Anais: Geomorfologia costeira
DERIVAÇÕES ANTROPOGÊNICAS NO LITORAL NORTE DO ESTADO DE SERGIPE
AUTORES
Vieira Gois, D. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; da Cruz, R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Pereira Lima, L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; dos Santos Macedo, H. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE)
RESUMO
O presente trabalho visa analisar as derivações antropogênicas na planície
costeira dos municípios do litoral norte do estado de Sergipe. Para a
concretização de tal objetivo, realizou-se trabalho de campo com visita in loco,
além de revisão bibliográfica acerca da problemática estudada. Nesse ínterim,
pode-se ressaltar que a dinâmica costeira no litoral norte do estado de Sergipe é
fortemente influenciada pelas ações antrópicas, sendo essa um catalisador da
dinâmica da paisagem costeira.
PALAVRAS CHAVES
Litoral Norte; Sergipe; Derivações Antropogênicas
ABSTRACT
This work analyzes the anthropogenic lead in the coastal plain of the
municipalities of the north coast of the state of Sergipe. The achievement of this
goal, we carried out field work with on-site visit, and literature review
concerning the problem studied. In the meantime, it may be noted that the coastal
dynamics on the northern coast of the state of Sergipe is strongly influenced by
human actions, this being a catalyst of dynamic coastal landscape.
KEYWORDS
North Coast; Sergipe; Anthropogenic Lead
INTRODUÇÃO
A zona costeira é caracterizada por um sistema complexo, imbricado por uma gama
de inter-relações que se dão entre os meios, biótico, ecológico e antrópico,
constituindo-se assim em um ambiente de elevada fragilidade ambiental.
Frente a toda sensitividade do ecossistema costeiro, evidencia-se que
historicamente essa zona foi alvo da ocupação do território nacional, dando
lugar às grandes capitais brasileiras, onde a densidade demográfica é elevada,
gerando deste modo, elevados níveis de degradação nos sistemas biofísicos
costeiros.
Nesse sentido, Costa (2010) destaca que, identificada como área crítica, a
região costeira apresenta ecossistemas complexos (estuários, manguezais,
pântanos, brejos, lagunas, planícies de maré, recifes de coral e dunas) que
convivem lado a lado com as atividades industriais, comerciais, produção de
alimentos, recreação e turismo.
Assim, a zona costeira sofre diversas modificações no seu sistema de
funcionamento natural, sendo estas oriundas dos diferentes níveis de derivações
fixadas pelas ações humanas nos ambientes litorâneos, as derivações
antropogênicas.
Destarte, frente ao intenso processo de impactos oriundos, sobretudo da ação
humana nos sistemas ambientais costeiros sergipanos, o presente trabalho
objetivou analisar as derivações antropogênicas dos principais municípios
localizados na planície litorânea que compõem o litoral norte do estado de
Sergipe, sendo estes defrontantes com o mar, a saber: Barra dos coqueiros,
Pirambu, Pacatuba e Brejo Grande, utilizando como ferramenta a análise
integradora da paisagem.
MATERIAL E MÉTODOS
O Litoral Norte contempla 17 municípios, totalizando uma área de 2.859,6 km²
apresentando uma diversidade geoecológica muito grande (VILAR, 2011).
Frente a dimensão territorial dos municípios componentes do litoral norte de
Sergipe, optou-se no presente trabalho por trabalhar com os municípios costeiros
defrontantes com o mar, a saber, Barra dos Coqueiros, Pirambu, Pacatuba e Brejo
Grande.
De acordo com o IBGE (2010), os municípios que compõem a área de estudo, a
possuem uma população de 54.224 pessoas, perfazendo assim, 4% da
população total do Estado de Sergipe.
Para Fonseca (2009), uma das suas principais características do litoral norte
sergipano é a presença de áreas naturais preservadas, onde pode ser encontrada a
Unidade de conservação (UC) Reserva Biológica (REBIO) de Santa Isabel.
