Anais: Interações pedo-geomorfológicas
MINERALOGIA DE ROCHA ALTERADA EM REMANESCENTE DE SUPERFÍCIE APLAINADA II - PLANALTO DE PALMAS (PR)/ ÁGUA DOCE (SC)
AUTORES
Gosman Gomes de Lima, J. (MESTRANDO EM GEOGRAFIA - UNIOESTE) ; Pontelli, M.E. (UNIOESTE)
RESUMO
A rocha alterada que aflora no Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC), mantendo a
superfície incompletamente aplainada II, revelou na fração argila mineral quartzo,
de origem secundária, cristobalita primária com formato semelhante a placas, de
bordas arredondadas, e argilominerais tipo ilita e esmectita e tipo caulinita,
todos com reflexos baixos a muito baixos. O estágio de alteração é inicial, e o
processo de hidrólise parcial, evoluindo de bissialitização para
monossialitização.
PALAVRAS CHAVES
mineralogia; rocha alterada; Planalto de Palmas (PR)
ABSTRACT
The weathered rock that outcrops on the Palmas (PR) / Água Doce (SC) Plateau,
keeping the surface incompletely planed II, revealed in the clay fraction mineral
quartz, of secondary origin, cristobalite primary shaped like plates, rounded
edges, and clay minerals type illite and smectite and type kaolinite, all with
low to very low reflections. The stage of weathered is initial, and the process of
partial hydrolysis, evolving of bissialitização to monossialitization.
KEYWORDS
mineralogy; weathered rock; Palmas (PR) Plateau
INTRODUÇÃO
As unidades morfoesculturais do relevo constituem áreas relativamente homogêneas
quanto à morfologia existente. No estado do Paraná, região sul do Brasil,
individualizam-se cinco grandes unidades: Litoral, Serra do Mar, Primeiro
Planalto ou Planalto de Curitiba, Segundo Planalto ou Planalto de Ponta Grossa,
Terceiro Planalto ou Planalto do “trapp” do Paraná (MAACK, 1947).
Mantido por rochas efusivas mesozóicas do Grupo Serra Geral (MINEROPAR, 2005), o
Terceiro Planalto paranaense apresenta diversidade de formas de relevo, que
podem ser agrupadas em várias sub-unidades (Santos et al., 2006). No Sudoeste do
Paraná, a morfologia constitui-se de superfícies relativamente planas em
altitudes aproximadamente similares, ordenados para oeste com aspecto de
escadaria. Isso permitiu identificação de oito remanescentes de superfícies
incompletamente aplainadas no setor (Paisani et al., 2008).
A superfície incompletamente aplainada II, entre 1200 e 1300 m, apresenta-se
como amplo planalto, localmente denominado Planalto de Palmas (PR)/Água Doce
(SC). Essa superfície é mantida por rocha completamente alterada que, por
vezes, apresenta camada delgada de solo húmico com cerca de 50 cm (Volkmer,
1999), ou camadas de sedimentos coluviais, colúvio-aluviais e aluviais
entulhando vales secundários (Paisani et al., submetido), bem como afloramento
de rocha efusiva riolítica (Nardy et al., 2008), completamente sã.
A existência de rocha completamente alterada sob rocha sã ainda não é bem
compreendida. Sabe-se que a rocha alterada por vezes interdigita-se com riolito
sã, apresentando contatos nítidos, e que os relevos residuais da atual
superfície de cimeira (superfície I) são mantidos pelo riolito sã. As
características do material alterado sob a rocha sã, principalmente nos pontos
em que se observa interdigitação, ainda são desconhecidas. Sendo assim, neste
artigo é apresentada mineralogia de material alterado sob rocha sã no Planalto
de Palmas/Água Doce, sul do Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
O Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC) é mantido por rochas vulcânicas de
natureza ácida, do tipo riolito, que individualizam o Membro Palmas. A
mineralogia do riolito, no local, constitui-se por 16% de microfenocristais de
plagioclásio, 11% de augita, 3% de pigeonita, 5 % de magnetita, 1 % de apatita,
bem como cristais de piroxênios com hábito acicular. Esses são envolvidos por
trama de quartzo e feldspato alcalino em intenso crescimento granofírico,
correspondendo a cerca de 63% do volume total da rocha (Nardy et al., 2008). Os
afloramentos de riolito sã ocorrem nos relevos mais elevados, situados acima de
1300m. Entre 1200 e 1300 m aflora rocha de natureza completamente alterada,
sendo comum sua interdigitação com o riolito sã de forma abrupta.
