Anais: Interações pedo-geomorfológicas
Técnicas de Conservação no Combate à Erosão do Solo: Estudo da Eficiência do Uso de Estacas de Madeira na Estação Ecológica da Universidade Federal de Minas Gerais (EECO – UFMG)
AUTORES
Nunes, M.S. (UFMG) ; Oliveira, C.V. (UFMG) ; Borges da Silva, P.E.A. (UFMG)
RESUMO
Este trabalho avalia a eficiência do uso da técnica de conservação do solo
estaqueamento na Estação Ecológica da UFMG, na contenção de intensos processos
erosivos no local. Foram instaladas estacas de madeira em uma vertente e,
posteriormente, visitas mensais foram feitas para monitorar as transformações
ocorridas, destacando aspectos que poderiam indicar a eficiência da técnica, como
a diminuição dos sulcos. A partir do monitoramento realizado constatou-se a
viabilidade e eficiência da técnica.
PALAVRAS CHAVES
Erosão; Solo; Conservação
ABSTRACT
This paper evaluates the efficiency of using the staking conservation technique in
the UFMG Ecological Station to control intense erosive processes. Wood stakes
were installed in a control hillslope.Monthly monitoring visits were realized to
interpret the changes in the local morphology.Thus, the efficiency of the
proposed technique was evaluated, by highlighting some aspects, such as rill
evolution.The monitoring carried out confirmed the viability and efficiency of
the staking technique.
KEYWORDS
Erosion; Soil; Conservation
INTRODUÇÃO
Com o intuito de estudar técnicas não-vegetativas para minimizar os processos
erosivos, o trabalho possui como objetivos específicos a utilização da técnica
de estaqueamento e a realização de uma análise baseada na comparação envolvendo
viabilidade e, principalmente, a eficiência da técnica. Os estudos foram feitos
em vertentes localizadas na Estação Ecológica (EECO) da UFMG, em Belo Horizonte,
MG. A área é considerada unidade de conservação urbana e possui cerca de cento e
quatorze hectares de área, sendo formada por vegetação típica de matas
semidecíduas e cerrado.
Ayres (1960) considera que só há erosão porque há água, vento e solo e a origem
dos sulcos das vertentes está relacionada à remoção de camadas do solo em função
do escoamento superficial da água, considerado poderoso agente erosivo que
realiza um transporte seletivo essencial para a ocorrência de erosão
diferencial. Bigarella (2003) salienta que o escoamento somente se torna um
agente erosivo quando seu poder de erosão excede a própria resistência dos
solos, ou seja, quando a energia das águas for maior que a coesão do solo.
D’Agostini (1999) destaca que a erosão causada pela água pode ser controlada,
por exemplo, a partir de ações que limitem a velocidade da água que incide e que
escoa pela superfície do solo. Assim, diante da necessidade de proteger o solo e
promover a diminuição de processos erosivos teve origem o desenvolvimento de
práticas conservacionistas. Para Schultz (1983) existem dois métodos de
conservação do solo: um vegetativo e outro mecânico, baseado na construção de
obstáculos mecânicos para reduzir a ação da chuva. Dependendo das condições
físicas da área de estudo, os métodos vegetativos não poderão solucionar os
problemas erosivos. Neste trabalho, utilizou-se o estaqueamento, técnica
relativa ao método mecânico que, conforme salientam Gonçalves et al (2009),
consiste em criar obstáculos que promovam a diminuição da velocidade das
enxurradas.
MATERIAL E MÉTODOS
A EECO é um local bastante preservado, o que não impede a ocorrência de
determinados processos erosivos em algumas áreas, como nos limites da unidade
com a Avenida Presidente Carlos Luz e com o Anel Rodoviário (BR-262). As áreas
específicas de análise deste estudo consistem em duas vertentes situadas nas
proximidades do encontro entre estas vias (Figura 1).
As vertentes possuem dupla funcionalidade: abrigam uma estrada por onde
transitam carros de passeio e caminhões a serviço da EECO e se caracterizam como
aceiro, o que impede a utilização da técnica de revegetação no combate à erosão.
Daí a importância da conservação de tais áreas, já que permite a proteção das
espécies vegetais e animais especialmente durante os períodos secos.
Dentre as estruturas de estabilização utilizadas para contenção da erosão,
podem-se destacar as paliçadas ou estacas de madeira, que possuem baixo custo
tanto para confecção quanto para instalação, além da significativa eficiência.
Dessa forma, optou-se por instalar na vertente CE as estacas de madeira,
enquanto a outra vertente, SE, seria utilizada como modelo comparativo para
análise do comportamento do solo exposto sem aplicação de nenhuma técnica
conservacionista.
As estacas de madeira foram confeccionadas seguindo o padrão de 40cm de altura,
20cm de comprimento e 1cm de espessura, e a quantidade a ser utilizada dependeu
de medições da largura dos sulcos existentes na vertente CE.
A princípio, o material utilizado para confecção das estacas foi um compensado,
mas dias após a instalação verificou-se que elas não resistiam à ação das
chuvas. Assim, foram confeccionadas e reinstaladas estacas de madeira maciça. No
período entre Janeiro de 2009 - quando houve a instalação - e Novembro de 2009,
trabalhos de monitoramento mensal foram feitos visando observar as possíveis
transformações ocorridas, sendo que as visitas à área objetivavam monitorar e
avaliar a eficiência da técnica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os monitoramentos foram feitos a partir do momento da instalação das estacas,
que ocorreu no dia 14 de Janeiro de 2009. Para tanto, foram utilizadas
ferramentas como enxadas e picaretas para que aberturas fossem feitas no solo. A
profundidade das fendas deveria ser suficiente para abrigar toda a base
pontiaguda das estacas. Além disso, o comprimento de cada abertura deveria
ultrapassar o próprio comprimento dos sulcos com o intuito de que também
pudessem ser instaladas estacas ao redor dos mesmos.
