Anais: Geomorfologia fluvial
ANÁLISE DA INFLUÊNCIA LITOESTRUTURAL NO PADRÃO DE DRENAGEM DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DA PORÇÃO ORIENTAL DA FOLHA DIAMANTINA, MG.
AUTORES
Lopes, F.A. (UFVJM) ; Milagres, A.R. (UFVJM) ; Morais, M.S. (UFVJM) ; Mucida, D.P. (UFVJM)
RESUMO
Este trabalho apresenta dados da hierarquia fluvial e geologia estrutural das
bacias hidrográficas presentes nas cartas topográfica e geológica de Diamantina
que compõem a bacia do Rio Jequitinhonha. O objetivo deste trabalho é analisar as
possíveis relações do padrão de drenagem com as características litoestruturais da
área em estudo, tanto os cursos que compõem as áreas de recarga quanto nos cursos
principais.
PALAVRAS CHAVES
Hierarquização Fluvial; Geologia Estrutural; Bacia Hidrográfica
ABSTRACT
This paper presents data of the hierarchy and structural geology of the river
basins in the present Diamantina topographic and geologic maps that make up the
Jequitinhonha River basin. The aim of this paper is to analyze the possible
relationship of the drainage pattern with lithostructural characteristics of the
study area, since the courses that make up the recharge areas and main courses.
KEYWORDS
Fluvial hierarchy; Structural Geology; Basin
INTRODUÇÃO
São apresentados neste trabalho elementos da geologia estrutural e
hierarquização fluvial das bacias hidrográficas presentes nos mapas geológico e
topográfico da folha Diamantina pertencentes a bacia do Rio Jequitinhonha; sendo
elas: bacias dos Rios Caeté Mirim e Pinheiro, ao norte de Diamantina e as bacias
do Ribeirão do Inferno e do córrego do Lajeado ao sul da mesma cidade.
Estas bacias estão localizadas na Serra do Espinhaço Meridional, correspondem
cerca de 40% do total da área mapeada e tem continuidade ao norte, na carta
Curimataí e a leste, na carta Rio Vermelho. As demais bacias presentes na carta
Diamantina, porção oeste, pertencem a bacia do Rio São Francisco. No âmbito da
folha Diamantina, o divisor dessas águas na porção sul são as serras da Miúda e
Vaz, infletindo para a Serra da Matriculada e, na porção norte, a região do
distrito de São João da Chapada (FOGAÇA, 1997).
A área de abrangência desse trabalho insere-se, principalmente, sobre rochas das
Formações Sopa-Brumadinho e São João da Chapada, base do Supergrupo Espinhaço, o
que, do ponto de vista econômico concentra os aluviões portadores de diamante e
ouro pelo fato de seccionarem extensivamente as camadas de quartzitos e
metaconglomerados da Formação Sopa-Brumadinho (FOGAÇA, 1997). Drenam também
sobre as Formações Serra do Catuni e Duas Barras do grupo Macaúbas e sobre
diques e soleiras de rochas metabásicas de idade neoproterozóica.
Em termos estruturais, esta área apresenta maior deformação em relação a parte
oeste da folha, isso porque no neoproterozóico os esforços compressivos que
soergueram o orógeno Espinhaço tiveram direção E-W (ROLIM, 1992).
O objetivo deste trabalho é fazer uma análise das possíveis relações do padrão
de drenagem com as características litoestruturais da área em estudo que,
segundo King (1956), são fatores de grande influência na morfogênese da Serra do
Espinhaço, principalmente no que tange à sua organização fluvial e no sistema de
capturas intra e inter-bacias.
MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia para este trabalho consistiu basicamente nas seguintes etapas:
• Decalque da rede hidrográfica, da porção leste e que compõe a bacia do
Rio Jequitinhonha, presentes na carta topográfica da folha Diamantina (SE-23-Z-
Á-III, 1:100.000, reedição1986) em papel overlay.
• Divisão em bacias hidrográficas cujos nomes foram designados: Rio Caeté
Mirim, Rio Pinheiro, Ribeirão do Inferno e Córrego do Lajeado.
• Hierarquização dos cursos fluviais segundo os critérios propostos por
STRHALER (1957 apud CHRISTOFOLETTI, 1980) que considera os menores canais, sem
tributários, como de primeira ordem, estendendo desde a nascente até a
confluência; os canais de segunda ordem surgem da confluência de dois canais de
primeira ordem e só recebe afluentes de primeira ordem; os canais de terceira
ordem surgem da confluência de dois canais de segunda ordem, podendo receber
afluentes de segunda e de primeira ordem; os canais de quarta ordem surgem da
confluência de dois canais de terceira ordem, podendo receber tributários de
ordens inferiores e assim sucessivamente.
• Levantamento e tratamento das direções de drenagens utilizando
transferidor. Foram tiradas as direções dos cursos e organizados em intervalos
de frequência (Conforme a TABELA 1).
