Anais: Geomorfologia fluvial
ANÁLISE COMPARATIVA DOS IMPACTOS AMBIENTIAS DA FOZ DO RIO SERGIPE E DO RIO VAZA BARRIS EM ARACAJU - SE.
AUTORES
Silva, I.S. (UFS) ; Gomes, A.H.A.S. (UFS) ; Santos, J.C. (UFS) ; Dantas, L.S.T. (UFS) ; Vasconcelos, R.O. (UFS)
RESUMO
O presente estudo é fruto da análise comparativa nas paisagens das bacias
hidrográficas dos rios Sergipe e Vaza Barris, tomando como parâmetro os impactos
causados pela ação antrópica na foz de ambos os rios e suas consequências no
ambiente. Fez-se necessário o estudo integrado das referidas áreas, assim este
estudo têm como método de abordagem o geossistema que contribuiu para à
compreensão global das unidades geoambientais que encontram-se bem vulneráveis às
intervenções humanas.
PALAVRAS CHAVES
bacia hidrográfica; ação antrópica; estudo integrado
ABSTRACT
This study is the result of comparative analysis in the landscapes of the river
basins of the rivers Sergipe and Barris, taking as parameter the impacts caused by
anthropoid action at the mouth of both the rivers and its consequences on the
environment. It is necessary the integrated study of these areas, so this study
has as a method of approach the geossistema which contributed to the overall
understanding of geoenvironmental units that are well vulnerable to human
interventions.
KEYWORDS
river basin; anthropoid action; integrated study
INTRODUÇÃO
O presente estudo é fruto da análise da foz dos rios Sergipe e Vaza Barris que
compõem paisagens específicas do município de Aracaju. Aqui se observou os
aspectos geomorfológicos do grupo Barreiras com foco nas Fozes desses rios,
levando-se em consideração as funções de seus entornos através de explicações
técnicas monitoradas pelo Prof. Flávio Nascimento.
O rio Sergipe nasce na Serra negra, no Estado da Bahia, corre mais de 140 Km até
lançar-se ao mar, em Aracaju. Na sua foz separa os municípios de Aracaju e Barra
dos Coqueiros. Além do importante papel econômico desempenhado pelo rio Sergipe,
ao longo do seu percurso os principais municípios que fazem parte da Bacia
Costeira são: Barra dos Coqueiros, Laranjeiras, Maruim, Nossa Senhora do
Socorro, Riachuelo, Santo Amaro das Brota e São Cristóvão.
No que tange ao rio Vaza Barris, esse nasce no município de Uauá, no estado da
Bahia, numa elevação de aproximadamente 500m. Seu comprimento total é de 3.300
Km, dos quais apenas 152 km estão no Estado de Sergipe. A área total da bacia
hidrográfica é de 17.000 km2, sua maior parte esta no Estado da Bahia, apenas
15%, ou seja, 2.559 km2 localiza-se no Estado de Sergipe, cobrindo 11,6% da
área do Estado. Apesar de sua significativa área hidrográfica, a descarga na
Bahia é intermitente e é apenas no Estado de Sergipe que o Vaza Barris se torna
um rio perene perfazendo quatorze municípios sergipanos à saber: Frei Paulo,
Pedra Mole, Pinhão, Campo do Brito, Macambira, São Domingos, Itaporanga d’Ajuda,
São Cristóvão e parte dos municípios de Carira, Itabaiana, Areia Branca,
Lagarto, Simão Dias e Aracaju.
Na busca de novos espaços de ocupação e, principalmente, na solução de problemas
das inchentes, o homem alterou profundamente os rios, tornando-os “urbanos”
(BOTELHO, 2011, p. 45), acelerando o processo da dinâmica natural, podendo
proporcionar benefícios ou malefícios a ponto deste ambiente sofrer novas
adaptações.
MATERIAL E MÉTODOS
De acordo com Nascimento e Sampaio (2004/2005, p.176) os estudos integrados da
paisagem exigem uma visão global (ou holística) da realidade, levando-se em
consideração não apenas os aspectos físicos, mas também a ação antrópica. Nesse
sentido, os autores explicam que a dinâmica do geossistema é proporcionada pelo
potencial ecológico, pela exploração biológica e a ação antrópica. Sendo assim,
a pesquisa vem sendo subsidiada por vasta literatura acerca da área e
consolidada in loco por meio das variáveis selecionadas do meio físico e
socioeconômico, os quais têm norteado o desenvolvimento da pesquisa em suas
diferentes etapas, utilizando-se a abordagem sistêmica e análise comparativa dos
ambientes.
Os dados socioeconômicos e dos atributos e propriedades dos componentes físicos
e abióticos foram obtidos em órgãos da administração pública direta e indireta,
bem como em documentação cartográfica básica. Já os aspectos socioeconômicos
estão sendo verificados através dos dados censitários e, agropecuários
disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
Atlas do desenvolvimento humano no Brasil (PNUD). Na caracterização da unidade
geomorfológica Serra do Periperi, está levando em consideração além da
geomorfologia outros componentes do estrato geográfico.