Selecionou-se afloramento cujo contato rocha sã/rocha alterada é nítido para
levantamento de suas características físicas e mineralógicas. Em campo,
verificou-se a cor, utilizando-se das Rock Color Chart e Soil Color Chart, bem
como a estrutura dos materiais, individualizando os diferentes volumes dos
materiais da seção. Em cada volume coletou-se amostras para tratamento
granulométrico e mineralogia de raio-X de argila.
As amostras dos volumes reconhecidos foram submetidas a tratamento
granulométrico, para determinação da textura dos materiais. A granulometria foi
realizada no Laboratório de Formações Superficiais da UNIOESTE – Campus de
Francisco Beltrão, processada a partir da técnica de peneiramento para fração
grossa e de pipetagem para fração fina (SUGUIO, 1973, EMBRAPA, 1997, CARVALHO,
2008). A mineralogia da fração argila foi efetuada no Laboratório de
Difratometria de Raios-X, Instituto de Geociências da UFRGS, método orientada
natural, glicolada e aquecida, com objetivo de conhecer a mineralogia existente
no material completamente alterado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A seção descrita apresenta cerca de 8 m de extensão vertical, na qual é possível
individualizar quatro volumes distintos de materiais (figura 1). O volume I
corresponde à rocha riolítica halohialina, afanítica e equigranular (Nardy et
al., 2008), de cor bruno amarelada (10YR 6/2), aflorando na superfície.
Apresenta cerca de 4m de espessura com rede de fraturas verticais, de densidade
3/m², e horizontais de10/m². A passagem é abrupta para material completamente
alterado (volume II – Figura 1), textura média, estrutura maciça e cor marrom
clara (7.5YR 6/4). Ao ser coletado quebra-se em blocos angulares a prismáticos
que se desagregam completamente sob a pressão dos dedos. A consistência do
material no volume II é macia quando seco, passando a solto com umidade e pouco
plástico e pouco pegajoso, se molhado. Nos difratogramas de raio-x de argila não
aparecem picos representativos de minerais secundários bem cristalizados,
ocorrendo apenas picos de quartzo (Figura 2-A5). Possivelmente esse seja de
origem secundária, conforme detectado por Clemente (2001) em horizontes de
alteração na região de Palmas, através de análise por microscopia eletrônica de
varredura.
O material do volume III mantém a cor marrom (7.5YR 5/4) e as características de
consistência, porém apresenta textura siltosa, pequenas proporções de veios e
lentes de cor branca, bem como estrutura de blocos sub-angulares a angulares
(Figura 1). Nos difratogramas de raio-X de argila observa-se picos bem
desenvolvidos de cristobalita e quartzo, reflexos muito baixos de caulinita e
baixíssimos de ilita/esmectita (Figura 2- A4). A cristobalita é mineral primário
da família da sílica, porém pode se apresentar no tamanho argila e com formas
semelhantes a placas, mas com bordas arredondadas (Clemente, 2001). Caulinita
também foi identificada em perfis de alteração supérgena estudados por Clemente
(1988) e Volkmer (1999) na região de Palmas (PR), sugerindo intemperismo não
muito intenso, indicando processo de hidrólise parcial (monossialitização).
A partir dos 5,25 m de profundidade ocorre material siltoso, de cor vermelha
(7.5YR 5/3) que se comporta como massa vítrea, e estruturas menores de 2mm,
variando de alongadas à arredondadas, constituídas por material siltoso branco
(5Y 8/1), perfazendo em média 35% do material do volume (Figura1, volume IV).
Observa-se presença de fraturas de espessuras menores que 10 mm, orientadas em
diversas direções, preenchidas por material também de coloração branca e textura
siltosa, bem como por óxidos (figura 1). A consistência e a estrutura se mantém
em relação ao material subjacente. Os difratogramas de raio-X revelam, no
contato entre o volume III e IV, presença de ilita (2:1) e cristobalita (Figura
2-A3), seguidos por ilita, esmectita, cristobalita e quartzo no centro do volume
(Figura 2-A2), enquanto na base aparecem esmectita e quartzo (Figura 2-A1).
Ilitas e esmectitas já foram registradas em alteração de riolitos da região de
Palmas (PR), por Clemente (2001; 1988), e na região de Santa Maria (RS) por
Menegotto e Gaspareto (1887). Ilita é um argilomineral comumente encontrado em
estágios iniciais da alteração de feldspatos potássicos, enquanto a esmectita
aparece em estágios de intemperismo um pouco mais intenso (Meunier, 2005).
Seção SS1.
Figura 1. Desenho esquemático da seção SS1.
DRX seção SS1.