As estacas instaladas foram confeccionadas a partir de um compensado composto
por uma colagem de lâminas de madeira seca. Sendo assim, foi de extrema
importância observar nos dias seguintes à instalação o grau de susceptibilidade
da madeira utilizada, o que poderia garantir que a mesma não fosse frágil o
suficiente para resistir às ações de ventos e chuvas, por exemplo. A visita para
verificação da qualidade do material utilizado foi feita no dia 19 de Janeiro
onde se detectou sua fragilidade. Algumas estacas foram encontradas soltas e
outras apresentavam um desplacamento das camadas de madeira, possivelmente, em
função das chuvas ocorridas durante a semana em questão. Portanto, foi
necessária a confecção e reinstalação de novas estacas, o que ocorreu no dia 13
de Março. As visitas posteriores à área de estudo tiveram o objetivo de
monitorar e avaliar, qualitativamente, a eficiência da técnica.
A partir do dia 13 de Março constataram-se diferenças fundamentais nos sulcos e
mesmo no entorno das estacas. No dia 7 de Abril foi possível comprovar a
eficiência das estacas de madeira no combate à erosão, pois se verificou ligeira
diminuição dos sulcos. Por toda a vertente com estacas observou-se que os
sulcos, de modo geral, haviam se tornado menos profundos e extensos, sendo que
em alguns trechos ficaram quase imperceptíveis. Além disso, em Abril, a função
das estacas no que tange ao desvio do fluxo superficial ficou nítida, já que
sedimentos barrados pelas estacas também puderam ser notados.
A eficiência das estacas torna-se clara quando se compara as mesmas áreas em
períodos diferentes. A figura 2 apresenta fotografias de Abril e de Junho
comprovando a evolução e cumprimento do objetivo estabelecido com a instalação
das estacas. Nota-se a diminuição de sulcos localizados em baixa vertente e o
aumento de sedimentos acumulados em alta vertente, o que pode ser explicado
justamente pelo fato de que as estacas, servindo como uma barreira, desviaram o
fluxo d’água e o trajeto percorrido pela água para realização deste desvio
implicou na deposição dos sedimentos mais finos.
Constata-se que o desvio do fluxo superficial impediu que houvesse canalização
do mesmo e, consequentemente, fez com que diminuísse a erosão e o aprofundamento
dos sulcos já existentes. Dessa forma, nos meses de Maio, Junho e Julho as
visitas em campo foram fundamentais para a observação e confirmação da
eficiência da técnica utilizada.
Os resultados obtidos constituem um acervo capaz de comprovar, de maneira
qualitativa, a eficiência do estaqueamento. As imagens vistas e registradas em
cada visita de campo demonstraram as evoluções ocorridas nas vertentes
especialmente após a instalação das estacas, sendo possível identificar, com
nitidez, o acúmulo de sedimentos e a própria diminuição dos sulcos.
Figura 1
Localização da área de estudo.
Figura 2:
(esquerda) Fotografia obtida no dia 7 de Abril de
2009;
(direita) Fotografia obtida no dia 10 de Junho de
2009.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constata-se a eficiência do estaqueamento no combate à erosão na área de estudo,
já que as estacas proporcionaram o desvio do fluxo superficial diminuindo a erosão
e, consequentemente, o aprofundamento dos sulcos. Destaca-se que a utilização de
determinada técnica de conservação varia em função das próprias características
físicas da área a ser recuperada ou protegida. O estudo e a caracterização
preliminar da área em análise permitem a escolha da técnica mais adequada, o que
muitas vezes pode garantir não somente a eficiência da mesma quanto aos resultados
esperados, como também a redução dos custos para o combate à erosão. No caso das
vertentes da Estação Ecológica, nota-se que, além do baixo custo para a produção
das estacas e posterior monitoramento, elas apresentaram em pouco tempo o
resultado esperado, comprovando a viabilidade da técnica.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, pela bolsa concedida durante a realização da
pesquisa e ao diretor da Estação Ecológica da UFMG, bem como aos funcionários, que
permitiram e contribuíram para o desenvolvimento do projeto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
AYRES, Q. C. La erosión del suelo y su control. Barcelona: Ediciones Omega, 1960. 441 págs.
BIGARELLA, J. J. Estrutura e Origem das Paisagens Tropicais e Subtropicais. Volume 3. Editora UFSC, Florianópolis, 2003.
D’AGOSTINI, L. R. Erosão: o problema mais que o processo. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1999. 131 págs.
GONÇALVES, S. A. B., FELIZOLA, E. R., MOURA, A. L da S. Mitigação de Impactos Ambientais em uma Propriedade Rural no Distrito Federal decorrentes da Ação de Processos Erosivos. Disponível em: <http://www.cemac-ufla.com.br/trabalhospdf/trabalhos%20voluntarios/Protoc%2091.pdf> Acesso em 20 de Setembro de 2009.
SCHULTZ, L. A. Métodos de conservação do solo. Porto Alegre: Sagra, 1983. 74 págs.