Os quadros resultantes desse estudo in loco apresentam respectivamente: Ambiente
biofísico: atributos geoambientais incidentes sobre os recursos hídricos
superficiais; Aspectos geológico-geomorfológicos; Capacidade de suporte,
problemas ambientais e diretrizes de ocupação dos sistemas ambientais; Unidades
fitoecológicas, sistema geoambiental de ocorrência e estado de conservação;
Principais características das classes de solos, morfopedologia e exploração
agrícola; Caracterização dos atributos geoambientais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As bacias analisadas possuem o mesmo clima, o Megatérmico Sub-úmido ou Semiúmido
com comportamento pluviométrico pouco variável anualmente (IBGE, 2002; SANTOS;
ANDRADE, 1986) influenciando na disponibilidade hídrica superficial dessa
região.
O terreno da foz do Rio Sergipe é constituído não somente pela contribuição da
própria bacia, mas, também, por sedimentos de praia. A Planície Litorânea,
unidade geomorfológica na qual a paisagem analisada se insere, forma-se a partir
de acumulações fluviomarinhas.
Nessa área o uso e ocupação do solo vêm sendo modificado pela ação antrópica ao
longo da história da cidade. De modo que seus leitos inundam áreas adjacentes,
mormente ocupadas pelas atividades antrópicas, este fato proporcionou alterações
nas características do terreno, impermeabilizando o solo, retificando o canal do
rio Sergipe, despejando dejetos no rio, retirando a vegetação primitiva,
realizando diversos tipos de construções, a exemplo de residências, edifícios,
postos de combustíveis, dentre outros. Todas essas ações, sem prévio estudo dos
impactos e da dinâmica específica da paisagem, influenciam as características
naturais deste ambiente.
O que se pode propor, conforme uso compatível e sustentabilidade ambiental é a
restrição a ocupações verticalizadas e a ampliação das áreas verdes. Além disso,
o tratamento do esgoto deve ser realizado antes de ser despejado nas águas do
rio Sergipe. Sobre esse assunto Botelho (2011, p. 64) diz que há uma nova visão
que originou novos pressupostos que marcam a drenagem urbana moderna que tem
colocado em cheque as obras hidráulicas até então exaltadas como soluções
necessárias e tem advogado em prol de uma menor intervenção e até mesmo da
renaturalização de rios urbanos.
No que tange a foz do rio Vaza Barris, essa é influenciada pela sua própria
dinâmica e apresenta características geológicas, geomorfológicas, climáticas e
vegetacionais bastante semelhantes às observadas na Foz do rio Sergipe.
Em comparação com a foz do Rio Sergipe, é uma paisagem moderadamente conservada,
apresentando resquícios de áreas cobertas por mangues, campos de restinga, dunas
e areal que representam os principais ecossistemas costeiros dessa região.
Contudo, é possível verificar a ocupação de plantio de coqueiros na restinga,
ocupações com bares e restaurantes na orla marítima, construção de uma rodovia e
pressão imobiliária. Desta feita percebe-se que: Os espaços naturais vão
progressivamente dando lugar a “novos espaços produzidos” onde a natureza cede
lugar às atividades econômicas diversas, com a implantação de cidades, rodovias,
ferrovias, barragens, campos de pecuária e campos de agricultura. (ROSS, 2006,
p. 188).
Esse processo de modificação da paisagem embora seja intensificado pela
especulação imobiliária é necessário para o desenvolvimento econômico do Estado
de Sergipe, sobretudo na área do turismo. Ressalta-se que muitas vezes a ação
antrópica traz efeitos adversos, como caso, a construção indevida de uma rodovia
próxima à foz do rio Vaza Barris, a qual vem sofrendo danificações marítimas por
falta de planejamento na construção da mesma. Assim, constata-se a importância
dos estudos ambientais integrados antes de qualquer empreendimento humano, uma
vez que a dinâmica ambiental é vulnerável a ocupações desordenadas ou realizadas
sem estudos prévios dos possíveis impactos socioambientais.
Segundo Botelhos (1999, p. 55), considerar a bacia hidrográfica como elemento
natural de análise da superfície terrestre permite analisar de forma
indissociada o complexo sistema de relações existentes entre os diversos
componentes da paisagem e seus processos de esculturação. Já que esse é um
sistema complexo dado o número de elementos e variáveis, em que as relações
mútuas entre os seus componentes estruturais possibilitam a análise integrada do
meio ambiente, permitindo uma acurada avaliação dos aspectos, físicos,
econômicos e sociais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As áreas estudadas estão muito vulneráveis às ocupações desordenadas própria das
unidades de paisagem morfológica localizadas na Planície marinha e à Planície
Fluviomarinha, onde a maior fragilidade ambiental deve-se à presença de
ecossistemas como manguezais, restingas e mata.
Foram detectados problemas relacionados à exploração de areia das margens e
calhas
dos rios, pesca e caça predatória, enchentes e desperdício de água. Dessa forma,
para uma efetiva gestão ambiental e dos recursos hídricos alguns entraves devem
ser superados, a exemplo das doenças de veiculação hídrica, poluição do ar,
planejamento na exploração das águas subterrâneas, falta de integração entre os
órgãos públicos e a sociedade, bem como a ausência de educação ambiental.
Nesse sentido, compreendemos a relevância dos estudos ambientais integrados,
visando à compreensão global das unidades geoambientais e a busca da
sustentabilidade ambiental.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Catarina dos Reis pela formatação do texto, a Magda Dantas pela
tradução e ao professor Flávio Nascimento da UFRJ, pelo monitoramento em campo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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