Anais: Geomorfologia fluvial
ANÁLISE DAS CHEIAS OCORRENTES NOS ANOS DE 1983 E 1990 NA PLANÍCIE ALUVIAL DO RIO IVAÍ POR MEIO DE IMAGENS ORBITAIS E VARIÁVEIS HIDROLÓGICAS
AUTORES
Alves, F.C. (GEMA/UEM) ; Fragal, E.H. (GEMA/UEM)
RESUMO
O presente trabalho objetivou-se em analisar a dinâmica das cheias ocorrentes na
planície aluvial do rio Ivaí nos anos de 1983 e 1990 por meio de variáveis
hidrológicas e imagens orbitais. Os resultados revelam a importância da cheia de
1990 que com valores hidrológicos elevados promoveu a transformação ambiental na
região por evento conjunto dos rios Paraná, Ivinhema e Ivaí. A cheia inundou
patamares mais elevados da planície aluvial do rio Ivaí realçando feições
morfológicas de paleocanais.
PALAVRAS CHAVES
inundação; planície aluvial; geomorfologia fluvial
ABSTRACT
This paper aimed to analyze the dynamic of the floods occurred on the alluvial
plain of Ivaí River in 1983 and 1990 years using hydrologic variables and orbital
images. The results showed the importance of the flood in 1990 with higher
hydrologic values promoted the environmental transformation in the region from
the conjoint events of the Paraná River, Ivinhema and Ivaí. This event flooded
higher levels on the alluvial plain of Ivaí River, showing morphological features
of paleochannels.
KEYWORDS
flood; alluvial plain; fluvial geomorphology
INTRODUÇÃO
Eventos de cheias, com consequente propagação de inundação através do canal
fluvial e da planície podem causar instabilidade para o ambiente, economia e
sociedade. As variações no regime de vazões causam importantes transformações na
morfologia de leito do canal e no transporte de sedimentos, bem como na
cobertura vegetal e conectividade com o ecossistema aquático da planície
aluvial, como constatado por Comunello (2001); Rocha (2002); Comunello et al.,
(2003) e Couto et al., (2010).
A bacia hidrográfica do rio Ivaí é a segunda maior do Estado do Paraná. O rio
Ivaí é um importante tributário da margem esquerda do rio Paraná que até o
presente momento não possui barramentos, revelando-se como importante objeto de
estudo nos seus aspectos ambientais, como os estudos hidrosedimentológicos
realizados no seu curso inferior por Biazin (2005); Kuerten (2006) e
geomorfológico por Santos et al., (2008). Apesar disso, pouco foi abordado em
relação a dinâmica de suas cheias.
O regime hidrológico do rio Ivaí foi estudado por Destefani (2005) que contatou
entre o período de 1974-2002, uma vazão média anual de 728 m³/s e a média das
cheias com 4019 m³/s na estação fluviométrica de Novo Porto Taquara. Segundo a
mesma autora, o rio Ivaí não apresenta uma nítida caracterização de períodos de
cheia e de vazante, podendo esses regimes ocorrer em qualquer época do ano,
consequência de fatores como, o clima, formato da bacia, declividade e geologia.
A dinâmica das cheias do rio Ivaí foi abordada recentemente por Santos et al.,
(2010) que avançou na temática, observando por meio de imagens orbitais e
geomorfologia da área que a inundação na planície ocorre por barramento dos
tributários de menor ordem pelo canal principal. No entanto, a análise das
cheias ocorrentes nos anos de 1983 e 1990 por meio de variáveis hidrológicas e
mapeamento das classes de água nas imagens orbitais, ainda não foram realizados,
tornando-se por tanto oportuna no desenvolvimento do presente trabalho.
MATERIAL E MÉTODOS
Para análise das cheias ocorrentes nas datas de 15/06/1983 e 17/01/1990 do rio
Ivaí no seu curso inferior, utilizaram-se imagens orbitais dos satélites Landsat
4 e 5 sensor Multispectral Scanner System (MSS) da órbita/ponto 223/076. Essas
imagens encontram-se georreferenciadas e disponíveis por intermédio do site:
http://glovis.usgs.gov/, com resolução espacial de 60 x 60 metros e espectral
com 4 bandas.
Realizou-se o processo de classificação supervisionada em imagens orbitais, por
meio do algoritmo Suport Vector Machine (SVM) desenvolvido por Sulsoft (2009) e
disponível no software Envi 4.5 (RSI, 2008). Para tanto, selecionaram-se várias
amostras da classe de água, visando uma melhor acurácia na classificação. Esse
procedimento permitiu o mapeamento das classes de água nas imagens de cheia da
planície aluvial, possibilitando assim, a posterior comparação dos produtos
gerados. Para elaboração dos mapas finais utilizou-se o software ArcGIS 9.3
(ESRI, 2006).
