Anais: Outros
Análise da paisagem: cobertura e uso da terra na APA do rio Ibirapuitã
AUTORES
da Silva Winter Jr, J.A. (UFRGS-UNIVERSIDADE FEDREAL DO RIO GRANDE DO SUL) ; Aranha Ramos, R. (MCN/FZB-FUNDAÇÃO ZOOBOTÂNICA) ; Verdum, R. (UFRGS-UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL)
RESUMO
A Área de Preservação Ambiental (APA) do rio Ibirapuitã está totalmente situada no bioma Pampa, sendo que no Brasil está situado exclusivamente no estado do Rio Grande do Sul, onde sua área corresponde a 63% do território gaúcho. Neste bioma se destaca a bacia hidrográfica do rio Ibirapuitã, administrada pelo Instituto Chico Mendes/ICMBio/IBAMA. Neste estudo, temos como objetivo realizar o mapeamento do uso e da cobertura da terra da APA, gerar o mapa das Unidades de Paisagem e identificar os conflitos e as potencialidades de práticas sustentáveis.
PALAVRAS CHAVES
geomorfologia; uso e cobertura da terra; rio Ibirapuitã
ABSTRACT
The Environmental Preservation Area (APA) Ibirapuitã River is fully located in the Pampa biome, and in Brazil, it is located exclusively in the state of Rio Grande do Sul, where his area corresponds to 63% of state territory. Stands out in this biome, the Ibirapuitã basin is administered by the Institute Chico Mendes / ICMBio / IBAMA. In this study, we aim to perform the mapping of use and land cover of the APA, to generate a map of the Landscape Units and identify conflicts and potential for sustainable practices.
KEYWORDS
Geomorfology; use and land cover; Ibirapuitã river
INTRODUÇÃO
O trabalho tem como objetivo avaliar as potencialidades do uso da terra e os conflitos ambientais na região da APA do rio Ibirapuitã/RS. A área de interesse do trabalho encontra-se na região da Fronteira Oeste Sul-rio-grandense, na fronteira com o Uruguai. O território que abrange a área da APA é composto por quatro municípios: Quaraí, Santana do Livramento, Alegrete e Rosário do Sul. O desenho dos limites da APA do Ibirapuitã foi pensado de forma a abrigar a porção superior da Bacia Hidrográfica do rio Ibirapuitã. Genericamente, pode-se dizer que a área de estudo, encontra-se num contexto geomorfológico onde não há acidentes geográficos marcantes (rios, vales, etc.) e nem barreiras físicas expressivas separando-a do território Uruguaio. De acordo com o macrozoneamento ambiental do Rio Grande do Sul (CEPSRM 2001), são compreendidas as duas unidades geomorfológicas: Cuesta de Haedo, que é uma expressão dominante no sudoeste gaúcho, sendo que esta área é individualizada partir da sua descrição do relevo. Constitui uma feição que apresenta as maiores altitudes alinhadas em sentido SW-NE com valores em torno de 350-400m. A depressão central corresponde a uma área de baixas altitudes em comparação com as demais unidades do estado. Geomorfologicamente se caracteriza por uma superfície constituída por padrões diferenciados de colinas que se apresentam ora com topos planos ora com planos convexos.
A atividade pastoril da criação de ovinos, bovinos e equinos, assim como, a singularidade do contexto biogeográfico e geomorfológico faz com que haja a demanda de estudos que tenham como objetivo geral a produção de conhecimento em vários domínios da ciência, uma vez que todas as atividades desenvolvidas estarão sob alguma forma de relevo e algum tipo de solo, que darão diferentes respostas, conforme o tipo de intervenção antrópica, para que se tenha um melhor aproveitamento para o planejamento e a gestão da APA.
MATERIAL E MÉTODOS
Para a elaboração do mapeamento do uso e da cobertura da terra da APA do Ibirapuitã, foram utilizados os seguintes recursos:
- base topográfica digital do estado do Rio Grande do Sul na escala de 1:50.000;
- Imagens de satélite ALOS georreferenciadas, com escala de 1:50.000 e buffer de 1 km;
- Classificação do uso e ocupação do solo;
Os dados básicos a gerar foram à malha viária e a hidrografia, o mapeamento temático comporta a geologia, geomorfologia, cobertura e utilização da terra, hipsiometria e pedologia, fatores do meio ambiente. A base de dados sendo um ponto importante para a criação de um inventário ambiental sob a forma digital, realçando os aspectos naturais e sociais do território. Em cartogramas digitais foram registrados e apresentados quadros sintéticos dos dados básicos, unidades geomorfológicas e hipsiométricos, solos, uso e cobertura vegetal e de proximidades da rede viária. Esta base de dados, por seu caráter integrador dos diferentes tipos de dados e pela possibilidade de constante atualização.
