Anais: Geomorfologia costeira
Mapeamento da Descarga Fluvial no Litoral Sul da Bahia como Ferramenta para Avaliação De Impactos Sobre Recifes de Coral
AUTORES
Rocha, P. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ) ; Marcelo Reuss Strenzel, G. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ)
RESUMO
O mapeamento das descargas fluviais no litoral sul da Bahia foi realizado visando
contribuir para o entendimento da dinâmica costeira e avaliar o aporte de
sedimentos continentais sobre os recifes de coral neste setor da costa. O
Sensoriamento Remoto oferece uma visão sinóptica dos processos oceanográficos em
escala regional, possibilitando uma redução do esforço amostral. O mapeamento foi
realizado através da aplicação de um modelo empírico para estimar o total de
sedimento em suspensão.
PALAVRAS CHAVES
Sensoriamento Remoto; Sedimento em Suspensão; Recife de Coral
ABSTRACT
The mapping of river discharges on the southern coast of Bahia was conducted to
contribute to the understanding of coastal dynamics and assess the contribution of
continental sediments on coral reefs in this sector of the coast. Remote sensing
provides a synoptic view of oceanographic processes on a regional scale, enabling
a reduction in sampling effort. The mapping was performed by applying an empirical
model to estimate the total suspended sediment.
KEYWORDS
Remote sensing ; suspended sediment; coral reefs
INTRODUÇÃO
O Sul e Extremo Sul da Bahia possuem, assim como todo o Brasil, uma rica
Zona Costeira, de grande importância econômica social e ambiental. A Zona
Costeira é a região entre o continente e o mar, englobando cerca de 20% de toda
superfície do planeta. Na Bahia ela é delimitada por uma estreita faixa
litorânea rica em diversos tipos de paisagens como recifes, costas rochosas,
estuários, brejos, falésias, praias, restingas, dunas, ilhas e manguezais,
possuindo uma grande diversidade da fauna e flora. Além disso, o Brasil possui
os únicos recifes coralíneos do atlântico sul que se distribuem aproximadamente
em 3 mil km de costa do Maranhão ao Sul da Bahia.
Na plataforma continental, ocorrem processos oceanográficos, gerados por
correntes oceânicas e descargas fluviais, que fornecem uma grande quantidade de
nutrientes para a coluna de água e assoalho marinho, que podem ser utilizados na
produção primária pelo fitoplâncton. Porém, a descarga fluvial, é também
responsável pelo aporte de sedimento em suspensão no sistema pelágico da
plataforma continental.
Os rios são considerados as maiores fontes de sedimentos para os oceanos
através das descargas fluviais. O uso incorreto do solo, poluição dos rios pelas
atividades industriais, comerciais e de recreio, pode estar correlacionado a um
aumento da concentração dos sedimentos suspensos nas águas costeiras. Assim,
de acordo com Cortés (1985), as descargas fluviais exercem grande pressão sobre
os corais pétreos, devido ao aporte de água doce e sedimento em suspensão, o que
causa sombreamento e, em casos extremos, o entupimento dos pólipos.
Os fluxos de material em suspensão e os elementos biogênicos que são
levados a zona costeira pela descarga fluvial modificam a realização da ciclagem
de matéria e da eficiência produtividade primária. Assim, alterações, naturais
ou antropogênicas, sobre o regime de descarga dos rios na região de sua foz tem
conseqüências para o desenvolvimento das redes tróficas.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi elaborada uma base de dados através de imagens de satélite Landsat TM com
imagens de anos diferentes a fim de montar uma sobreposição das mesmas e
analisar os sedimentos suspensos.
A correção atmosférica é de extrema importância devido ao vapor de água,
nuvens ou outros constituintes atmosféricos que podem provocar alterações no
fluxo radiante proveniente do alvo. Foi aplicado nas imagens a correção
geométrica que serve para minimizar as distorções geométricas das imagens. De
acordo com Crósta (1992), esse processo envolve a identificação de 6 a 10 pontos
de controle em uma imagem de 1.000 x 1.000 pixels e no mapa correspondente.
Esses pontos de controle são normalmente feições bem definidas, de grande
contraste espectral na imagem e de fácil reconhecimento, tanto na imagem como no
mapa.
Foi criada uma Mascara booleana que, segundo Reuss-Strenzel (2004), os
níveis de reflectância sobre o mar são muito inferiores aos níveis de
reflectância sobre a terra, apresentando assim um padrão de reflectância bi-
modal. Dessa forma, optou-se pela eliminação do continente, atribuindo a esse um
valor igual a zero. Assim, as informações espectrais registrada pelo sensor
sobre a superfície terrestre foram eliminadas, ficando somente a reflectância
nas áreas oceânicas.
Uma mascara booleana foi feita na banda λ4, que apresenta grande
sensibilidade a presença de sedimentos em suspensão. Para a eliminação do sinal
emitido pelas nuvens, atribuiu-se a ela um valor igual a zero. Após a elaboração
das mascaras booleanas do continente e da nuvem, multiplica-se as duas mascaras,
formando uma única mascara com o valor de 0 para as nuvens e continente e valor
de 1 para a superfície marinha.
