Anais: Geomorfologia fluvial
IDENTIFICAÇÃO DE UNIDADES GEOMORFOLÓGICAS EM UM SISTEMA FLUVIAL MEANDRANTE: O VALE ALUVIAL DO RIO DO PEIXE, SP
AUTORES
Morais, E.S. (UNESP) ; Rocha, P.C. (UNESP)
RESUMO
Este trabalho propõe-se a apresentar características geográficas do vale aluvial
do rio do Peixe, no oeste Paulista, bem como identificar as principais unidades
geomorfológicas. O estudo foi realizado no trecho de 60 km a montante de sua
confluência. Foram utilizados produtos cartográficos e reconhecimento em campo
para compartimentação da paisagem fluvial. Como resultado se constatou uma
diversidade de unidades geomorfológicas, como: planície de inundação, terraços,
paleocanais, leques de espraiamento, lagos em meandro e diferentes tipologias de
barras fluviais.
PALAVRAS CHAVES
rios meandrantes; unidades geomorfológicas; rio do peixe
ABSTRACT
The aims of the study are to identify the main geomorphic units and geographic
characteristics in the Alluvial Valley of the Peixe River. The river flows in the
West of the Sao Paulo State and the river reach of the study is located 60 km
upstream of the confluence. The fluvial landscape was recognized by cartographic
materials and fieldworks. Several geomorphic units were identified as floodplain,
fluvial terraces, crevasse splays, oxbow lakes, floodbasin, paleochannels and
different types of bars.
KEYWORDS
meandering rivers; geomorphic units; Peixe River
INTRODUÇÃO
Os sistemas fluviais podem ser classificados basicamente pela morfologia do
canal e a forma em planta, na qual e possível dividi-los entre: retilíneo,
entrelaçado, anastomosado e meandrantes. Com relação aos canais meandrantes
estes apresentam como características principais a sinuosidade maior que 1,5,
presença de barras fluviais em pontal, o predomínio de transporte de sedimentos
em suspensão e na parte convexa do canal processo erosivo e na adjacente
deposicional (CHARLTON, 2007).
Os rios meandrantes, quando presente em amplos vales aluviais, podem conservar
no interior de seus vales importantes registros de sua dinâmica hidrológica com
a presença de formas e processos geomorfológicos. O estudo dessas formas em rios
meandrantes no Brasil é pontual e combina uma variedade de recursos para o
reconhecimento da paisagem fluvial (SANTOS ET. AL. 2008; ASSINE & SILVA, 2009).
O estudo dessas formas, denominadas de unidades geomorfológicas por Brierley &
Fryirs, 2005 indicam informações sobre a morfogênese do sistema fluvial e será
utilizado para análises do vale aluvial do rio do Peixe.
Neste trabalho a proposta é apresentar as principais unidades geomorfológicas
presentes neste segmento e características geográficas do vale aluvial do rio do
Peixe. O estudo sobre as unidades geomorfológicas do vale aluvial e dos
respectivos processos contribui para o conhecimento da dinâmica fluvial da bacia
hidrográficas do rio do Peixe e para futuros estudos de ecologia dos ambientes
aquáticos que possam ser desenvolvidos nessa área.
MATERIAL E MÉTODOS
A bacia hidrográfica do rio do Peixe está localizada no oeste paulista, no
contexto geológico da Bacia do Paraná com maior recobrimento de rochas
sedimentares do período Cretáceo, com exceções de fundos de vale e afloramentos
de rochas ígneas da Formação Serra Geral.
O regime climático da bacia hidrográfica do rio do Peixe pode ser caracterizado
com duas situações climáticas, conforme Santa´nna Neto & Tommaselli (2009)
definem para a cidade de Presidente Prudente localizada na bacia hidrográfica e
distante aproximadamente 40 km do canal do Peixe. Primeiro um período quente e
chuvoso entre outubro e março e, outro mais ameno e seco, entre abril e
setembro. Já a temperatura média da região é de 23,4° C e a média anual de
chuvas, em Presidente Prudente, de 1300 mm com registros de variabilidade anual
de até 50%.
