Anais: Interações pedo-geomorfológicas
O uso de atributos topográficos como subsídio para o mapeamento pedológico preliminar da bacia hidrográfica do rio Pequeno (Antonina/PR)
AUTORES
Nowatzki, A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ) ; Santos, L.J.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ)
RESUMO
Mapeamentos preliminares de solos a partir de atributos topográficos podem ser
realizados com o auxílio do geoprocessamento. Neste trabalho foram gerados os
atributos primários, como Hipsometria, Clinografia, Perfil e Plano de Curvatura,
assim como atributos secundários considerados pelos índices de Corrente de Máximo
Fluxo, Topográfico de Umidade e de Capacidade de Transporte de Sedimentos na bacia
hidrográfica do rio Pequeno, os quais servem de subsídio para mapeamentos digitais
de solos.
PALAVRAS CHAVES
Relações solo-relevo; Atributos topográficos; Modelo Digital do Terreno
ABSTRACT
Preliminary mapping of soils from topographic attributes can be accomplished with
the aid of GIS. In this study it were generated primary attributes, such as
Hypsometry, Slope, Profile and Plan curvature, as well as secondary attributes
considered by the Stream Power Index, Wetness Index and the Sediment Transport
Index in the hydrographic basin of Pequeno River, which serve as subsidy for
digital soil mapping.
KEYWORDS
Soil-relief relations; Topographic attributes; Digital Terrain Model
INTRODUÇÃO
Um levantamento pedológico de acordo com Larach (1981), é um prognóstico da
distribuição geográfica dos solos como corpos naturais, e ainda conforme IBGE
(2007) eles são determinados por um conjunto de relações e propriedades
observáveis na natureza. O levantamento identifica solos que passam a ser
reconhecidos como unidades naturais, prevê e delineia suas áreas nos
mapas/cartas, em termos de classes definidas de solos.
A partir do geoprocessamento, a Pedologia pôde se beneficiar com a criação de
uma grande quantidade de dados digitais e ferramentas computacionais, como
aqueles fornecidos pelo Modelo Digital do Terreno (MDT), que estão sugerindo
novos caminhos na pesquisa pedológica (McBRATNEY et al., 2003).
As formas do relevo, possíveis de serem analisadas também pelo MDT, exercem um
papel decisivo no tempo de exposição dos materiais, na intensidade e direção do
fluxo da água no perfil de solo, influenciando portanto os processos
pedogenéticos. O estudo das diferentes formas do relevo torna-se portanto
premissa básica para a execução de levantamentos de solo (CAMPOS et al., 2006).
A Pedometria define unidades pedológicas homogêneas, de acordo com um modelo
geomorfológico e têm mostrado um potencial para a predição de ocorrência dos
tipos de solos. Esta técnica auxiliar em levantamentos de solos, constitui uma
evolução no entendimento das relações pedologia-geomorfologia e
consequentemente, uma ferramenta importante para identificar e mapear áreas de
solos homogêneos (SIRTOLI et al., 2008).
O objetivo desse trabalho é gerar atributos topográficos primários e secundários
utilizados em mapeamentos preliminares digitais de solos, a partir de um MDT
referente à bacia hidrográfica do rio Pequeno (112 km²), localizada no município
de Antonina (PR) entre a Planície Litorânea e a Serra do Mar paranaense.
MATERIAL E MÉTODOS
A base cartográfica, foi elaborada a partir de cartas topográficas (1:25.000) da
DSG (Divisão de Serviços Geográficos do Exército). O MDT foi gerado pelo
software ArcGIS 9.3. (ESRI, 2009), com a ferramenta Create TIN from features, no
módulo 3D Analyst. Para Silveira (2010), um MDT é compreendido por uma
representação espacial da superfície do solo, a partir de pontos que descrevem a
topografia do terreno.
Os quatro atributos topográficos primários, são gerados diretamente do MDT. A
Hipsometria, que é a análise da variação altimétrica do relevo a partir das
informações planimétricas e altimétricas. A Clinografia, sendo entendida pela
inclinação das vertentes. O Perfil de Curvatura, como a taxa de variação da
declividade na direção da orientação da vertente, enquanto que o Plano de
Curvatura, é a taxa de variação da declividade na direção ortogonal à da
orientação (MOORE et al., 1993, McBRATNEY et al., 2003 e SILVEIRA, 2010).