O mapeamento do uso e da cobertura da terra foi realizado na APA do Ibirapuitã, utilizando imagens do sensor ALOS. Inicialmente foi realizada a vetorização do uso e da cobertura vegetal pela análise visual das imagens. Como produto complementar para a análise foi realizado um sobrevoo para obtenção de 550 fotografias aéreas oblíquas de pequeno formato para auxiliar na classificação das imagens. Na expedição realizada em março de 2012, foi elaborado um questionário com as entrevistas aos proprietários da região da APA com o intuito de avaliar o reconhecimento da existência da mesma e os conflitos ambientais, por parte deles.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os trabalhos de digitalização em tela levaram em consideração os condicionantes geomorfológicos locais, onde se percebeu as pequenas elevações do terreno com declives suaves, onde as formações colinosas onde a altitude não ultrapassa os 200 metros. Sendo assim, o formato de relevo dissimétrico construída por uma sucessão alternada das camadas com deferentes resistências ao desgaste que se inclinam numa direção, formando um declive suave no reverso, e um corte abrupto ou íngreme na chamada frente de cuesta.
Nos trabalhos de campo foram realizadas sete visitas às estâncias da região da APA do Ibirapuitã entre os dias 13 e 17 de março de 2012. Nelas foram realizadas as entrevistas em propriedades rurais no município de Santana do Livramento, onde foram visitados cinco do total das sete estâncias. Destaca-se que mais da metade dos proprietários rurais entrevistados superavam os cinqüenta anos de idade e mais da metade deles tem formação profissional (Eng. Agrônomo ou Técnico Agrícola).
A média de hectares por proprietário seria em torno de 3.500 hectares. O tempo do título de propriedade é superior a 50 anos, porém em algumas estâncias há títulos que existem desde o século XIX.
A atividade agrícola da região é essencialmente pecuária, sobretudo de bovinos, ovinos e equinos, mas também em algumas áreas menos extensas a presença de cultivos de espécies de forrageiras, como azevém, trevo e cornichos.
A infraestrutura das estâncias aparenta ser rudimentar, no entanto, há a presença de tratores, arados e colheitadeiras como instrumentos essenciais à produção agrícola. Na estância Sá Brito, em Alegrete, os produtores trabalham com tecnologia de precisão na agricultura, já que a região norte da APA se destaca pelo cultivo de arroz, sendo este um produto que possui grande valor econômico. Por conseguinte, o quadro funcional na estância se mostra bem expressivo, enquanto que nos outros o mesmo é reduzido, ou por sua vez a tarefa é dirigida por membros familiares (restrita à atividade tradicional).
Os proprietários têm o conhecimento da existência APA, porém não (re)conhecem o órgão federal como sendo o gestor da área. Eles demonstraram conscientização quanto à importância da preservação da APA, sendo que sugeriram a preservação do campo nativo e um projeto de criação de um selo de qualidade com os produtos oriundos da APA - “carne verde”, por exemplo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As ações iniciadas devem ser concluídas com a execução das outras etapas do Projeto de Avaliação da Paisagem, tais como: a composição, a estrutura e a dinâmica de comunidades terrestres e aquáticas, as potencialidades, os conflitos de uso e a sustentabilidade.
Cabe aos gestores responsáveis pela administração da APA do Ibirapuitã agir, de forma, a planejar, desenvolver e gerir ações através dos mapeamentos apresentados mediante a apresentação das informações e resultados prévios, orientada e supervisionada pelo Laboratório de Geoprocessamento do Museu de Ciências Naturais – Fundação Zoobotânica/RS e pelo Departamento de Geografia do Instituto de Geociências/UFRGS que possui a incumbência de difundir as informações adquiridas e proporcionar o amplo debate junto às instituições que possuem afinidade e interesse para com as informações cartográficas e paisagísticas desenvolvidas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
Hasenack, H. ; Weber, E (org) Base cartográfica vetorial contínua do Rio Grande do Sul, escala 1:50.000. Porto Alegre, UFRGS-IB-Centro de Ecologia. 2010.1 DVD ROM (série geoprocessamento, 3).
Medeiros, R.; Young; C.E.F.; Pavese, H. B. & Araujo, F. F. S. (2011). Contribuição das unidades de conservação brasileiras para a economia nacional: Sumário Executivo. Brasília: UNEP-WCMC, 44p.
Verdum, R.; Basso, L.A. & Suertegaray, D.M.A. (2004) Rio Grande do Sul – Paisagens e territórios em transformação. Porto Alegre, Editora da UFRGS.
Guerra,A.J.T; Marçal, M.S. (2006) Geomorfologia Ambiental. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 192p.
