Anais: Geomorfologia fluvial
ESTUDO DAS ANOMALIAS DE DRENAGEM DA BACIA DO RIBEIRÃO DOS RODRIGUES, SERRA DOS LOPES-SP
AUTORES
Souza, A.O. (UFSCAR-SOROCABA) ; Arruda, E.M. (UFSCAR-SOROCABA)
RESUMO
A bacia hidrográfica do Ribeirão dos Rodrigues tem suas cabeceiras de drenagem
localizadas na Serra dos Lopes (SP). Busca-se investigar as feições de anomalias
de drenagem encontradas na bacia hidrográfica do Ribeirão dos Rodrigues e
correlacioná-las aos controles litoestruturais. As feições encontradas na área
decorrem de processos erosivos e tectônicos, uma vez que a principal
compartimentação da bacia se faz pela Zona de Cisalhamento de Taxaquara a montante
da bacia hidrográfica.
PALAVRAS CHAVES
anomalias de drenagem; neotectônica; bacia hidrográfica
ABSTRACT
The Ribeirão dos Rodrigues watershed has its headwaters drain located in the Serra
dos Lopes (SP). The aim is to investigate the features of anomalies found in the
drainage basin of the RIbeirão dos Rodrigues and correlate them with
lithostructural controls. The features found in the area are the result of erosion
and tectonic processes, since the main subdivision of the basin is made by
Taxaquara Shear Zone in the upstream watershed
KEYWORDS
anomalies of the drainage; neotectonic; watershed
INTRODUÇÃO
O trabalho apresentado integra as pesquisas desenvolvidas pelo grupo de estudos
do Quaternário, da Universidade Federal de São Carlos, campus Sorocaba, no
âmbito de uma Iniciação Científica realizada na bacia hidrográfica do Ribeirão
dos Rodrigues, no qual drena uma área aproximadamente de 33 Km² nos muncípios de
Pilar do Sul e Salto de Pirapora (SP).
A análise das anomalias de drenagem faz-se importante à medida que
contribui significativamente para os estudos sobre a dinâmica da paisagem de uma
área, uma vez que estas variações abruptas nos padrões indicam controles
tectônicos, ou discordâncias erosivas que influenciam na organização dos cursos
fluviais.
Neste contexto, a área de estudo se insere no contato de duas unidades
de relevo importantes no estado de São Paulo, a Bacia Sedimentar do Paraná e o
Cinturão Orogênico. O conjunto litológico que compõe tais unidades refere-se ao
Subgrupo Itararé, no caso da bacia sedimentar, e ao grupo São Roque, composto de
rochas cristalinas metamórficas inseridas no Planalto.
Com isso, a área estudada está inserida em uma importante área de
contato entre diferentes litologias, evidenciado principalmente pelo contato
tectônico da Zona de Cisalhamento de Taxaquara, que separa a Serra dos Lopes do
setor de afloramento de rochas sedimentares associadas à Bacia Sedimentar do
Paraná. A área estudada tem, portanto, sua alta bacia localizada na Serra dos
Lopes e a média e baixa bacia no setor sedimentar, mostrando assim, a
superimposição das características na compartimentação da bacia hidrográfica do
Ribeirão dos Rodrigues.
MATERIAL E MÉTODOS
Para o desenvolvimento dessa pesquisa, optou-se pela utilização do método
sistêmico desenvolvida por Bertalanffy (1973) na biologia e, no âmbito da
Geografia física, por Christofoletti (1980). Através desse método é possível
integrar e analisar diferentes sistemas no entendimento do todo.
Estão sendo utilizados mapas temáticos elaborados pelo software Arcmap
10, além das cartas topográficas dos municípios de Salto de Pirapora e Pilar do
Sul na escala 1:50.000 para a delimitação da bacia e consequentemente a
digitalização da rede de drenagem. Tais procedimentos são necessários para a
criação dos mapas hipsométricos, da carta de declividade e para a análise da
simetria através da proposta de Cox (1994). Também foram realizados trabalhos de
campos na área para a averiguação empírica das informações obtidas através dos
procedimentos anteriormente citados.
As interpretações das anomalias de drenagem estão sendo realizadas a
partir das propostas feitas por Bishop (1995). Segundo esse autor existem três
tipos de rearranjo da drenagem, que são a captura, desvio e decapitação.
A análise da simetria da drenagem realizada através do cálculo da média
dos vetores obtidos através da metodologia proposta por Cox (1994), onde é
utilizada a fórmula matemática T=Da/Dd, segundo o autor quanto mais próximo de
T=1 maior é o grau de asssimetria da drenagem, ainda segundo ele para uma
perfeita simetria deve-se o Da=0 e o T=0. Entretanto, cabe aqui salientar que
essa técnica foi aplicada apenas ao curso principal, ou seja, ao Ribeirão dos
Rodrigues. Para a utilização de tal metodologia, optou-se em calcular os valores
dentro de um intervalo de espaço de 1,5 centímetros que corresponde a 0,75
quilômetros em relação a escala 1:50.000 da carta topográfica dos municípios de
Salto de Pirapora e Pilar do Sul.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através das análises dos mapas temáticos da hipsometria e da declividade da
bacia hidrográfica do Ribeirão dos Rodrigues, foi possível identificar alguns
aspectos importantes quanto à compartimentação da bacia.
