Anais: Outros
Análise das condições geomorfológicas associadas à ocorrência de veredas no norte de Minas Gerais
AUTORES
Maia-rodrigues, B.H. (IGC/UFMG) ; Augustin, C.H.R.R. (IGC/UFMG)
RESUMO
Ainda há muito a ser investigado com relação aos processos associados a ocorrência
das Veredas na paisagem. O presente trabalho tem por objetivo determinar o grau
de influência da morfologia na dinâmica hidrológica em uma região de clima
semiárido marcada pela presença abundante de Veredas, e associada à Unidade de
Planejamento de Recursos Hídricos SF09 no norte de Minas Gerais.
PALAVRAS CHAVES
Veredas; Dinâmica hidrológica; Geomorfologia
ABSTRACT
Much remains to be investigated in relation to the processes associated with the
occurrence of the Veredas in the landscape. This study aims to determine the
degree of influence of morphology on the hydrological dynamics in a semiarid
climate region marked by the abundant presence of Veredas, and associated with the
Planning Unit of Water Resources SF09 in northern Minas Gerais.
KEYWORDS
Veredas; Hydrological dynamics; Geomorphology
INTRODUÇÃO
Estudos realizados recentemente indicam que o desenvolvimento e a articulação
das redes em bacias na Região Sudeste do Brasil constituem processos complexos
ainda não totalmente entendidos na literatura clássica principalmente em regiões
tropicais, tais como as contempladas pelo presente estudo (HORTON, 1945;
DIETRICH et al., 1987; XAVIER. et al., 2008; SAMPAIO, 2008;AUGUSTIN et al.,2009;
AUGUSTIN, 2009-2011). Os avanços mais recentes nos estudos sobre a dinâmica
geomorfológica das zonas tropicais trouxeram novos olhares sobre a geodinâmica
dessas regiões (TRICART, 1976; THOMAS, 1994; FANIRAN., 1989).
Ainda há muito a ser investigado com relação aos processos associados a
ocorrência das veredas na paisagem. Nesse sentido, a gênese das veredas, bem
como a dinâmica associada a sua evolução têm sido objeto de estudos por
geomorfólogos, que vêm contribuindo para a formulação de diversas hipóteses
associadas aos vários aspectos desses ecossistemas do bioma do Cerrado. Embora
haja divergências sobre aspectos relacionados ao desenvolvimento dessas formas
da paisagem, bem como dos fatores a elas relacionados, há certo consenso em
alguns desses aspectos, entre eles o de que as veredas ocorrem em áreas
deprimidas, tipicamente em relevo de chapada e são formadas por fluxo lento de
água (BARBOSA, 1967; BOAVENTURA, 1981, 1998; VIANA 1987; MELO, 1992, 2008;
AUGUSTINet al., 2009).
O presente trabalho tem por objetivo determinar o grau de influência da
morfologia na dinâmica hidrológica em uma região de clima semiárido marcada pela
presença abundante de veredas, e associada à Unidade de Planejamento de Recursos
Hídricos SF09, denominada “bacias hidrográficas dos rios Pandeiros e Calindó”.
Buscar-se contribuir através desse trabalho de caráter pioneiro, integrando
características do relevo à dinâmica das veredas inseridas nesse contexto, bem
como aos processos associados às transformações das veredas em rios.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho faz uso das informações secundárias obtidas junto a órgãos
governamentais e instituições de pesquisas, tais como Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Instituto de Geografia Aplicada de Minas
Gerais (IGA). Os estudos foram precedidos por uma ampla pesquisa bibliográfica,
na qual foram levantadas informações pertinentes ao tema, bem como metodologias
e estudos de caso de regiões específicas. Foram também, realizadas campanhas de
campo e levantadas bases cartográficas, imagens cartográficas e outras
informações georeferenciadas passíveis de integração em softwares de
Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto. Dentre essas informações destacam-se:
• Cartas Topográficas na escala 1:100.000, digitalizadas pelo Projeto
Geominas;
• Imagens do sensor TM/Landsat5, referentes às órbitas/ponto 220/069,
220/070, 219/069, 219/070, 218/069 e 218/070.
