Anais: Geomorfologia cárstica

AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL NO “MONUMENTO NATURAL ESTADUAL GRUTA REI DO MATO” / MG

AUTORES
Morato, J.B. (CENTRO UNIVERSITÁRIO DE SETE LAGOAS – UNIFEMM) ; Silveira, J.S. (CENTRO UNIVERSITÁRIO DE SETE LAGOAS – UNIFEMM) ; Valadão, R.C. (INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS / UFMG) ; Avellar, G. (CENTRO UNIVERSITÁRIO DE SETE LAGOAS – UNIFEMM) ; Oliveira, M.S. (CENTRO UNIVERSITÁRIO DE SETE LAGOAS – UNIFEMM)

RESUMO
A Gruta Rei do Mato (MG), uma feição geomorfológica típica do carste, vem sofrendo variada gama de impactos ambientais em seu interior e áreas limítrofes. Este trabalho identifica e descreve esses impactos, bem como analisa suas principais causas. Os impactos mais comuns envolvem a depredação de espeleotemas, pichações, acúmulo de resíduos, cobertura ou impregnação de superfícies por fuligens minerárias e industriais, além de significativas alterações de conotação geomorfológica na paisagem.

PALAVRAS CHAVES
Relevo Cárstico; Impactos Ambientais; Gruta Rei do Mato

ABSTRACT
The Rei do Mato cave is inserted in karst topography, and has suffered environmental impacts because of activities that occur inside and outside the area. This study aimed to identify and describe the impacts that occur in the area and seek their causes. We performed searches in which it was found that the most common impacts involving vandalism of speleothems, waste accumulation, changes in permeability of soil, runoff and cover or impregnation of surfaces.

KEYWORDS
Karst Topography; Environmental Impacts; Rei do Mato Cave

INTRODUÇÃO
As cavernas são, em sua maioria, parte integrante do relevo cárstico, comumente definido como um conjunto de formas condicionadas pela estrutura e por dissolução das rochas e demais processos geomorfológicos associados (GILLIESON, 1996). A área da Gruta Rei do Mato, em Sete Lagoas (MG), foi elevada à categoria de monumento natural estadual pela Lei 18.348, de agosto de 2009, com o objetivo de proteger a integridade de seu ecossistema cárstico. Esse monumento constitui um maciço calcário modelado em unidades carbonáticas do Grupo Bambuí no qual, de acordo com TULLER et al. (2010), a exposição da rocha revela densa rede de fraturas que condiciona a formação de sumidouros, dolinas, lapiás, galerias e grutas. A Gruta Rei do Mato possui rica diversidade de espeleotemas e exerce considerável atratividade turística. Contudo, essa unidade de conservação é altamente vulnerável à degradação por estar próxima a área urbano-industrial, sofrendo interferências diretas e indiretas de forte conotação antrópica. As mais comuns envolvem a depredação de espeleotemas, pichações e acúmulo de lixo devido à atividade turística; crescimento de algas induzido por iluminação artificial; cobertura ou impregnação de superfícies por fuligem geradas por veículos automotores, mineração, atividades industriais e outras. Além disso, são comuns abalos decorrentes de detonações minerárias. De acordo com Lino (2001), a extração de calcários, o turismo e outras atividades desenvolvidas em regiões calcárias sem critérios técnicos adequados e sem planejamento, deflagram processos que induzem acidentes geológicos, como subsidências e colapsos de solo e rocha, bem como degradam áreas de valor espeleológico e poluem aquíferos. Nesse contexto é que se insere este trabalho, uma vez que ele tem como objetivo identificar, descrever e discutir acerca das diferentes causalidades responsáveis pelos impactos ambientais em curso na região da Gruta Rei do Mato.