A variabilidade de reflectância detectada pelo Landsat TM para o mar é
reduzida quando comparada ao ambiente terrestre, devido à absorção da luz pela
coluna de água. Segundo Reuss (2004), a filtragem reduz a resolução da imagem,
que pode remover a informação relacionada com a textura de habitats.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os mapas de TSS obtidos foram organizados em uma Base de Dados Geográficos e
sobrepostos à linha de costa, além de fatores que influenciam o aporte de
sedimentos em suspensão na área de interesse, como a hidrografia e a
distribuição do Grupo Barreiras. Isto permitiu a visualização e comparação dos
mapas, de modo a gerar noções sobre as principais fontes de sedimentos, bem como
os processos que controlam a distribuição do TSS na área de interesse. O Grupo
Barreiras é, possivelmente, a maior fonte de sedimentos para a plataforma
continental no sul da Bahia. Trata-se de uma unidade geológica de origem
sedimentar que ocorre regularmente ao longo do litoral do Amapá ao Rio de
Janeiro. O Barreiras foi depositado durante eventos transgressivos ocorridos
durante o Mioceno e seu retrabalhamento no Quaternário contribuiu para a atual
configuração da Plataforma Continental (ARAI, 2006). Seus depósitos no litoral
sul da Bahia se estendem em forma de tabuleiros regulares de Ilhéus a Mucuri e
são formados por depósitos fluviais e transicionais mal selecionados e com
grande proporção de finos (LIMA et al., 2006). Entre os rios que deságuam na
região, o que apresentou o maior potencial para carrear sedimentos para o
oceano nas imagens analisadas é o Jequitinhonha. Isto se deve à sua maior vazão
média nas datas, 9/5/1987, 25/5/1987, 25/8/2009 e 25/5/1993 em que as imagens
foram obtidas, bem como a uma maior carga sedimentar observada visualmente nas
imagens. Os principais processos oceanográficos responsáveis pela distribuição
do TSS ao longo da plataforma continental são a deriva litorânea e as correntes
de maré na plataforma interna, além da Corrente do Brasil junto ao talude.
Assim, a quantidade de sedimento em suspensão perto de desembocaduras dos rios é
grande devido à quantidade de TSS que é trazido do continente. Quando mais forte
a cor, no caso vermelho escuro, maior a concentração de substancias amarelas
(matéria orgânica dissolvida e particulada (KAMPEL, ET AL 2005). Esse tipo de
água caracteriza uma pluma do caso 2, que é rica em matéria orgânica dissolvida.
A quantidade de Sedimento em Suspensão é maior quando é localizada mais próxima
da costa e com a profundidade de até 5 m. Os rios localizados na Bahia são
marcados segundo Knoppers (1999), por um padrão de fluxo unimodal sazonal, mas
diferem em amplitude. A variabilidade sazonal tem estações de chuva com alto
fluxo e até inundações e durante a estação de seca com baixo fluxo. As correntes
longitudinais ou paralelas a costa carregam esse aporte fluvial e possibilitam a
mistura de material vindo dos rios com as águas litorâneas no sistema costeiro
de circulação. Essas partículas possuem a capacidade de inibir ou enriquecer os
ecossistemas costeiros, causando eutrofização e degradação de habitats marinhos
biologicamente produtivos (FABRICIUS, 2005), Assim, além de aumentar a turbidez
da água, uma grande concentração de TSS possibilita a diminuição de oxigênio
dissolvido na água. Nos rios Cachoeira e Jequitinhonha a quantidade de TSS é
maior e dispersa durante a deriva Norte que entra em contraste, quando a
profundidade aumenta, com a Corrente Sul do Brasil dispersando os sedimentos que
estão mais longe da costa na direção sul. A vazão do rio cachoeira é de 3.1 m³/s
que é baixa comparada com o rio Jequitinhonha que teve a vazão na mesma data de
19/07/2007, de 145.9 m³/s. Observa-se dessa forma que com uma vazão maior o rio
Jequitinhonha dispersa mais sedimentos na costa.
Há uma grande quantidade de sedimento em suspensão durante a deriva norte que
também sofre a influência da Corrente Marinha do Brasil, na direção Sul. A
dispersão de sedimento ocorre com uma maior freqüência nas épocas em que a
deriva está seguindo em direção ao norte. As regiões onde a formação barreiras é
mais presente, nota-se, também que ocorre uma dispersão maior dos sedimentos
aumentando a turbidez da água devido a atuação do intemperism
Mapa de Sedimento em Suspensão
Mapa de Sedimento em Suspensão dos rios Cachoeira,
Pardo e Jequitinhonha no Sul da Bahia
Mapa de Sedimento em Suspensão
Mapa de Sedimento em Suspensão dos rios Jurucuru e
Peruíbe no extremo Sul da Bahia
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo abrangente através do mapeamento
de sedimentos em suspensão de origem fluvial dos principais rios do Sul da Bahia
Os dados obtidos através do sensoriamento remoto permitem a aquisição de
informações resumidas sobre as grandes áreas superficiais tanto oceânicas como
terrestres com um baixo custo. As informações geradas através das imagens
forneceram as distribuições da concentração de sedimento em suspensão na camada de
turbidez, evidenciando as informações referentes à entrada e dinâmica do sedimento
na zona costeira do Sul da Bahia. Assim, nota-se que a dispersão dos
sedimentos ocorre com em maior freqüência na deriva direcionada ao norte,
principalmente nas regiões onde há formação barreiras e também devido a forte
atuação do intemperismo, principalmente através dos afluentes que sofreram com a
retirada das matas ciliares das encostas dos rios. Dessa forma, os recifes de
coral têm sido ameaçados devido a sedimentação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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