Anais: Geomorfologia fluvial
ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E DE CARACTERISTICAS GEOMORFOLOGICAS SOBRE A QUALIDADE DA ÁGUA DA BACIA DO RIO PACIÊNCIA/MA.
AUTORES
Pena Pereira, C.R. (UFMA) ; Conceição Oliveira, A. (UFMA) ; Silva Gonçalves, C. (UFMA) ; Nascimento Santos, J. (UFMA)
RESUMO
O presente trabalho revela as características geomorfológicas e suas relações com
os diversos processos de uso e ocupação do solo que representam os principais
fatores de desequilíbrio ambiental causados pela ação antrópica, especialmente
quando ocorrem dentro de uma unidade ecossistêmica equilibrada como as Bacias
Hidrográficas, sendo essencial que haja planejamento de mecanismos específicos que
garantam o uso e ocupação racional da mesma.
PALAVRAS CHAVES
Bacia Hidrográfica; Sensoriamento Remoto; Planejamento
ABSTRACT
The present work shows the geomorphological characteristics and their
relationships with the various processes of land use and soil that represent the
main factors of environmental imbalance caused by human action, especially when
they occur within a unit balanced ecosystem as Watershed, it is essential that
there are specific planning mechanisms to ensure the rational use and occupation
thereof.
KEYWORDS
Basin; Remote Sensing; Planning
INTRODUÇÃO
A atual pressão sobre os recursos hídricos resulta do crescimento populacional e
econômico traduzido nas expressivas taxas de urbanização, verificadas nos
últimos anos. Assim, o uso do solo se processa em consequência das ocupações
desordenadas ou não planejadas em detrimento de áreas já estabilizadas pelos
seus limites. Dessa forma, o surgimento de problemas ambientais graves, com
reflexos sobre o próprio homem, despertou-o para compreender melhor os fenômenos
naturais e entender que se deve agir como parte integrante do sistema natural.
Para Vitte e Guerra (2007), a bacia hidrográfica pode ser entendida como uma
célula básica de análise ambiental, pois está permite conhecer e avaliar seus
diversos componentes, os processos e interações que nela ocorrem. Os autores
ainda afirmam que a bacia hidrográfica é o espaço de planejamento e gestão das
águas, onde procura compatibilizar as diversidades demográficas, sociais,
culturais e econômicas das regiões.
Porto et al. (2002) enfatiza algumas consequências da urbanização em relação à
ocupação do solo em bacias, como: as alterações do escoamento superficial
direto, proliferação de loteamentos executados sem condições técnicas adequadas,
ocupação de áreas impróprias, proliferação de favelas e invasões, ocupação
extensa e adensada dificultando a construção de canalizações e eliminando áreas
de armazenamento.
Sendo assim, o estudo da Geomorfologia vem contribuir com a análise espaço-
temporal dos processos que formaram o modelo terrestre e permite identificar as
fragilidades e conhecer as potências de um determinado sistema ambiental. De tal
maneira, o conhecimento geomorfológico insere-se no diagnóstico das condições
ambientais, contribuindo para alocação e o assentamento das atividades humanas
(CRISTOFOLETTI, 2001).
MATERIAL E MÉTODOS
A localidade que constitui o recorte espacial em estudo, a bacia do rio
Paciência, ocupa segundo Cardoso (2007), a porção nordeste da ilha do Maranhão,
possui partes de suas terras nos municípios de São Luís (5,43%), Paço do Lumiar
(60,65 %), Raposa (16,13%) e São José de Ribamar (11,06%). Entre as coordenadas
02º23’05” a 02º 36’42” de latitude Sul e entre os meridianos 44°02’49” a 44° 15’
49” Oeste de Greenwich. O rio Paciência percorre cerca de 32,03 km, na direção
Sul- Leste.
