Anais: Geomorfologia fluvial
ANÁLISE DAS MIGRAÇÕES DO CANAL PRINCIPAL DA BACIA DO RIO ANTAS, NOROESTE DO PARANÁ.
AUTORES
Petsch, C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL) ; Monteiro, J.B. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ) ; Dal Santo, T. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ)
RESUMO
O objetivo deste estudo é fazer um estudo comparativo (1984-2011) das migrações do
canal principal da bacia do rio Antas (PR). Para entender essas migrações foi
analisado o uso do solo, pontos com erosão e influência geológica. De maneira
geral, verifica-se que houve uma tendência de retilinização do canal em alguns
pontos bem como expansão de curvas meândricas e abandono de canal acompanhado de
aumento dos pontos com erosão por toda bacia, além do evidenciado controle
estrutural por falhas.
PALAVRAS CHAVES
meandros; rio Antas; migração
ABSTRACT
The objective of this study is make a comparative study (1984-2011) of migration
of the main channel of the basin of river Antas (PR).To understand these
migrations was analyzed the land use erosion points and geological influence. In
general, it is verified that there was a tendency of find rectilinear channel at
some points as well as expansion of meanders curves and drop channel accompanied
by an increase in the erosion points across the basin, besides the evident
structural control by faults
KEYWORDS
meanders; Antas river; migration
INTRODUÇÃO
O estudo das mudanças na morfologia nos canais meandrantes têm
implicação direta sobre os diferentes tipos de ocupação humana que podem ser
realizadas próximas deste. A morfologia dos canais, ao possuir enorme
variabilidade, não permite que os ajustes sejam extrapolados para um modelo
geral de mudanças, uma vez que a geometria do canal é determinada não apenas
pelo fluxo, mas, também, como destaca Yu e Wolman (1987), pelo transporte de
sedimentos e estabilidade das margens, com o estoque e a liberação de água e
sedimentos dentro do sistema fluvial, modificando o tamanho e a forma do rio
(VIEIRA E CUNHA, 2001).
A tendência nestes canais meandrantes é que os sedimentos sejam
depositados na margem convexa e escavados na margem concâva. Esta dinâmica de
sedimentação e escavação promovem migrações do canal através do deslocamento da
curva sobre o eixo meândrico. Podem ser definidos pelo seu traçado que se afasta
da direção normal de escoamento, descrevendo assim curvas altamente sinuosas e
semelhantes entre si (LEOPOLD; WOLMAN; MILLER, 1964).
Atualmente, é possível realizar estudos que comparem a configuração do
canal de drenagem em diferentes datas devido a disponibilidade de imagens de
satélites com escala razoável (pixel de 30 metros), como é o caso do satélite
Landsat TM 5, possibilita uma análise rica do comportamento de determinado canal
ao longo do tempo. A disponibilidade de dados sequenciais converte a análise
multitemporal em uma excelente ferramenta para auxiliar estudos geomorfológicos
e sedimentológicos de detalhe (FERREIRA E SARAIVA, 2009).
O objetivo desta pesquisa é comparar a configuração do canal principal
do rio Antas (Noroeste Paranaense) nos anos de 1984 e 2011 e analisar as
principais mudanças associadas às curvas meândricas, relacionando estas
transformações com o contexto geológico e geomorfológico e com a interferência
antrópica, através de cartas de uso do solo para as datas citadas.
MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia se baseou em Zancopé et. al., (2009) que estudou as migrações do
canal do rio Mogi Guaçu, numa escala temporal de 43 anos utilizando fotografias
aéreas. A determinação dos processos de migração baseou-se na identificação e
medição dos eixos dos meandros e dos raios de curvatura. Comparações desses
dados entre os períodos estudados permitiram verificar os deslocamentos dos
eixos ou mudanças no tamanho dos raios de curvatura definindo os tipos de
processos de migração ocorridos (ZANCOPÉ et al, 2009)
A área de estudos não possui fotos aéreas de fácil acesso e, portanto
optou-se pelo uso de imagens do satélite Landsat TM 5. O georeferenciamento das
imagens utilizadas (24/05/1984 e 03/05/2011) foi realizado no Sistema de
Informação Geográfica Spring 5.06 (CAMARA et. al., 1996) bem como o processo de
identificação e vetorização dos padrões analisados: pontos com presença de
processo erosivo, meandro abandonado, área de deposição, encurtamento ou
expansão de curva meândrica, abandono, migração e retilinização do canal. A
classificação do uso do solo foi feita de maneira automática com indicação de
amostras de cada tipo de uso e posterior classificação com classificador
Battacharya do Spring 5.06.
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA
A bacia do rio Antas localiza-se no noroeste paranaense, abrangendo os
municípios de Douradina, Umuarama, Tapira e Maria Helena, desembocando na margem
direita do rio Ivaí. O rio Ivaí somente apresenta uma planície aluvial nos seus
últimos 150km, a partir da corredeira do Ferro, em Tapira-PR. A planície aluvial
representa um conjunto de depósitos com mais de 20m de espessura, dominantemente
formado por pelitos, subordinadamente de areia fina e com delgadas e
descontínuas camadas de cascalho e areia grossa depositadas sobre a Formação
Caiuá (SANTOS, 2008). A área em estudo está situada no Terceiro Planalto
Paranaense (MAACK, 1968), apresenta em geral um relevo suave a suave-ondulado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O processo de retilinização do canal foi encontrado em vários pontos ao longo do
corpo hídrico principal da bacia do rio Antas comparando 1984 com 2011 (Fig. 1).