Na área da alta bacia foi identificado parte da Zona de Cisalhamento de
Taxaquara (ZCT), que é responsável pelo escarpamento da Serra dos Lopes,
marcando assim, o limite entre o setor cristalino e sedimentar. Tal proposição
fica evidente na análise da carta de declividade, onde as áreas de maior
declividade estão justamente no segmento correspondente à falha acima citada.
O mapa hipsométrico evidenciou, além das altitudes mais elevadas
correspondentes ao setor cristalino, níveis topográficos relacionados a rupturas
do terreno, que possuem cotas altimétricas variando de 600 – 654, 655 – 690, na
baixa bacia e 691 – 730 na média bacia. As cotas mais elevadas correspondem a
Serra dos Lopes, variando entre 731 a 850.
Os diferentes níveis topográficos identificados possuem uma gênese
erosiva evidenciada pelo avanço da Depressão Periférica sobre o Planalto
Cristalino, inclusive sobre a Serra dos Lopes a montante da bacia hidrográfica
estudada.
O corpo intrusivo identificado é responsável pelo soerguimento das
rochas sedimentares do Grupo Tubarão, aflorando em algumas áreas o ritmito e em
outras elevando o diamictito a cotas acima dos 600 metros, como no afloramento
da rodovia SP-264, onde estão assentados de forma discordante sobre rochas
metabásicas da referida intrusão.
Em outros setores da bacia hidrográfica do Ribeirão dos Rodrigues, foram
identificadas rochas sedimentares com ângulo de inclinação relativamente
expressivo, possivelmente correlacionados à dinâmica tectônica da área. Esses
dois aspectos: afloramento de Migmatitos e o material do Itararé inclinado
colaboram como evidências da deformação pelo maciço pós-deposição do Itararé,
além de enfatizar a contribuição do mesmo para a organização fluvial atual,
permitindo concluir que o canal principal, Ribeirão dos Rodrigues, apresenta sua
evolução resultante da combinação da erosão diferencial quaternária, ocasionada
pelas deformações tectônicas posteriores à sedimentação paleozoica.
O setor cristalino da bacia em questão é marcado pelo afloramento do
saprolito indicando que os processos denudacionais são bastante efetivos na
modelagem deste relevo.
Aproximadamente a leste da média bacia estudada, constatou-se um setor
com cotas altimétricas mais elevadas, entre 700 e 780m, que foi associado com um
afloramento de rocha metabásica, uma feição composta por rochas intrusivas
faneríticas, provavelmente Migmatitos, com diversos veios de quartzos e
quartzitos. Nas proximidades da rodovia SP-264, o mapa de declividade mostrou a
existência de uma superfície com declives acima de 30%, configurando-se como uma
escarpa composta por arenitos do Grupo Tubarão, soerguida a uma cota de 650
metros aproximadamente, ocorrendo na base importantes depósitos coluviais e
detríticos.
Com a análise da carta topográfica é possível identificar setores na
rede de drenagem que se configuram como de anomalias, como proposto por Howard
(1967) e Bishop (1995), ou seja, as inflexões abruptas, alinhamentos dos cursos
fluviais entre outros aspectos, podem estar associados com a dinâmica tectônica
e evidenciar a transformação e gênese de formas subatuais sob a perspectiva da
neotectônica.
Os resultados obtidos acerca da simetria da bacia mostraram que o curso
principal é relativamente asssimétrico, uma vez que resultou em valores que
tiveram uma média de 0,51 (T=0,51). Contudo, as médias na alta bacia
evidenciaram uma assimetria acentuada, refletindo os controles exercidos pelas
litologias mais resistentes.
Observou-se também que o vale do Ribeirão dos Rodrigues se apresenta
bastante encaixado nos setores cristalinos e sedimentares, predominando
declividades que variam de 10 a 22%. Do mesmo modo que a margem esquerda desta
bacia hidrográfica corresponde a de maior tamanho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A bacia hidrográfica do Ribeirão dos Rodrigues tem a sua principal
compartimentação delimitada pela Zona de Cisalhamento de Taxaquara, que também é
responsável pelo contato tectônico entre a Bacia Sedimentar do Paraná e o Planalto
Orogênico.
Conclui-se assim, que a dinâmica do relevo na área da bacia hidrográfica
do Ribeirão dos Rodrigues é uma combinação de elementos relacionados não apenas a
processos de cunho tectônico identificados em campo por rochas com certo ângulo de
inclinação e intrusão do material metabásico, mas também relacionados a processos
erosivos que neste caso é evidenciado pelos leques coluviais. Por fim, o
resultado obtido através da análise da simetria do Ribeirão dos Rodrigues
evidencia um controle lito-estrutural na organização de tal rio. A drenagem
principal tem uma localização preferencial próxima ao limite Leste da bacia
estudada, mostrando que há uma inclinação do relevo nesta direção.
AGRADECIMENTOS
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) pelo financiamento
desta iniciação científica, processo número 2011/21520-7.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
BERTALANFFY, Ludwig von. Teoria geral dos sistemas. Petrópolis: Vozes, 1973. 351p.
BISHOP, P. Drainage rearrangement by river capture, beheading and diversion. Progress in Physical Geography, 19(4): 449-473, 1995.
CHISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1980.
COX, R.T. Analysis of drainage basin symmetry as a rapid technique to identify areas of possible Quaternary tilt-block tectonics: an example from the Mississippi Embayment. Geol. Soc. Am. Bull., v. 106, p. 571-581, 1994.
HOWARD, A. D. Drainage analysis in geologic interpretation: A summation. Am. Assoc. Petrol. Geol. Bull. V 51, p. 2246-59, 1967.