Anais: Geomorfologia costeira
PROCESSOS COSTEIROS E AÇÕES ANTRÓPICAS: REPERCUSSÕES NA PAISAGEM DO MUNICÍPIO DE BARRA DOS COQUEIROS – SERGIPE
AUTORES
de Souza Alves, N.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE/DGE) ; Barbosa da Silva, D. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE/DGE)
RESUMO
A paisagem de Barra dos Coqueiros corresponde a unidade geomorfológica Planície
Costeira. Este estudo apoiado nas propostas holístico-sistêmicas objetivou a
análise das repercussões decorrentes da interação entre os processos dinâmicos e
ações antrópicas. Os resultados revelaram o elevado grau de fragilidade das
feições geomorfológicas, estando a paisagem sujeita a alterações irreversíveis,
evidenciada, principalmente, através erosão e progradação da linha de costa.
PALAVRAS CHAVES
Processos costeiros; Ações antrópicas; Paisagem
ABSTRACT
The landscape of the Barra dos Coqueiros corresponds to geomorphological unit
Coastal Plain. This study supported the proposed holistic-systemic aimed at
analyzing the consequences arising from the interaction between the dynamic
processes and anthropogenic actions. The results revealed the high degree of
fragility of geomorphological features, the landscape being subject to
irreversible changes, as evidenced mainly through erosion and progradation of the
shoreline.
KEYWORDS
Coastal Processes; Actions anthropogenic; Landscape
INTRODUÇÃO
A zona costeira é uma área onde se verifica interações entre a dinâmica
continental, oceanográfica e atmosférica, resultando em feições morfológicas
distintas, que evoluem sob determinados processos e condicionantes ambientais. A
esta interação dos elementos naturais somam-se as ações antrópicas, contribuindo
para alterações na paisagem.
No litoral do Brasil, como em outras áreas do mundo, há uma tendência para
formar aglomerados humanos. O litoral nordestino é reconhecido como área de
grande vocação para o turismo e, dessa forma, programas e projetos
governamentais têm sido implementados para oferecer infra-estruturas e atrair
empreendimentos para a área.
O município de Barra dos Coqueiros se insere neste contexto, tendo sido
implantados importantes vetores de ocupação – Ponte Construtor João Alves e
rodovia SE-100 – que facilitaram o acesso à área, interligando-a a capital,
Aracaju e, aos municípios do litoral norte de Sergipe. A paisagem corresponde à
unidade geomorfológica Planície Costeira – integrada por: terraços marinhos,
cordões litorâneos, planície de maré, dunas costeiras ativas e dunas.
Atualmente, é crescente a presença de condomínios de luxo e empreendimentos
populares. As características desta ocupação têm elevado a pressão sobre os
recursos naturais, com repercussões sobre os condicionantes da dinâmica do
sistema ambiental, produzindo alterações que comprometem a estabilidade das
feições morfológicas. Por outro lado, as atividades das comunidades tradicionais
– catadoras de mangaba, marisqueiras, entre outras – também têm sido afetadas.
O objetivo deste estudo é, a partir do diagnóstico geoambiental, analisar as
repercussões da interação entre os processos dinâmicos atuantes e ações
antrópicas, na paisagem do município de Barra dos Coqueiros.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo proposto requereu a adoção da concepção sistêmica, a fim de
possibilitar a análise integrada entre os processos naturais e as intervenções
humanas. Dessa forma, apoiou-se no modelo dos Geossistemas (BERTRAND, 1972) e
nos princípios da Ecodinâmica (TRICART, 1977). Tais propostas consideram a
paisagem como resultante da interação de processos naturais, como desencadeados
pela ação antrópica.
Para o diagnóstico geoambiental foram analisados documentos cartográficos –
mapas planialtimétricos – folhas Aracaju (SC.24- Z-B-IV) e Japaratuba (SC.24-Z-
B-V), SUDENE (1974); mapas temáticos e texto do Projeto RADAMBRASIL (BRASIL,
1983); texto e mapa da Geologia e Recursos Minerais do Estado de Sergipe, escala
1:250.000 (SANTOS et al., 1998); Fotografias aéreas, coloridas, escala 1:25.000
e ortofotocartas, coloridas, escala 1:10.000 – da Base Cartográfica dos
Municípios Litorâneos de Sergipe, vôo – 12/2003, SEPLAN/SE.
Para a compreensão da organização espacial das unidades de paisagem foram
efetuadas a fotointerpretação e a construção de mosaicos de overlays, além de
trabalhos de campo. Considerando que Barra dos Coqueiros não possui estação
meteorológica, a análise do clima foi realizada a partir dos dados da estação de
Aracaju, que permitiram a elaboração da tabela e o gráfico do balanço hídrico.
