Anais: Geomorfologia fluvial
AS CAPTURAS FLUVIAIS NA CHAPADA DO ALTO RIO UBERABINHA E RIO CLARO EM MINAS GERAIS.
AUTORES
Silva, R. (UFTM - UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO) ; Soares, A.M. (UFTM - UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO)
RESUMO
A chapada do alto curso dos rios Uberabinha e Claro é uma área importante para a
produção agrícola em Minas Gerais e se caracteriza como área de recarga dos
aquíferos Serra Geral e Bauru. Com o objetivo de analisar o papel da chapada na
disponibilidade de água para as atividades produtivas e para o abastecimento
público das cidades do entorno, estão sendo realizados levantamentos de dados e
mapeamentos, para buscar compreender as capturas fluviais como base para a
evolução do relevo.
PALAVRAS CHAVES
Captura de Drenagem; Chapadas do Brasil Centra; Geomorfologia Fluvial
ABSTRACT
The plateau of the upper course of rivers Uberabinha and Claro is an important
area for agricultural production in Minas Gerais and is characterized as a
recharge area of aquifers Serra Geral and Bauru. In order to analyze the role of
the plateau in the availability of water for productive activities and the public
supply of the surrounding cities, are being carried out surveys and mapping data,
seeking to understand the river catches as a basis for the evolution of relief.
KEYWORDS
Drainage Capture ; Central Brazil Plato; Fluvial Geomorphology
INTRODUÇÃO
As chapadas do oeste mineiro vem sendo pesquisadas há muito tempo, pois sua
importância territorial marcada por uma geomorfologia plana e com baixas
declividades, bem como a presença de vales pouco escavados, fazem dessa porção
do relevo, uma das mais valorizadas, tanto para produção agrícola, quanto para
expansão urbana.
O termo chapada ou chapadão, é abordado por Ab’Saber (1969), Hasui (1969),
Projeto RadamBrasil (1983), Novaes Pinto (1990), Feltram Filho (1995) dentre
outros relacionando essas áreas com relevo suavemente ondulado, com bordas
escarpadas, compostas por aplainamento de rochas sedimentares e ou metafórmicas
e com altitudes que variam entre 700 e 1100 metros de altitude.
A chapada do rio Uberabinha e rio Claro está localizada no Triângulo Mineiro,
englobando porções dos municípios de Uberlândia, Uberaba, Nova Ponte, Conquista
e Sacramento, e sua área é de aproximadamente 2285 km² e está inserida nos
domínios recobertos por cerrados e penetrados por florestas-galerias,
denominados por Ab’Saber em 1977.
A geologia da área é formada segundo Barcelos (1984), pela sedimentação do Grupo
Bauru e sua maior parte pela Formação Marília que se origina de deposições do
Cenozóico e composta por depósito aluviais, areias, argilas e conta com uma
cobertura detrítico-laterítica, originada da era Terciária e Quaternária. A
Formação Marília está relacionada com duas subdivisões que são o Membro Ponte
Alta e Membro Serra da Galga.
A área de estudo está situada na Bacia Sedimentar do Paraná, com altitudes de
900 a 1050 metros, que corresponde à superfície "Sul - Americana", de King
(1956).
Esta pesquisa tem o objetivo principal de analisar o comportamento do nível
freático nas capturas de drenagem localizada nas bordas da Chapada
Uberabinha/Rio Claro, utilizando traçador químico para determinar direção e
velocidade do fluxo subterrâneo e identificar algumas capturas já em andamento
baseados na percepção a partir de imagens de satélite.
MATERIAL E MÉTODOS
Segundo Oliveira (2010), alguns pesquisadores como Schumm, 1977; Woodruff, 1977;
Christofoletti, 1981 propõe como o método para se evidenciar as capturas
fluviais, o da fotointerpretação com a análise dos padrões de drenagem e
trabalhos de campos afim de identificar depósitos de cascalhos e evidências de
resquícios de materiais originados desses tributários capturados.
Para a localização usando a fotointerpretação, identificação e quantificação das
capturas, foi necessário o uso de imagens de satélite LANDSAT TM5 de março de
2012, e composição de um mosaico a partir de três imagens e formado assim, a
área de estudo com as principais formas de observação destacadas na drenagem
através da composição falsa cor.
Outro fator de importante recurso de tecnologia adotado, é a utilização de
Modelos Digitais de Elevação (MDE - SRTM), que foram fusionados e extraídos suas
drenagens afim de eliminar os erros de localização e ajustamento geodésico.
A partir do modelo digital de elevação foram extraídos suas cotas altimétricas
principais e suas curvas de níveis com eqüidistância de 10 m., e elaborado um
modelo de declividade que varia de 0 % nos topos planos e a 90 % nos limites das
bordas da chapada.
Esse modelo de declividade é importante , pois segundo Bishop (1995), ângulos de
90° entre um tributário e outro, podem evidenciar uma captura já em evolução do
tipo cotovelo (elbows), pois o rio de menor declividade tem um poder erosivo
menor que o de maior declividade e por sua vez é capturado, deixando em
evidência um vale seco (wind-gaps).
Outra metodologia adotada para os estudos iniciais afim de quantificar melhor
esse processo em subsuperficie, é a utilização de um traçador químico,
utilizando NaCl para possíveis quantificações desse processo, tais como
velocidade e tempo de transferência para o rio capturador que está sendo
beneficiado pelo nível de lençol freático.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir dos primeiros mapeamentos, identificou-se a presença de pelo menos sete
capturas fluviais do tipo cotovelo (elbows) na parte sudoeste da chapada, entre
os afluentes no rio Uberabinha e rio Claro.
