Anais: Outros
A DINÂMICA EROSIVA EM FRUTAL / MG: ANÁLISE EMPÍRICA DE VERTENTE
AUTORES
Ferreira, J.G. (UEMG-CAMPUS DE FRUTAL) ; Silva, V.C. (UEMG-CAMPUS DE FRUTAL) ; Pinheiro, L.S. (UEMG-CAMPUS DE FRUTAL)
RESUMO
A intensa ocupação e a forma de uso do solo vêm provocando um processo de
degradação desordenado, tendo como uma das conseqüências negativas, o
desenvolvimento dos processos erosivos. Diante disso, realizou-se uma pesquisa no
município de Frutal – MG, com objetivo da utilização de parcelas experimentais
para a quantificação de perdas de solo em áreas rurais próximas à cidade. Para
quantificação do material erodido utilizou-se da técnica dos Pinos de Erosão,
apresentando resultados satisfatórios.
PALAVRAS CHAVES
processos erosivos; parcelas experimentais; pinos de erosão
ABSTRACT
The intense occupation and the way of use of the soil it’s been causing a process
of unorganized degradation, having as the one of the problems the development of
erosive process. Therefore, has begun a research inside Frutal – MG, having as
objective the use of experimental parcels for the qualification of losses of the
soil in rural areas on the nearby of the city. For the qualification of the eroded
material, was used the technique of Erosion Pines, showing satisfactory results.
KEYWORDS
erosive process; experimental parcels; erosion pines
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas a intensa ocupação e a forma de uso do solo vêm provocando
um processo de degradação desordenado, não havendo, em sua maioria, diagnóstico
das áreas sensíveis a degradação ambiental.
O intenso manejo inadequado do solo está sendo uma das principais causas da
degradação, tanto em áreas urbanas, como também em áreas rurais. Silva (2006-a,
p.14) afirma que “é necessário atentar para os dias atuais, para as implicações
decorrentes dessas intervenções no ambiente natural que, muitas vezes, estão
despreocupadas com as consequências que podem ser negativas para a própria
sociedade”.
A agricultura é uma das atividades que mais degradam o relevo, pois o intenso
desmatamento antes do início dessa atividade é uma das ações mais preocupantes,
uma vez que na maioria das vezes, práticas conservacionistas não são adotadas.
Inúmeras consequências negativas são desenvolvidas através destas ações
antrópicas, como, por exemplo, o desenvolvimento dos processos erosivos.
Os processos erosivos são eficazes no trabalho de esculpimento do relevo,
contudo esta dinâmica pode ser potencializada através de algumas variantes, como
a textura e permeabilidade do solo, regime climático local, topografia, uso e
ocupação do solo. Dessa forma, a intervenção antrópica pode resultar em
diferentes condições para a superfície do solo; um manejo inadequado permite a
aceleração da erosão causando impactos ambientais muitas vezes irreversíveis
(PINHEIRO, 2008).
Assim sendo, os estudos sobre a erosão são de grande importância. De acordo com
Guerra (2007, p.187) “um dos principais objetivos em se dar continuidade às
pesquisas em erosão dos solos é o de resolver os problemas oriundos desse
processo, que, em última análise, geram uma série de impactos ambientais”.
