Anais: Geomorfologia fluvial
Análise do condicionamento litoestrutural da hidrografia da porção Oeste da Folha Diamantina, MG.
AUTORES
Milagres, A.R. (UFVJM) ; Lopes, F.A. (UFVJM) ; Morais, M.S. (UFVJM) ; Mucida, D.P. (UFVJM)
RESUMO
Neste trabalho é apresentada uma análise litoestrutural das oito bacias da porção
Oeste da Folha Diamantina que compõem a bacia do Rio São Francisco, no qual, se
evidencia que a rede de drenagem da Carta Homônima é condicionada pelas estruturas
geológicas como falhas, anticlinais e sinclinais e também pela litologia.
PALAVRAS CHAVES
Hierarquização fluvial; Geologia Estrutural; Bacia Hidrográfica
ABSTRACT
This paper presents an analysis of the eight basins litoestrutural portion west of
Diamantina sheet comprising the San Francisco River basin, which are evidence that
the drainage network of the Charter of the same name is qualified by thegeological
structures such as faults, anticlines and synclines and also by lithology.
KEYWORDS
Fluvial hierarchy; Structural Geology; Basin
INTRODUÇÃO
Este estudo apresenta uma análise do condicionamento litoestrutural das bacias
da porção Oeste da Folha Diamantina, pertencentes a bacia do São Francisco e
contemplam cerca de 60% da área mapeada, são elas: bacias dos córregos Tombador,
Varas e Lapinha, dos rios Pardo Grande e Pardo Pequeno, e dos ribeirões Santana,
Galheiro e Chiqueiro. Estas bacias se encontram sob o Supergrupo Espinhaço,
abrangendo todas as formações deste supergrupo além de complexos e grupos
basais, como o Complexo de Gouveia e o Grupo Costa Sena.
Segundo King (1956), os efeitos da intervenção da tectônica na morfogênese da
Serra do Espinhaço e áreas adjacentes são percebidos facilmente na paisagem,
fato confirmado na organização da rede de drenagem e nas inúmeras capturas intra
e inter-bacias. Ainda segundo este, o desenvolvimento da rede de drenagem da
Serra do Espinhaço deveu-se a um basculamento dos planaltos em direção a leste e
consequente incorporação de parte da drenagem sanfransciscana que avançava sobre
a borda oeste. Isto foi evidenciado pela coincidência na direção dos cursos de
água em relação às estruturas geológicas como falhas, dobras e alinhamentos
estruturais que capturam os cursos de rios. As observações de King (1956)
apresentam um caráter regional, ou seja, um olhar macro sobre o condicionamento
morfoestrutural das drenagens da Serra do Espinhaço.
Poucos são os trabalhos que se aventuraram na descrição micro do condicionamento
das drenagens da serra, dessa forma, o presente estudo justifica-se, tendo como
objetivo realizar a análise do condicionamento da hidrografia da porção oeste da
Folha Diamantina tanto pelas estruturas geológicas, como pelas litologias, uma
vez que, esta região sofreu muitos eventos geológicos em todo período
proterozóico, como o evento Brasiliano no final do neoproterozóico que foi
responsável pela compressão e deformação da serra, muito mais expressivo a leste
devido ao craton São Francisco agir como uma bacia de anti-país (DUSSIN, 1995).
MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia empregada para a realização deste trabalho consistiu em etapas,
são elas:
• Análise da carta topográfica de Diamantina, folha numero SE-23-Z-A-III,
na escala 1:100.000, reeditada em 1986. A folha abarca uma área de 2909 km².
• Decalque da rede hidrográfica da carta topográfica Diamantina, que
consistiu no traçado dos cursos de água sobre um overlay a fim de se fazer a
subdivisão da rede em bacias hidrográficas. Realizou-se a individualização de 12
bacias hidrográficas presentes na Folha Diamantina, sendo que, na lógica da
drenagem regional as bacias da porção leste vinculam-se à bacia do Rio
Jequitinhonha, totalizando quatro bacias, e as bacias da porção oeste à bacia do
Rio São Francisco, totalizando oito bacias e em seguida foi feito o cálculo da
área de cada bacia.
