Anais: Outros
IMPLEMENTAÇÃO DA PESQUISA DE ANÁLISE GEOQUÍMICA MULTIELEMENTAR DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO CEMITÉRIO CAIXA D’ÁGUA: VALE DO SÃO FRANCISCO, MINAS GERAIS, BRASIL
AUTORES
Baggio, H. (UFVJM) ; Meneses, T. (UFVJM) ; Freitas, M. (UFVJM) ; Costa, T. (UFVJM) ; Silva, D. (UFVJM)
RESUMO
A pesquisa foi estruturada com o intuito de desvendar os enigmas arqueológicos do
sítio Cemitério Caixa d’Água em Buritizeiro – MG. Por meio de amostras coletadas e
análises dos parâmetros físico-químicos e químicos, busca-se aliar as bases
conceituais da geoarqueologia com as técnicas da geoquímica de superfície, com o
intuito de reconstruir o paleogeoambiente da região do Vale do São Francisco e
entender a ocupação humana que lá ocorreu por volta de 5,5 a 10 mil anos atrás.
PALAVRAS CHAVES
GEOARQUEOLOGIA; GEOQUÍMICA; BURITIZEIRO
ABSTRACT
The research was structured with the intention of unmasking the archaeological
enigmas of the ranch Cemetery Box of water in Buritizeiro - MG. Through collected
samples and analyses of the physical-chemical and chemical parameters, it is
looked for to ally the conceptual bases of the geoarchaeology with the techniques
of the surface geochemistry, with the intention of to reconstruct the
paleoambiente of the area of the valley of San Francisco and to understand the
human occupation.
KEYWORDS
GEOCHEMISTRY; GEOARCHAEOLOGY; BURITIZEIRO
INTRODUÇÃO
A área de estudo está inserida na parte central da bacia do rio São Francisco e
na
zona fisiográfica denominada Alto Médio São Francisco, pertencendo também à
microrregião de Pirapora, nos limites municipais de Buritizeiro, a noroeste de
Minas Gerais.O município de Buritizeiro encontra-se limitado pelos paralelos
16º30’e 18º00 de Lat. S, e pelos meridianos 45º40’ e 44º57’ de Long. W - Gr. O
sítio Cemitério Caixa d’Água encontra-se dentro de uma feição morfológica
caracterizada como uma escarpa de linha de falha erosiva com, cerca de 1 km de
extensão, orientado no sentido L-W, com desnível médio de 16m/alt. A escarpa é
modelada em litofácies de arcóseos, arenitos finos (frente deltáica),
pelitos(sistema deltáico) da base para o topo. A área encontra-se
compartimentada
em dois grandes domínios geomorfológicos: os Planaltos do São Francisco e a
Depressão Sanfranciscana com residuais do São Francisco e suas unidades
morfológicas correlatas (Baggio, 2008). O sítio encontra-se inserido sobre a
Formação Três Marias - constituindo o topo do Grupo Bambuí na região. É formada
uma sequência tempestítica, sendo suas principais litofácies compostas por
arcóseos, arenitos arcoseanos, siltitos com estruturas way/linsen e siltitos com
interlaminações finas argila - areia. A cobertura pedológica predominante no
sítio arqueológico são os solos: Neossolo Litólico e os Cambissolos. O segmento
do Rio São Francisco que compreende a área do sítio, possui aproximadamente 300
m de largura (entre margens) e 1 m de profundidade. A topografia do canal
apresenta segmentos rochosos e aluviais, assim como irregularidades ao longo do
seu perfil longitudinal. Apresenta fluxo turbulento e encachoeirado, orientado
no sentido WNW-ESSE. Infelizmente, o sítio encontra-se desprotegido, apesar de
ser um patrimônio arqueológico nacional. Devido ao estado drástico das cercas de
proteção, animais e pessoas transitam no local, deixando em situação de risco
todo o patrimônio arqueológico.
MATERIAL E MÉTODOS
Em julho de 2011, realizou-se uma campanha de campo no sítio arqueológico. A
pesquisa foi realizada, seguindo procedimentos definidos em gabinete e, para
tanto,
foram observados aspectos como: localização e georreferenciamento da área;
topografia; conferência do mapeamento; definição de pontos de amostragem;
coletas
de amostras; abertura de perfis pedológicos e conferência dos esboços
cartográficos
e de escalas. A malha de amostragem utilizada no sítio foi estruturada, buscando
entender melhor o uso do sítio arqueológico durante seu período de ocupação. As
áreas de amostragem foram distribuídas de acordo com a proximidade dos três
sepultamentos e os perfis e catenas foram abertos dentro e fora dos
sepultamentos.
