Anais: Geomorfologia fluvial
Perfil Longitudinal (RDE - Relação Declividade X Extensão) na Identificação de Evidências de Neotectônica na Bacia do Rio Capibaribe-Mirim, Pernambuco
AUTORES
Fonsêca, D.N. (UFPE) ; Corrêa, A.C.B. (UFPE)
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo analisar o perfil longitudinal do principal
canal de drenagem da bacia do rio Capibaribe-Mirim, Pernambuco. A área apresentou
várias quebras e rupturas de gradiente, relacionadas com joelhos de inflexão e
knick-points que ocorrem ao longo do curso do rio. Analisando estas rupturas
podem-se inferir possíveis fatores neotectônicos podem estar levando o curso do
rio para longe de seu perfil de equilíbrio.
PALAVRAS CHAVES
Perfil Longitudinal; Geomorfologia Estrutural; Rio Capibaribe-Mirim
ABSTRACT
This paper aims to study the behavior of the longitudinal profile of the
main drainage channel of the Capibaribe-Mirim basin, Pernambuco. The area had
several breaks and ruptures gradient, related to her knees and knick-inflection
points that occur throughout the course of the river. Analyzing these breaks can
be inferred neotectonic possible factors may be leading the river away from its
equilibrium profile.
KEYWORDS
Longitudinal Profile; Structural Geomorphology; River Capibaribe-Mirim
INTRODUÇÃO
O estudo das teorias que envolvem o trabalho é de fundamental importância, visto
que, a identificação detalhada de controles morfoestruturais atuantes sobre a
rede de drenagem pode gerar subsídios importantes para a determinação de fatores
desencadeadores da deposição de unidades morfoestratigráficas da bacia do rio
Capibaribe-Mirim na Zona da Mata Pernambucana.
Na área em questão o estudo foi direcionado ao estabelecimento de uma correlação
entre a estratigrafia neo-cenozóica e a estruturação de modelados deposicionais,
a partir da análise das anomalias e regularidades fluviais evidenciadas pela
aplicação de índices morfométricos ao perfil fluvial. Assim espera-se que a
análises dos dados obtidos possibilitem a definição de setores das bacias de
drenagem que sofreram alterações geométricas, mediante a atuação de movimentos
tectônicos ou devido aos controles estruturais herdados.
É importante salientar que mudanças no gradiente do fundo do vale, causam
mudanças no padrão do canal, como por exemplo, acima de um eixo de soerguimento,
o gradiente do canal e do fundo do vale são reduzidos enquanto que, abaixo desse
eixo, elas aumentam. A partir do exposto acima, Burnett e Schumm (1983),
verificam que os rios que drenam as áreas sobre influência neotectônica estão
ajustando seu curso às mudanças de declividade. Quanto mais equilibrado for o
curso d’água, mais ajustado será seu perfil (ETCHEBEHERE et al, 2004).
Desse modo, através do estudo dos perfis longitudinais é possível se fazer uma
avaliação da influência neotectônica, sobre a esculturação do relevo e da rede
de drenagem. A identificação detalhada dos controles morfoestruturais atuantes
sobre a rede de drenagem também pode gerar subsídios para a elucidação dos
elementos desencadeadores de deposição de unidades morfoestratigráficas.
MATERIAL E MÉTODOS
Primeiramente buscou-se através de uma detalhada revisão bibliográfica do tema
construir uma visão abrangente do conhecimento relativo à área de estudo, como
também acerca das técnicas a serem utilizadas na pesquisa, como a análise do
perfil longitudinal. O estudo das teorias que envolvem o trabalho foi de
fundamental importância, visto que, a identificação detalhada de controles
morfoestruturais atuantes sobre a rede de drenagem podem gerar subsídios
importantes para a determinação de fatores desencadeadores na deposição de
unidades morfoestratigráficas da bacia do rio Capibaribe-Mirim.
