Anais: Geomorfologia fluvial
CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL DO ALTO CURSO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARAIBUNA: DA NASCENTE ATÉ A BARRAGEM DE CHAPÉU D’UVAS
AUTORES
Oliveira, C.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA)
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo fazer uma caracterização geoambiental do
alto curso da Bacia hidrográfica do Rio Paraibuna, da nascente até a barragem de
Chapéu D’uvas. Foram feitos levantamentos e análises de documentos cartográficos e
confecção de mapas utilizando o software ArcGIS 9.3. Os resultados indicam que a
maior parte da área está inserida no domínio dos complexos granito-gnaisse
migmatítico e granulitos com domínio de colinas dissecadas e morros baixos.
PALAVRAS CHAVES
Bacia hidrográfica; documentos cartográficos; geoambiental
ABSTRACT
The present work has as its objective developing an environmental characterization
of the upper course of watershed Basin Paraibuna from the source to the dam of
Chapéu D'uvas. Surveys and analysis of cartographic documents and maps confection
have been made using ArcGIS 9.3 software. The results indicate that most of the
area is inserted in the field of complex granitic-gneiss migmatitic and granulites
with domain of dissected hills and low mountains.
KEYWORDS
watershed; cartographic documents; environmental
INTRODUÇÃO
A evolução das tecnologias e as alterações das necessidades dos seres humanos
intensificaram o uso dos recursos naturais, propiciando novas formas de
apropriação dos territórios, acelerando o esgotamento de elementos da natureza e
do ambiente, tornando as riquezas naturais cada vez mais escassas, raras e
caras.
Embora se saiba que “a água é um recurso natural essencial à vida, ao
desenvolvimento econômico e ao bem estar social” (CONTE & LEOPOLDO, 2001, p.17)
os recursos hídricos têm tido sua qualidade severamente comprometida na razão
direta do maior desenvolvimento tecnológico da sociedade.
No município de Juiz de Fora - MG, isto não tem sido diferente, a má utilização
desses recursos tem provocado processos de assoreamento e comprometido os
mananciais de abastecimento urbano, levando a necessidade de estabelecimento de
novos mananciais para atender as demandas futuras.
Assim, cabe a esse trabalho fazer uma caracterização geoambiental do alto curso
da Bacia do Rio Paraibuna, analisando os diversos aspectos geoambientais e
sociais da área compreendida da nascente do rio Paraibuna até a barragem de
Chapéu D’uvas, já que esta será a área responsável pelo futuro abastecimento
urbano de Juiz de Fora. Esta área é composta por alguns municípios como Antônio
Carlos, Santos Dumont, Ewbank da Câmara e Juiz de Fora, todos situados no estado
de Minas Gerais.
A Barragem de Chapéu D’Uvas está situada a 33 km da nascente do rio Paraibuna,
no município de Ewbank da Câmara, e a aproximadamente 38 km do centro de Juiz de
Fora, possui 12 Km² de espelho d’água; um volume de 146 milhões de m³ e 41 m de
profundidade máxima (CESAMA, 2007). Para a construção da barragem várias
modificações foram feitas na área, destacando-se a inundação do vale do
Paraibuna, o que causou modificação da geomorfologia local.
MATERIAL E MÉTODOS
A realização do estudo proposto envolveu pesquisa bibliográfica, levantamento e
análise dos documentos cartográficos; confecção de mapas temáticos.
A pesquisa bibliográfica foi realizada nos acervo físico da biblioteca de Juiz
de Fora e nos acervos virtuais de instituições e bibliotecas universitárias, e
no site da prefeitura de Juiz de Fora e da Cesama. No processamento de dados
espaciais foi utilizado o software ArcGIS 9.3 ; o polígono referente ao limite
da área de contribuição da represa foi delimitado utilizando-se para tal as
cartas topográficas na escala 1:50.000 dos municípios de Juiz de Fora, Ewbank da
Câmara, Bias Fortes, Santos Dumont e Antônio Carlos, adotando os critérios
hidrográficos, divisor de águas, bem como as cotas altimétricas da área.
Os mapas em três dimensões (3D) e curvas de nível foram gerados a partir da
imagem SRTM da folha SF-23-X-C e SF-23-X-D adquiridas do site da EMBRAPA. Os
mapas de geologia, geomorfologia e pedologia foram gerados a partir da base
geológica, geomorfológica e pedológica do Serviço Geológico do Brasil. O mapa de
hidrografia foi gerado a partir das cartas que compõe a área de contribuição da
represa de Chapéu D’Uvas, ou seja, arquivo DGN dos municípios de Juiz de Fora,
Ewbank da Câmara, Bias Fortes, Santos Dumont e Antônio Carlos, adquiridos do
site do IBGE. Foram utilizadas as combinações das bandas 2, 4, 7 do satélite
Landsat 5 TM , devido à sua maior disponibilidade e acesso, disponíveis na
biblioteca digital do INPE, com o objetivo de mostrar os ambientes da superfície
terrestre. Através das combinações das bandas foi possível verificar o realce
das feições, bem como o uso do solo e áreas de mata e corpos d’água presentes na
área escolhida para estudo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A maior parte da área de estudo está inserida no Complexo Piedade no domínio dos
complexos granito-gnaisse migmatítico e granulitos, apresentando litotipo
hornblenda-biotita gnaisse e anfibolito, rochas metamórficas, intensamente
dobradas e zonas de cisalhamento. Na porção noroeste da área está a Suíte
Metamórfica de São Bento das Torres, com litotipo norito, enderbito, domínio dos
complexos granitóides intesamente deformados ortognaisses, pouco a moderadamente
fraturada e dobrada. O Grupo Carrancas, unidade de metapelitos grafitosos
apresenta litotipo predominante de xisto, quartzo-mica xistos e grafita xisto,
domínio das seqüências sedimentares proterozóicas dobradas e metamorfizadas em
baixo grau a médio grau, pouco a moderadamente fraturada e dobrada. A unidade
Andrelândia apresenta litotipo quartzo-metarenito, quartzito e muscovita
quartzito, domínio das seqüências vulcanossedimentares proterozóicas dobradas
metamorfizadas de baixo a alto grau, pouco a moderadamente fraturada e dobrada.