MATERIAL E MÉTODOS
A primeira etapa empregada na consecução deste trabalho envolveu o planejamento da pesquisa, revisão bibliográfica e pesquisa documental. Os dados referentes aos visitantes do monumento natural foram coletados na Seltur – Sete Lagoas Turismo, Lazer e Cultura S/A; demais dados referentes ao início de visitação, histórico e descobrimento oficial da gruta foram obtidos na Prefeitura de Sete Lagoas. Imagens orbitais e mapeamentos foram cedidos pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF). Na segunda etapa foram realizadas investigações de campo voltadas para o diagnóstico do quadro ambiental do monumento, quando se procedeu descrição e classificação de atividades e impactos ambientais registrados na unidade de conservação e em seu entorno. A terceira etapa constituiu-se na elaboração de mapas de localização, hidrografia, acessos, topografia, geologia e geomorfologia da região. Estes foram produzidos no software Arcgis; as imagens fornecidas pelo IEF foram obtidas pelo satélite Rapid eye.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
As formas cársticas, notadamente as cavernas, constituem excelentes recursos turísticos. Todavia, a implantação de infra-estrutura no seu interior, tais como construção de passarelas e escadas, instalação de iluminação elétrica e manutenção das mesmas, causam inúmeros impactos ambientais que afetam seu meio biótico e abiótico (HUPPERT et al., 1993). No caso da Gruta Rei do Mato a construção das passarelas, por exemplo, demandou a extração de espeleotemas; atravessam, ainda, áreas de risco à movimentos de massa e eventual queda de blocos. A maior parte das passarelas possui estrutura metálica, mas alguns trechos foram implantados com concreto sobre a rocha, o que provoca alterações físicas e químicas na superfície, perda de micro-habitas da fauna, alteração da drenagem da água e forte impacto visual. Do antigo sistema de iluminação da caverna restam resíduos provenientes da instalação e manutenção. Como comprovado por LABEGALINI (2007), a iluminação artificial pode alterar o fluxo de energia e o meio biótico, provocando no solo e na água variações de temperatura, umidade relativa e concentração de gás carbônico. Com relação à instalação do conjunto de infraestrutura de apoio às atividades turísticas – estacionamento, bilheteria, acessos, linha de transmissão de energia elétrica –, registrou-se sua efetividade em alterar elementos da topografia, permeabilidade do solo, vegetação, escoamento superficial, drenagem da água e alteração da paisagem. Os problemas ambientais provenientes da visitação turística envolvem vários outros aspectos, tais como depredação de espeleotemas, acúmulo de resíduos sólidos, compactação de sedimentos por pisoteio, pichações em tetos, paredes e em pinturas rupestres, ruídos, dentre outros podendo causar impactos muitas vezes irreversíveis. A Gruta Rei do Mato recebeu mais de 22.000 visitantes por ano entre 2005 e 2009, sendo no ano de 2010 e 2011 cerca de 30.000 (Figura 01); o mês de julho é aquele que contabiliza maior número de visitantes, em razão do período das férias escolares (Figura 02). O primeiro semestre é responsável por 46,09% dos visitantes, enquanto o segundo semestre corresponde a 53,91%. Na porção sul e sudoeste do monumento foram verificados significativos impactos da prática de escalada esportiva, sendo eles: quebra ou desgaste superficial da rocha e de espeleotemas, pisoteio e perturbação de sedimentos de entradas de cavernas e de abrigos sob rocha, disposição de resíduos, impactos na vegetação principalmente devido à abertura de trilhas até as áreas de escalada, além de alteração física e química da rocha devido ao acúmulo de pó de magnésio e a presença de ancoragens fixas (grampos metálicos) sobre a superfície dos afloramentos rochosos e outros. A mineração de calcário, que no passado ocorreu em área hoje protegida do monumento, ainda está presente em seu entorno. Essa é uma atividade importante economicamente para a economia municipal, no entanto é também responsável por impactos ao remover a vegetação e solo, alterando as condições da água e da atmosfera. Esta atividade pode, ainda, acelerar os acidentes geológicos, através das vibrações produzidas pelo uso de explosivos que, ao se propagarem em sub-superfície, representam risco considerável ao patrimônio espeleológico. As cavernas e abrigos sob rocha localizados na região apresentam uma espessa camada de poeira fina, de cor marrom escura, cobrindo grande parte de suas superfícies provavelmente proveniente dos veículos automotores que trafegam pela BR-040, das minerações e indústrias existentes no entorno da Unidade. Foram registrados impactos derivados do uso religioso, onde ocorre grande profusão de oferendas como pratos cerâmicos, garrafas de vidro, velas e outros, no interior das cavidades, abrigos sob rocha, e principalmente, no entorno dessas feições. A grande profusão de oferendas com velas constitui um risco eminente de incêndio.

Figura 01



Figura 02



CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista a variada tipologia de impactos ambientais registrada na área do Monumento Natural Estadual Gruta Rei do Mato, registra-se aqui a urgência quanto (i) à adoção de medidas voltadas para o monitoramento efetivo de seu uso, bem como quanto (ii) à implementação de ações de restauração de algumas das condições prévias vigentes à época de abertura da gruta para visitação pública. Sugere-se ainda que, notadamente na área de seu entorno, o mapeamento de feições geomorfológicas que hoje se manifestam intensificadas pela ação antrópica seja empregado como indicador de fragilidades inerentes ao sistema cárstico no qual se insere. Esse procedimento vem sendo empregado em regiões cársticas abertas à visitação turística, como em alguns casos discutidos por JONES et al. (2003). Nesse contexto, adquire importância fundamental envidar esforços no diagnóstico da capacidade de uso que vigora no sistema cárstico da área investigada sem que a sua capacidade de resiliência seja comprometida.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o apoio concedido a esta pesquisa pela Secretaria de Lazer e Turismo de Sete Lagoas e pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
BRASIL. Lei Estadual nº 18.348, de 25 de Agosto de 2009: Define como Unidade de Proteção Integral, na categoria Monumento Natural Estadual, a área denominada Gruta Rei do Mato, no Município de Sete Lagoas. Diário do Executivo, Minas Gerais. 2009.

GILLIESON, D. S. Caves: processes, development, management. Malden: Blackwell Publishers, 1996.

HUPPERT, G.; BURRI, E.; FORTI, P.; CIGNA, A. Effects of Tourist Development on Caves and Karst. In: WILLIAMS, P. W. (ed.) Karst Terrains: Environmental changes and human impact. Cremlingen-Destedt: Catena-Verlag,1993. p. 251-268. (Catena Supplement 25)

JONES, W. K.; HOBBS, H. H. III; WICKS, C. M.; CURRIE, R. R.; HOSE, L. D.; KERBO, R. C.; GOODBAR, J. R. TROUT, J. Recommendations and guidelines for managing caves on protected lands. Charles Town: Karst Waters Institute, 2003. (Special Publication 8)

LABEGALINE J. A. Problemas ambientais na Caverna do Diabo decorrentes da iluminação elétrica. In: CONG. BRAS. ESPELEOLOGIA, 24, Ouro Preto, 2007. Anais..., Sociedade Brasileira de Espeleologia, 2007.

LINO, C. F. Cavernas: o fascinante Brasil subterrâneo. São Paulo: Gaia, 2001.
TULLER, M.P.; RIBEIRO, J.H.; FÉBOLI, W.L.; SIGNORELLI, N.; PINHO, J.M.M. Programa Geologia do Brasil. Projeto Sete Lagoas – Abaeté. Belo Horizonte: CPRM, 2010.