Para interpretação das unidades geomorfológicas do vale aluvial do rio
do Peixe foram utilizadas imagens do satélite Landsat 5/TM com cenas entre o
período de 1985 a 2011, fotografias aéreas do ano de 1962 e 1997 com escalas de
1:25.000 e 1:35.000 respectivamente, dados topográficos da missão SRTM
reamostrados para 30`` (VALERIANO E ROSSETTI, 2012) e imagens de satélite
obtidas via software Google Earth. Os produtos cartográficos compõem o banco de
dados de um sistema de informação geográfica (SIG) e em
conjunto as análises dos dados cartográficos foram realizadas incursões a campo
com a finalidade de se reconhecer os principais aspectos do vale do rio do
Peixe.
A classificação das unidades geomorfológicas que compõe a planície
aluvial do rio do Peixe seguiu a classificação proposta por Coffman et. al.
(2010) que foi adaptada de Brierley & Fryirs (2005). Em razão da diversidade de
formas, os produtos cartográficos utilizados são de diferentes escalas com o
objetivo de melhor representação dos aspectos do relevo para análise
geomorfológica. No entanto ressalta-se que o estudo será complementado
futuramente com análise de dados hidrológicos e informações de fácies
sedimentares.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em seu baixo curso o rio do Peixe flui em direção a foz com o rio
Paraná em um vale fluvial que progressivamente torna-se mais amplo no seu trecho
final de 60 km (Figura 1). Em sua maior parte o vale aluvial mantém seu atual
uso do solo preservado em razão da criação do Parque Estadual do Rio do Peixe.
Contudo a montante do trecho em estudo está instalada uma Pequena Central
Hidrelétrica, e a jusante na sua foz, encontra-se o reservatório da Usina
Hidrelétrica Eng. Sérgio Motta que a partir de 1998 ocupou 4 km do seu trecho
final mudando drasticamente as características do canal nessa região. O vale
aluvial é entulhado de sedimentos quaternários retrabalhados pela dinâmica do
canal, e segundo Etchebehere (2005) há registros de estruturas de liquefação que
indicam eventos neotectônicos associados às planícies aluvionares do rio do
Peixe.
A partir das análises dos produtos cartográficos e trabalhos de campo as
unidades geomorfológicas do rio do Peixe foram dividas entre as pertencentes ao
vale aluvial e ao canal fluvial. As unidades no vale aluvial do rio do Peixe
são: planície de inundação, terraço fluvial, bacia de inundação, lagos em
meandro, paleocanais, leques de espraiamento e leques aluviais; e as unidades no
canal são diferentes tipos de barras: barra em pontal, barra central e barra
lateral (Figura 2).
Os terraços e a planície de inundação são as unidades geomorfológicas com maior
área no vale aluvial do rio do Peixe. Foram identificados dois níveis de
terraços que ocorrem dispostos paralelamente ao longo do trecho do valeu aluvial
do rio do Peixe. Entre os níveis da planície de inundação e o terraço ocorre um
abrupto contato topográfico que varia entre 10 e 15 metros. Os paleocanais
ocorrem tanto na planície de inundação quanto no terraço e possuem diferente
geometria e tamanho. Enquanto que os lagos em meandro podem ser observados sobre
diferentes estágios de evolução e em alguns pontos é possível observar canais de
ligação conectando os ambientes de lago e canal fluvial. A formação de leques
aluviais ocorre próxima à foz de alguns dos tributários e em sua maioria na
margem direita sobre os depósitos da planície do rio do Peixe. Essas feições
estão localizadas na transição do terraço e a planície.
Um processo avulsão na planície do rio do Peixe atesta a dinâmica do sistema
fluvial. Neste trecho do rio do Peixe o processo de avulsão formou um canal
secundário com aproximadamente 12 km de e alterou a rede hidrográfica local.
Neste canal secundário é possível observar uma sequencia de leques de
espraiamento em sua margem esquerda, onde os sedimentos arenosos depositados
sobre a planície se destacam sobre a vegetação ripária. É possível verificar
tanto com expedições a campo como em análise de produtos cartográficos que há o
predomínio de dois grupos de vegetação ripária. A vegetação no interior do vale
fluvial distingue-se: primeiro em uma vegetação de baixo porte, em campo úmido,
sazonalmente alagada e geralmente associada a bacia de inundação da planície e a
segunda tipologia considerada é arbustiva, onde se desenvolve uma vegetação de
maior porte sob terra firme provavelmente relacionada aos diques marginais do
sistema fluvial.