• Modelo Digital de Elevação obtido a partir de imagens Shuttle Radar
TopographyMission (SRTM) com resolução espacial de 30 metros obtidas juntos ao
Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE).
• Softwares ArcGIS 9.2 e SPRING-INPE 4.3.
• Carta Geológica ao Milionésimo – Cartas SD 23 e SE 23. (CPRM, 2002).
• Dados do Mapeamento da Flora Nativa e Reflorestamento IEF-MG/UFLA
(SCOLFORO & CARVALHO, 2006);
• Dados primários relacionados às características das unidades de relevo
identificadas e a veredas e rios da área de estudo obtidos em campanhas de
campo.
A geração dos resultados apresentados foi realizada a partir da integração entre
essas informações em Sistema de Informação Geográfica (SIG). Durante esse
processo, foi possível identificar a dinâmica associada a evolução do relevo na
área de estudo, bem como a proposição da compartimentação geomorfológica
apresentada no presente trabalho.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através dos resultados obtidos até o momento, é possível verificar a existência
de quatro grandes unidades geomorfológicas com comportamentos distintos no que
se refere à dinâmica fluvial e à ocorrência de veredas. Um dos aspectos
relacionados a essa dinâmica é o contexto litológicoéstrutural da área,
apresentado na Figura 1.
É possível verificar a grande influência litológica e estrutural no relevo da
área. As estruturas sedimentares cretáceas horizontalizadas predominantes
representadas pelos arenitos dos Grupos Urucuia e Areado levaram ao
desenvolvimento de extensos planaltos. As porções mais elevadas são formadas
pelas rochas do Urucuia e cerca de 200m em média, abaixo, pelas rochas do Grupo
Areado. A dissecação dessas superfícies ocorre a partir das suas bordas, fazendo
com que restesomenteáreas espacialmente reduzidas formadas sobre o domínio do
Grupo Urucuia, cuja superfície é caracterizada por coberturas detrito-
lateríticas com concreções ferruginosa. É nesses dois domínios geológico-
geomorfológico que se dá a maior presença das veredas na área de estudo. Também
são esses dois domínios morfoestruturais, marcados pela presença de superfícies
relativamente planas, que abrigam a quase totalidade das nascentes dos canais
fluviais formados pelas veredas. O relevo plano permite a formação de sistemas
de drenagem com pouca turbulência, onde ocorre o acúmulo de grande volume de
material orgânico onde se desenvolvem as veredas, como observado por Augustin et
al. (2009).
Condições de baixa energia hidráulica dos fluxos dos canais das veredas
constitui,aparentemente, um dos elementosmais relevantes dessas feições
geomorfológicas, para a ocorrência desses ecossistemas associados à presença do
buriti conforme propõe Augustin et al. (2009) e Augustin (2009-2011).
Esses autores também apontam para o fato de a alta permeabilidade das camadas
superficiais dos solos como condição sinequa non para o desenvolvimento desses
vales rasos de água quase parada. Essas condições associadas à relação entre o
relevo, sedimentos e litologias também são citadas por Boaventura (1981), que
associa a formação de veredas à ocorrência: i) de superfícies de aplainamento;
ii) superposição de camadas geológicas litificadas ou de sedimentos
inconsolidados e; iii) às condições de exorreísmo.
Outra questão importante associada à dinâmica das veredas é apontada por
Augustin et al. (2008), que a partir do uso do GroundPenetrating Radar (GPR) e
da análise de perfis de solo, encontraram evidências de que esses corpos
hídricos não estão interligados ao lençol freático mais profundo, e sim a
aquíferos suspensos (AUGUSTIN et al., 2009).
A análise preliminar dos dados permite identificar três grandes compartimentos
geomorfológicos associados à ocorrência de veredas na área de estudo,
apresentados na Figura 2.
Essas diferentes unidades geomorfológicas encontram-se em diferentes estágios de
evolução,nos quais a dissecação do relevo, marcada pelo aumento do entalhe do
canal fluvial,resulta em intensidades diferentes da desnudação do relevo. Esse
acréscimo de energia ao sistema, altera as condições associadas à ocorrência de
veredas nas áreas de chapadas, como pode ser observado (Fig. 2) no compartimento
1, localizado em uma extensa área dominda por litologias e coberturas detrito-
lateríticas com concreções ferruginosas do Grupo Urucuia, se estendendo até em
bacias como as do rio Peruaçu (Fig. 2).
