa de
estudo
(CNPq 473023/2010-5), ao Grupo de Estudos Multidisciplinares do Ambiente
(GEMA/UEM) por disponibilizar toda a sua infraestrutura para a realização desse
trabalho, aos funcionários do IG/USP pelas confecções das lâminas e ao
Departamento de Agriculta/ESALQ, especialmente ao professor Miguel Cooper por
disponibilizar o acesso ao laboratório de microscopia óptica para interpretação
micromorfológica de solos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
BIRKELAND, P.W. Soils and Geomorphology. Oxford University Press, New York, 372p, 1984.
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