Os três atributos secundários, são entendidos por processos de transportes de
sedimentos e a movimento da água superficial e subsuperficial no solo. O Índice
de Corrente de Máximo Fluxo que mede o poder erosivo da água corrente, com o
pressuposto de que a descarga é proporcional a acumulação de fluxo de montante.
Prediz a erosão nas áreas de perfil convexo (aceleração do fluxo) e deposição em
áreas de perfil côncavo (redução da velocidade de fluxo) (WILSON e GALLANT,
2000; SILVEIRA, 2010).
O Índice Topográfico de Umidade caracteriza a distribuição espacial de zonas de
saturação hídrica superficial, sendo capaz de distinguir áreas com potencial de
ocorrência de solos hidromórficos em relevos planos (SIRTOLI et al., 2008).
O Índice de Capacidade de Transporte de Sedimentos mensura a capacidade de
transporte de sedimentos, pois quanto maior a clinografia e o valor da área de
contribuição, maior será a capacidade de transporte de sedimentos e
consequentemente os solos formados nessa condição serão menos desenvolvidos
(SILVEIRA, 2010).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os atributos topográficos primários, (gerados a partir do MDT no ArcGis) da
bacia do rio Pequeno, foram convertidos para o formato raster a fim de expressar
os quatro atributos, que seguem na figura 1. Já os atributos secundários da
bacia em questão estão expressos na figura 2.
As classes Hipsométricas da bacia do rio Pequeno apresentam valores que variam
entre 9 e 841m. A porção da bacia próxima da sua foz, até aproximadamente os
100m situa-se no compartimento geomorfológico Planície Litorânea. As maiores
elevações possuem 841m, nas porções situadas mais ao norte da bacia, fazendo
parte do compartimento Serra do Mar paranaense. Este atributo pode inferir na
ocorrência de solos que se apresentam em uma variação de cotas altimétricas,
como por exemplo os solos hidromórficos que tem alta probabilidade de ocorrência
em cotas de valores inferiores a 100m na bacia em questão.
As classes Clinográficas foram divididas de acordo com a proposta da EMBRAPA
(2009) em valores de porcentagem, sendo elas: 0 a 3 % (Relevo Plano), 3 a 8 %
(Suave Ondulado), 8 a 13 % (Moderadamente Ondulado), 13 a 20 % (Ondulado), 20 a
45% (Forte Ondulado) e acima de 45 % (Relevo Montanhoso).
Pode-se perceber que os maiores valores de Clinografia coincidem também com
porções do compartimento geomorfológico da Serra do Mar, que têm por
características, vertentes bastante inclinadas. As porções planas somaram em km²
17,8, suave ondulado 7,4, moderadamente ondulado 5,8, ondulado 10,2, forte
ondulado com 39,4, sendo esta a maior classe clinográfica e por último a forte
ondulada com 31,4. Conforme Paula e Santos (2008), a ocorrência de Neossolos
Litólicos ocorrem em relevos ondulados e forte ondulados da Serra do Mar.
Para as formas das vertentes, podemos analisar o Perfil e o Plano de Curvatura.
O primeiro refere-se à curvatura da superfície na direção do declive, para a
qual os valores negativos referem-se a vertentes convexas, positivos a vertentes
côncavas e valores nulos a vertentes retilíneas. Para a bacia do rio Pequeno
foram estipulados no ArcGis valores negativos abaixo de -0,3, nulos entre -0,3 e
0,3 e acima de 0,3 para os positivos. Respectivamente os valores em km² são de
23, 65,3 e 23,9.
O Plano de Curvatura, que pode ser entendida como a curvatura da superfície
perpendicular à direção do declive, para a qual os valores positivos referem-se
a vertentes divergentes, negativos a vertentes convergentes e valores nulos a
vertentes planares. Os valores usados foram negativos abaixo de -0,5, nulos
entre -0,5 e 0,5 e acima de 0,5 para os positivos. Respectivamente os valores em
km² são 14,9, 76,9 e 20,50. Cabe salientar que estes dois atributos de formas de
vertentes são extremamente importantes nos levantamentos pedológicos de grande
escala, pois no caso das vertentes convergentes, que representam o fundo dos
vales, podem indicar a ocorrência de áreas com solos hidromórficos. Contudo em
escalas médias e pequenas, na qual há a necessidade de generalizações, essas
informações acabam sendo descartadas.