• Hierarquização dos cursos de água segundo os critérios propostos por
STRHALER (1957 apud CHRISTOFOLETTI, 1980), no qual, definiu-se as ordens
hierárquicas das oito bacias da porção oeste da folha Diamantina, em que os
menores canais sem tributários são considerados como de primeira ordem,
estendendo-se desde a nascente até a confluência; os canais de segunda ordem
surgem da confluência de dois canais de primeira ordem e só recebem afluentes de
primeira ordem; os canais de terceira ordem surgem da confluência de dois canais
de segunda ordem, podendo receber afluentes de segunda e de primeira ordem e
assim sucessivamente até se encontrar a ultima ordem que será dada ao curso
principal de cada bacia.
• Com ajuda do transferidor iniciou-se trabalho de obtenção de medidas das
direções de desenvolvimento de cada trecho fluvial em Intervalos de freqüência,
que nas bacias estudadas se encontram de 1ª a 5ª ordem.
• Sobreposição do mapa da rede de drenagem decalcada em overlay à do mapa
geológico da Folha Diamantina (FOGAÇA, 1997), onde é possível observar o
condicionamento da rede hidrográfica as estruturas geológicas e litológicas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Planalto do Espinhaço é um reflexo do condicionamento estrutural, conseqüência
dos eventos tectônicos que ocorreram nos períodos subseqüentes ao pré-cambriano.
Segundo SAADI (1995), os primeiros eventos geológicos ocorreram no final do
paleoproterozóico devido a ação do ciclo desnudacional da plataforma, o que
ocasionou um acumulo de sedimentos do Supergrupo Espinhaço sob as depressões
formadas durante o processo de riftiamento.
Segundo Knauer (1999), a estratigrafia da Serra do Espinhaço Meridional foi
modelada através destes eventos geotectônicos, no qual, o Complexo Gouveia de
rochas intrusivas corresponde a sua base, logo acima ouve a sedimentação do
Grupo Costa Sena e em seguida as oito Formações do Supergrupo Espinhaço, sendo
que a área estudada encontra-se predominantemente sob a Formação Galho do
Miguel.
O ultimo evento tectônico ocorrido no final do neoproterozóico, denominado
Brasiliano foi responsável pela deformação da Serra do Espinhaço, movimentação
compressiva de massa de E para W, o que ocasionou falhas nessa direção e falhas
de empurrão, anticlinais e sinclinais de direção N-S. Segundo ROLIM, (1992) é
possível que o Complexo Gouveia tenha se comportado como um alto estrutural que
impediu a movimentação de massa para a parte oeste, onde a deformação é menos
expressiva.
Ao analisar todas as bacias percebe-se que elas possuem características de
padrão retangular de drenagem, conseqüência da influência estrutural de falhas
de empurrão, anticlinais e sinclinais de direção N-S e falhas de direção NW. A
bacia do Córrego Tombador respeita estas características e sofre interferência
da litologia, uma vez que, o contato entre as Formações Galho do Miguel e
Córrego dos Borges de resistência maior, com a Formação Santa Rita de
resistência menor acontece numa direção quase N-S.
Na bacia Rio Pardo Grande as drenagens de hierarquia 1 e 3 possuem direção
preferencial de N11W a N30W, assim estão mais condicionadas ao contato entre
litologias, falhas de empurrão e aos anticlinais e sinclinais que aparecem na
direção N-S, já as drenagens de hierarquia 2 possuem direção de N31W a N50W,
sofre influencia das falhas que estão na direção W.
A bacia Córrego das Varas e a bacia Rio Pardo Pequeno estão condicionadas as
falhas de empurrão, aos anticlinais e sinclinais de direção N-S, pois tanto as
drenagens de hierarquia 1 como 2 possuem uma direção preferencial no intervalo
de 0-10 NE/NW, já as drenagens de hierarquia 3 da bacia Rio Pardo Pequeno estão
condicionadas as falhas E-W, pois possuem uma direção preferencial de N71W a
N90W.
