Anais: Outros
APLICAÇÃO DO ÍNDICE RELAÇÃO DECLIVIDADE-EXTENSÃO (RDE) NA CARTA JACUMÃ (SB-25-Y-C-III-3-NE), ESTADO DA PARAÍBA
AUTORES
Nóbrega, W. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; Barbosa, E. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; dos Santos Souza, A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; Furrier, M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA)
RESUMO
Este trabalho está apoiado na aplicação do índice morfométrico de Relação
Declividade Extensão (RDE) da região compreendida pela carta Jacumã, estado da
Paraíba, Brasil. Desta forma, foi realizado a integração de informações
qualitativas baseadas nos padrões e anomalias da rede de drenagem verificadas, e
quantitativas, fundamentadas no índice, a fim de verificar se a evolução da
drenagem e do relevo da área de estudo ocorreu sob influência de tectônica
recente.
PALAVRAS CHAVES
Jacumã; Parâmetros Morfométricos; Tabuleiros Litorâneos
ABSTRACT
This work is supported in the application of morphometric index Slope length
Relation (SLR) of the region encompassed by the chart Jacumã, state of Paraiba,
Brazil. In this way was carried out an integration of the qualitative informations
based in the patterns and anomalies of the verified drainage system, and
quantitative, based in the index, to verify if the evolution of the drainage and
relief of the studied area occurred beneath influence of the recent tectonic.
KEYWORDS
Jacumã; Morphometric Parameters; Coastal Boards
INTRODUÇÃO
O principal objetivo deste estudo é balizar a atuação de movimentos
neotectônicos e sua relação com o padrão de drenagem, direção dos cursos de água
e feições morfológicas desenvolvidas. Tal como propõe Keller e Pinter (1996 apud
Rincón; Vegas, 2000), a quantificação da morfologia do terreno através da
morfometria permite comparar distintos ambientes para caracterizar, assim, as
áreas de comportamento particularmente característico.
No presente trabalho, convencionou-se utilizar como objeto de estudo a
carta Jacumã, localizada no estado da Paraíba, Nordeste do Brasil. Essa área foi
escolhida pelo fato de ser submetida à processos morfotectônicos, identificados
pela acentuada assimetria entre os afluentes da margem sul, da bacia
hidrográfica do rio Guruji, que são muito mais avantajados que os afluentes da
margem norte, e as acentuadas inflexões verificadas em diversos cursos da área
de estudo.
Desta forma, tomando como os pressupostos de Etchebehere et al. (2004),
de que os cursos d’água são elementos apropriados para o levantamento de
informações de importância neotectônica, em razão de sua sensibilidade à
qualquer processo deformativo de seus cursos, foi aplicado neste trabalho o
índice de Relação Declividade-Extensão (RDE), no qual sua aplicação tem por
objetivo mensurar as características ao longo de canais fluviais, possibilitando
evidenciar anomalias presentes em determinada área de estudo.
Para apresentar a alteração do gradiente do perfil longitudinal de um
fluxo, o índice identifica mudanças na declividade presentes nos cursos, que
podem ter sido originadas não somente por deformações tectônicas, mas também
pela desembocadura de tributários com canal expressivo, diferentes resistências
à erosão hidráulica do substrato litológico ou influência tectônica (Etchebere
et al., 2006). Os canais selecionados para obtenção dos valores de RDE, foram:
os riachos Ipiranga, Estiva, Pau Ferro, Cabloco, Bucatu, Andreza, Massapé, rio
Guruji e
MATERIAL E MÉTODOS
O material cartográfico produzido nesse trabalho foi confeccionado com
auxílio do software SPRING 5.1.7. Todo o produto confeccionado foi gerado a
partir das curvas de nível extraídas da carta topográficas Jacumã (SB. 25-Y-C-
III-3-NE), com escala de 1:25.000, com equidistância de 10 m. As coordenadas
utilizadas foram UTM e o Datum SIRGAS200. O trabalho consistiu na mensuração dos
canais fluviais utilizando o índice morfométrico Razão Declividade Extensão
(RDE), além disso, foi gerada uma imagem sombreada com azimute de 45º.
O cálculo do RDE aplicado neste trabalho (Figura 2) é baseado na
diferença altimétrica entre dois pontos extremos de um segmento ao longo do
curso d’água, representado por ∆H, e na projeção horizontal da extensão do
referido segmento (∆L). Assim, ∆H/∆L corresponde ao gradiente da drenagem no
trecho. A letra “L” corresponde à distância entre o segmento para o qual o
índice RDE está sendo calculado e a nascente da drenagem. Para o cálculo de “L”,
o ponto de partida do segmento de drenagem pode ser o ponto médio da extensão do
referido segmento até a nascente do rio (El Hamdouni et al. 2008).
Para obtenção dos valores necessários para a aplicação dos cálculos RDE,
foi seguida as seguintes etapas:
• Inicialmente, utilizou-se o software SPRING 5.1.7 para obter o desnível
altimétrico, comprimento do canal e projeção horizontal do segmento dos canais
selecionados para este trabalho.
• Os dados obtidos foram exportados para a planilha do Excel, para
efetuação de seus respectivos cálculos de RDE(trecho) e RDE(total).
• As anomalias identificadas nos resultados obtidos a partir da efetuação
dos cálculos do índice de RDE foi classificada seguindo os pressupostos de El
Hamdouni et al. (2008), que propõe que os seguimentos anômalos sejam aqueles no
qual o valor obtido seja 2< RDE < 4 ou 4< RDE <6, e como não anômalos 0< RDE <2.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A área de estudo está inserida, em sua maior parte, sobre os sedimentos areno-
argilosos mal consolidados da Formação Barreiras, uma cobertura residual de
plataforma capeadora de várias bacias marginais brasileiras, entre elas, a Bacia
Pernambuco-Paraíba, constituída pelas formações Maria Farinha, Gramame e
Beberibe, sendo as duas primeiras formações carbonáticas, e a última, clástica.
