Anais: Interações pedo-geomorfológicas
Classificação de solos e sugestão de uso: o caso do Estrato Superior da minibacia do riacho Cambé, Londrina, PR
AUTORES
Höfig, P. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA) ; Vendrame, P.R.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA)
RESUMO
Considerando que a formação do solo está ligada à ação do ciclo supérgeno sobre o
material de origem, sabe-se que em áreas próximas geograficamente a declividade do
terreno é determinante na genêse de diferentes classes de solos. Pretende-se,
portanto, mostrar como uma carta de declividade pode auxiliar na classificação e
confecção de uma carta de solos. Esta, por sua vez, auxilia na tomada de decisão
quanto ao uso do solo. O estudo foi realizado no Estrato Superior da minibacia do
riacho Cambé,
PALAVRAS CHAVES
classificação de solos; mapa de solos; uso do solo
ABSTRACT
Considering the fact that the soil formation is linked to the action of the cicle
about the source material origin, it is known that geographical areas close to
elevation terrains are determinant for the genesis of different classes of soils.
This study intends to show how a slope map can assist on the classification and
confection of a soil map. This can help making the decision about which soil uses.
The study took part in river basin Cambé, in Londrina,PR
KEYWORDS
soil classification; soil map; use of soil
INTRODUÇÃO
Em linhas gerais, a organização de planos de ocupação do solo, sem levar em
consideração a forma do terreno, tem como base o desejo de fazer prevalecer o
conhecimento do ser humano, no qual não se considera a idéia de alterar os
projetos urbanísticos em virtude de sua realidade geomorfológica e pedológica. O
levantamento de solos pode, de forma simples e eficiente, identificar locais de
maior fragilidade ambiental (BOGNOLA et al., 2011).
Considerando que a formação do solo está ligada à ação do ciclo supérgeno sobre
o material de origem, sabe-se que em áreas próximas geograficamente a
declividade do terreno é determinante na genêse de diferentes classes de solos.
Com o mesmo material de origem, o mesmo clima, a mesma ação de organismos e sob
o mesmo espaço de tempo, é a geormofologia da área que indicará o índice de
infiltração de água e a consequente meteorização da rocha e pedogênese (TOLEDO;
OLIVEIRA; MELFI, 2008).
Pretende-se, portanto, mostrar como uma carta de declividade pode auxiliar na
confecção de uma carta de solos. Esta, por sua vez, auxilia na tomada de decisão
quanto ao uso do solo. O estudo foi realizado no estrato superior da minibacia
do riacho Cambé, em Londrina, PR, cidade situada entre as coordenadas 23º10’16”
S a 23º46’46” S e 50º52’33” O a 51º19’13” O. Encontra-se sobre a Bacia do
Paraná, em sedimentação e magmatismo básico e alcalino (MINEROPAR, 2010).
MATERIAL E MÉTODOS
Duas trincheiras foram abertas em pontos considerados estratégicos,
representantes do ambiente estudado, e posteriormente descritas conforme Santos
et al. (2005). As amostras foram retiradas dos respectivos horizontes
diagnósticos e as análises químicas e físicas foram realizadas no Instituto
Agronômico do Paraná (IAPAR). Em cada área, abriu-se uma trincheira em local
representativo do ambiente estudado.
Para análise da declividade do terreno foi elaborada a carta de declividade,
onde foram utilizadas curvas de nível equidistantes de 20 metros, originadas de
imagens orbitais adquiridas pela missão SRTM (Shuttle Radar Topography Mission),
da NASA. Os dados foram obtidos por meio do software Global Mapper 13.00® e
importados para o ArcGIS 10® e os mapas de declividade foram gerados a partir da
ferramenta “slope”. A partir desta carta e conhecendo o material de origem,
cria-se a carta de solos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As classes de solos encontradas em campo foram o Latossolo Vermelho e Nitossolo
Vermelho.Segundo Silva (2011), o Latossolos se encontram em declividades entre
0% e 8% ao passo que os Nitossolos se encontram entre declivdades de 8,1% e 16%.
As pequenas áreas de solos da classe Cambissolo (entre declividades de 16% e
25%)não pôde ser verificadas em campo por tratar de setores urbanizadas.Nas
cotas mais baixas do terreno se encontravam solos da classes dos
Gleissolos,entretanto, de acordo com Tagima e Terabe(2005),nestas áreas foram
criados os lagos Igapó.A tomada de decisão e o uso do solo devem estar pautados
nas classes de solo existentes no estrato superior da minibacia em
questão(figura 1).