Figura 2. Difratogramas de raios-X dos volumes de
material da seção SS1.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mineralogia da fração argila em rocha alterada que aflora em remanescente de
superfície aplainada II no Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC), revelou
minerais primários como cristobalita presente na fração argila, bem como quartzo
de origem secundária em todos os volumes individualizados (II, III e IV). Ocorrem
argilominerais tipo caulinita, ilita/esmectita, ilita e esmectita com baixíssimos
reflexos nos volumes III e IV. Por meio das características mineralógicas, pode-se
inferir que o material alterado sob rocha sã no Planalto de Palmas (PR)/Água Doce
(SC) encontra-se em estágio inicial de alteração, processo de hidrólise parcial,
que está evoluindo de bissialitização para monossialitização.
AGRADECIMENTOS
A CAPES (coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), à Fundação
Araucária/SETI/Gov. Paraná (Convênio 407/2009) pelo auxílio financeiro e ao
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Geografia da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná, pelo auxílio financeiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
CARVALHO, N. O. Hidrossedimentologia prática. Rio de Janeiro, Editora Luterciência, 2ª Ed., 2008, 599p.
CLEMENTE, C. Alteração de solos desenvolvidos sobre rocha vulcânica ácida da Formação Serra Geral nos Planaltos de Guarapuava e Palmas, Região Centro Sul do Estado do Paraná. Piracicaba. 1988. 210p. Tese (doutorado em Agronomia). Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, UNESP.
CLEMENTE, C. A. Intemperismo de riólitos e riodacitos da Formação Serra Geral
(Jurássico-Cretáceo), das regiões sul e sudeste do Brasil. 2001. 216 f. Tese (Livre Docência) – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/USP, Piracicaba, 2001.
EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias). Manual de métodos de análise de solo. Rio de Janeiro. Centro Nacional de Pesquisa de Solo, 1997, p, 27 – 34.
MAACK, R. Breves notícias sobre a Geologia dos Estados do Paraná e Santa Catarina. Arquivos de Biologia e Tecnologia, v. 2, p. 63-154, 1947.
MENEGOTTO, E.; GASPARETTO, N.V.L. Intemperização de rochas vulcânicas básicas e ácidas na região de Santa Maria-RS. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOQUÍMICA, 1.,1987, Anais... 1987. v.2, p. 69-83.
MEUNIER, A. Clays. Springer Berlin Heidelberg. Nova York, 2005, 472p.
MINEROPAR – Minerais do Paraná S. A. Geoquímica de solo – horizonte B: Relatório Final de Projeto. Curitiba: Mineropar, 2005.
NARDY, A. J. R.; MACHADO, F. B. OLIVEIRA, M. A. F. As rochas vulcânicas mesozóicas ácidas da Bacia do Paraná litoestratigrafia e considerações geoquímico-estratigráficas. Geociências (UNESP), São Paulo, v. 38, n. 1, p. 178-195, 2008.
PAISANI, J. C.; GEREMIA, F. Evolução de encostas no Planalto Basáltico com base na análise de depósitos de colúvio – médio vale do rio Marrecas, SW do Paraná. Geociências, UNESP, v.29, n.3, p.321-334, 2010.
PAISANI, J.C.; PONTELLI, M.E.; ANDRES, J. Superfícies aplainadas em Zona Morfoclimática Subtropical Úmida no Planalto Basáltico da Bacia do Paraná (SW Paraná/ NW Santa Catarina): Primeira aproximação. In: Geociências (UNESP), São Paulo, v. 27, n. 4. p. 541-553. 2008.
PAISANI, J.C.; PONTELLI, M.E; CALEGARI, M.R. Evolução de bacias de baixa ordem hierárquica no Planalto de Palmas/Água Doce (Sul do Brasil) nos 41.000 anos AP – o caso da seção HS1. Mercator, UFC, submetido.
SANTOS, L.J.C.; OKA-FIORI, C.; CANALI, N.E.; FIORI, A.P.; SILVEIRA, C.T.; SILVA, J.M.F.; ROSS, J.L.S. Mapeamento geomorfológico do Estado do Paraná. Revista Brasileira de Geomorfologia, V.7, n.2, 2006, pg. 03-12.
SANTOS, R. D. et al. Manual de descrição e coleta de solos no campo. 5ª ed. Viçosa; SBCS, 2005.100p.
SUGUIO, K. Introdução à sedimentologia. São Paulo, Ed. Edgard Blücher, 1973, 317p.
TRUFFI, S. A. Alteração de solos desenvolvidos a partir de rocha vulcânica ácida da Formação Serra Geral na região de Pirajú (SP). 2000. Dissertação (Mestrado em Agronomia). Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, UNESP, Piracicaba.
VOLKMER, S. Mineralogia e morfologia de coberturas de alteração desenvolvidas em rochas vulcânicas ácidas: os exemplos de Palmas e Pinhão, PR. 1999. Tese (Doutorado em Geoquímica e Geotectônica) – Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo.