Anais: Interações pedo-geomorfológicas
PROPRIEDADES FÍSICAS E CONFORMAÇÃO DO PERFÍL NUMA SECÇÃO DE VERTENTE NA ÁREA EXPERIMENTAL DO DEPARTAMENTO DE SOLOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA-RS
AUTORES
Facco, R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA) ; Brasil do Nascimento, V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA) ; Kumpfer Werlang, M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA) ; Aita, R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA)
RESUMO
A cobertura pedológica é um sistema estrutural complexo que apreende
transformações, tanto vertical quanto laterais na vertente. Assim, o trabalho tem
como objetivo caracterizar o manto pedológico ao longo de uma toposseqüência, numa
tentativa de entender a dinâmica da vertente. Concluiu-se de que no conhecimento
do relevo, encontra-se implícita a ideia de que este evolui como resultado da
influência exercida pelos processos morfogenéticos e pelo fluxo subsuperficial da
água no manto pedológico.
PALAVRAS CHAVES
Cobertura pedológica; dinâmica de vertentes; propriedades físicas
ABSTRACT
The pedological cover is a complex structural system that captures changes in both
vertical as lateral aspect of slope. So, the study aims to characterize the
pedological mantle along a toposequence in an attempt to understand the dynamics
of the slope. It was concluded that in the knowledge of the relief is implicit the
idea that the slope evolves as a result of the influence exerted by the
morphogenetic processes and the subsurface flow of water in the pedological
mantle.
KEYWORDS
pedological cover; dynamics of the slope; physical properties
INTRODUÇÃO
Os primeiros avanços referentes à evolução na compreensão da organização do solo
e as metodologias para seu estudo datam de 1930. É nessa década que Milne
apresenta o conceito de catena e introduz a concepção de lateralidade do solo,
onde os perfis verticais de solo sucedem-se numa vertente, ligados como que em
cadeia, sendo que os principais fatores responsáveis pelas sucessões de solos
numa encosta seriam os processos erosivos, comandados pela topografia. Na década
de 60 ocorreu outro importante avanço: a introdução da noção de
tridimensionalidade, onde cada unidade representada por horizontes verticalmente
dispostos ocuparia um determinado volume no espaço. Entretanto, mantém-se a
concepção de que o espaço pedológico seria constituído pela justaposição de
perfis verticais de solo (Queiroz Neto, 1988). Na década seguinte, foram
realizados importantes trabalhos, os quais passaram a introduzir uma nova
metodologia de análise através da concepção de cobertura pedológica (Queiroz
Neto 1988; 2000). Ainda na década de 70, Boulet (1978) e Boulet et al (1979)
propõem o estudo e a representação cartográfica tridimensionais da cobertura
pedológica, permitindo assim conforme Queiroz Neto (1988) estudar os processos
biogeodinâmicos, o sentido e a evolução da pedogênese; reconstituir os
diferentes mecanismos responsáveis pelas diferenciações pedológicas, bem como
suas sucessões cronológicas; demonstrando assim o comportamento e funcionamento
atual da cobertura pedológica de uma dada área.
Sendo assim, o presente trabalho tem por objetivo caracterizar a conformação do
perfil de vertentes a partir de características das propriedades físicas do
manto pedológico numa secção de vertente na área experimental do vertente do
Departamento de Solos da Universidade Federal de Santa Maria-RS.
MATERIAL E MÉTODOS
No contexto, da região central do estado do Rio Grande do Sul e da Depressão
Periférica Sul-riograndense, é que está situada a área de estudo junto ao
Departamento de Solos da Universidade Federal de Santa Maria, no município de
Santa Maria-RS. A área apresenta aspectos da biota regional e está inserida no
domínio dos Campos com Capões e Matas Galerias (Vieira, 1984). Nos setores onde
os processos erosivos esculpiram colinas alongadas (coxilhas) sobre essas
litologias paleozóicas da Bacia do Paraná, aparecem solos medianamente profundos
como os Argissolos. No que se refere ao clima, de acordo com a classificação de
Köppen apud Ayoade (1986), a região apresenta domínio climático do tipo Cfa.