No tocante às atividades práticas, utilizou-se os dados TOPODATA da área para
confecção de MDE (Modelo Digital de Elevação), a fim de se construir o perfil
longitudinal do Rio Capibaribe-Mirim, utilizando a técnica proposta por Burnett
e Schumm (1983), com auxílio das ferramentas dos softwares ArcGis 9.3. Ressalta-
se que uma das representações mais frequentes de aspectos morfométricos de curso
d’água refere-se aos perfis longitudinais dos rios, que ao serem cruzados com
outras informações de caráter litológico, estratigráfico e tectônico permitem
aventar várias hipóteses acerca do comportamento espacial da rede de drenagem
(ETCHEBEHERE et al, 2004).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O rio Capibaribe-Mirim, localizado na Zona da Mata Norte do Estado de
Pernambuco, se delimita a oeste com unidades morfoestruturais que se configuram
como maciços cristalinos residuais associados ao planalto da Borborema, formando
distintos patamares altimétricos com diferentes estágios de dissecação ( BRITO
NEVES et al 2004).
A unidade morfoestrutural de maior destaque regional na área da bacia são as
áreas de cimeira e escarpada do Planalto da Borborema, seguida de uma unidade
morfoestrutural apresenta restos de um capeamento sedimentar, medianamente
dissecado, que se expressa sob a forma de superfícies tabuliformes e baixos
tabuleiros. Estas se tratam de estruturas recentes de acumulação e denudação
resultantes da ação morfogenética neocenozóica sobre a elaboração do modelado, a
mercê de controles climáticos e tectônicos recursivos. Constituem, assim,
unidades morfoestratigráficas contemporâneas, de acordo com a cronologia
geomórfica da região (CORRÊA et al, 2005).
Fazendo uma análise dos fotolineamentos de diversas ordens que seccionam a área,
constatou-se que ao longo dos lineamentos de drenagem e relevo no trecho do rio
Capibaribe-Mirim, foram observados diversos joelhos de inflexão, Knick-points,
rápidos e segmentos lineares. Estes dados evidenciam uma reativação dos níveis
de base locais a partir da drenagem coletora principal da região, podendo
constituir também evidências de neotectônica (Figura 1 e 2).
Figura 1
Lineamento de Drenagem e altimetria da bacia do rio
Capibaribe-Mirim
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise combinada do perfil longitudinal sobreposta à curva de melhor ajuste, e
fotolineamentos, do trecho do rio Capibaribe-Mirim evidenciou que a seção central
do gráfico representa a área de acúmulo de sedimentos sob a forma de planícies
aluviais, enquanto que as extremidades do gráfico indicam setores onde é mais
ativo o processo de dissecação e, portanto, provavelmente associados a uma
tectônica positiva cujos efeitos de deformação sobre o perfil longitudinal do
canal ainda não foram revertidos pela erosão regressiva a partir dos inúmeros
knick-points.
Constatou-se assim que apesar de ser um técnica morfométrica clássica, a
construção do perfil longitudinal quando amparada por evidências de campo e
cruzada com outras informações quantitativas a cerca do comportamento do canal,
representa uma boa ferramenta de aferição dos possíveis controles geomorfológicos
que atuando em consórcio determinam a configuração espacial de um setor do canal
fluvial.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
BRITO NEVES, B. B. ET AL. O sistema tafrogênico terciário do saliente oriental nordestino na Paraíba: um legado proterozóico. Revista Brasileira de Geociências, v.34, p. 127-134, 2004.
BURNETT, A. W.; SCHUMM, S.A . Alluvial river response to neotectonic deformation in Louisiana and Mississippi. Science, v.222, p.49-50, 1983.
ETCHEBEHERE, M. L. et al. Aplicação do índice Relação Declividade-Extensão – RDE na Bacia do Rio do Peixe (SP) para detecção de deformações neotectônicas. Revista do Instituto de Geociências, v.4, p. 43-56, 2004.
CORRÊA, A. C. ET AL. Análise geomorfológica e sedimentológica do gráben de Cariatá, Paraíba. In: X Congresso da Abequa. Anais de Trabalhos Completos. Guarapari, 41-47, 2005.