A análise associada deste conjunto de materiais possibilitou a contextualização
geoambiental e, a elaboração de dois documentos cartográficos finais: mapas
geomorfológico e morfodinâmico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O município de Barra dos Coqueiros está situado na zona costeira do litoral
norte do estado de Sergipe. Com aproximadamente 91,1km², sua área corresponde à
unidade geomorfológica Planície Costeira, formada por um conjunto de subunidades
ou feições.
No contexto geoambiental da área destacam-se: a sazonalidade do clima
Megatérmico Subúmido Úmido, cujas precipitações concentram-se no período outono-
inverno e, confere alterações na ação dos processos eólicos e oceanográficos; a
geologia marcada pela presença das Formações Superficiais Continentais, que
correspondem aos depósitos sedimentares holocênicos – associados às morfologias:
terraços marinhos, campos de dunas, planície fluviomarinha e lençol de areia.
Portanto, a geomorfologia, neste município costeiro, refelete a história de um
passado geológico recente, a natureza dos litotipos e os processos costeiros
atuantes.
Considerando-se que a zona costeira constitui uma área onde a dinâmica da
paisagem se desenvolve de modo complexo, em razão da atuação de processos
originados tanto no ambiente continental como marinho, as feições morfológicas
estão sujeitas a mudanças muito rápidas. Tais alterações são decorrentes,
particularmente, da movimentação das ondas, correntes marinhas, oscilação das
marés e da ação eólica. Dessa forma, a paisagem pode expressar esta dinâmica
através de feições erosivas – que refletem a destruição de certos modelados, ou
de feições agradacionais – caracterizadas pela deposição de sedimentos.
Na área deste estudo, a atual dinâmica de ocupação do espaço tem contribuído
para a alteração das morfologias da Planície Costeira. A especulação imobiliária
tem sido crescente desde 2006, favorecida pela facilidade de acesso ao
município, com a inauguração da ponte sobre o rio Sergipe, que separa Barra dos
Coqueiros da capital – Aracaju. A partir de então, são visíveis as mudanças na
paisagem motivada, principalmente, pela ocupação do solo. As tradicionais
fazendas onde se desenvolvia a cocoicultura têm cedido lugar para os condomínios
de luxo e empreendimentos turísticos.
Dessa forma, observam-se ações antrópicas que podem representar alterações
irreversíveis na dinâmica do sistema ambiental dominante nesta paisagem, como: a
terraplenagem dos cordões litorâneos e, consequentemente, o aterramento de
lagoas temporárias que se situam entre eles; o corte e ocupação das áreas de
mangue; a implantação de rodovias que interceptam o cordão de dunas e a dinâmica
eólica que as realimentam, entre outras. Estas mudanças se repercutem também
sobre os principais ecossistemas costeiros - manguezal e restinga.
As repercussões da interação entre os processos naturais e as ações antrópicas
são evidenciadas no litoral, que apresenta setores com acelerada erosão
costeira, ameaçando inclusive empreendimentos turísticos e, outros onde se
verifica acentuada progradação da linha de costa, tal como ocorre na área do
Terminal Portuário Inácio Barbosa e na Praia de Atalaia Nova – decorrentes,
respectivamente, da instalação do quebra-mar para ancoragem os navios e de um
enrocamento para a contenção dos processos erosivos na margem direita do rio
Sergipe. Estas obras de engenharia interferem na dinâmica da deriva litorânea.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da análise referida, conclui-se que a Planície Costeira – unidade
geomorfológica que caracteriza a paisagem do município de Barra dos Coqueiros –
constitui um ambiente onde os processos da morfogênese são predominantes sobre a
pedogênese. Dessa forma, no seu conjunto, corresponde a um meio ecodinâmico com
tendência para forte instabilidade, na medida em que as ações antrópicas se
consolidarem na paisagem, de modo que torne irreversível a manutenção do sistema
ambiental atual.
Embora as condições da topografia sejam favoráveis a existência de um equilíbrio
precário entre morfogênese e pedogênese, a velocidade da dinâmica sócio- espacial
na área representa a principal ameaça para a continuidade do sistema que regula a
dinâmica natural.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
ALVES, N. M. S. Análise geoambiental e socioeconômica dos municípios costeiros do litoral norte do estado de Sergipe – diagnóstico como subsidio ao ordenamento e gestão do território. 2010, 322f.:il. Tese de doutorado (Doutorado em Geografia) – NPGEO, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2010.
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SANTOS, R. A. dos. (Org.) et al. Geologia e recursos minerais do estado de Sergipe: texto explicativo do mapa geológico do estado de Sergipe. Brasília: CPRM; Aracaju: CODISE, 156 p. 1998.( Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil).
TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE, 1977.