Enquanto que a unidade Andrelandia, apresenta litotipo anfibolito, biotita,
gnaisse, com deformações tectônicas intensamente dobradas e zonas de
cisalhamento compressional.
Quanto à geomorfologia, a área de estudo apresenta-se em sua maior parte em uma
área de relevo denominada de domínio de colinas dissecadas e morros baixos.
Exibe também uma área de relevo denominada de domínio de morros e serras baixas
e outra de escarpas serranas, portanto relevos bastante movimentados, domínio
Mantiqueira, esse ultimo, devido aos elevados gradientes de suas vertentes,
amplitudes topográficas expressivas e ocorrência freqüente de depósitos de
tálus, apresentam sérias limitações frente à ocupação humana
As classes de solo da área são as seguintes: Latossolo Vermelho-Amarelo e
Cambissolo (álico e distrófico), classes de solos de difícil separação, pois
apresentam características muitas vezes semelhantes em seus horizontes
diagnósticos.
Mas, podemos identificar a ocorrência de Cambissolos, solos pouco espessos e
bastante lixiviados nas áreas de relevo mais acentuado e no Domínio de morros e
serras baixas a ocorrência do Latossolo, um solo mais profundo.
A análise hipsométrica, demonstra que a área de contribuição da Represa de
Chapéu D’Uvas apresenta suas maiores elevações (1250 metros) nos contrafortes da
Mantiqueira, nascente do Rio Paraibuna. A maior parte da área não apresenta
grandes elevações, de 750 a 850 metros de altitude.
Em relação ao padrão de drenagem da bacia, pode-se observar no mapa abaixo a
drenagem dendrítica, que segundo CHRISTOFOLETTI (1980, p.103) também pode ser
designada como arborescente, porque em seu desenvolvimento assemelha-se à
configuração de uma árvore. Utilizando-se dessa imagem, a corrente principal
corresponde ao troco da árvore, os tributários aos seus ramos e as correntes de
menor categoria aos raminhos e folhas.
Considerando o mapa (figura 1), observa-se que o Rio Paraibuna forma a corrente
principal da bacia, que é abastecida pelos tributários (Ribeirão São Bento, Rio
Taguaruçu, Ribeirão Lambari) e correntes de menor categoria.
Quanto ao uso e ocupação da terra, observa-se no mapa a presença de área de
vegetação preservada, principalmente nas nascentes do Rio Paraibuna, nos
contrafortes da Serra da Mantiqueira, seguida de fragmentos florestais a
sudoeste da represa, onde é visualizada uma paisagem rural. Os fragmentos
florestais vão diminuindo e ficando esparsos à medida que se aproximam da
Represa de Chapéu D’Uvas, onde o uso da terra acusa áreas com ausência de
vegetação, em muitos pontos com solo exposto ou com uma cobertura rala de
gramíneas ou/e pastagens onde o avanço de atividades agrícolas e da ocupação
humana tem provocando o desmatamento e avanços dos processos erosivos.
Na porção nordeste do mapa detecta-se a presença de estradas e a presença do
núcleo urbano de Ewbank da Câmara, uma área que contribui como uma das fontes
poluidoras para a represa.
Figura 1: Rede Hidrográfica
Área de contribuição da represa de Chapéu D'Uvas.
Figura 2: Uso da Terra
Imagem de satélite LANDSAT 5 - Bandas 2,4,7.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De um modo geral, quase todas as microbacias inseridas na área de contribuição da
represa de Chapéu D’Uvas se constata a deficiência de áreas de matas ou de
fragmentos remanescentes e corredores ecológicos, sobretudo ao longo dos rios e
junto às cabeceiras. Nesse contexto, a recuperação das matas, principalmente
ciliares, é imprescindível para proteger as nascentes e diminuir o assoreamento da
Represa. Além disso, a construção da represa alterou as condições naturais do rio,
levando-o a um ajustamento morfodinâmico, devido ao rompimento do seu equilíbrio
longitudinal. Segundo CUNHA (1995), esse tipo de interferência gera uma série de
efeitos hidrológicos e geomorfológicos em cadeia que, dependendo da magnitude e
área de abrangência, pode ser irreparável, dentre eles, podemos destacar o
assoreamento causado pelo ao aumento das zonas saturadas nas encostas provocando
erosões e diminuindo o nível de armazenamento de água na barragem e a formação de
bancos de arenosos emersos ou imersos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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