Com excessão do ponto de monitoramento do nível freático, todas as outras
capturas estão já em andamento e perfeitamente visiveis a partir de imagens de
satélite e de fotos aéreas, apresentando desníveis significativos na topografia,
aumentando a erosão remontante, que é responsável pelo recuo das bordas da
chapada.
Segundo Christofoletti (1977), ao se pensar na necessidade de reformular o
conceito de captura fluvial, através do princípio da teoria de equilíbrio
dinâmico, a erosão remontante não pode seguir sempre em sentido indefinido e
sim, até uma linha limítrofe entre as duas cabeceiras, pois mesmo com o avanço
em direção a outra cabeceira, a quantidade de água diminui e a área
capturadadora perde o poder da erosão, que diminui consideravelmente.
No ponto C1, que compreende a captura das nascentes do córrego Tiborna e as
nascentes do rio Claro, se encontram anfiteatros e a força da erosão é quase
nula, porém o nível de base diferente, juntamente com o desnível mais a jusante
do ponto, comandam a erosão remontante.
Já na captura do ponto C2, dos córregos São Basílio e córrego da Taquara (rio
Claro), o desnível entre uma nascente e outra é maior, chegando a pouco mais de
10%, faz com que o poder de erosão aumente e a captura ocorra mais rapidamente.
No ponto C3, na captura mais impressionante no resultou na mudança do canal de
norte para noroeste. O trecho do canal fluvial a montante do ponto capturado
passou a ser a nascente do rio que abastece a cidade de Uberaba com
aproximadamente 300.000 mil habitantes. No ponto citado, devido principalmente a
fragilidade do relevo, não houve necessidade de altas declividades para a
captura, e sim, declividades existentes entre 10 e 17% na cabeceira. O vale seco
(wind-gap) é marcado por uma faixa que seria a drenagem capturada em direção a
antiga drenagem e não há totalmente falta de umidade, devido principalmente as
condições climáticas da região.
No ponto C4, foi observado a presença de captura entre o ribeirão da Saudade e
córrego Cachoeira (rio Claro), porém neste caso, o ribeirão da Saudade exerce
maior influência sobre a nascente do rio Claro, pois tem um poder maior de
erosão, devido principalmente as declividades existentes.
No ponto C5 entre os córregos da Mata e Pindaíba (rio Claro), há a presença de
uma queda entre um córrego e outro, diminuindo consideravelmente o poder erosivo
do Córrego da Mata, pois uma soleira rochosa (nickpoint) da Formação Marília
impede a subida do córrego em direção as nascentes do Rio Claro. Nesse ponto
ocorre a transposição das águas do rio Claro para o rio Uberaba nos meses de
estiagem, para garantir o abastecimento público de Uberaba.
No ponto C6, há uma interessante comparação entre os nomes dos córregos, pois os
dois se chamam córrego da Emendada, e segundo a Diretoria de Serviço Geográfico
do Exército (DSG), porém um pertence a bacia do rio Uberabinha e o outro a bacia
do rio Tejuco. São áreas planas com declividade entre 0 e 2% com a presença de
vegetação de buritis e pequenos represamentos de água.
No ponto CS, a captura que está sendo estudada, ocorre a nível de lençol
freático, proporcionando o recuo da cabeceira, visto que esse ponto, encontra-se
com declividade de quase 90% próximo a nascente de nível de base menor. Não foi
possível instalar piezômetro nesse ponto devido a profundidade do regolito, que
pode chegar a mais de 80 metros de espessura. Foram perfurados mais de 8 metros
com um trado de aproximadamente 100 milimetros de diâmentro e composto por astes
intecambiáveis de um metro, onde foi injetado o Nacl dissolvido em água para
acelerar o processo de percolação. Será monitorado periodicamente a nascente, a
fim de conseguir os resultados e compreender a dinâmica em subsuperfície.
Mapa de Fotos e Ponto de Monitoramento de Nível de Lençol
Mapa de Fotos e dos experimentos na borda da
chapada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nas bordas da chapada Uberlândia/Uberaba, principalmente na porção sudoeste /
oeste, existem capturas de drenagem bem desenvolvidas e estabelecidas e outras
em processos de desenvolvimento e/ou em andamento.
Os mapeamentos e levantamentos realizados até o momento mostraram que estas
capturas de drenagem tem contribuído significativamente para a redução areal da
chapada, com reflexos na redução da água armazenada nestes pacotes sedimentares.
Embora a pesquisa ainda esteja em andamento, o estudo tem mostrado a importância
da chapada para a recarga dos aquíferos Serra Geral e Bauru e para o
abastecimento público nas cidades do entorno, como Uberaba, Uberlândia e também
para um aumento da produção agrícola e sucroalcoleira nas áreas planas e de
baixa declividade.
Há uma crescente demanda hídrica nas chapadas. Na estação seca, as águas do rio
Claro são utilizadas para abastecer a população de Uberaba. O rio Uberabinha é o
manancial responsável pelo abastecimento público em Uberlandia. Alé
AGRADECIMENTOS
A Fundação e Amparo a Pesquisa de Minas Gerais - FAPEMIG pela concessão da bolsa
de iniciação científica e financiamento do projeto. A Universidade Federal do
Triângulo Mineiro pelo apoio de transporte aos trabalhos de campo.
Aos outros Professores do Curso de Geografia de UFTM, que colaboram sempre para
minha formação. Ao aluno João Paulo Melo pelo apoio aos trabalhos de campo e na
perfuração do piezômetro. Ao Professor Paulo Gemini pelas conversas que me
ajudaram a elucidar algumas idéias.
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