Anais: Geomorfologia fluvial
CENÁRIO GEOMORFOLÓGICO DE CONTRASTES DO LITORAL SUL FLUMINENSE COM BASE NA ANÁLISE DA CONFIGURAÇÃO DA REDE DE DRENAGEM
AUTORES
Silva, S.L.S. (UFRJ / PPGG) ; Silva, T.M. (IGEO/UFRJ) ; Silva, S.O.R. (IGEO/UFRJ)
RESUMO
A paisagem sul-fluminense caracterizada por compartimentos serranos em contato
abrupto com morfologias quaternárias e por elevados índices pluviométricos,
favorece tanto o desenvolvimento de rede de drenagem bem hierarquizada, quanto
condições de fragilidade ambiental. Considerando a influência do substrato
geológico na orientação dos fluxos d’água, a identificação dos lineamentos de
drenagem é fundamental à análise dos controles estruturais nos sistemas de
drenagem e na morfologia do relevo.
PALAVRAS CHAVES
rede de drenagem; lineamentos de drenagem; controle estrutural
ABSTRACT
The South Rio de Janeiro's landscape characterized by mountain compartments
abrupt ranges in contact with fluvials and / or fluvial-marine plains and high
rainfall, favors a very hierarchical drainage network , beyond is associated to
environmental fragility conditions. Considering geological substrate influence on
the water flows orientation, the identification of lineaments drainage plays a key
role for understanding the structural controls on drainage systems and the relief
morphology.
KEYWORDS
drainage network; drainage lineaments; structural control
INTRODUÇÃO
Embora a complexidade geológico-geomorfológica do sudeste brasileiro seja
plenamente reconhecida e estudada, tal investigação não se esgota de questões
desafiadoras, sobretudo considerando a crescente necessidade de articulação e
integração de diferentes escalas. O sul-fluminense, aqui representado pelos
municípios de Parati, Angra dos Reis, Mangaratiba e Rio Claro, é um exemplo
típico de paisagem cujo predomínio de compartimentos serranos ocorre em contato
abrupto com a morfologia quaternária de planícies fluviais e/ou flúvio-marinhas.
Ademais, a região é caracterizada por elevados índices pluviométricos,
associados a uma rede de drenagem bem hierarquizada. Desta forma, tal
complexidade natural está diretamente associada tanto às potencialidades locais
(no que se refere as atratividades turístico-econômicas) como à investigação
acadêmica, e também associada diretamente às condições de fragilidade ambiental,
representando condições de risco ao desencadeamento de processos erosivos.
Apesar de evidências locais de forte controle lito-estrutural nos sistemas de
drenagem e na própria morfologia, considera-se aqui que os compartimentos
geomorfológicos da área apresentam comportamentos distintos no mecanismo de
(re)organização da rede de drenagem, exigindo, portanto, uma melhor compreensão
dos processos de evolução da paisagem. A relevância da análise de controles
estruturais destaca-se ao permitir a identificação de bacias de zero e/ou
primeira ordens que podem estar diretamente articuladas ao desencadeamento de
processos geomorfológicos, haja vista a existência de inúmeras localidades em
que há (re)ocorrência de processos de movimentos gravitacionais e de transporte
de massa nesta região.
Espera-se, assim, com este trabalho indicar áreas mais fragilizadas, gerando
subsídios a políticas de manejo e uso do solo, haja vista que a região tem
apresentado forte processo de degradação ambiental pela intensidade dos
processos geomorfológicos desencadeados nas últimas décadas
MATERIAL E MÉTODOS
O mapeamento de lineamentos da drenagem foi realizado a partir do traçado
retilíneo sobre todas as linhas dos cursos fluviais das cartas topográficas na
escala 1:50.000 - IBGE, em meio digital, de Rio Mambucaba, Cunhambebe,
Mangaratiba, Parati, Angra dos Reis e Ilha Grande; e também de imagem GeoEye de
2011; além de serem traçados segmentos extraídos através do adensamento da
drenagem (este adensamento refere-se a traçar todos os canais de zero ordem
(reentrâncias da topografia em que não há ocorrência de um fluxo d´água
permanente) existentes na área, além do prolongamento para montante dos canais
de primeira ordem até a altura que o segmento côncavo seja mantido. O software
utilizado nesta etapa foi o ArcGis 9.0, sendo desta forma identificados os
lineamentos da drenagem em layers separados para cada quadrante de direção da
drenagem, ou seja, todos os lineamentos com direções NW-SE, N-S, NE-SW e E-W.