Portanto, o presente trabalho teve por objetivo estudar os processos erosivos em
vertentes, quantificando as perdas de solo no período de 11 meses no município
de Frutal-MG.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa buscou-se no método indutivo de investigação, o qual parte da
aceitação como ponto de partida de um caso particular e para, posteriormente,
formular um enunciado geral: “o empirismo tem por origem a procura de superação
da especulação teórica” (DEMO, 1985, p.102). Utilizou-se também o método
dedutivo, possibilitando a análise dos dados empíricos. Buscou-se também na
visão sistêmica, o apoio teórico-metodológico para analisar os processos
atuantes na dinâmica erosiva e, consequentemente, na perda de solos. Para
quantificar a perda de solos, usou-se a técnica dos Pinos de Erosão, por ser uma
metodologia simples de monitoramento de erosão e de custo relativamente baixo,
adquirindo barras finas de ferro. Esta técnica foi proposta por De Ploey e
Gabriels (1980), citados por Guerra (2005, p.34). A área escolhida para o estudo
foi uma vertente localizada na Estação de Tratamento de Esgoto – ETE da
Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA) no município de Frutal-MG. As
parcelas foram instaladas em 1 m² cada. Em cada parcela, foram distribuídos 25
pinos de metais com 30 cm cada, sendo enterrados completamente no solo, ficando
apenas a parte superior (colorida com tinta amarela) visível. Para calcular as
perdas de solos, utilizou-se a equação proposta por Bertoni e Lombardi Neto
(1999), mostrada pela seguinte expressão: P = h . A . Ds, em que: P = perda de
solo, em t.ha-1 ; h = média de alteração de nível da superfície do solo medida
nos pinos em milímetros; A = área da parcela (m²) e Ds = densidade aparente do
solo (t/m³). Para avaliar a susceptibilidade do solo da área à erosão, realizou-
se a análise da densidade do solo por meio do método do torrão, que consiste em,
primeiramente, pesar o material indeformado úmido e, depois seco, proceder à
nova pesagem e aplicar a fórmula Ds = M / V, sendo Ds a densidade do solo, M a
massa do solo seco e V o volume do solo. As análises foram determinadas no
Laboratório de solos da UEMG-Campus de Frutal.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Por meio da pesquisa realizada, foi possível analisar os fatores geomorfológicos
condicionantes na área de estudo. Com seis parcelas distribuídas na área da
pesquisa, acompanhou-se, durante o período de onze meses, a dinâmica do processo
de erosão no solo, quando este está coberto ou não e também quanto ao tipo de
vegetação.
As parcelas foram instaladas no dia 02 de Abril de 2010 e foram monitoradas
quinzenalmente até 20 de Março de 2011, num período de onze meses, sendo estas
instaladas em 1 m² cada (figura 1).
Nas parcelas um e três, houve maior perda de solo se comparadas com as outras,
pois o solo não estava coberto por vegetação. Com o solo desnudo, o impacto da
gota da chuva faz com que aconteça a desagregação do solo, conhecido também como
efeito splash. A partir desse processo, ocorre subseqüente o processo da erosão
laminar, a qual ocorre através do escoamento superficial difuso da água da
chuva. Quando acontece a erosão laminar, começa surgir a erosão linear, que é
caracterizado por um escoamento concentrado da água, através de linhas de fluxo
bem definidas.
Na área da parcela três, existe um solo encrostado, havendo assim, maior perda
de solo. Sabe-se que superfícies encrostadas são mais compactas, apresentando
maior densidade e, consequentemente, menor infiltração. De acordo com Guerra
(2007, p.176) sobre estas crostas, ele descreve que:
A grande importância do estudo das crostas para o processo erosivo é que, uma
vez formadas, a superfície do solo se torna selada, diminuindo bastante a
infiltração de água, aumentando, consequentemente, o runoff . Isso muda o
sistema erosivo de elevada remoção/baixo transporte, antes de ocorrer o
escoamento superficial, para baixa remoção/elevado transporte, durante a fase de
escoamento superficial.
Na parcela um a densidade foi de 0,70 g/ml enquanto a da parcela três foi de
0,83 g/ml, assim, explicando a maior perda de solo na parcela três.
As parcelas dois e quatro tiveram perda de solo bem mais baixa se comparada com
as parcelas um e três. Foi possível analisar nessas parcelas, que a vegetação
foi o fator que diminuiu todo o processo erosivo.
Nestas áreas foi possível perceber a diferença dos solos, pois houve perda de
solo menor na parcela dois que na parcela quatro. Essa perda se caracterizou
pela diferença da densidade do solo, logo que a densidade da parcela dois era de
0,70 g/ml enquanto da parcela quatro foi de 0,83 g/ml. A cobertura vegetal
protegeu contra o impacto das gotas de chuva (efeito splash) diretamente no
solo, contribuindo para maior infiltração e retenção da água no solo, como
também diminuindo a velocidade do escoamento superficial difuso da água da
chuva, proporcionando assim, a sedimentação.