Ainda com relação aos atributos geoecológicos da área e seus níveis de
preservação, pode-se destacar a forte pressão que vem sendo direcionada para
esse espaço costeiro, haja vista a existência de vários projetos turísticos
direcionados para a alocação de resorts e condomínios fechados em áreas
ambientalmente frágeis, dunas restingas e cordões litorâneos.
Para a concretização de tal objetivo, realizou-se trabalho de campo com visita
in loco nas áreas de estudo, elem de revisão bibliográfica acerca da
problemática estudada.
O homem como agente no processo de dinâmica das paisagens age de modo a alterar
tanto positivamente, quanto negativamente os sistemas ambientais por ele
habitados, derivando assim diferentes níveis de alteração nos sistemas
biofísicos terrestres, o que Monteiro (1978) denomina por derivações
antropogênicas.
Deste modo, frete a intensa complexidade imbuída na zona litorânea, e os
diferentes graus de alteração decorrentes das ações do homem, optou-se pelo uso
ferramenta analítica da análise integrada da paisagem, ancorada nos pressupostos
sistêmicos de BERTRAND (1972) e MONTEIRO (1978).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A dinâmica da paisagem dar-se-á na interação entre os atributos da natureza e da
sociedade, sendo deste modo, necessária uma análise que apreenda esses dois
sistemas numa perspectiva holística de ambiente, onde os elementos físicos,
biológicos e antrópicos sejam compreendidos como um continuum na paisagem.
Podemos destacar que o sistema litorâneo é fortemente influenciado pelas ações
humanas, haja vista ser essa a área de maior concentração da população no
território brasileiro, derivando assim problemas de ordem ambiental dos mais
notórios, como poluição hídrica, desmatamento de manguezais, desmanche de dunas,
dentre outros.
Para Costa (2010), os principais fenômenos causadores de impactos na zona
costeira, sobretudo nos sistemas dunares, são extração de areia (mineração),
herbivoria, recreação, deposição de lixo, introdução de espécies exóticas,
pavimentações e obras.
No litoral sergipano, essa dinâmica não é diferente, pois é neste ambiente onde
se encontra a capital do estado, Aracaju. Embora não seja objeto do presente
estudo, deve-se salientar que o município supracitado foi edificado em
detrimento dos ecossistemas litorâneos outrora existentes no sítio de seu
assentamento, como manguezais, restingas, apicuns, o que compromete a dinâmica
deste setor do litoral sergipano.
O município de Barra dos Coqueiros não foge a regra, sobretudo pela forte
especulação imobiliária. Neste município estão sendo construídos mega
empreendimentos, sobretudo condomínios fechados que ocupam grande parte da
fachada litorânea, sendo sua consolidação advinda de aterrados cordões
litorâneos, desmonte de dunas, derrubada de manguezais, dentre outros impactos
que acarretam na descaracterização dos sistemas biofísicos costeiros.
A progradação artificial da praia de Atalaia Nova em Barra dos Coqueiros foi
gerada a partir da construção do molhe na desembocadura do rio Sergipe,
localizado na margem esquerda do mesmo, impedindo a passagem de sedimentos
transportados pela deriva litorânea, promovendo a progradação da linha de costa,
a exemplo da praia de Jatobá onde se detectou também a progradação de
aproximadamente 1000 metros condicionada pela construção do terminal Portuário
Inácio Barbosa (BARBOSA & COSTA, 2012).
Para os autores supracitados, a estrutura do porto está impedindo a passagem dos
sedimentos carreados pelas correntes de deriva litorânea provocando além da
progradação da praia do Jatobá, a erosão da praia da Costa próximo ao hotel
Dioro Santa Luzia, devido ao déficit de sedimentos retidos a montante (figura 02
- foto C).
O município de Pirambu não apresenta tantos impactos adversos quando comparados
as outras cidades que compõem o litoral norte sergipano. Nesse município podemos
salientar o processo de vossorocamento (figura 02 – foto D) decorrente da
construção de vias de acesso (estradas), caracterizando nesse sentido a perda de
solo, e a criação de áreas degradadas.
