Anais: Outros
ASPECTOS ANTROPOGEOMORFOLÓGICOS DA PORÇÃO OESTE DA ILHA DE CARATATEUA, DISTRITO DE BELÉM-PA
AUTORES
Araújo Jr, A.C.R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Azevedo, A.K.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)
RESUMO
A ilha de Caratateua, distrito de Belém, apresenta diferentes usos, os quais são em certa medida condicionados pela morfologia e a porção oeste da ilha será objeto de análise para se relacionar o uso do solo e a ocupação urbana com as formas de relevo, identificando os tipos de uso, o histórico de ocupação e os impactos ambientais daí decorrentes.
PALAVRAS CHAVES
Morfologia; uso e ocupação; ilha de Caratateua
ABSTRACT
The island of Caratateua, district of Belém, presents different uses, which are to some extent conditioned by the morphology and the western portion of the island will be analyzed to relate land use and urban settlement with the forms of relief, identifying the types of use, history of occupation and the resulting environmental impacts.
KEYWORDS
Morphology; use and occupation; island of Caratateua
INTRODUÇÃO
A ilha de Caratateua, distrito de Belém, apresenta ocorrências de fluxos gravitacionais nas falésias erosivas da Praia dos Artistas e Praia da Brasília, localizadas a oeste da referida área e as condições antrópicas influenciam estas praias, bem como as praias do Amor e Grande. Segundo Igreja et. al. (1990), a costa transicional Guajara-Marajó no nordeste do Pará, onde se localiza a Ilha de Caratateua, é constituída por arranjo de blocos losangulares ativos desde o Terciário. Esses blocos resultam da articulação de dois feixes principais de falhas normais e transcorrentes, com direções gerais N50- 60E e N45- 55W, respectivamente. Igreja et. al. (1990) coloca que a ilha de Caratateua foi resultado do retrabalhamento das rochas sedimentares do Grupo Barreiras e delineiam as falhas normais dos blocos em geral basculados para SE, segundo um leque listrico com convergência para NNW e N. De tal maneira que os níveis sedimentares Terciários mostram um processo de laterização mais intenso ao longo das micro e mesotranscorrentes, fazendo com que os horizontes lateriticos concrecionários, nos cantos W dos blocos basculados, aflorem e sofram forte ação erosiva atual, uma vez que constituem as feições positivas predominantes e delimitadoras das praias, mostrando um importante critério de definição do cruzamento falha normal X falha transcorrente. Assim, tais características citadas acima, são imprescindíveis à compreensão do processo da neotectônica da área de estudo e por conseguinte dos processos endógenos de formação da costa noroeste da ilha de Caratateua. Ressaltando, também, o papel dos agentes exógenos (vento, onda, maré), bem como da ação antropomórfica como fatores responsáveis pela remodelagem das formas do relevo. Tem-se como objetivo então relacionar o uso do solo e a ocupação urbana com as formas de relevo, identificando os tipos de uso, o histórico de ocupação e os impactos ambientais decorrentes dos diferentes usos da porção oeste da ilha de Caratateua.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho é fruto de pesquisa teórica e observações sistemáticas in locu realizadas na ilha de Caratateua (popularmente conhecida como Outeiro) distrito de Belém-Pa, mais especificamente em sua porção oeste. O método de análise a ser empregado será a abordagem sistêmica, através da qual uma visão mais holística, abordando o viés natural, econômico e social permite uma análise mais integrada das (novas) formas do relevo ou relevo tecnogênico (PELOGGIA, 1998, 2005; ROSSATO e SUERTEGARAY, 2002). A partir de revisão de literatura sobre alguns conceitos geomorfológicos como morfologia, morfogênese e morfodinâmica, bem como a respeito da neotectônica da ilha de Caratateua, pode-se explorar as teorias para ir além da mera aplicação de algumas técnicas, aprimorando a reflexão antes de dar respostas às perguntas (SILVA, SILVA e JUNCKES, 2009). Desta forma, prosseguiu-se com observação sistemática por meio de trabalhos de campo tomando como parâmetros, a morfogênese, morfodinâmica, morfologia, uso e ocupação, retirada da cobertura vegetal, escoamento superficial e erosão. Para além da naturalização da sociedade e considerando o tempo e a evolução na dinâmica processual, natural ou social (SALES, 2004), parte-se na busca de uma análise geográfica crítica, tendo em consideração os diferentes agentes construtores da paisagem. E se por vezes o termo ambiental é, e será usado para se tentar “costurar” epistemologicamente a Geografia, deve-se lembrar que o termo indica a compreensão do ser na relação com seu entorno (SUERTEGARAY, 2002).