Anais: Geomorfologia costeira

Dunas Frontais no estado do Rio de Janeiro: Ocorrência, Morfologia e Dinâmica.

AUTORES
Moulton, M.A.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Oliveira Filho, S.R. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Rocha, T.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) ; Fernandez, G.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE)

RESUMO
As dunas frontais do RJ se encontram em estágios evolutivos distintos. Podemos destacá-las em quatro áreas onde se apresentam mais bem desenvolvidas; Praia de Atafona (São João da Barra), Praia do Peró e Praia do Forte (Cabo Frio), e Praia da Massambaba (Arraial do Cabo). Tendo estas dunas frontais como área de estudo, este trabalho visou, através de um mapeamento tridimensional detalhado com auxílio de DGPS, caracterizar as feições morfológicas que indicam os processos morfodinâmicos atuantes.

PALAVRAS CHAVES
dunas frontais; morfodinâmica; MDE

ABSTRACT
The foredunes of RJ can be found situated in different evolutionary stages. We can be highlighted as being areas where these deposits appear in a more developed stage; Atafona Beach (São João da Barra), Peró Beach and Forte beach (Cabo Frio), and Massambaba Beach (Arraial do Cabo). Having these foredunes as a study area, this study aimed, through a detailed three-dimensional mapping with the aid of DGPS, characterize the morphological features that indicate the active morphodynamic processes.

KEYWORDS
foredunes; morfodynamics; DEM

INTRODUÇÃO
Dunas frontais são formações de cristas dunares arenosas formadas adjacentes à praia. Essas feições, que variam muito em sua morfologia, são formadas pela retenção de sedimentos arenosos por meio da colonização de vegetação pioneira. Apesar de existir uma ampla discussão sobre a própria definição e a gênese (marinha ou eólica) das dunas frontais (e.g. Davies, 1957, 1977; Bird, 1965, 1976; Mackenzie, 1958; Thom, 1965; Hesp, 1989, 1991, 2002), essas feições possuem papel importante para a morfodinâmica praial. A ocorrência natural dessas feições é resultado da associação entre as características morfodinâmicas das praias, padrão de sedimentação na zona submarina adjacente, caracterização do regime de ventos, alinhamento da costa e papel da vegetação em criar condições de retenção de sedimentos na planície costeira. Campos de dunas só ocorrem no litoral fluminense entre a Marambaia e a foz do Rio Itabapoana, uma vez que nestes segmentos podem ser observadas características fundamentais para que dunas se desenvolvam (Fernandez et al., 2009). Dentro deste trecho do litoral fluminense destacam-se quatro áreas onde o desenvolvimento dos campos de dunas frontais se torna mais expressivo, mas em diferentes estágios evolutivos; são eles a Praia de Atafona (São João da Barra) no compartimento norte do litoral fluminense, a Praia do Peró e Praia do Forte (Cabo Frio), e a Praia da Massambaba (Arraial do Cabo), todas três na Região dos Lagos. O objetivo principal desta pesquisa foi, portanto, a caracterização das feições morfológicas dos campos de dunas frontais que indicam os processos morfodinâmicos atuantes, através de um mapeamento detalhado. Esta caracterização é vista como uma possível ferramenta de análise para prognósticos sobre a evolução da linha de costa, uma vez que esta dinâmica afeta diretamente o ordenamento territorial/ambiental da zona costeira.

