Anais: Outros
Características Edáficas de dois Ambientes de Floresta de Restinga do Parque Estadual Paulo Cesar Vinha-ES.
AUTORES
Rocha, P. (UFV) ; Costa, L. (UFV) ; Passos, R. (UFES) ; Neri, A. (UFV) ; Shaefer, C. (UFV) ; Magalhães, F. (UFV)
RESUMO
O Parque Estadual Paulo César Vinha possui cerca de 1.500 ha de área e
aproximadamente 12 km de litoral. Situa-se no Município de Guarapari, litoral sul
do Espírito Santo. As Restingas ocupam 80% do litoral brasileiro, o que
corresponde a 7.110 km. Esse ambiente tem sua formação vinculada ao período
Quaternário. Esse trabalho teve como objetivos: caracterizar aspectos químicos e
físicos de dois ambientes de Restinga:Floresta não Inundável e Floresta
Periodicamente Inundada.
PALAVRAS CHAVES
RESTINGA; SOLOS; VEGETAÇÃO
ABSTRACT
The State Park Paulo Cesar Vinha has about 1,500 ha in area and approximately 12
km of coastline. It is located in the city of Guarapari, southern coast of the
Holy Spirit. The Restingas occupy 80% of the Brazilian coast, which corresponds to
7110 km. This environment has its training linked to the Quaternary period. This
study aimed to characterize chemical and physical aspects of two Restinga
environments: forest and non-flooded forest periodically flooded.
KEYWORDS
RESTINGA; SOIL; VEGETATION
INTRODUÇÃO
O Parque Estadual de Setiba, criado pelo Decreto Estadual nº. 2.993-N de 05 de
junho de 1990 encontra-se dentro da Área de Proteção Ambiental de Setiba
classificada como de uso sustentável. Em 02 de maio de 1994 foi publicada a Lei
Estadual nº. 4.903 que confere uma nova denominação ao parque, que passa a ser
identificado como Parque Estadual Paulo Cesar Vinha (PEPCV). As primeiras
menções a respeito de Restingas no Estado do Espírito Santo podem ser
encontradas nos trabalhos de Ruschi (1950) e Azevedo (1962) sobre a
fitogeografia do estado. Historicamente, a Restinga do estado foi inicialmente
substituída por monoculturas de subsistência, sendo que atualmente os impactos
estão principalmente relacionados à extração de areia para construção civil,
especulação imobiliária e extração de madeira para utilização como combustível
(PEREIRA, 2007). Os solos de Restinga são essencialmente arenosos, exceção a
área intercordões, onde se tem um aporte maior de silte, argila e matéria
orgânica. Nas áreas entre os cordões arenosos ocorrem terrenos topograficamente
mais baixos, originados da sedimentação parcial ou total de lagunas e, ou,
paleo-lagunas, apresentando por isso áreas inundadas ou inundáveis, tendo solos
síltosos e, ou, areno-argilosos, mais ricos em matéria orgânica (MARTIN et al.
1997). As Restingas são ecossistemas que geram grandes preocupações por serem
considerados ambientes de grande fragilidade, passíveis de perturbação e baixa
capacidade de resiliência, devendo-se isso ao fato da vegetação se encontrar
sobre solos arenosos, altamente lixiviados e pobres em nutrientes (ARAÚJO et
al., 2004). Esse estudo teve como finalidade caracterizar os solos em seus
aspectos químicos e físicos em duas diferentes formações vegetais de Restinga:
Floresta não Inundada e Floresta Periodicamente Inundada.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi feito um transecto na área de estudo, tendo início no complexo vegetacional
Floresta não Inundada (FNI) terminando na Floresta Periodicamente Inundada (FPI)
Em cada unidade vegetacional foram abertas cinco minitrincheiras de 40 cm de
profundidade. Nos ponto de coleta três e quatro da Floresta Periodicamente
Inundada não se realizou a coleta de solo na camada de 20–40 cm devido à altura
do lençol freático que cobria essa camada. Nessas minitincheiras foram coletadas
amostras de solo nas profundidades 0-20 cm e 20-40 cm. Em cada uma dessas
profundidades foram retiradas cinco subamostras, que foram homogeneizadas para
obtenção de uma amostra composta. As minitincheiras foram abertas dentro de
quadrantes de 50 m por 50 m, em cada unidade vegetacional supracitada, de
maneira a representar os diferentes pedoambientes da área em estudo. Foram
realizadas as seguintes análises químicas do solo: pH em água (relação 1:2,5);
fósforo disponível extraído por Mehlich-1 e determinado por espectrômetro de
absorção molecular; potássio e sódio trocáveis extraídos por Mehlich-1 e
determinado em espectrofotômetro de emissão de chama; cálcio e magnésio
extraídos por KCl 1 mol L-1 e determinado em espectrofotômetro de absorção
atômica; alumínio trocável extraído por KCl 2 mol L-1 e determinado por
titulação com NaOH 0,025 mol L-1, utilizando procedimentos metodológicos
descritos em Embrapa (1997); carbono orgânico total por extração em meio ácido
com K2Cr2O7 0,167 mol L-1 e titulação com Fe(NH4)2(SO4)2.6H2O 0,2 mol L-1
(YEOMANS & BREMNER, 1988). O fósforo remanescente (P- rem) teve seu valor obtido
em amostra de TFSA com CaCl2 0,01 mol L-1, contendo 60 mg L-1 de P, na relação
solo:extrator de 1:10 segundo Alvarez & Fonseca (1990) e determinado nos
extratos segundo Murphy & Riley (1962).Em relação aos aspectos físicos foram
realizadas análise texturais e de equivalente de umidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foi feita a classificação qualitativa dos valores obtidos na análise química das
amostras dos solos pelos critérios propostos por Alvarez (1999), mostrando que
na Formação Floresta não Inundada (FNI) o ambiente apresenta acidez ativa
elevada, especialmente no ponto cinco. Porém no ponto de coleta três a acidez
ativa encontra-se fraca, demonstrando que o pH variou entre os pontos de
amostragem, o que pode estar associado ás diferenças de composição entre as
espécies vegetais encontradas neste ambiente, pela variação do material orgânico
dessas espécies, quantitativa e qualitativamente, além da baixa capacidade
tamponante do solo devido à textura arenosa, logo com baixa densidade de cargas.