O município de Brejo Grande destaca-se pela grade variabilidade/instabilidade de
sua linha de costa, fato que se deve sobretudo pela diminuição da vazão do Rio
São Francisco, que devido a construção de obras de engenharia, notadamente
barragens em seus alto e médio cursos teve o fluxo tanto de sedimentos como
hidráulico enfraquecidos, ocasionando assim uma maior atuação do mar na
esculturação da linha de costa, ocasionando a forte instabilidade neste setor do
litoral norte sergipano. A título de exemplo das conseqüências dos represamentos
no velho Chico, pode-se destacar a destruição do povoado Cabeço no município de
Brejo Grande (figura 02 – foto E).
No município de Pacatuba, apresar dos atuais níveis de preservação, onde se pode
enfatizar o ecossistema pantanal (figura 2 – fito F), deve-se salientar a ameaça
do comprometimento de tal sistema ambiental, frente ao processo tanto de
pecuária como de especulação imobiliária e atividades turísticas associadas,
visto os impactos ambientais a eles associados.
MOSAICO
Figura 02 – Mosaico representativo das derivações
antropogênicas nos municípios do litoral norte do
estado de Sergipe;
RECORTE ESPACIAL DA ÁREA DE ESTUDO, 2012;
Figura 01- Recorte espacial da pesquisa;
Fonte: BARBOSA & COSTA, 2012;
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Obedecendo a uma lógica nacional, a planície costeira apresenta uma estridente
especulação imobiliária, evidente principalmente no município de Barra dos
Coqueiros, havendo assim uma expansão para Pirambu.
No que diz respeito ao turismo, pode-se salientar o potencial de crescimento desse
setor no litoral norte sergipano, tendo em vista os incentivos do Estado via
construção de pontes e estradas, o que é preocupante, e deve ser analisado com
rigor, pois se tomarmos como pressuposto a ocupação do litoral sul poderemos
evidenciar alguns impactos advindos do turismo de veraneio desenfreado, o que pode
ser prognosticado para o setor norte do litoral sergipano.
Ademais, pode-se ressaltar que a dinâmica costeira no litoral norte do estado de
Sergipe é fortemente influenciada pelas ações antrópicas, sendo essa configurada
como um catalisador da dinâmica da paisagem costeira sergipana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
BARBOSA, A. M. F.; COSTA, J. J. Análise de Conflitos Socioambientais: o Processo de Ocupação Costeira no Litoral Norte do Estado de Sergipe. Anais do I Seminário Nacional do Geoecologia e Planejamento Territorial e IV Seminário do Geoplan, São Cristóvão : Geoplan, 2012. v. I. p. 1-12.
BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Global: esboço metodológico. São Paulo: Universidade de São Paulo, Instituto de Geografia, Cadernos de Ciências da Terra, (13) pp. 1-27, 1972.
COSTA, J. J. ; MELO e SOUZA, R. Derivações Antropogênicas e Dinâmica Ambiental do Sistema Praia-Duna do Litoral Norte de Sergipe. In: José Wellington Carvalho Villar; Hélio Mário de Araújo. (Org.). Território, Meio Ambiente e Turismo no Litoral Sergipano. 1 ed. São Cristóvão: Editora da Universidade Federal de Sergipe, 2010, v. 1, p. 146-167.
FONSECA, V. ; VILAR, J. W. ; SANTOS, M. A. N. . Reestruturação Territorial no Litoral de Sergipe, Brasil. In: 12º Encuentro de Geógrafos de America Latina, 2009, Montevideo. Encuentro de Geógrafos de America Latina - Caminando en una América Latina em transformación. Montevideo : Imprenta GEGA, 2009. p. 79-87.
MONTEIRO, CARLOS. A. F. . Derivações Antropogênicas dos Geossistemas Terrestres no Brasil e alterações climáticas. ACIESP, p. 43-74, 1978.
VILAR, J. W. C. ; SANTOS, M. A. N. AS ÁREAS LITORÂNEAS DE SERGIPE (BRASIL): DA ANÁLISE GEOGRÁFICA A GESTÃO INTEGRADA DO TERRITÓRIO. Revista Geográfica de América Central, v. 2, p. 1-19, 2011.