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Considera-se a análise do relevo de suma importância para a sociedade por se tratar de problemática concernente ao desenvolvimento social. Faz-se necessário compreender a morfogênese, entendida como a origem das formas de relevo resultantes da atuação dos processos endógenos e exógenos, bem como a morfodinâmica, referente ao entendimento destes processos atuantes/ativos na forma do relevo, mencionando a idade absoluta e relativa das formas de relevo (FLORENZANO, 2008) – morfocronologia, bem como o uso e ocupação agem intensificando as formas e os processos modeladores do relevo. Na Praia do Amor e na Praia Grande foi observado que fatores oceanográfico-hidrológicos ocorrem com intensidade mais elevada que na Praia dos Artistas e na Praia da Brasília em função das primeiras serem praias de enseada, ou seja, são receptoras do material que é trazido a partir do movimento de maré (MUEHE, 2009). Além disso, o vento é outro fator que merece destaque, pois este é responsável pelo transporte e deposição de sedimentos (areia) para além da orla da praia. Dinâmica diferente se processa na Praia dos Artistas e na Praia da Brasília, onde se observou a predominância dos fatores geológicos em detrimento dos fatores oceanográficos. Estes se dão, sobretudo, nas falésias, por meio do processo erosivo da costa motivado pela retirada ou perda dos sedimentos que modificam a paisagem dessas praias. Ao que se remete aos fatores antrópicos, a porção oeste da ilha de Caratateua apresenta elevada ação humana ocasionada pela migração intensificada após a construção da ponte Enéas Martins em 1986, ampliando a rede viária após esta data (figura 1). As ações desses fatores estão intrinsecamente relacionadas aos fatores oceanográficos e aos geológicos, intensificando a dinâmica exercida pela natureza e em muitos casos promovendo degradação da paisagem costeira, o que foi constatado a partir de observações sistemáticas em campo. Nas praias de enseada, Praia do Amor e Praia Grande, verificou-se um grande número de bares sobre a faixa de praia (figura 2) e, além disso, a implantação de uma vegetação secundária a fim de servir como mais um atrativo turístico, caracterizando-se como um dos fatores antrópicos de uso e ocupação das costas litorâneas. As referidas construções possuem utilização comercial e turística, sobretudo, na época de veraneio, onde estas são as praias mais frequentadas da ilha em questão, não sendo percebido junto aos donos das barracas o total conhecimento sobre as ações desenvolvidas junto ao ambiente natural. Na Praia dos Artistas e na Praia da Brasília foi constatado que os imóveis (casas, bares, restaurantes e etc.) se localizam sobre as falésias, mais precisamente em seus topos (figura 2), intensificando o processo de erosão das mesmas acelerado devido à retirada da cobertura vegetal para as construções destes imóveis contribuindo para a intensificação desse processo. Vale ressaltar a presença de estradas construídas para o tráfego de veículos automotores, pois os seus movimentos de “vai e vem”, provocam sucessivos impactos nas escarpas - rampa ou aclive de terrenos que aparecem nas bordas dos planaltos, serras, testemunhos e etc. (PIMENTEL, OLIVEIRA e RODRIGUES, 2012), deslocando seus materiais, os quais contribuem para a intensificação dos processos erosivos destas praias. Na porção oeste da ilha de Caratateua foi constatada a presença de escarpas tectônicas, isto é, abruptas, produzidas por forças endógenas. No caso das escarpas do “Planalto Atlântico”, são frentes dissecadas, cujos escarpamentos forram provocados por deslocamentos epirogênicos (GUERRA e GUERRA, 2009). Destacam-se também, a falta de saneamento nestes locais, haja vista que os esgotos despejam seus dejetos neste litoral, prejudicando o meio ambiente e os seres que vivem em seu entorno.
