Anais: Geomorfologia cárstica
CONSIDERAÇÕES SOBRE O AMBIENTE CÁRSTICO EM SERGIPE
AUTORES
Macedo, H.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Araújo, H.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Donato, C.R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Bezerra, G.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Carvalho, I.S.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE)
RESUMO
Estudos sobre o ambiente cárstico em Sergipe ainda são escassos. O presente estudo
foi elaborado em 03 (três) etapas distintas constituindo: pesquisa bibliográfica,
pesquisa de campo e por fim os trabalhos em gabinete. O presente artigo além de
trazer uma contribuição inédita com a elaboração de uma carta temática delimitando
a área de ocorrência do ambiente cárstico em Sergipe apresenta uma caracterização
desse ambiente no que se refere às características físicas e econômicas.
PALAVRAS CHAVES
Geomorfologia Cárstica; Cavernas; Extração Mineral
ABSTRACT
Studies on the karst environment are still scarce in Sergipe. This study was
conducted in three (03) constitute distinct stages: bibliographic research, field
research and eventually work in the office. This article also brings an
unprecedented contribution to the drafting of a letter outlining the thematic area
of occurrence of karst environment in Sergipe presents a characterization of this
environment with regard to physical and economic.
KEYWORDS
Karst geomorphology; Caves; Mineral Extraction
INTRODUÇÃO
O ambiente cárstico ocupa aproximadamente 10% da superfície do globo terrestre,
em sua maioria sobre rochas carbonáticas. Segundo Karmann (1994), entre 5 a 7%
do território brasileiro são ocupados por esse tipo de relevo, destacando-se o
Parque Estadual turístico do Alto Ribeiro em São Paulo, a Serra do Caraça, o
vale e o Vale do rio Peruaçú em Minas Gerais, as Grutas de Iraquara (Chapada
Diamantina) e a Toca da Boa Vista na Bahia e a Chapa do Guimarães no Estado do
Mato Grosso (SCHOBBENHAUS et al., 2002).
Esse tipo de formação passa despercebido na maior parte do território brasileiro
e em Sergipe essa situação é semelhante. Segundo Donato (2011), o conhecimento
sobre a abrangência desse tipo de ambiente em Sergipe é desconhecido ou mesmo
incipiente quando comparado com outros estados do território nacional.
O ambiente cárstico em Sergipe (Figura 01) está situado na região do Supergrupo
Canudos, constituído pelos grupos Estância e Vaza Barris (AULER et al, 2001). O
calcário e os dolomitos de origem sedimentar são rochas carbonáticas
distribuídas na Bacia Sedimentar de Sergipe, no contexto do Grupo Sergipe,
diferenciadas nas formações Cotinguiba e Riachuelo. Na faixa de Dobramentos
sergipana, as camadas de calcário e dolomito registradas são consideradas apenas
ocorrências (FRANÇA, 2007).
Portanto, o presente artigo além de trazer uma contribuição inédita com a
elaboração de uma carta temática delimitando a área de ocorrência do ambiente
cárstico em Sergipe, de uma caracterização desse ambiente em Sergipe no que se
refere à geologia, geomorfologia, cavernas, divisão climática e a hidrogeologia,
assim como, o seu aproveitamento econômico , não havendo um planejamento em
longo prazo para a manutenção desse ambiente.
MATERIAL E MÉTODOS
Os estudos foram elaborados em 03 (três) etapas distintas. Inicialmente
consistiram de pesquisa bibliográfica sobre as características físicas da região
com obtenção de dados junto a empresas e órgãos públicos em especial ao Grupo de
Pesquisa em Dinâmica Ambiental e Geomorfologia – DAGEO-UFS. No segundo momento
foi realizado pesquisa de campo culminando por fim com conclusão dos trabalhos
em gabinete. A 1ª etapa, em gabinete foi feito pesquisa no site da SEPLAN/SE,
Base cartográfica da UFS, no site Sociedade Brasileira de Espeleologia. No
DGE/UFS foi utilizado a cartas geológicas de Sergipe de escala 1:100.000. As
caracterizações Geomorfológica, Climática e Hidrogeológico foram obtidas por
meio da análise da base cartográfica disponibilizada pelo órgão vinculado a
Secretária do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH) publicadas em 2011. No
que se refere ainda à caracterização desse ambiente, foi observado o uso da
terra por meio de dados fornecidos pela Companhia de Desenvolvimento Industrial
e de Recursos Minerais de Sergipe - CODISE, já que, a exploração mineral
presente nesse ambiente corresponde a uma margem considerada da economia
sergipana. (FRANÇA, 2007).
Na 2ª etapa foram desenvolvidas atividades de campo, que se constituíram de
levantamento topográfico, altimetria, composição química do solo, mapeamento e
caracterização geoespeleológica das cavidades e realização de registro com GPS e
máquina fotográfica dos ambientes florísticos e faunísticos. Na 3ª etapa, em
gabinete, foi realizada análise integrada dos dados coletados em campo.
Elaboração do mapa da área de estudo, geologia, cavernas, geomorfologia,
aquíferos e uso da terra, Para identificação, topográfica, geológica e
geomorfológica das cavidades foi utilizado o programa SPRING 4.5.6. e na
elaboração das cartas o software ArcGis 9.3®
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O ambiente cárstico em Sergipe está distribuído ao longo das três principais
mesorregiões do estado: Leste Sergipano, Agreste Sergipano e Sertão Sergipano
(Figura 01).