Já nas áreas de entorno, buscou-se distribuir as amostras por todo o sítio,
seguindo até a borda da escarpa, levando em conta toda a extensão do sitio
arqueológico. Também foram coletadas amostras em dois pontos exteriores, visando
determinar a extensão do sítio. Nos perfis, o solo de 0-10 cm de profundidade
foi
descartado para evitar uma possível contaminação. Para a coleta das amostras,
obedeceu-se a seguinte divisão: 10-20cm; 20-40cm; 40-60cm e 60-80 cm. Por se
tratar
de uma área com um pequeno capeamento de neossolo litólico álico, as amostras
foram
coletadas ate 60-80 cm. Em campo, as amostras foram descritas
macroscopicamente(cor, granulometria, presença de matéria orgânica, dentre
outros),
acondicionadas em sacos plásticos, lacradas e identificadas. Em laboratório, as
amostras de solos foram secas ao ar, após o procedimento, as amostras serão
peneiradas (em peneiras de aço) até a fração de 80 mesch e, em seguida, serão
submetidas às seguintes análises: Cor de solo, pH, Fosfato, Carbonatos, C e N,
Ca,
K e Mg, Fe, Cu e Zn. Os resultados analíticos serão avaliados com os demais
dados
do meio físico (geologia, geomorfologia, solos, hidrografia, clima e vegetação)
e
tratados de modo a conduzir ao entendimento do paleoambiente da bacia do rio São
Francisco.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Por fim, se estabelecem as considerações a respeito dos resultados esperados, a
fim
de conseguir, em uma etapa final do projeto, confrontar todos os dados obtidos
em
análises, campanhas de campo e revisão bibliográfica em gabinete, visando
compreender
o paleoambiente local durante o período Holoceno.
Desvendar os enigmas arqueológicos do sítio Cemitério Caixa D’Água é um dos
principais objetivos do projeto. Enigmas entre os quais, se inclui tanto os
hábitos
de vida da população que ali se estabeleceu, quanto sua rota em busca de
alimentos e
matéria-prima. As análises físico-químicas e químicas (solos) darão suporte para
a
identificação de prováveis locais de ocupação humana no sítio e proximidades.
A reconstituição do paleoambiente é a chave para entender alguns outros
paradigmas a
respeito do clima global, que não cabem apresentar nesta ocasião, devido à
recenticidade do projeto. Contudo, podemos afirmar, no momento, que os estudos
no
sítio arqueológico servirão de apoio para a preservação e manejo do mesmo. Da
mesma
forma que a metodologia, juntamente com os resultados obtidos, auxiliará também
em
outras pesquisas.
Na pesquisa de campo, realizada no mês de Julho de 2011, pôde-se observar,
durante a
abertura dos perfis, que a coloração do solo se diferenciava em vários pontos.
Algumas anotações em campo foram feitas para definir características
importantes.
SP1
SP1. 0-20 cm: Os dez primeiros centímetros foram descartados.
SP1. 20-30 cm: Perfurou até 30 cm devido ao solo mais resistente.
SP1. 30-45 cm: Acréscimo de água para melhorar a retirada de solo.
SP2
SP2. 0-20 cm: Raízes mais grossas, mais canga, mais material oxidado.
SP2. 20-40 cm: Material preto semelhante a carvão, raízes finas (mais finas que
40-60
cm), estrutura granular, solo bem duro, arcóseo.
SP2. 40-60 cm: Menos raízes do que a amostra 60-80 cm, fragmentos de arenito
arcoseano, raiz grossa, material avermelhado, ocre, material branco em camadas
semelhante à mica (muscovita).
SP2. 60-80 cm: Foi encontrado arenito arcoseano, raiz fina, arenitos grandes,
calhau
de
arenito arcoseano, raízes finas, material homogêneo com estrutura granular,
serosidade ausente.
SP3
SP3. 40-60 cm: nos 50 cm foi encontrado lona.
