Anais: Outros
CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DO GRÁBEN DO RIO MAMUABA E SUAS ADJACÊNCIAS
AUTORES
Lima, V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; Furrier, M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA)
RESUMO
O presente trabalho aborda alguns aspectos estruturais, geológicos e
geomorfológicos do grabén do rio Mamuaba e do Domo situado ao Norte do alto curso
do rio Gramame. A pesquisa fundamenta-se na utilização da carta topográfica Rio
Mamuaba, escala 1:25.000, que está situada na borda oriental do estado da Paraíba,
Nordeste do Brasil. Esta serviu como base para elaboração de cartas temáticas e do
Modelo Digital do Terreno (MDT), com intuito de expor as alterações no relevo de
origem morfotectônica.
PALAVRAS CHAVES
Grabén do Mamuaba; Domo da Embratel; Geomorfologia
ABSTRACT
The present study discusses some structural aspects of geology and geomorphology
of the Mabuaba River’s graben and the dome located north of the course of the
Gramame River. The research is based on the use of topographic map of Mamuaba
River, scale 1:25,000, situated on the eastern edge of Paraíba, northeastern
Brazil. This was the basis for preparation of thematic maps and Digital Terrain
Model (DTM), in order to expose the changes in the relief of morphotectonic
origin.
KEYWORDS
Mabuaba graben; Dome of the Embratel; Geomorphology
INTRODUÇÃO
O trabalho tem como objetivo realizar uma caracterização geomorfológica do
gráben do rio Mamuaba e da estrutura dômica localizada ao norte do alto curso do
rio Gramame, denominado como “Domo da Embratel” por Brito Neves et al. (2009). A
pesquisa é amparada na utilização da carta topográfica Rio Mamuaba com escala de
1:25.000, e no aproveitamento de informações e de dados digitais de elevação
fornecidos pelo Modelo Digital do Terreno (MDT). Esta escala de alto nível de
detalhe permitiu o detalhamento inédito de feições morfológicas, facilitando uma
caracterização detalhada da área em questão.
Com o auxílio dos mecanismos gráficos das cartas temáticas geradas
(hipsométrica, clinográfica, e o modelo em 3D), é possível disponibilizar uma
quantidade expressiva de dados inéditos para a evidenciação de possíveis
características de neotectônica na região em análise. A escolha da área de
estudo se justifica pelo interesse na identificação de indícios de origem
morfotectônica, temática esta ainda muito pouco estudada na Paraíba apesar do
estado possuir várias evidências de tectônica ressente no seu território.
A partir da análise e interpretação das cartas temáticas, é possível ter uma
percepção de uma estruturação marcante de altos e baixos estruturais, em camadas
discordantes sobre embasamento cristalino e bacias sedimentares marginais. Sobre
ela são desenvolvidos os baixos tabuleiros, geralmente com topos aplainados, ora
soerguidos, ora rebaixados ou basculados por evidente atuação da tectônica
recente (FURRIER et. al 2006; FURRIER 2007) que pode ter originado o sistema de
grábens do rio Mamuaba de direção NNE-SSW, seguindo para a confluência Mamuaba-
Gramame. Ao sul da cabeceira do rio Fundo encontra-se uma interessante estrutura
circular de drenagem centrífuga, cujo cume central está o ponto mais alto da
área em análise, compreendendo o Domo da Embratel com 213 m.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho se apoio na elaboração de produtos cartográficos
digitais, obtidos a partir da vetorização da carta topográfica Rio Mamuaba na
escala de 1:25.000, com equidistância entre as curvas de nível de 10 m, que
forneceu os dados altimétricos necessários à elaboração e confecção dos produtos
cartográficos gerados nesse trabalho.
A partir da vetorização da carta base, tornou-se possível a traves da
utilização do software SPRING 5.1.7, elaborar cartas temáticas (hipsométrica e
clinográfica) (Figura 1), Modelo Digital do Terreno (MDT) (Figura 2) ambas foram
produzidas com a utilização das curvas de nível da carta topográfica do Rio
Mamuaba (SB.25-Y-C-II-4-NE).
A análise e interpretação desses produtos cartográficos forneceram dados
com alto nível de detalhamento da área em questão, apresentando dados sobre a
configuração geomorfológica e permitindo caracterizar os padrões de drenagens na
área de estudo, a fim de, compreender a evolução morfológica do terreno.
Para a elaboração da carta clinográfica foram adotadas as classes de
declividade propostas por Herz e De Biase (1989). A definição das classes de
declividades usadas nesse trabalho foi baseada em Herz e De Biase (op. cit.), e
foram delimitadas e especificadas da seguinte forma: 0-12%, 12-30%, 30-47%, 47-
100% e > 100%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A região que corresponde à área de estudo se encontra inserida na Bacia
Sedimentar Pernambuco-Paraíba, Sub-Bacia Miriri, correspondendo em quase toda
sua totalidade por sedimentos mal consolidados da Formação Barreiras, unidade
litoestratigráfica, de idade miocênica, caracterizada pela regularidade
geomorfológica, ocorrendo ao longo da faixa costeira do Brasil (ARAI, 2006).
Na porção correspondente ao litoral paraibano essa unidade
litoestratigráfica repousa de forma discordante, sobre o embasamento cristalino
e sobre a bacia marginal Pernambuco Paraíba que segue o sentido de oeste para
leste (Furrier et al., 2006). No sentido leste-oeste, a Formação Barreiras
alcança extensões variáveis entre 30 a 50 km (Brasil, 2002).