• Sobreposição do papel overlay, com as bacias decalcadas e com os cursos
hierarquizados, na carta geológica da folha Diamantina (SE-23-Z-Á-III,
1:100.000, 1996) para análise da relação entre a direção das drenagens e as
características estruturais e litológicas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Supergrupo Espinhaço está estruturado na Folha Diamantina por um conjunto de
falhas de empurrão/zonas de cisalhamento com direção geral N-S e por amplas
dobras de eixo que tendem para N-S, resultado das compressões de direção E-W do
evento brasiliano o que explica a ocorrência de maior deformação na porção leste
da Serra (FOGAÇA, 1997). Essas características litoestruturais influenciam na
dinâmica dos cursos fluviais da área e o conhecimento destas podem se tornar uma
importante ferramenta de planejamento do manejo dos recursos hídricos regionais.
A bacia do Rio Caeté Mirim possui uma área de cerca de 150 Km² e apresenta
direções preferenciais nos intervalos entre N31E a N50E para ordem 1; N11E a
N30E, N11W a N30W e N51W a N70W para ordem 2; N11E a N30E e N31E a N50E para
ordem 3; N11E a N30E e N31W a N50W e N31E a N50E para ordem 4 e N11E a N30E para
ordem 5. Esta bacia de padrão dendrítico de drenagem apresenta alguns cursos
retilíneos justificados por seccionarem em direção a diques e soleiras de rochas
metabásicas que preenchem a falhas de empurrão de direções N-S e E-W,
evidenciado tanto a influência litológica quanto estrutural no padrão dos seus
cursos.
A bacia do Rio Pinheiro tem uma área de cerca de 520 Km², possui padrão
dendrítico de drenagem e apresenta direções preferenciais entre N31E a N50E para
ordem 1, N31E a N50E para ordem 2, N11E a N30E para ordem 3, N11W a N30W e N31E
a N50E para ordem 4 e N51W a N70W para ordem 5; esse diversificado padrão de
direção está condicionado a ampla ocorrência de falhas normais de sentido NW-SE,
falhas de empurrão no sentido N-S, eixos de caimento de sinclinais e anticlinais
no sentido NW-SE no Grupo Macaúbas e no sentido N-S nas formações do Supergrupo
Espinhaço.
A bacia do Ribeirão do Inferno, com uma área de cerca de 310 Km², apresenta
direções preferenciais entre N10E a N10W para ordem 1; N71W a N90W para ordem 2
e N51E a N70E para ordem 3 e N31W a N50W para ordem 4. Essa bacia, além de seu
padrão predominantemente dendrítico, tem forte característica do padrão paralelo
de drenagem caracterizado ora pela forte influência estrutural (falhas, falhas
de empurrão e sinclinórios) ora pela influência litológica caracterizada, para
este caso, por uma acentuada declividade na área de contato das formações Sopa-
Brumadinho e São João da Chapada.
A bacia do Córrego Lajeado possui uma área de cerca de 215 Km² e apresenta
direções preferenciais de N11E a N30E para ordem 1; N11E a N30E para ordem 2; e
N51W a N70W para ordem 3. Os cursos d’água desta bacia, de padrão dendrítico,
estão condicionados principalmente pela direção de foliação da rocha e pelas
falhas de empurrão de direção N-S.
TABELA 1
Bacias com as ordens hierárquicas de seus cursos
fluviais que, por sua vez, estão organizados em
intervalos de acordo com sua direção medida em
graus.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Contudo, com base na análise das características geológicas e hierarquia fluvial
das bacias dos Rios Caeté Mirim, Pinheiro, Ribeirão do Inferno e do córrego do
Lajeado, pode-se (re) afirmar que a geologia pré-cambriana influencia nos cursos
fluviais da área tanto nos de ordem inferior (área de recarga) quanto nos de ordem
superior (cursos principais das bacias).
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Rommel Machado, responsável pela biblioteca Reinhardt
Pflug da casa da glória, IGC/UFMG, pelo apoio com material de pesquisa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2ª ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1980. 188p.
FOGAÇA, A. C. C. 1997. Geologia da Folha Diamantina. In: GROSSI-SAD, J. H. LOBATO, L. M. PEDROSA-SOARES, A. C. & SOARES-FILHO, B. S. (coordenadores e editores). PROJETO ESPINHAÇO EM CD-ROM (textos, mapas e anexos). Belo Horizonte, COMIG - Companhia Mineradora de Minas Gerais. p. 1575-1665.
KING, L.C. Geomorfologia do Brasil Oriental. Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro. v.18, n.2. 1956. P147-256.
ROLLIM, V. K. Uma Interpretação das Estruturas Tectônicas do Supergrupo Espinhaço, baseadas na Geometria dos Falhamentos de Empurrão. Esc. Minas, Ouro Preto, 45 (1 e 2): 75-77, jan. jun. 1992.