CT1
CT1. 0-20 cm: Os primeiros 10 cm foram descartados.
CT1. 60-70 cm: Parou porque foi encontrado saprólito.
CT2
CT2. 0-10 cm: Os primeiros 10 cm foram descartados.
CT2. 10-20 cm: Raízes finas, pouco ocre, canga, plintita.
CT2. 20-40 cm: Raízes finas, seixos no topo do horizonte, pouco ocre.
CT2. 40-60 cm: Raízes finas, camada de material ocre (limonita), grânulos.
CT2. 60-87 cm: Ausência de raízes, coloração violácea típica do arcóseo,
material
bastante homogêneo.
CT3
CT3. 20-40 cm: Nos primeiros 30 cm foi encontrado seixos.
CT3. 40-60 cm: Foi encontrado ocre.
CT3. 60-80 cm: Encontrado ocre até os 70 cm.
CT4
CT4. 0-20 cm: descartou os 8 primeiros cm, mas tendo presença do material ocre.
Material ocre continuou até os 16 cm.
CT4. 40-60 cm: Retirada de solo até os 50 cm porque chegou ao saprólito. A
largura do
furo 50x26.
CT5
CT5. 0-20 cm: Retirada dos 10 primeiros cm. Encontrava raízes grossas; depois
dos 20
cm chegou ao horizonte C.
CT5. 20-40 cm: Chegou ao saprólito nos 30 cm.
CT6 (Amostra Branca- SAAE)
CT6. 0-20 cm: Retirada de solos nos 10 primeiros cm.
CT6. 20-40 cm: A partir dos 28 cm foi encontrado ocre.
CT6. 40-60 cm: A partir dos 57 cm foi encontrado o saprólito.
CT7 (Amostra Branca- Lote)
CT7. 0-20 cm: Retirada dos 10 primeiros cm, presença de raízes
Os 10 perfis abertos foram distribuídos dentro e fora do sítio, e depois
georreferenciados para a elaboração do modelo de mapa 3D a fim de se compreender
melhor a topografia local.
Ao longo da pesquisa, será possível estabelecer mais informações sobre o sítio
arqueológico, e atingir o principal objetivo que é entender os hábitos dessa
população antiga da região e o paleoambiente durante o período Holoceno.
Levantamento topográfico do Sítio Arqueológico
Mapa topográfico em curvas de nível interpoladas a
partir de imagem de radar-SRTM, do sítio
arqueológico Cemitério Caixa d'Água.
Modelo Digital de Elevação do Sítio Arqueológico
Modelo digital de elevação, com feição morfológica
da área: escarpa de linha de falha erosiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O sitio arqueológico cemitério Caixa d’Água é um dos sítios a céu aberto dos mais
bem conservados do Brasil principalmente no Vale do Rio São Francisco. Datações em
14C das ossadas encontradas apontaram um período de ocupação variando entre 5,5 e
10,5 mil anos. Esta população que ali se estabeleceu, aproveitava dos recursos
naturais e ambientais que o rio São Francisco e a vegetação lhes proporcionavam.
Assim sendo, é impreterível que se conheça melhor seus hábitos, suas fontes e
rotas em busca de matéria prima, além de um melhor conhecimento sobre as condições
paleoambientais da calha do Rio São Francisco, para um resgate da paisagem natural
e dos hábitos dessa população. O conhecimento deste paleoambiente elucidará as
condições em que se encontrava a paisagem da região, informando os períodos úmidos
e de aridez enfrentados na área. Busca-se também por meio do conhecimento da área
contribuir para a preservação do sitio arqueológico, já que este é um patrimônio
ameaçado.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos á UFVJM, CNPq, FAPEMIG e REUNI pelo suporte logístico e financeiro. Ao
LGA/UFVJM pelos serviços prestados, ao LAEP/UFVJM pela disponibilidade e presteza.
Á todos aqueles que contribuíram de certa forma para a realização deste trabalho e
especialmente ao Professor Dr. Hernando Baggio Filho pelas orientações e conselhos
despendidos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
Baggio, H.F. 2008. Contribuições naturais e antropogênicas para a concentração e distribuição de metais pesados em sedimento de corrente na bacia do rio do formoso, município de buritizeiro – MG. Instituto de Geociências - Universidade Federal de Minas Gerais, Tese (Doutorado em Geologia), 232 p.