Figura_1
Malha viária da porção noroeste da ilha de Caratateua antes e depois da construção da ponte Enéas Martins
Figura 2
Orlas da Praia do Amor e Praia Grande e processo de erosão e ocupação irregular nas falésias da Praia da Brasília
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ilha de Caratateua encontra-se em certa medida deixada de lado pelo poder público municipal. Os fatores geomorfológicos e antrópicos apontados no trabalho são apenas a ponta do iceberg posto a ilha se ressentir de um planejamento urbano-ambiental que atrele estes dois fatores isonomicamente. Na maioria dos casos, quando um agente natural atinge uma casa ou uma rodovia, trata-se de um problema de localização a causa primeira da catástrofe e não a fatalidade: as pessoas e/ou a infraestrutura se encontravam em local e momento inadequado. Portanto é a nossa capacidade de gerenciar bem o espaço que é questionada, ou seja, planejar e gerir o espaço se torna cada vez mais urgente. Mesmo para os que acreditam que o holoceno não acabou e o quaternário esta aí, cabe considerar que a ação humana tem relevante papel na modificação do relevo em escalas locais, potencializando processos e criando formas sinergicamente, podendo-se falar então em uma antropogeomorfologia para pensar o planejamento.
AGRADECIMENTOS
Ao Programa de Educação Tutorial em Geografia da UFPA, ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPA e a CAPES por financiar e estimular a pesquisa e a divulgação de trabalhos acadêmicos em eventos e periódicos de relevância nacional e internacional. Agradecimentos também a Profª Drª Carmena Ferreira de França (UFPA), ao Profª Drª Flávio Nascimento (UFF), Indiara da Silva Oliveira e Joana Celia Moraes Rodrigues por contribuírem à construção deste trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
FLOREZANO, T. G. Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. GUERRA, A. T.; GUERRA A. J. T. Novo dicionário geológico-geomorfologico. 7ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. IGREJA, H. S.; BORGES, M. S.; ALVES, R. J.; COSTA JÚNIOR, P. S.; COSTA, J. B. S. Estudos neotectônicos nas ilhas de Outeiro e Mosqueiro – Nordeste do Estado do Pará. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 36, 1990, Natal. Anais... Natal: SBG, v.3, p.2110-2124, 1990. LOCZY, L.; LADEIRA, E. Geologia estrutural e introdução à geotectônica. São Paulo, Ed. Edgard Blucher, p.81- 90, 1980. MUEHE, D. Geomorfologia costeira. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (Orgs.). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. PELOGGIA, A. U. G. O homem e o ambiente geológico: geologia, sociedade e ocupação urbana no Município de São Paulo. São Paulo: Xamã, 1998. _______. A cidade, as vertentes e as várzeas: a transformação do relevo pela ação do homem no município de São Paulo. Revista do Departamento de Geografia. São Paulo, n.º 16, p. 24-31, 2005. PIMENTEL, M. A. S.; OLIVEIRA, I. S.; RODRIGUES, J. C. M. Dinâmica da paisagem e risco ambiental na ilha de Caratateua, distrito de Belém-PA. REVISTA GEONORTE, Edição Especial, V.1, N.4, p. 624 – 633, 2012. ROSSATO, M. S.; SUERTEGARAY, D. M. Repensando o tempo da natureza em transformação. Ágora (UNISC), Santa Cruz, v. 6, nº 2, p. 93-98, 2000. SALES, V. C. Geografia, sistemas e análise ambiental: abordagem crítica. Geousp: espaço e tempo. São Paulo, n.º 16, p. 125-141, 2004. SILVA, J. M.; SILVA, E. A.; JUNCKES, I. J. Construindo a ciência: elaboração crítica de projetos de pesquisa. Curitiba, 2009. SUERTEGARAY, D. Geografia Física (?) Geografia Ambiental (?) ou Geografia e Ambiente (?). In: MENDONÇA, F.; KOSEL, S. (orgs.). Elementos de Epistemologia da Geografia Contemporânea. Curitiba: Ed. da UFPR, p.111-120, 2002.