Anais: Geomorfologia fluvial
ALTERAÇÃO AMBIENTAL DA PLANICIE ALUVIAL DO CURSO MÉDIO NO CÓRREGO PINHALZINHO II, NOROESTE DO PARANÁ/BRASIL
AUTORES
França Junior, P. (UNESP-P.PRUDENTE/UNICENTRO-GUARAPUAVA-PR) ; Souza, M.L. (UEM) ; Villa, M.E.C.D. (UFPR/UNESP)
RESUMO
O objetivo deste é o mapeamento multi-temporal das mudanças do canal do córrego
Pinhalzinho II, Noroeste do Paraná. Estes foram identificados e mapeados por meio
de dados orbitais, observando as características geomorfológicas. Os resultados
demonstraram que o canal a partir das mudanças de uso da terra, assoreou seu leito
e passou a divagar sobre sua planície, aumento de fluxo, e a ampliação de sua
planície de inundação, promovendo a formação de áreas inundadas e erosões
marginais.
PALAVRAS CHAVES
mudanças fluviais; mapeamento multi-temporal; Noroeste do Paraná
ABSTRACT
The objective of this mapping is the multi-temporal changes of the channel
Pinhalzinho II stream, Northwest Paraná/Brazil. These were identified and mapped
using satellite data, noting the geomorphological characteristics. The results
showed that the channel from changes in land use, silted up his bed and began to
ramble about his plain, increased flow, and expansion of its floodplain, promoting
the formation of flooded areas and marginal erosions.
KEYWORDS
river changes; mapping; Northwest of Paraná State
INTRODUÇÃO
As planícies aluviais são formas de relevo dinâmicas sujeitas a mudanças rápidas
na modelagem do canal e do fluxo. Os fluxos de carga de sedimentos determinam a
dimensão de um canal e seu fluxo (largura, profundidade, inclinação e
meandramento). As alterações na morfologia do canal, em poucos anos, indicam
variações na água e/ou sedimentos. Por exemplo, aumentar a largura do canal,
indica que aumentou a descarga e/ou pode ocorrer um aumento na carga de
sedimentos grosseiros, ao ponto que a diminuição na largura indica o contrário.
A razão largura/profundidade tende a aumentar com a erosão nas margens e cargas
pesadas. Em curto prazo as mudanças do canal poderiam ser uma resposta à
inundação, enquanto que em longo prazo, uma sequência de eventos pode refletir
mudanças fundamentais no canal, na carga de sedimentos e alterações no curso
(CHRISTOFOLETTI,1981; SCHUMM ET AL. 1987; ÁNGEL, 2005; E CHARLTON, 2008).
A região Noroeste do Paraná passou por diversas transformações ambientais a
partir do processo de ocupação em meados do século XX. Onde áreas florestadas
foram substituídas por cafezais posteriormente estas em áreas urbanas, ou então
em pastagens e culturas temporárias. Dentre estas transformações ambientais, as
áreas urbanas são as que geram maior impacto, alterando a qualidade hídrica,
impermeabilizando o solo, e posteriormente aumentando o fluxo superficial. As
alterações ambientais explanadas podem ser observadas na bacia em estudo.
Com base nestas indagações, este trabalho teve como objetivo o mapeamento
multitemporal das mudanças do canal, observando as características erosivas
(marginal, linear), a expansão da planície aluvial, áreas alagadas, e o curso do
córrego Pinhalzinho II a jusante da área urbana de Umuarama, Noroeste do Paraná.
Esta pesquisa se desenvolveu por meio do mapeamento das principais alterações
geomorfológicas visualizadas por meio de fotografias aéreas e imagens de
satélite.
MATERIAL E MÉTODOS
As alterações ambientais na planicie de aluvial onde foi pesquisado, localiza-se
na no córrego Pinhalzinho II, formada a jusante da área urbana de Umuarama,
região Noroeste do estado do Paraná – Brasil (Coordenadas: 23º 46’ 48’’S, 53º
15’ 54” W). A região encontra-se na Bacia Sedimentar do Paraná no Terceiro
Planalto Paranaense (MAACK, 1968) sobre as rochas sedimentares do Grupo Bauru-
Formação Caiuá (GASPARETTO, 1999; GASPARETTO E SOUZA, 2003), de origem eólica-
fluvial, tangencial na base com estratificações cruzadas, apresentando teores de
areia de até 90%, e comportamento de rochas brandas e materiais incosolidados
arenosos, ou seja, susceptíveis à ocorrência de feições erosivas (SOUZA, 2001).
Para explicar as alterações no padrão de drenagem da planície de 1970 e 2010,
foram desenvolvidas diversas medidas morfométricas conforme França Junior
(2010). A morfometria das planícies desenvolveu-se por meio do mapeamento, a
partir da observação das fotografias aéreas de 1970 (IBC-GERCA folha SF: 22-Y-C-
V, 1970, escala 1:25.000) em comparação as imagens de satélite (imagem Landsat
(12/2008) TM fusão com a imagem HRC (2010) e trabalhos de campo desenvolvidos de
2008 a 2010.
A partir da fotointerpretação e trabalhos de campo foram delineadas as variáveis
do relevo, mapeando as drenagens, planície de inundação, processos erosivos.
Além destes, houve diálogos com moradores ribeirinhos para obter informações
referentes, à evolução da paisagem no decorrer dos 40 anos em análise.