Com o objetivo de caracterizar na imagem orbital os diferentes níveis de água na
planície aluvial, utilizaram-se valores diários da série histórica de nível
fluviométrico, vazão e precipitação pluviométrica anterior a data da imagem. As
variáveis hidrológicas foram selecionadas a partir do banco de dados da estação
fluviométrica e pluviométrica de Novo Porto Taquara (códigos 64693000 e 2353044,
respectivamente), disponíveis gratuitamente no site:
http://www.ana.gov.br/portalsnirh/.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As imagens orbitais de cheias na planície aluvial do rio Ivaí são ilustradas na
Figura 1.
A região de Pontal do Tigre, divisa entre os municípios de Querência do Norte e
Icaraíma onde se localiza a foz do rio Ivaí na confluência com o rio Paraná,
devido apresentar as menores altitudes, declividades e ausência de diques
marginais em alguns trechos do canal, favorece com que está área sofra os
primeiros estágios de inundação.
Infelizmente, na data de 15/06/1983 não foram registrados valores hidrológicos
na estação fluviométrica de Novo Porto Taquara. Contudo, em 17/01/1990 a cheia
atingiu 12,01 m de cota fluviométrica e 3749,1 m³/s de vazão, se aproximando dos
valores médios de cheia (4019 m³/s), medidos na estação. Essa cheia revelou uma
inundação histórica na região, a partir do evento conjunto dos rios Paraná,
Ivinhema e Ivaí, conforme constatado nos trabalhos de Comunello, 2001; Meurer,
2003 e Comunello et al., 2003.
Os maiores valores diários de precipitação do mês de janeiro de 1990, medidos na
estação pluviométrica de Novo Porto Taquara, a montante da planície, foram
encontrados no começo do mês, sendo que o maior pico mensal (49,7 mm) aconteceu
sete dias anteriores a data do imageamento pelo satélite. Isso demonstra a
grande participação da variável precipitação na elevação das águas no rio e
consequentemente alimentando as cheias. Segundo os trabalhos realizados por
Andrade e Nery (2003) e Baldo (2006), a cheia do ano de 1983 está relacionado
com o fenômeno El Niño. No entanto, para o ano de 1990, Baldo (2006) não
verificou uma correlação direta com esse evento.
O mapeamento das classes de água referentes as cheias dos anos de 1983 e 1990 da
planície aluvial do rio Ivaí encontram-se na Figura 2.
A partir da Figura 2, é possível observar que a água nas cheias de 1983 e 1990,
inundam áreas da planície aluvial do rio Ivaí em patamares mais elevados,
restabelecendo a conexão com ambientes lênticos e paleocanais. Verificou-se o
transbordamento da água em canais de menor ordem, tributários do rio Ivaí. Com a
análise das imagens, foi possível observar que as classes de água mapeadas na
cheia de 1990 realçaram com maior detalhamento a feição morfológica de
paleocanais, inundando ainda, áreas mais elevadas na planície aluvial e
localizando-se próximo a unidade terraço Ivaí cartografa por Santos et al.,
(2008).
Figura 1
Imagens orbitais Landsat 4 e 5 sensor MSS nas datas
de 15/06/1983 (A) e 17/01/1990 (B).
Figura 2
Classes de água e realce de feições morfológicas na
planície aluvial do rio Ivaí.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os métodos utilizados no presente trabalho permitiram identificar transformações
ocorrentes na planície aluvial do rio Ivaí, por conta das cheias nos anos de 1983
e 1990. Apesar de não verificar-se a acurácia no mapeamento das
classes de água, pôde-se observar que a água na cheia de 1990 realça com maior
detalhamento a feição morfológica de paleocanais, em patamares mais elevados da
planície aluvial. Essa cheia atingiu valores próximos a média das cheias medidos
na estação fluviométrica de Novo Porto Taquara, representando importantes
transformações ambientais na região, por ser um evento conjunto dos rios Paraná,
Ivinhema e Ivaí conforme constatado no referencial teórico. Deve ser considerado
ainda, a importância do lençol freático e sua contribuição na elevação das águas
do canal fluvial, embora não seja abordado no presente trabalho.
AGRADECIMENTOS
Ao professor Doutor Manoel Luiz dos Santos por suas contribuições e sugestões no
desenvolvimento do presente trabalho.
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