Os procedimentos metodológicos foram desenvolvidos em correspondência com as
etapas de trabalho de campo e laboratório. Incluindo revisão de literatura, bem
como na análise de toda a documentação cartográfica e dados de sensoriamento
remoto que subsidiaram a identificação dos tipos de uso e ocupação do solo da
Bacia do rio Paciência. Os dados utilizados para a obtenção dos produtos
integrados e execução deste trabalho de pesquisa, incluindo os itens descritos a
seguir:
• Dados de Sensoriamento Remoto: Para realizar o diagnóstico do uso e
cobertura do solo foram processadas imagens do satélite LANDSAT/ TM5, dos anos
1990 (data de aquisição, 05/06/1990), 2000 (data de aquisição 22/10/2000) e 2010
(data de aquisição 04/02/1010). As imagens, cuja órbita/ponto é 220/62, foram
adquiridas na forma de fusão das bandas 5,4,3 , enquanto as bandas 1,2,3,4,5,6,
e 7 foram combinadas usando a composição R(5) - G(4) -B(3). Todo processamento
digital de imagens, descrito a seguir, foi realizado através do pacote SPRING
5.1.8.
• Dados Cartográficos: Carta topográfica da área de estudo, elaborada pela
Diretoria do Serviço Geográfico do Exército (DSG), em escala 1:10.000, 1980, com
curvas de nível em intervalos de 5m;
• Dado Computacional: O processamento dos dados foi realizado em um
microcomputador Pentium T4400, HD 320 Gb, 2 Gb de memória RAM.
• Máquina fotográfica Olympus, X-775, 7.1 Megapixel.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados analisados permitiram caracterizar diferentes elementos do meio físico
que foram integrados a partir da compartimentação geomorfológica da Bacia do Rio
Paciência. Na caracterização do substrato geológico a área em estudo pertence à
Formação Barreiras que corresponde aproximadamente 125,2 km², equivalente a
85,65 % do total da bacia hidrográfica do rio Paciência, seus sedimentos são
representados por material clástico mal selecionado variando de siltitos a
conglomerados, aflorando em quase toda a bacia, formando superfícies tabular,
subtabular e algumas manchas dissecadas.
A bacia hidrográfica do rio Paciência possui uma amplitude altimétrica que varia
entre a cota de 1 m até a cota de 65m. Inicia-se na parte central da Ilha do
Maranhão, nas proximidades do aeroporto Marechal Hugo da Cunha Machado e entre
os bairros do São Cristovão e Santa Bárbara estendendo-se na direção nordeste
passando pela zona rural dos municípios de Paço do Lumiar e São José de Ribamar
em frente à ponta do Curupu. A mesma possui uma topografia plana com pequenas
ondulações, com baixo nível de declividade e suaves inclinações (FONSECA, 1993).
Podemos identificar as classes de declividade e relação de área na bacia, de
acordo com a Tabela 1 a seguir:
Classes de declividade e relação de área na bacia
Bacias Hidrográficas Classes Declividade (graus) Área (km²) % da
Bacia
Paciência Plano 0 a 2,9 132 86,21
Suave Ondulado
2,9 a 5,7
21,12
13,79
Ondulado
5,7 a 8,5
0,02
0,01
Tabela-1 Classes de declividade e relação de área na bacia.
Fonte: Adaptado de Araújo (2009).
Segundo Santos (2001), os solos que estão presentes na área em estudo, são os
hidromorfos de mangue, com alto teor de enxofre, e os latossolos e podizólicos.
Estes solos são improdutivos. Nas margens do rio Paciência e no leito maior os
solos apresentam um alto índice de umidade e são constituídos por siltes e
argilas, mas em sua grande maioria predomina solos arenosos e areno-argilosos.
A malha hidrográfica desta bacia é constituída pelos rios Paciência, Saramanta,
Prata, Itapiracó, Santa Rosa, Miritiua e pelos igarapés Cumbique, Iguaiba,
Cristovão, Cajueiro, Maiobão e Genipapeiro, dentre outros. O rio Paciência,
principal corpo hídrico da bacia, apresenta um curso de 27,48 km inserido num
ambiente estuarino que se desenvolve no sentido nordeste da Ilha do Maranhão,
apresentando uma grande área de mangue, tendo sua nascente na chapada do
Tirirical desembocando na Baia de São José, próximo a Ilha de Curupu. Estende-se
por uma área de 5.232,95 ha, com população residente estimada em 251.182
habitantes.