O Índice de Corrente de Máximo Fluxo, apresenta valores de índice entre 0 e
27.748.004. Quando mais alto este valor, maior será a intensidade do fluxo
hídrico, em vertentes com plano convergente. Podem ser utilizadas para
representar mapeamentos de maior detalhamento.
Com o Índice Topográfico de Umidade, pode-se estipular qual serão os limites de
solos hidromórficos, como Gleissolos ou Organossolos, da mesma forma que a
Clinografia e a Hipsometria também podem estipular. No rio Pequeno, este índice
variou de 3 a 24, sendo que os valores mais altos representam uma maior umidade
no solo.
Por fim, o Índice de Capacidade de Transporte de Sedimentos prediz áreas de
erosão e de deposição, ou seja, é capaz de distinguir solos rasos de solos
profundos (MOORE et al., 1993; SILVEIRA, 2010). Os valores do índice variaram de
0 a 2804, cujos maiores valores representam as áreas com um maior potencial
erosivo.
Figura 1
Caracterização dos atributos topográficos primários da bacia hidrográfica do rio Pequeno
Figura 2
Caracterização dos atributos topográficos secundários da bacia hidrográfica do rio Pequeno
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através do MDT produzido para a bacia do rio Pequeno, foram gerados os atributos
primários e secundários, nas quais a partir de uma análise preliminar, foi
possível fazer relação da distribuição de alguns tipos de solos com o mapeamento
pedológico da área de drenagem da baía de Antonina. Os atributos Índice
Topográfico de Umidade e Clinografia foram os que mostraram uma boa concordância
com os solos hidromórficos, bem como os Neossolos Litólicos da Serra do Mar
paranaense.
A próxima etapa do presente trabalho será o mapeamento de solos usando a
Pedometria, que é feito através da escolha de determinados atributos topográficos.
Quando essas informações são sobrepostas, conforme Silveira (2010), tanto por
Tabulação Cruzada ou Rede Neural Artificial é possível se chegar a unidades
preliminares de solos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
CAMPOS, M. C. C.; CARDOZO, N. P.; MARQUES JÚNIOR, J. Modelos de paisagem e sua utilização em levantamentos de pedológicos. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v. 6, n. 1, 2006.
EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro, RJ). Sistema brasileiro de classificação de solos. – Rio de Janeiro : EMBRAPA-SPI, 2009.
ESRI. ArcGis, Spatial Analyst, 3D Analyst. versão 9.3. Environmental Systems Research Institute, 2009.
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Manual de Técnico de Pedologia. Série Manuais Técnicos em Geociências. n. 4. Rio de Janeiro: IBGE, 2007.
LARACH, J. O. I. Bases para leitura de mapas de solos. Rio de Janeiro: EMBRAPA/SNLCS, 1981. 91 p. (SNLCS. Série miscelânea, 4).
McBRATNEY, A. B.; MENDONÇA-SANTOS, M. L.; MINASNY, B. On digital soil mapping. Geoderma, v. 117, p. 3-52, 2003.
MOORE, I. D.; GESSLER, P. E.; NIELSEN, G. A.; PETERSON, G. A. Soil attribute prediction using terrain analysis. Soil Science Society American Journal. v. 57, p. 443-452, 1993.
PAULA, E. V.; SANTOS, L. J. C. Confecção da Carta de Pedologia (1:50.000) da Área de Drenagem da Baía de Antonina (Etapa 3 – Relatório Final). Antonina: ADEMADAN, 2008. 161 p. Relatório Técnico Terminais Portuários Ponta do Felix.
SILVEIRA, C. T. Análise digital do relevo na predição de unidades preliminares de mapeamento de solos: Integração de atributos topográficos em Sistemas de Informações Geográficas e redes neurais artificiais. Curitiba, 2010, 153 f. Tese (Doutorado em Geografia). Departamento de Geografia, Setor de Ciências da Terra, Universidade Federal do Paraná.
SIRTOLI, A. E.; SILVEIRA, C. T.; MONTOVANI, L. E.; SIRTOLI, A. R. A.; OKA-FIORI, C. Atributos do relevo derivados de modelo digital de elevação e suas relações com solos. Scientia agraria, v.9, n.3, p.317-329, 2008.
WILSON, J. P.; GALLANT, J. C. Digital terrain analysis, chapter 1. In: WILSON, J. P.; GALLANT, J. C. (eds.). Terrain analysis: principles and applications. New York: John Wiley & Sons, p.1-27, 2000.