As drenagens de hierarquias primárias das bacias Ribeirão Santana e Ribeirão
Galheiro são condicionadas principalmente pelos anticlinais e sinclinais devido
a suas direções preferenciais estarem no intervalo de 0-10 NE/NW, no entanto as
drenagens de hierarquia 2 da bacia Ribeirão Galheiro e hierarquia 3 da bacia
Ribeirão Santana estão condicionadas as falhas E-W, pois tem direção
preferencial N71W a N90W e N51W a N70W, respectivamente. As drenagens de
hierarquia 3 da bacia Galheiro estão condicionadas a uma falha de direção NE,
com direção preferencial de N31E a N50E.
Na bacia Ribeirão do Chiqueiro é possível encontrar padrão de drenagem além de
retangular, também dendrítica devido a litologia do Complexo Gouveia ser de
rochas básicas e pouco resistentes. Esta bacia está condicionada a um conjunto
de falhas de direção NW, com direções preferenciais nas hierarquias de N31W a
N50W, e sofre a interferência da litologia, devido ao contato direto entre as
Formações Galho do Miguel e Sopa-Brumadinho com o Complexo Gouveia.
A bacia Córrego da Lapinha possui anticlinais e sinclinais de direção N-S que
condicionam as drenagens de hierarquias menores no intervalo de 0-10 NW, no
entanto, o solapamento em direção a diques de rochas metabásicas que preenchem
as falhas de empurrão de direção W-E condicionam as drenagens de hierarquias
maiores, de N71W a N90W.
Tabela 1
Ordens hierárquicas dos cursos fluviais organizados
em frequências e suas respectivas direções.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A rede de drenagem da folha Diamantina é condicionada tanto pela estrutura
geológica como pela litologia, uma vez que, as oito bacias hidrográficas
estudadas, possuem em alguma extensão da drenagem um padrão retangular, que é um
indicativo de condicionamento a estruturas geológicas. Na hierarquização fluvial
se observa que a direção preferencial das drenagens de primeira ordem estão
condicionadas as falhas de empurrão, aos contatos litológicos e aos sinclinais e
anticlinais que estão na direção N-S. Quanto aos cursos de hierarquias superiores,
nota-se que possuem uma direção preferencial no intervalo de N31W a N50W e de
N71W a N90W, devido as falhas de direção NW e W, exceto a bacia Ribeirão Galheiro
que possui uma direção preferencial de N31E a N50E, em decorrência a diques de
rocha metabásica e uma falha de direção NE, e a bacia do Córrego Tombador com
direção preferencial de N11E a N30E, devido ao contato entre litologias distintas,
que em uma área desta bacia, possui direção NE.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Rommel Machado, responsável pela biblioteca Reinhardt
Pflug da casa da glória, IGC/UFMG, pelo apoio com material de pesquisa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
CHRISTOFOLETTI, A. 1980. Geomorfologia.2.ed.São Paulo: Edgard Blücher.188p
DUSSIN I.A. & DUSSIN T.M, 1995. Supergrupo Espinhaço: Modelo de Evolução Geodinâmica. Geonomos: Revista de Geociências, Belo Horizonte, 1: 19-26.
FOGAÇA, A. C. C. 1997. Geologia da Folha Diamantina. In: GROSSI-SAD, J. H. LOBATO, L. M. PEDROSA-SOARES, A. C. & SOARES-FILHO, B. S. (coordenadores e editores). PROJETO ESPINHAÇO EM CD-ROM (textos, mapas e anexos). Belo Horizonte, COMIG - Companhia Mineradora de Minas Gerais. p. 1575-1665.
KING L.C. 1956. Geomorfologia do Brasil Oriental. Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro.v.18,n.2.p147-256.
KNAUER, L.G. 1999. Serra do Espinhaço Meridional : Considerações sobre a estratigrafia e a análise da deformação das unidades proterozóicas. Tese de Doutorado,UNESP, 244, Rio Claro.
ROLIM, V.K. 1992. Uma interpretação das estruturas tectônicas do Supergrupo Espinhaço, baseada na geometria dos falhamentos de empurrão. Rev. Esc. Minas, Ouro Preto, 45: 75-77.
SAADI, A. 1995. A Geomorfologia da Serra do Espinhaço em Minas Gerais e de suas margens. Geonomos: Revista de Geociências, Belo Horizonte, v.3, n.1, p.41-63.