Em relação ao padrão de drenagem, o rio Paciência apresenta o tipo dendrítico ou
arborescente, pois seus cursos fluviais tributários distribuem-se em todas as
direções da superfície do terreno, formando ângulos agudos e nunca chegando ao
ângulo reto (FONSECA, 1993). Seu regime hidrológico no período de estiagem é
perene, mas bastante limitado, tornando-se pouco relevante e depende das
contribuições de esgotos sanitários e de médias ou de pequenas nascentes, porém
não garantem fluxos constantes. Durante as chuvas há um acréscimo de vazões que
provocam mudanças nos níveis d’águas do canal. Na Tabela 2, apresentam-se
algumas características físicas da Bacia.
Características Físicas da Bacia do Rio Paciência
Ordenamento de Canais Área (km²) Hierarquia Fluvial
Bacia do Rio Paciência 153,12 4° ordem
Área, Perímetro e densidade de drenagem Área (km²) Perímetro (km)
Bacia do Rio Paciência 153,12 73,95
Atitudes médias e máximas Dd (km/km2) Área (km2)
Bacia do Rio Paciência 1,20 153,12
Nome e extensão do canal principal Comprimento (km) Canal Principal
Paciência 27,48 Rio Paciência
Comprimento da rede de drenagem Área (km2) Perímetro (km) / CRD (KM)
Paciência 153,12 73,95/184,00
Tabela-3 Características Físicas da Bacia do Rio Paciência
Fonte: Adaptado de Araújo (2009).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho engloba estudos amplos sobre as características físicas da bacia
hidrológica do rio Paciência e suas relações com o uso e ocupação do solo
refletindo na qualidade da água, com objetivo de conhecer e analisar a bacia, com
o auxilio da cartográfica e do geoprocessamento, que devem ser usados como
ferramentas que ajudam no ordenamento territorial da região, a fim de entendermos
os processos da dinâmica das feições do relevo e das ações humanas.
Portanto, a qualidade da água dos rios que compõem a bacia hidrográfica do rio
Paciência está relacionada com o uso do solo e com grau de controle sobre as
fontes de poluição existente na mesma. Esta apresenta um elevado índice de
impermeabilização do solo, comprometendo a nascente do rio, na sua área urbana,
enquanto a área rural apresenta uso agrícola com relativa “preservação” da mata
ciliar. Em consequência desses diversos usos, a bacia apresenta uma grande
fragilidade ambiental com riscos de contaminação dos seus recursos hídrico
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
CARDOSO, Gisele Martins. Uso de geotecnologias como subsídio a plano diretor de drenagem: estudo de caso de bacias hidrográficas dos rios Anil e Paciência – MA, 2007. (Monografia).
CHISTOFOLETTI, A. Aplicabilidades do conhecimento geomorfológico nos projetos de planejamento. In: GUERRA, Antônio José Teixeira; CUNHA, Sandra B.de (orgs). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 4 ed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2001.
FONSECA, A.V.L. Importância dos mapas base para os estudos ambientais de município de São Luís-MA. São Luís, 1993. Monografia de Pós-Graduação – UFMA.
PORTO, R.; ZAHED, K. F.; TUCCI, C. BIDONE, F. Drenagem Urbana. In: TUCCI,
C.E.M. (org.). Hidrologia: ciência e aplicação. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2002.943 p.
SANTOS, L.C.A. Estudo da bacia do rio Paciência-MA, por meio da analise cartográfica. Presidente Prudente, 2001. Dissertação (Mestrado em Geografia), FCT_UNESP.
VITTE, Antonio Carlos; GUERRA Antonio José Teixeira. Reflexões sobre a geografia física no Brasil. 2 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. 280p.