Depois os dados foram tratados no software "Todd Thompson Software“ (disponível
em http://mypage.iu.edu/~tthomps/programs/html/tntrose. htm), gerando-se assim
diagramas, em formato de rosetas, representando as direções dos lineamentos de
drenagem.
Atividades de campo foram também realizadas para a investigação e busca de
registros de campo que corroborassem com as áreas indicadas pelo mapeamento
realizado como as de maior influência de controles estruturais.
Estes produtos serviram para a análise e interpretação das principais direções
da drenagem, que quando cruzadas com as direções estruturais do embasamento
(informação extraída dos mapas geológicos existentes) permitiu verificar a
influência das estruturas geológicas na influência da morfodinâmica atual da
área.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No que se refere ao controle estrutural do SE brasileiro, estudos
morfotectônicos desenvolvidos ao longo da faixa do Rifte Continental do Sudeste
do Brasil, nas regiões das Serras da Bocaina (GONTIJO, 1999; HIRUMA, 2007) e da
Mantiqueira (SANTOS, 1999; HIRUMA et al., 2001) têm apontado para a relação
existente entre estruturas tectônicas reativadas na evolução do relevo. Neste
contexto, a morfologia na região em estudo (Figura 1) sugere que falhas normais
deram origem as escarpas voltadas para o litoral, ao longo das quais
desenvolveram-se escarpas tectônicas e frontes lineares e escalonados, sendo as
linhas de cristas orientadas preferencialmente para NNE, NE, E-W, NNW, NW e WNW.
A presença de lineamentos sugere ainda falhas com componentes direcionais e
imprimem no relevo: feições de vales lineares, ao longo do traço do lineamento;
feições do tipo shutter ridges, formadas onde a falha desloca feições
topográficas, movendo lateralmente uma sequência de cristas; e offset ou
deslocamentos de canais. Silva e Gontijo-Pascutti (2002) ressaltaram que os
lineamentos de drenagem mapeados no município de Angra dos Reis, tanto para a
porção continental quando para a linha de costa, mostraram-se coincidentes com
as orientações das estruturas rúpteis observadas em medidas em campo, com
direções que variam entre os quadrantes NE, N-S, E-W e NW.
As orientações preferenciais mapeadas (Figura 2) para as drenagens da porção
continental, destacam-se no quadrante NE-SW, cujas frequências variam entre E-W
e NNE, coincidentes com as estruturas do embasamento pré-Cambriano, e entre N-S
e WNW. Os lineamentos de orientação NE destacam-se pelos comprimentos mais
longos, que além de estarem preferencialmente localizados nas estruturas pré-
Cambrianas subjacentes correspondentes sobretudo as zonas de cisalhamento
dúcteis, foram os lineamentos pré-existentes reativados pela tectônica do
Mesozóico-Cenozóico. A marcante concentração de orientações confere uma forte
influência da estrutura subjacente na dinâmica dos processos erosivos tanto
pretéritos como atuais.