Nas parcelas cinco e seis não foram constatadas nenhuma perda de solo, pois
estas se diferenciavam das outras parcelas pela sua vegetação, que era do tipo
mata fechada, com árvores de médio porte, tendo bastante matéria orgânica no
solo (figura 2). A matéria orgânica em decomposição protege o solo contra o
carreamento de sedimentos pelos atuantes dos processos erosivos. A densidade do
solo deste local consiste para ambas as parcelas (cinco e seis), o mesmo valor,
que é de 0,81 g/ml. Vale lembrar aqui que a área possui baixa declividade, o que
explica a baixa perda de solos também.
Com a ausência da cobertura vegetal, o processo de escoamento superficial é mais
intenso e com maior velocidade cinética, acarretando consequentemente, a
desagregação do solo. Nas parcelas com vegetação, os dados também se alteraram
nos meses de precipitações, ocorrendo o processo de sedimentação. Muitos pinos
de erosão foram cobertos, comprovando que a vegetação é de suma importância para
o equilíbrio deste processo. As raízes das plantas impedem que o escoamento
aconteça de forma rápida, segurando com maior tempo este escoamento, havendo
maior infiltração de água no solo.
Figura 1
Foto da Instalação dos Pinos de Erosão. FONTE:
FERREIRA, J.G., 2011.
Figura 2
Característica do local das parcelas 5 e 6 - mata
fechada com matéria orgânica. Foto: PINHEIRO, L. S.
2010
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando em consideração os objetivos propostos para a presente pesquisa,
constatou-se que as técnicas empregadas mostraram-se ao final da pesquisa,
resultados satisfatórios para o estudo dos processos erosivos nas vertentes. Os
Pinos de Erosão, sendo uma técnica simples e barata, possibilitou uma análise dos
fatores geomorfológicos atuantes nas vertentes, verificando que o relevo está em
constantes mudanças. Por meio do uso das parcelas experimentais, com diferentes
características, foi possível caracterizar os processos atuantes no relevo. Notou-
se a atuação do processo erosivo em diferentes maneiras, sendo possível analisar
com exatidão a dinâmica erosiva. Portanto, ao final da pesquisa, chegou-se a
conclusão de que a vegetação é um dos fatores mais importantes no equilíbrio do
processo erosivo. Com a retirada da vegetação para as práticas antrópicas sem o
devido manejo adequado do solo, altera-se a dinâmica erosiva, havendo
desequilíbrio no sistema do relevo.
AGRADECIMENTOS
A FAPEMIG, pela oportunidade de desenvolver pesquisa de iniciação científica como
aluna bolsista. A UEMG – Campus de Frutal, pelo apoio nos procedimentos da
pesquisa. A CIA de Saneamento de Minas Gerais – COPASA / FRUTAL que nos cederam a
área para realizarmos a pesquisa, fornecendo também os dados pluviométricos
mensais. Ao Prof. Dr. Alynsson Takehiro Fujita, atualmente professor efetivado da
UEMG – Campus de Frutal, que através do seu conhecimento, foi possível realizarmos
a análise do solo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
BERTONI, J; LOMBARDI NETO, F. Conservação do Solo. –São Paulo : Ícone, 2005 – 5ª edição.
BORGES, P. A Evolução dos Processos Erosivos na Bacia do Ribeirão Alam Grei – SP: uma Contribuição ao Planejamento Ambiental. 2009. 121 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2009.
DEMO, P. Introdução à metodologia da Ciência. Editora Atlas S.A, São Paulo, 1985.
GUERRA, A. J. T. O Início do Processo Erosivo. In: GUERRA, A. J. T.; SILVA, A. S. da; BOTELHO, R. G. M. (Organizadores) Erosão e conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações. 2º ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. Cap. 1, p. 17-50.
_______________. Processos Erosivos nas Encostas. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. da. (Organizadores) Geomorfologia: Uma Atualização de Bases e Conceitos, 7ª Ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. 472p.
PINHEIRO, L. S. Análise da Dinâmica Plúvio-Erosiva na Bacia Hidrográfica do Córrego da Água Branca (SP). 2008. 111 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2008.
SILVA, J. B. da. Avaliação da Perda de Solo por Fluxo Superficial Utilizando Parcelas Experimentais: Estudo de Caso na Bacia Hidrográfica do Córrego do Glória em Uberlândia – MG. 2006. 147 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de Geografia – UFU – Uberlândia, 2006-a.