Com relação a identificação das unidades do canal o estudo apoiou-se
principalmente em informações de fotografias aéreas. A rede hidrográfica foi
dividida entre canal principal, canais secundários e tributários. As unidades
geomorfológicas do canal reconhecidas são barras em pontal, que ocorrem de modo
predominante e marcam a característica do padrão meandrante. Com menor
frequência também ocorrem barras laterais e barras centrais no baixo rio do
Peixe.
Figura 1 - Imagem Landsat 5/TM (R7 B4 G3) de
20/08/2010 em que o vale aluvial do rio do Peixe se
destaca como a área em verde escuro.
Figura 2. Exemplos de Unidades Geomorfológicas do
rio do Peixe: em (A) barras em pontal no canal e
lagos em meandro em diferentes estágios de
desenvolvimento, em (B) paleocanal sobre depósitos
do terraço fluvial, em (C) formação de um leque
aluv
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o estudo podemos constatar que a paisagem fluvial do baixo rio do Peixe possui
uma significativa variedade de unidades geomorfológicas. A diversidade de formas
no vale do rio do Peixe indica uma dinâmica do sistema fluvial meandrante em
escala decadal, observado com fotografias aéreas entre 1962 e 1997. Assim como os
níveis de terraços, diferentes tamanhos e geometrias de paleocanais apontam para
um regime hidrológico distinto do atual, provavelmente relacionado às mudanças
naturais (climática e/ou tectônica) durante o Quaternário.
A continuidade do estudo levará a um detalhamento das unidades geomorfológicas em
consideração a escala de análise de cada unidade e a análise da associação
sedimentológica e de dados hidrológicos correspondentes. Está previsto também
incursões no vale e no canal para que seja detalhada a relação entre a vegetação e
geomorfologia e as formas presente no interior do canal, como as barras fluviais.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPESP pelo apoio financeiro concedido com a bolsa
de doutorado e o estágio de pesquisa no exterior (Processos 2011/11208-6 e
2012/00959-3) de Eduardo Souza de Morais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
Assine, M. L., & Silva, A. (2009). Contrasting fluvial styles of the Paraguay River in the northwestern border of the Pantanal wetland, Brazil. Geomorphology, 113(3-4), 189-199.
Brierley, G. J., & Fryirs, K. A. (2004). Geomorphology and River Management. (G. J. Brierley & K. A. Fryirs, Eds.). Malden, MA, USA: Blackwell Publishing.
Charlton, R. (2008). The fundamentals of fluvial geomorphology. New York, Taylor & Francis Group.
Coffman, D.K., Malstaff, G., Heitmuller, F.T., (2011). Characterization of geomorphic units in the alluvial valleys and channels of Gulf Coastal Plain rivers in Texas, with examples from the Brazos, Sabine, and Trinity Rivers: U.S. Geological Survey Scientific Investigations Report 2011–5067, 31 p.
Etchebehere, M. L. C., Saad, A. R., Casado, F. C. (2005). Análise morfoestrutural aplicada no vale do rio do Peixe (SP): uma contribuição ao estudo da neotectônica e da morfogênese do planalto ocidental Paulista. Geociências, 4 (1), 45-62.
Sant´anna Neto, J. L., Tommaselli, J. T. G. (2009). O tempo e o clima de Presidente Prudente. '. ed. Presidente Prudente: FCT/UNESP,. v. 1. 78 p.
Santos, M. L.; Stevaux, J. C.; Gasparetto, N. V. L.; Souza Filho, E. E. (2008). Geologia e Geomorfologia da planície do rio Ivaí-PR. Revista Brasileira de Geomorfologia, 9 (1), 23-24.
Valeriano, M. M., Rossetti, F. R. (2012). Topodata: Brazilian full coverage refinement of SRTM data. Applied Geography, 32 (2), 300-309.