Utilizaram-se também fotografias de 1998 retiradas e documentadas por Souza
(2001), na identificação de algumas alterações ocorridas no sistema de drenagem
da bacia em estudo. As imagens atuais juntamente com o trabalho de campo, foram
essenciais para retirar as mesmas informações relatadas nas fotografias aéreas
de 1970.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A bacia hidrográfica é um sistema aberto, com características intrínsecas do
meio físico. A interação entre os elementos do meio físico-natural: solos,
clima, rochas, vegetação e relevo, condicionam no tempo geológico
características peculiares ajustadas à paisagem. Pode-se considerar que a
morfologia regional da bacia é uma consequência das adaptações do sistema de
drenagem às condições litológicas e ambientais do local.
Destaca-se nos resultados obtidos que em 1970 as mudanças mais significativas na
área em estudo estavam relacionadas com as ocorrências de feiçoes erosivas nas
cabeceiras de drenagem dentro da área urbana da cidade de Umuarama. Constatou-se
também uma planície entulhada de sedimentos arenosos (Figura 01). Ao longo dessa
área mapeada foi constatado que áreas com vegetação ciliar eram apenas alguns
fragmentos. O canal ainda possuía características naturais, mas com influências
antrópicas significativas à montante.
No setor mais à jusante observou-se feições erosivas na margem esquerda,
(segundo a descrição de moradores locais o asfalto cedeu e vários m³ de
sedimentos e entulhos foram parar no córrego), denota-se que a inserção deste
material pode ter acarretado a migração do fluxo do canal para a margem direita,
provocando a formação de feições erosivas marginais.
Segundo França Junior, (2010) inúmeras alterações foram identificadas: formações
de paleocanais, áreas úmidas, erosões marginais, alargamento do canal,
paleocanais (recentes) formados a partir do rompimento do dique marginal,
aumento da planície de inundação e formação de depósitos tecnogênicos (figura
02).
O mesmo processo pôde ser identificado ocorrendo na bacia em estudo, onde os
diques marginais estavam recobertos de sedimento sem definição, e atualmente
possuem até 3m de altura em relação ao canal. O canal reentalhou os depósitos e
remobilizou para a jusante os depósitos atuais reformulando novas feições na
planície.
Segundo Oliveira et al. (1994) atualmente, nas bacias onde a erosão diminuiu de
intensidade, o que é mais frequente nas áreas rurais do Oeste Paulista os
depósitos estão passando por uma fase de entalhamento e remobilização dos
sedimentos mais para jusante, quando os cursos d’água não se encontram
represados. Entretanto, sob condições de uso do solo inadequado, como nas
expansões urbanas imprudentes, esta tendência é rompida e os entalhes são re-
preenchidos por sedimentos produzidos por novas erosões.
Segundo Oliveira et al (1994) a forma plana dos fundos de vale constitui um
indicador da eventual presença de depósitos tecnogênicos. Quando confirmados,
sua ocorrencia, entalhada ou não, indica que os processos erosivos na bacia,
responsáveis pela sua formação estão, respectivamente, muito reduzidos ou
permanecem ativos.
Os indicadores de mudanças destacados nestes mapas relatam a adaptação do
sistema fluvial a esta nova condição imposta pela ocupação urbana, com grandes
áreas impermeabilizadas nos setores a montante da planicie. Em 1970 o que se
destacava eram as erosões e atualmente (2010) o entalhamento e a transposição
destes sedimentos carreados para jusante.
Além das caracteristicas de alteração da planicie de inundação, verificou-se a
formação de depósitos tecnogênicos sobre esta. Observa-se que a formação destes
depósitos está ligada diretamente ao assoreamento do canal, que, por sua vez,
devido à demanda de sedimentos começou a meandrar sobre a planície e depositar,
formando grandes depósitos. As sondagens e trincheiras desenvolvidas por França
Junior (2010) demonstram claramente fases de deposição diferenciadas,
desencadeadas por vazantes e cheias de ciclos curtos, médios e longos.
Fig. 1- Alterações do canal de 1970
. A- mapas de localização, perfil Longitudinal,
localização de depósitos e feições erosivas e
formação de planície nos setores C e B
Fig. 2- Alterações do Canal 2010
Mudanças no canal em 2010, destacando a planície de
inundação, áreas com erosão marginal, úmidas, e
canais abandonados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As alterações verificadas na bacia de 1970 para 2010, refletem uma adaptação do
sistema fluvial as condicionantes de aumento de fluxo e sedimentos na planície.
Estas são provocadas indiretamente pelo agente antrópico, mas as alterações na
dinâmica hídrica da bacia são adaptações naturais às novas condições
estabelecidas.
O aumento da carga de sedimentos assoreou o canal, e este passou a divagar
lateralmente, ora depositando material, ora retirando, proporcionando o
alargamento da planície, a formação de erosões marginais, áreas encharcadas, e
pacotes de sedimentos tecnogênicos. Estes últimos testemunham estas variações,
pois tratam-se de depósitos tecnogênicos ou seja materiais de origem antrópica
carreados dos setores urbanizados a montante da planície estudada (FRANÇA JUNIOR,
2010).
As descontinuidades dos depósitos tecnogênicos mostra que não ocorreu continua
erosão, transporte e deposição, mas intervalos, que demonstra fases de evolução
aliadas ao clima e uso da terra.
AGRADECIMENTOS
À Fundação Araucária por meio do convênio 319/2007 e ao CNPq/Processo n°
473253/2007; Ao Professor Dr. Nelson V. L. Gasparetto, pelo apoio nas
pesquisas de campo e logística; e à Professora Drª Marta Luzia de Souza, pelas
correções e orientações.
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