O perfil do Latossolo situa-se em um relevo de declividade plana, não apresenta
pedregosidade e rochosidade e é caracterizado como bem drenado, seguindo as
instruções de Santos et al. (2005).A área está cercada de gramíneas e percebe-
se a presença de erosões em sulcos, frequentes e superficiais. O vermelho
intenso dificulta a diferenciação de cor no campo entre o horizonte superficial
e o horizonte B, sendo os agregados da camada superior ligeiramente mais
escuros, devido ao maior teor de matéria orgânica. A CTC (11,7 cmolc/dm³ solo)
do horizonte Bw pode ser considerada alta para a ordem dos Latossolos e a
atividade da fração argila desse Latossolo Vermelho permite a observação de
fendilhamento da superfície dos Latossolos no período seco, fato incomum na
ordem, o que pode ser explicado pela relativa alta CTC. A saturação por bases
(V%) é um dos atributos utilizados na classificação dos solos e o valor
encontrado foi de 64 %. Por isso, o Latossolos Vermelho foi classificado no 3º
nível categórico como eutroférrico. Nos primeiros 30 cm de solo observou-se
compactação, provavelmente originada pelo uso de maquinarias, o que gerou
estrutura indefinida, de tal forma que o horizonte A foi denominado como
horizonte Ap. Entre 30cm e 60cm notou-se gradual descompactação,adquirindo
porosidade e estrutura granular típica de horizonte Bw. A partir dos 60 cm,ao
pressionar a faca sobre o solo, sentiu-se apenas as caracterísitcas típicas do
horizonte Bw. Vale ressaltar que na proximidade de 1,90m sentiu-se
maior dificuldade em penetrar a faca no solo. O fato ocorre pelo adensamento
provocado pelo próprio peso do solo existente acima. A cor (10R 3/6) apresentou-
se homogeneamente vermelha por todo o perfil, com exceção do horizonte Ap, onde
o valor teve algum destaque.O teor de carbono de 4,16 g/dm³ confere ao solo
maior resistência à dispersão bem como uma alta agregação da argila. A
característica de muito argiloso (79%) dá ao solo maior estabilidade estrutural.
No que tange a descrição geral, o perfil no qual situa-se o Nitossolo localiza-
se em um relevo de declividade ondulada, não apresenta pedregosidade e
rochosidade, e é caracterizado como moderadamente drenado.A área está cercada
de gramíneas e percebe-se a presença de erosões em sulcos,frequentes e
superficiais.Nos primeiros 20 cm percebeu-se a presença de mais raízes e
porosidade, observada pela estrutura granular.O perfil como um todo é mais
escuro que o perfil do Latossolo, o que nos mostra maior quantidade de matéria
orgânica, possivelmente pela maior lentidão na decomposição resultante da
drenagem moderada.Entre 20 cm e 40cm passou-se a perceber gradualmente as
típicas estruturas em bloco e a cerosidade, mostrando-se um horizonte AB de
transição.Após os 40 cm as caracaterísitcas típicas de solos desta classe
começaram a se destacar,o que caracterizou o horizonte como Bn.A cor (10R 3/3)
apresentou-se quase homogeneamente vermelha por todo o perfil. Ressalta-se a
saturação por bases de 66%, o que permite classificar este Nitossolo Vermelho
como eutroférrico. O teor de carbono de 5,29 g/dm³ confe ao solo maior
resistência à dispersão bem como uma alta agregação da argila.A característica
de muito argiloso (79%) aumenta sua estabilidade estrutural.
Figura 1
Classes de solo no estrato superior da minibacia
estudada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os Latossolos dominam a maior parte das elevações com grau de dissecação baixo a
médio de vertente convexas. Nestas paisagens, têm sua distribuição desde o topo
até o terço inferior, onde cede lugar para os Nitossolos Vermelhos.
Em áreas de Latossolo Vermelho o potencial atual à erosão laminar é baixo, já que
o uso atual do solo é compatível com a suscetibilidade. Ressalta-se a importância
de análise morfológica de cada loteamento, uma vez que a compactação da camada
superficial altera esta realidade. Nestes casos, sugere-se o plantio de nabos
forrageiros como forma de combate biológico à compactação e o consequente
escoamento superficial.
Nos locais ocupados pelos Nitossolos, o uso atual do solo é incompatível com a
suscetibilidade à erosão laminar, possível de ser controlada com práticas
conservacionistas adequadas, como o terraceamento ou curvas de nível, visando a
diminuição das taxas de erosão do solo a níveis seguros, o que acarretaria em
níveis aceitáveis de sedimentação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
BOGNOLA, I. A.; CURCIO, G. R.; GOMES, J. B. V.; CAVIGLIONE, J. H.; UHLMANN, A.; CARDOSO, A.; CARVALHO, A. P. de. Levantamento semidetalhado de solos do município de Londrina. Londrina: IAPAR, 2011
SANTOS, R.D.; LEMOS, R. C. de; SANTOS, H. G. dos; KER, J. C.; ANJOS, L. H. C. dos. Manual de descrição e coleta de solo no campo. 5ª ed. Viçosa: SBCS. 2005. 92 p.
SILVA, T. G. da; TOMAZONI, J. C.; GUIMARÃES, E.; GOMES, E. C. Utilização de álgebra de mapas para caracterização dos solos da bacia hidrográfica do rio Catorze. In: Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, XV, 2011, Curitiba, Anais. Curitiba: INPE, 2011. p. 4840-4847.
TAGIMA, N.; TERABE, N. I. Minibacia do riacho Cambé: diagnóstico físico-ambiental e mapeamento detalhado de solos. Londrina: Grafor Indústria Gráfica e Editora Ltda., 2005.
TOLEDO, M. C. M.; OLIVEIRA, S. M. B. de; MELFI, A. J. Intemperismo e formação do solo. In: TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M. C. M. de; FAIRCHILD, T. R.; TAIOLI, F. (org). Decifrando a Terra. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.