Os teores de matéria orgânica do solo (M.O.S) no solo variaram de baixos a muito
bons nesse ambiente, demonstrando a variabilidade do material orgânico
adicionado ao solo. É importante ressaltar que tanto as concentrações de P,
Ca2+, Mg2 e M.O.S, apresentam valores mais elevados nos primeiros 20 cm do solo.
Os valores de Ca2+ encontrados em alguns pontos foram considerados muito bons,
segundo classificação de Alvarez (1999). Raij (1996) sugere que teores de cálcio
acima de 0,7 cmolc dm-3 sejam considerados altos, o que levaria a conclusão que
quatro dos cinco pontos de coleta em suas camadas de 0-20 cm apresentam teores
de Ca2+ considerados altos. Além disso, a retenção de água e o fornecimento de
nutrientes para as plantas passam a depender do teor de M.O. Em relação a esse
aspecto Raij (1989) ressalta que uma das principais implicações da matéria
orgânica do solo é sobre sua capacidade de troca de cátions (CTC), responsável
por cerca de 70% da CTC da camada superficial de solos do estado de São Paulo. A
M.O tem uma importância ainda maior no aspecto mencionado em solos
essencialmente arenosos, onde os teores de argila são muito pequenos. Casagrande
(2003) ressalta que devido ao baixo teor de argila (normalmente de 1 a 5%),
esses solos estão sujeitos a intensa lixiviação pela baixa CTC, além de serem
solos originalmente pobres em nutrientes. A formação Floresta Periodicamente
Inundada é caracterizada entre outras coisas por apresentar solos essencialmente
orgânicos que sofrem forte influência do lençol freático. Apesar da boa
disponibilidade de Ca2+ e Mg2+ esses solos são classificados em relação à
saturação por base (V%) como distróficos, favorecidos pelos elevados teores de
matéria orgânica (M.O) que aportam no solo grande quantidade de H+. A soma de
bases (SB) é alta devido a considerável quantidade de cátions básicos. Os altos
valores de M.O. se devem à posição da formação vegetacional dentro da paisagem,
localizando-se topograficamente em áreas mais baixas nos intercordões que
recebem maior influência do lençol freático, ficando muito próximo à superfície.
Em épocas secas o lençol freático fica cerca de 40 cm abaixo da superfície, como
pôde ser averiguado em campo.Outros fatores importantes que favorecem o
acumulação da M.O. são que em um ambiente que sofre alagamento periodicamente, a
atividade microbiana é reduzida, além disso, os valores de pH dessa magnitude,
entre 3,5 e 4,0 favorecem a disponibilidade de micronutrientes (cobre, ferro,
manganês e zinco), além de diminuir a atividade de micro-organismos, resultando
na inibição do processo de decomposição de matéria orgânica do solo (RAIJ et
al., 1991). Não foi feita a análise textural dessa formação vegetacional uma vez
que o solo em questão é predominantemente orgânico. Britez (2005) ressalta o
fato de que boa parte da fração argila encontrada em solos de Restinga pode, na
verdade, estar representada por partículas mais finas de matéria orgânica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A matéria orgânica tem papel fundamental na dinâmica de nutriente e na retenção de
água, principalmente em solos predominantemente arenosos, uma vez que está vai se
constituir no principal sítio gerador de cargas dos solos.Os pequenos desníveis
topográficos existente proporcionam a formação de áreas de acumulação de
nutrientes e maiores influências do lençol freático, ocasionado um acúmulo de
matéria orgânica. Estas áreas se encontram topograficamente mais baixas, entre os
cordões arenosos.A disponibilidade de nutrientes , assim como a acidez e as
condições de saturação hídrica têm influencia direta na vegetação, refletindo nos
aspectos fitofisinômicos, no desenvolvimento estrutural e na distribuição das
espécies.Os nutrientes no solo localizado nos cordões arenosos diminuem com a
profundidade o que indica uma rápida ciclagem de nutrientes.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa e
ao Instituto de Meio Ambiente do Estado do Espírito Santo.
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