No que se refere à geologia, o Estado de Sergipe está situada em uma área
limítrofe de três províncias estruturais: a província São Francisco; a Borborema
e a província Costeira e Margem Continental (CPRM, 1998). Essas características
geológicas permitem agrupar os ambientes cársticos em Sergipe em três grandes
áreas: Domínio Vaza-Barris, Domos de Itabaiana e Simão Dias e Grupo Sergipe
O ambiente cárstico sergipano está presente nas três principais unidades
geomorfológicas do estado: a Planície Litorânea, os Tabuleiros Costeiros e o
Pediplano Sertanejo. A porção da planície litorânea onde o ambiente cárstico se
faz presente está situada ao longo da região estuarina do rio Sergipe e
Japaratuba. No trecho norte do limite cárstico em Sergipe, encontramos a unidade
geomorfológica Tabuleiro Costeiro. A maior concentração do carste em Sergipe vai
estar situada principalmente na unidade geomorfológica denominada Pediplano
Sertanejo (FRANÇA, 2007).
As características climáticas do ambiente cárstico em Sergipe podem ser
concentradas ao longo de três faixas: Tropical úmido, Tropical de transição e o
Semiárido (FRANÇA, 2007).
No que tange as cavernas sergipanas, a abrangência exata deste tipo de
morfologia é ainda desconhecida. São vinte e quatro o número de cavernas
registradas atualmente pela Sociedade Brasileira de Espeleologia (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ESPELEOLOGIA, 2011), entretanto há estimativas de que existam mais
de sessenta cavernas espalhadas por todo o território sergipano.
Segundo a Sociedade Brasileira de Espeleologia (2011), atualmente há registros
de cavernas em sete municípios sergipanos: Itabaiana, Japaratuba, Lagarto,
Laranjeiras, Maruim, Riachuelo e Simão Dias.
De acordo com Donato (2011), foi a partir da década de 1990 que a presença de
registros preliminares, paleontológicos (sobre a Gruta da Raposa em Laranjeiras
e Toca da Raposa e Abismo de Simão Dias em município homônimo) biológicos e
geomorfológicos das cavidades subterrâneas sergipanas aumentou. Entretanto, os
dados sistemáticos e aprofundados sobre as cavernas ainda são escassos e
referem-se principalmente ao município de Laranjeiras, local que teve suas
cavidades naturais pesquisadas para a dissertação de Donato em 2011, sendo
necessária, assim, a intensificação de estudos nesses ambientes por todo o
carste sergipano (figura 02).
A produção mineral do Estado de Sergipe provém dos recursos energéticos como os
sais solúveis, carbonatos e substâncias metálicas e não metálicas. Os calcários,
que abrangem 81% do número de minas e 100% do número de jazimentos no estado,
são utilizados, principalmente na indústria cimenteira e, em menos escala, na
indústria da construção civil, de cal e brita. Sua área de extração ocorre
principalmente nas áreas dos municípios de Laranjeiras e Nossa Senhora do
Socorro. Em atividade, as principais minas ativas de calcário, dolomito e
metacarbonato estão localizadas principalmente nos municípios de Laranjeiras e
Maruim. (CPRM, 1998)
A produção de cimento em Sergipe consolidou-se no final do século XX e início do
Século XXI, quando o estado passou a ser o maior pólo de produção de cimento da
região nordeste, devido justamente a sua riqueza em relação a sua
disponibilidade em suas terras do carbonato de cálcio – calcário. (CPRM, 1998).
O estado possui três importantes unidades de produção de cimento: o grupo
Votorantim e o grupo João Santos em Laranjeiras e a fábrica de cimento Kenski no
município de Pacatuba. Nos últimos anos essas unidades vêm ampliando seus
índices de produção, saindo das 400 mil toneladas / mês em 1995 para 1,4 milhões
de toneladas / mês em 2010. (CORRÊA et al, 2011).A mina de Dolomita está
localizada no município de Maruim, datada do Cretáceo superior, é explorada pela
INORCAL Ltda.
Ambiente Cárstico em Sergipe
Figura 01: Localização do Ambiente Cárstico em
Sergipe
Organização: Heleno dos Santos Macedo, 2012.
Cavernas em Sergipe
Figura 02: Gruta da Raposa. a- entrada; b-
estalactites presente na caverna. Fotos de Willy
Leal, 2011
Fonte: Donato, 2011.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do exposto ao longo desse trabalho é percebido o quanto o ambiente
cárstico em Sergipe representa em diversidade no que tange os aspectos ambientais
e econômicos. Num primeiro momento, as suas singularidades representadas pelos
aspectos paisagísticos e pela sua configuração territorial, caracterizam-se
praticamente pela unifuncionalidade espacial, entretanto, essas singularidades
converteram-se numa geografia multidimensional, na qual coexistem atividades
variadas, interesses múltiplos, atores sociais diversos e conflitos e confrontos
socioambientais.
Esse cenário, composto por interesses variados e muitas vezes conflitantes, é
decorrente das intervenções realizadas ao longo do tempo. Nesse sentido, a
necessidade do desenvolvimento aponta para uma nova visão administrativa de longo
prazo e com uma postura responsável na relação homem-natureza. Por meio da
elaboração de instrumentos normativos, podem ser criadas condicionantes de usos
dos recursos e da ocupação do território.
AGRADECIMENTOS
Quero expressar minha gratidão ao meu orientador o Prof. Dr. Hélio Mario de Araújo
o qual tem me ensinado a busca constante pela qualidade e aplicabilidade de nossas
pesquisas em forma de resultados para todo sociedade. Agradecer também aos meus
companheiros de pesquisa, a Christiane Donato, Givaldo Bezerra e Izabella
S.M.Carvalho e a CAPES, pela oportunidade de fazer parte do quadro de bolsistas e
possibilitar a realização dessa pesquisa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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