Levando em conta, o grande potencial do solo da região para erodir devido sua
camada superficial com teores de argila inferiores a 15% (EMBRAPA, 1984)
associado a um uso pouco planejado da região, poderia-se afirmar que a ação
antrópica pode ser responsável por um aumento do aporte sedimentar no canal
gerando assoreamento, e assim a retilinização do canal, com profundidade
reduzida e consequente aumento da planície de inundação.
A margem esquerda (vista em planta) do canal principal apresenta o maior
número de canais ou meandros abandonados apontando uma tendência da migração do
canal em direção a margem direita. Na parte próxima à foz encontra-se uma feição
chamada Unidade Terraço Ivaí segundo Santos (2008) que está associado aos
depósitos do rio Ivaí na região de sua foz e apresentam morfologia levemente
ondulada com desnível de cerca de 3m a 4m acima da planície do rio Ivaí. Este
terraço provavelmente também deve ser formado por sedimentos do rio Antas. Nesta
parte da jusante, o rio Antas sofre um controle estrututal forte, pois este faz
uma curva acentuada de 90°na direção NE e provavelmente o canal migrou
recentemente para a fratura pois há um canal abandonado na margem direita. Em
mais pontos se percebe a migração do canal para a direita, mesmo que haja
expansão da curva meândrica para a esquerda.
A direção preferencial das fraturas na bacia são NW e NE e que acabam
influenciando também na configuração do canal, que se ajusta e se encaixa nessas
feições. Santos (2008) assinala que a literatura aponta para a região centro-sul
brasileira os grandes alinhamentos tectônicos de direção NW, NE e
EW,desenvolvidos desde o final do Mesozóico. A presença desses lineamentos ficam
evidenciados na parte final do rio Antas com curvas acentuadas.
Quanto ao uso do solo (Fig. 2) é preciso salientar que há uma concentração de
pontos com erosão em boa parte da região das nascentes da bacia para o ano de
1984. Em 2011 observa-se a presença de cobertura vegetal e a ausência de erosão
de grande porte nessa área, mas, erosão laminar ainda pode estar acontecendo. A
perda da cobertura florestal anterior a 1984 deve ter contribuído para o aumento
da quantidade e a velocidade do escoamento superficial com o conseqüente aumento
da capacidade de arraste e transporte de material. A desagregação de colóides
pela ação das chuvas faz com que a ação do escoamento superficial, nas encostas
e nos leitos dos cursos de água, desequilibre os processos erosivos naturais das
bacias hidrográficas (SCHROEDER,1996).
Contudo, no ano de 2011 pode-se observar menos pontos com erosão, e
espalhados por toda bacia, sendo que 80% desses pontos ocorrem sobre as lavouras
de cana-de-açúcar. De fato, Weill et. al.,(2008) em pesquisa para estimar a
erosão do solo concluem que as taxas de perda de solo abaixo do limite de
tolerância ocorrem em apenas 2,0 % da área ocupada com cana-de-açúcar podendo-se
inferir, neste caso, que, na maior parte da área, a erosão é intensa e a
degradação do solo acentuada. Para entender a substituição da pecuária e outras
culturas cita-se que no final dos anos 1980 atraídas por estímulos
governamentais na forma de isenção de impostos e créditos subsidiados, usinas de
açúcar e álcool são implantadas no noroeste, o que induz futuramente ao avanço e
domínio de lavouras de cana (NOBREGA, et. al., 2009).
No caso dos canais com tendência a migração, a presença de mata ciliar
irá dificultar esse processo, já que protege as margens dos processos erosivos
ou de deposição. Como se verificou uma grande mobilidade dos canais, pode-se
dizer que as margens florestadas apesar de protegerem as mudanças no canal, não
são suficientes pois ainda deve haver um grande aporte de sedimento proveniente
das lavouras de cana-de-açúcar que acaba assoreando o canal, retilinizando-
Figura 02: Uso do solo da bacia do rio Antas, em
1984 e 2011.
Figura 01: Processos de migração do canal e feições
associadas no rio Antas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De maneira geral, verifica-se que houve uma tendência de retilinização do canal em
alguns pontos comparando 1984 com 2011, e alguns pontos a curva meândrica se
expandiu, evidenciando que mesmo havendo menos pontos erosivos na bacia, estes
ainda contribuem fortemente para a quantidade de sedimentos que chega ao canal e
acaba se depositando em algumas curvas meândricas, provocando sua
expansão/migração ou então provoca a extinção das curvas, retilinizando o canal. O
controle estrutural do embasamento geológico também é um fator muito evidente no
canal, principalmente na sua jusante, onde há curvas acentuadas, verificando que
há tendência desse canal migrar para estas linhas de falha. Portanto, processos
que envolvem modificação em canais meandrantes são comuns, mas, provavelmente no
caso da área de estudo, o fator antrópico é decisivo para aceleramento destes
acontecimentos. Contudo deve-se atentar para a litologia do local que apresenta
altos índices erosivos.
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