Embora a distribuição dos lineamentos seja relativamente uniforme, podem ser
identificados feixes mais definidos para cada orientação separadamente: a) a
distribuição dos lineamentos NE-SW é relativamente uniforme, porém foram
identificados quatro feixes: um no quadrante SSW da área (no extremo sul do
município de Parati); outro na parte central de Parati; outro na área central (N
e NE do município de Parati e parte central e NW de Angra dos Reis), coincidente
com a já reconhecida Zona de Cisalhamento de Taxaquara; e um quarto localizado
nos limites entre os municípios de Angra dos Reis e Rio Claro, e que se estende
até SSW deste município e para N e NE de Mangaratiba; b) lineamentos na direção
E-W apresentam uma relativa simetria de distribuição espacial na área em estudo;
c) quanto aos lineamentos N-S , para o município de Parati observa-se uma uma
concentração de feixes a norte do município, nas proximidades do limite com
Angra dos Reis, e em seu setor oeste; enquanto em Angra há dispersão destes
lineamentos, ficando estes bem espalhados pela parte central e a leste. Ao sul e
na porção central de Rio Claro e leste de Mangaratiba tem-se a maior ocorrência
destes segmentos; d) lineamentos NW-SE caracterizam-se pela maior concentração
de todas as demais orientações e por possuírem segmentos mais curtos,
demonstrando uma direção preferencial da dissecação atual do relevo, evidenciada
com maior destaque a N do município de Parati e oeste de Angra dos Reis, e
coincide com a dissecação atual da escarpa serra do Planalto da Bocaina. Nos
municípios de Rio Claro e Mangaratiba apresentam-se bem distribuídos.
Estes dados permitem indicar áreas em que há maior probabilidade de ocorrência
de processos atuais, haja vista a influência do substrato geológico na
orientação dos fluxos d’água e na de trechos do terreno que podem estar
associados a retomada erosiva.
Figura 1
Morfologia da área evidenciando o controle das
estruturas geológicas e contraste entre os
compartimentos serranos e as planícies.
Figura 2
Mapeamento dos lineamentos de drenagem e
compartimentação geomorfológica no município de
Angra dos Reis - RJ, representativo do sul-
fluminense.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em áreas que apresentam fortes evidências de controles tectônicos no relevo, a
análise da configuração e dinâmica da rede de drenagem representa importante
ferramenta de pesquisa, pois conforme afirmam Mendes et al. (2007), por ser
altamente sensível à transmissão de inputs desencadeadores de mudanças ambientais,
a drenagem é o segmento da paisagem mais susceptível a qualquer tipo de
transformação. Assim, a compreensão das correlações entre controle tectônico e a
evolução da rede de drenagem, através do mapeamento de lineamentos de drenagem é
de alta relevância para as pesquisas ambientais, sobretudo para uma paisagem na
qual a drenagem destaca-se como principal agente e produto dos processos
evolutivos. Desta forma, para uma compreensão mais refinada da (re)organização da
rede de drenagem local, faz-se necessária a análise de parâmetros morfométricos,
bem como outras campanhas de campo que busquem corroborar com dados coligidos em
gabinete.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
GONTIJO, A.H. 1999. Morfotectônica do médio vale do rio Paraíba do Sul: região da serra da Bocaina, estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Rio Claro, SP. (Tese de Doutorado - Inst. Geociências e Ciências Exatas, UNESP). 259 p.
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MENDES, L. D.; FERNANDES, N. F.; GONTIJO-PASCUTTI, A. H. F. 2007.Morfotectônica da bacia hidrográfica do rio bonito, Petrópolis, RJ . Revista Brasileira de Geomorfologia - Ano 8, nº 1.
SANTOS, M. 1999. Serra da Mantiqueira e Planalto do alto Rio Grande: a bacia terciária de Aiuruoca e evolução morfotectônica. Rio Claro (Tese de Doutorado-Geologia/UNESP), 134 p.
SILVA, T.M.; GONTIJO-PASCUTTI, A.H. 2002. Diagnóstico Ambiental do Meio Físico – EIA (Estudo de Impactos Ambientais da Unidade 3 da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto) – Cap. 6.3. Geomorfologia (Vol. 2). Disponível em: http://www.eletronuclear.gov.br/hotsites/eia/ v02_06_diagnostico.html#631 (Acessado em 10/10/2010).