MATERIAL E MÉTODOS
A primeira etapa da metodologia consistiu principalmente em uma pesquisa bibliográfica de trabalhos sobre a geomorfologia do litoral fluminense, principalmente os que tratam da ocorrência e evolução das dunas frontais. Em seguida, foi realizado o mapeamento das dunas frontais, a partir de mosaicos construídos com imagens de alta resolução (IKONOS) com resolução de 1 metro, e fotografias aéreas em escala de detalhe, para as áreas em que foram observadas feições eólicas representativas. Desta maneira, pode ser definida a área de estudo da pesquisa, priorizando as áreas onde as dunas frontais se encontram bem desenvolvidas e pouco alteradas pela ação antrópica. Na segunda etapa foram realizadas as aquisições dos dados topográficos necessários para o mapeamento detalhado da morfologia existente. Os levantamentos de campo foram realizados ao longo dos anos de 2010 e 2011, totalizando um levantamento para cada sistema de duna frontal, sendo quatro ao todo. Para mapeamento, visando uma maior acurácia, foi utilizado um receptor DGPS (Diferencial Global Positioning System), da marca TechGeo e modelo GTR-G2 em dupla frequência (L1/L2). Assim foi possível a caracterização morfológica dos quatro sistemas de dunas frontais, com um erro máximo de 10mm + 1ppm. Em campo foram seguidos parâmetros para garantir a representatividade da área mapeada e para fins de comparação dos modelos gerados. Os limites das áreas representativas foram padronizados como sendo de 300m de comprimento (longitudinal) para todos os casos, e variando a largura (transversal) de acordo com a distância do limite do reverso das dunas frontais até a face de praia ou limite de espraiamento das ondas. Terminada a coleta dos dados em campo, realizou-se a terceira etapa, onde o equipamento foi levado para o Laboratório de Geografia Física (LAGEF) da Universidade Federal Fluminense (UFF), para que fosse efetuado o descarregamento e correção dos dados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram gerados MDE do terreno, representativos das áreas de estudo; Praias de Atafona, Peró, Forte e Massambaba. A diferença morfológica encontrada entre os modelos se dá em função de fatores desde orientação da linha de costa até aspectos climato-metereológicos, influenciando na gênese destas dunas. O mapa 1 mostra a diferença de orientação da costa na área de estudo, enquanto a figura 1 mostra no MDE as diferenças morfológicas existentes. Praia de Atafona (São João da Barra-RJ) As dunas frontais da praia de Atafona, localizadas a sul do delta do rio Paraíba do Sul, apresentam particularidades. À norte, nota-se um campo de dunas de largura reduzida e altura considerável, enquanto à sul ocorre um decréscimo de altura. Fernandez et al. (2008) propõe que o desenvolvimento vertical das dunas frontais na área ocorre por uma rápida progradação e, em seguida, uma erosão da face das dunas contribuindo para o espessamento vertical. No MDE é possível identificar estas características marcantes de elevação altimétrica e processos erosivos atuantes. As dunas frontais neste trecho apresentam cotas bem elevadas, onde a máxima registrada foi de 11m, a maior das áreas mapeadas. Identifica-se também no modelo cortes eólicos bem definidos e orientados na direção NE-SW, apresentando evidências da mobilidade das dunas por ação eólica. Praia do Peró e Praia do Forte (Cabo Búzios-RJ) A região entre o Cabo Frio e o Cabo Búzios é a área de maior representatividade, onde os campos de dunas são mais desenvolvidos. As praias do Forte, Peró e Tucuns, são os arcos de maior expressividade em termos de feições eólicas. Estas praias apresentam características dissipativas, garantindo condições para a formação de dunas. Nessas praias Fernandez (2007), Pereira (2008) e Oliveira Filho (2011), sugerem que a formação das dunas frontais se ocorre a partir do retrabalhamento eólico preferencialmente de NE, soprando do mar-terra removendo areia da antepraia em direção ao interior. As dunas frontais do Peró são bem desenvolvidas, com cotas máximas de quase 6m e com presença de vegetação fixadora. Os cortes eólicos, como ilustrado no MDE (Figura 1), são bem definidos e sugerem uma migração de sedimentos para o interior da planície. A semelhança entre as duas praias e o processo de formação de seus campos de dunas frontais fica evidente no MDE. Além de terem características topográficas semelhantes, com tendências dissipativas, extensas planícies para o desenvolvimento de dunas e as dunas móveis interioranas, apresentam as mesmas formas eólicas marcantes. Em ambos os casos, o papel da vegetação no desenvolvimento das feições eólicas é notável. A vegetação de gramíneas e outras plantas reptantes (e.g. Ipomoea portulacoide), garantem o início da fixação das dunas. Praia da Massambaba (Arraial do Cabo-RJ) As dunas da Massambaba se estendem por 20 km ao longo do arco praial, localizado a oeste de Cabo Frio. As dunas frontais da Massambaba formam um campo de dunas anômalo, , uma vez que esta área está submetida a ventos terra-mar. A ocorrência de dunas na praia da Massambaba foi explicada por Fernandez et al. (2009), como sendo principalmente em função de eventos de tempestade, onde as ondas transportam sedimentos por eventos de transposição (overwash) removendo sedimentos da zona submarina até o reverso da barreira. A vegetação atua como uma armadilha desse material, provocando uma agradação vertical e lateral das dunas. A partir do MDE é possível notar que o padrão das dunas frontais da Massambaba é descontínuo, apresentando elevações isoladas uma das outras. Esta configuração das dunas se dá em virtude da ação cíclica das ondas de tempestade, que apesar de contribuir para a manutenção do estoque sedimentar, também são responsáveis pelo seu rearranjo espacial. As freqüentes tempestades também inibem o crescimento vertical das dunas, que apresentam a menor média de altura entre os quatro modelos gerados.

Mapa 1

Localização da área de estudo.

Figura 1

Modelos digitais de elevação (MDE) representativos dos quatro campos de dunas frontais estudados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A metodologia utilizada neste trabalho apresentou-se como excelente instrumento de mapeamento e de verificação científica de dados para a caracterização morfológica das feições costeiras, principalmente das dunas frontais. A partir dos modelos digitais de elevação (MDE) foi possível identificar os processos morfodinâmicos formadores e transformadores das dunas frontais, consagrando o método utilizado. Esta consagração se deu em virtude do confronto de dados obtidos em campo com os trabalhos de Fernandez (2003), Fernandez et al. (2006, 2007, 2008a e 2008b), Pereira (2008), Pereira et al. (2007, 2008a, 2008b e 2010), Rocha (2008), Oliveira Filho (2011), Correa (2008), verificando uma concordância entre os resultados obtidos em todos os trabalhos, que se remetem as áreas estudadas.

AGRADECIMENTOS
À CAPES, pela concessão de bolsas de estudo de Mestrado e Doutorado.

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