A carta hipsométrica e clinográfica (Figura 1) e a imagem do MDT (Figura
2) possibilitaram um entendimento bastante detalhado da área, mostrando duas
características peculiares principais no grabén do rio Mamuaba: o acentuado
desnível altimétrico com os tabuleiros localizados ao sul possuindo altitudes de
até 213 m e os localizados ao norte do gráben possuindo altitudes máximas de 130
m, perfazendo, portanto uma diferença de 83 m entre os dois tabuleiros que
confinam o gráben.
Com o auxílio da carta clinográfica (Figura 1 b), é possível mostrar com
nitidez os limites norte e sul do gráben, onde se observam declividades
superiores na borda sul variando com maior freqüência valores entre 47 – 100%,
além de exibir com bastante clareza os elevados entalhamentos formados pelos
rios Fundo e do Buraco, cujas vertentes alcançam até 100% de declividade.
Devido à diferença altimétrica entre os tabuleiros que confinam o grabén
é possível observar uma rede de drenagem extremamente assimétrica com os rios
oriundos dos tabuleiros localizados ao sul, mais avantajados e entalhados,
enquanto na porção situada ao norte, encontram-se rios pouco entalhados e pouco
expressivos.
O grabén do rio Mamuaba apresenta uma direção geral NNE-SSW, em direção
à confluência Mamuaba-Gramame, ao sul está desenvolvido uma interessante
estrutura circular com drenagem radial centrífuga, conforme visualizado nas
cartas temáticas, onde as correntes fluviais são do tipo consequente e se
encontram dispostas como um raio de uma roda e diverge a partir de um ponto
elevado cujo cume central está o ponto mais alto da área em análise no domo da
Embratel com 213 m.
Na porção pertencente ao Domo da Embratel é possível observar as maiores
declividades da área em análise, percebendo-se elevados entalhamentos cujas
vertentes alcançam até 100% de declividade, tendo rios fortemente encaixados em
seus respectivos vales. É no cume central do Domo da Embratel onde parte os
tributários fundamentais do alto curso do rio Gramame e Mamuaba.
Alguns estudos recentes sugerem que o Domo da Embratel é uma provável
estrutura push up e sua origem pode estar relacionada com ativações tardias do
esplay out do lineamento congo-coxixola, no entanto suas causas necessitam de
uma investigação mais apurada de subsuperfície (Brito Neves et al., 2009).
Através da análise das cartas temáticas foi possível observar todo o
padrão de drenagem da área, chegando à elucidação de inúmeras questões
relacionadas à tectônica e a configuração geomorfológica da região, como por
exemplo, o padrão de drenagem assimétrico, apresentando os afluentes da margem
sul do rio Mamuaba muito mais expressivos que os da margem norte.
Foram verificadas também as condições de assimetria e retilineidade
apresentada pelo rio do Grilo e pelo rio Vermelho (Figura 2) dando a entender,
que o curso desses rios é determinado por uma zona de fraqueza, tal como uma
falha. Outro padrão de drenagem assimétrico é o apresentado pelo rio do Buraco
onde toda sua forma de captação de água está voltada para o Domo da Embratel.
Figura 1
a)Carta hipsométrica da área de estudo:b)Carta
clinográfica da área de estudo.
Figura 2
Modelo Digital do Terreno (MDT) da área de estudo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A interpretação das cartas temáticas constatou inúmeras evidências de atividades
neotectônicas na área, dentre elas podemos citar, a rede de drenagem extremamente
assimétrica, onde os rios oriundos dos tabuleiros localizados ao sul são mais
volumosos, entalhados, e com recuos de cabeceiras bastante expressivos, formando
vertentes com declividades muito mais superiores que os rios oriundos dos
tabuleiros localizados ao norte do gráben. Essa assimetria é provocada pelo
acentuado desnível altimétrico entre os tabuleiros localizados na porção norte e
sul do gráben, sendo na porção sul onde se encontra as maiores altitudes da região
chegando a 213 m, no Domo da Embratel.
Os rios: Fundo e do Buraco, apresentam vertentes com declividade superior a 100%,
sendo estes rios fortemente encaixados em seus respectivos vales. Foram também
verificadas anomalias como retilinidade, presença de cotovelos e até mesmo
condições anômalas de captura de drenagem favorecendo a modelagem geomorfológica
da área.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
ARAI, M. A grande elevação Eustática do Mioceno e sua influência na origem do Grupo Barreiras. Geologia USP Série Científica. São Paulo, v. 6, n. 2, p. 1- 6, 2006.
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. CPRM. Geologia e recursos minerais do Estado da Paraíba. Recife: CPRM, 2002. 142 p. il., 2 mapas. Escala 1:500.000.
BRITO NEVES, B. B.; ALBUQUERQUE J. P. T.; COUTINHO J. M. V.; BEZERRA, F. H.R. Novos Dados Geológicos e Geofísicos para a Caracterização Geométric e Estratigráfica da Sub-bacia de Alhandra (Sudeste da Paraíba). Geologia USP - Série Científica, v. 9, p. 63-87, 2009.
FURRIER, M.; ARAUJO, M. E.; MENESES, L. F. Geomorfologia e tectônica da Formação Barreiras no Estado da Paraíba. Geologia USP - Série Científica, v. 6, p. 61/2-70, 2006.
FURRIER, M. Caracterização geomorfológica e do meio físico da Folha João Pessoa - 1:100.000. 2007. 213f. Tese (Doutorado) – Departamento de Geografia, FFLCH, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
Herz, R.; de Biasi, M. Critérios e legendas para macrozoneamento costeiro. Ministério da Marinha/Comissão Interministerial para Recursos do Mar. Brasília: MM, 1989.