Para realização do trabalho, fez-se uso do método dedutivo, acreditando-se ser
esta uma das formas que permite uma maior proximidade da realidade com a
pesquisa. De acordo com os objetivos do trabalho, adotou-se como base teórico-
metodológica a proposta de Boulet apud Queiroz Neto (1988), que trata da análise
estrutural da cobertura pedológica, buscando-se assim, a compreensão da
bidimensionalidade da dinâmica da cobertura pedológica e a relação com os outros
elementos da paisagem.
Os ensaios foram realizados no laboratório de sedimentologia do Departamento de
Geociências da Universidade Federal de Santa Maria. Os parâmetros físicos
determinados foram a distribuição do tamanho de partículas (análise
granulométrica), densidade de partículas ( ), densidade aparente ( ), densidade
aparente natural ( nat), condutividade hidráulica (K), índice de vazios (e),
índice de vazios máximo (e máx), índice de vazios mínimo (e min), Grau de
compacidade (GC), porosidade (n).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Partindo do pressuposto de que a evolução morfogenética das vertentes apresenta
estreita relação com os processos morfogenéticos do manto pedológico a evolução
do perfil da vertente se traduz na atuação de processos da dinâmica externa. O
fluxo superficial e subsuperficial da água. Contribui com estes processos
através do transporte de materiais das partes mais elevadas para as mais baixas
(processos de degradação e agradação) que acontecem em superfície e internamente
no manto pedológico, ao longo da vertente.
As tabelas 1 e 2 trazem os resultados obtidos dos ensaios em laboratório para a
análise granulométrica, atributos físicos dos volumes pedológicos descritos no
segmento inferior da vertente, próximo ao talvegue principal.
Tabela 1: Análise granulométrica dos volumes pedológicos do segmento inferior do
perfil de uma vertente na área experimental do Departamento de Solos da
Universidade Federal de Santa Maria - Município de Santa Maria-RS.
Fonte: Ensaios em laboratório.
Tabela 2: Atributos físicos dos volumes pedológicos do segmento inferior do
perfil de uma vertente na área experimental do Departamento de Solos da
Universidade Federal de Santa Maria - Município de Santa Maria-RS.
e Max=índice máximo de vazios; = densidade aparente; e=índice de vazios;
n=porosidade total; e min= índice mínimo de vazios; GC%= grau de compacidade;
= densidade de partículas; nat= densidade aparente natural; K= condutividade
hidráulica saturada.
Os resultados permitem relacionar a granulometria com a condutividade
hidráulica, enfatizando a idéia que a conformação do segmento da vertente evolui
a partir das características apresentadas pelo manto pedológico.
Tabela 1
Análise granulométrica
Tabela 2
Atributos físicos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados obtidos indicam que as propriedades físicas exercem influencia na
conformação do perfil nesse segmento de vertente. A presença de volumes
pedológicos que facilitam a ocorrência de fluxo subsuperficial lateral permitem
concluir que a condutividade hidráulica é o principal fator de controle no
processo de morfogênese da vertente estudada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
AYOADE, J. Introdução a climatologia dos trópicos. São Paulo-SP: Difel, 1986.
BOULET, R.; BRUGIÈRE, J.M. & HUMBEL, F.X. Relations entre organization des sols et
dynamique de l’eau en Guyane Française Septentrionale. Sci. Sol, 1:3-18, 1979.
Campinas: SBCS/SNLCS, 1984. 45p.
QUEIROZ NETO, J.P. Análise estrutural da cobertura pedológica no Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 21 Campinas, 1988. Anais. Campinas, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1988.p.415-430.
QUEIROZ NETO, J.P. Geomorfologia e pedologia. Revista Brasileira de Geomorfologia. 1:59-67, 2000.
VIEIRA, E.F. Rio Grande do Sul. Geografia física e vegetação. Porto Alegre-RS: Sagra, 1984.