O índice RDE como já foi dito anteriormente, é utilizado para destacar as
mudanças de gradiente do perfil longitudinal de um fluxo, sendo assim, nesta
pesquisa, através do emprego deste parâmetro, foi possível identificar tais
mudanças no gradiente do perfil, identificando áreas com anomalias, que segundo
Etchebehere et al.(2006) podem estar relacionadas à reativações neotectônicas,
conforme estudos recentes tem apontado na área de estudo, Brito Neves et al.
(2004, 2008); Furrier et al. (2006).
Verifica-se na (Tabela 1) os resultados obtidos na efetuação dos cálculos
RDE(trecho)/RDE(total), no qual foi possível identificar diversos pontos em que
se apresentam trechos anômalos. Ao sul do rio Graú, embora os três canais
analisados estejam num compartimento similar, conforme observado na (Figura 1),
os valores de RDE obtidos foram relativamente semelhantes no Riacho Massapé, e
no Córrego Jangada, caracterizando-os como anômalos até aproximadamente os seus
médios cursos, sendo deste ponto em diante não anômalos, destacando-se o Córrego
Jangada que apresenta um pequeno trecho de anomalia na sua confluência com o Rio
Graú.
Em contrapartida, o riacho Andreza apresenta um valor anômalo de 6,7 conforme a
(Tabela 1), portanto, sendo superior aos mencionados anteriormente. Sua anomalia
perfaz quase que por completo o canal, sendo não anômalo apenas próximo à sua
confluência. O motivo pelo qual os valores apresentam esta diferenciação,
provavelmente, deve-se a uma elevação que localiza-se à margem direita de sua
confluência, forçando-o a curvar-se num ângulo aproximadamente de 60º para
conseguir encontrar-se com seu rio principal.
Este fator exerce grande alteração nos resultados obtidos nos cálculos de RDE
efetuados, bem como, nas peculiaridades que este canal apresenta em razão das
características do terreno no qual está inserido, deste modo, apresentando
resultados distintos dos canais verificados ao seu oeste.
Foram identificadas anomalias de valores maiores ou igual à 6 no riacho Estiva,
no rio Guruji e no riacho do Caboclo, enquanto nos riachos Pau Ferro, Bucatu e
Ipiranga, até o seu médio curso foram valores de maior ou igual a 4 e menor que
6, apresentando anomalia após este ponto somente no Pau Ferro, no entanto, menor
do que em sua cabeceira.
Tais resultados puderam elucidar as condições nas quais os rios estão inseridos,
apresentando seus respectivos valores de RDE, apresentando inclusive, certa
similaridade entre os seus trechos, como por exemplo, todas as cabeceiras
apresentam valores anômalos entre 4 e maior que 6. Além destas anomalias
identificadas nos trechos estudados, pode-se visualizar na (Figura 1) a presença
de inflexões no médio e baixo curso do rio Guruji, na cabeceira do riacho Bucatu
e na porção central do rio Graúm.
A presença de recuos acentuados da cabeceira que poderão vir a capturar a
drenagem no riacho Bucatu e Caboclo, além de se verificar retilineidades no
riacho do Caboclo, no riacho Bucatu e Andreza, tais fatores servem como
evidência da ação neotectônica sucedidas no local, que provocaram alterações na
configuração geomorfológica desta área.
Figura 1
Mapa de localização da área de estudo e resultados
obtidos através da aplicação do índice RDE.
Figura 2 e Tabela 1
Relação declividade extensão (RDE) (El Hamdouni et
al., 2008) e tabela com os valores obtidos através
da aplicação do RDE.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aplicação de índices morfométricos é de grande valia para auxiliar na
compreensão da gênese geomorfológica da área de estudo, portanto, desta maneira,
torna-se possível a obtenção de dados sobre a forma como os cursos d’água se
comportaram à alterações ocorridas no passado, ou inquietações sucedidas
recentemente. Nesta perspectiva, a aplicação do RDE foi de grande relevância para
se evidenciar a atuação de atividades neotectônicas na área de estudo.
A utilização destes valores poderá servir como suporte para futuras
pesquisas, e também, para a realização de atividades de campo na área de estudo,
que poderão se orientar pelos valores cujas anomalias apresentaram-se com
resultados mais expressivos, que desta forma, permitirá um melhor aproveitamento
do trabalho de campo, concentrando-se, portanto, em trechos onde foram
identificadas anomalias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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Brito Neves, B. B. ; Mantovani, M.S. M.; Moraes, C. F. , ; Sigolo, J. B. . As anomalias geológicas e geofísicas localizadas ao norte de Itapororoca (PB), folha Guarabira. Revista Brasileira de Geociências, v.38, p.01-23, 2008.
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Etchebehere, M.L.C.; Saad, A.R.; Fulfaro, V.J.; Perinotto, J.A.J. Aplicação do índice “Relação Declividade-Extensão – RDE” na Bacia do Rio do Peixe (SP) para detecção de deformações neotectônicas. Revista do Instituto de Geociências – USP, v.4, n.2, p.43-56, 2004.
Etchebehere, M. L., Saad, A. R., Fulfaro, V. J.; Perinotto, J. A. J., 2006. Detecção de prováveis deformações neotectônicas no vale do rio do peixe, região ocidental paulista, mediante aplicação de índices RDE (Relação Declividade-Extensão) em seguimentos de drenagem. Revista de Geociências. v.5, n.3, pp. 271-287.
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