Esse processo vem ocorrendo também na bacia do rio Pandeiro, no compartimento 2,
onde o processo de erosão resulta no adensamento da rede de drenagem e na
dissecação desse relevo plano associado ao compartimento 1.Embora ainda existam
muitas veredas nessa área, o aumentoda turbulência nos canais fluviais, modifica
a dinâmica de escoamento das veredas, que passam a se descaracterizar e a se
comportar como rios, tal com acontece na bacia do rio Pardo, localizado no
compartimento 3 (Fig. 2).
Mapa geológico
Geologia na área de estudo
Compartimentos Geomorfológicos
Principais compartimentos geomorfológicos associados
à ocorrência de veredas na área de estudo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As características lito-estruturais da área, representadas pela predominância de
rochas sedimentares, têm influência na formação de extensas chapadas, com baixa
declividade, nas quais ocorrem as veredas. No entanto, a dinâmica geomorfológica
tem levado à dissecação do relevo, em especial nas bordas dos planaltos,
aumentando a declividade nessas porções e gerando condições de turbilhonamento da
água dos canais das veredas.
O mapeamento geomorfológico permitiu identificar os diversos domínios que retratam
e representam fases diferenciadas dessa dinâmica. Verifica-se o recuo dos domínios
das rochas dos grupos Urucuia e Areado, rochas essas retiradas por processos de
incisão da drenagem que atuam sobre material já bastante alterado. Trata-se de uma
dinâmica na qual as extensas chapadas associadas à grande ocorrência de veredas
(Compartimento 1), tendem a evoluir para um relevo movimentado presente no
Compartimento 3, passando por um estágio intermediário associado ao compartimento
2.
AGRADECIMENTOS
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo apoio
financeiro para a realização desta pesquisa (CRA APQ 016552-09).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
AUGUSTIN, C.H.R.R.Projeto: Análise do Escoamento Superficial e Subsuperficial:Entendendo a dinâmica de corpos hídricos em áreas de rochas siliciclásticas, financiado pela FAPEMIG (2009-2011).
AUGUSTIN, C. H. R. R., MELO, D. R., ARANHA,P. R.A. Aspectos geomorfológicos das veredas: um ecossistema do bioma do cerrado, Brasil. Revista Brasileira de Geomorfologia, V. 10, n0 1, 2009, p. 103-114.
BARBOSA, G.V. Relevo. In: Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. Diagnóstico da economia mineira: o espaço natural. Belo Horizonte:BDMG, 1967. v2. p.69-108.
BOAVENTURA, R. S.. Contribuição aos estudos sobre a evolução das veredas. In:. Características geomorfológicas. In: Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC). Plano de Desenvolvimento Integrado do Noroeste Mineiro, Vol. 2: Recursos Naturais. Belo Horizonte. CETEC, 1981.
BOAVENTURA, R.S. Preservação das veredas: síntese. In: Encontro Latino Americano Relação Ser Humano-Ambiente, 2., 1998, Belo Horizonte. Anais...Belo Horizonte. FUMEC, 1998, p. 109-118.
DIETRICH, W.E.; RENEAU, S.L.; WILSON, C. J. Overview:"Zero-order basins" and problems of drainage density, sediment transport and hillslope morphology. In: Erosion and Sedimentation in the Pacific Rim, Paris: IAHS Publ. n. 165, 1987, p. 27-37.
FANIRAN., ADETOYE. The Development of Geomorphology in Nigeria, in: Transactions Second International Geomorphology Conference, Frankfurt, West Germany, September, 1989. Japanese Geomorphology Union.
HORTON, R.E. Erosinal development of streams and their drainage basin: Hydrophysical approach to quantitative morphology. Geol. Soc America Bulletin, v.3, n.56, 1945.
MELO, D. R. As veredas nos planaltos do Noroeste Mineiro, caracterizações pedológicas e os aspectos morfológicos e evolutivos. 1992. 218f. Dissertação de Mestrado em Geografia. Departamento de Geografia e Planejamento Regional, Instituto de Geociências, Universidade Estadual de São Paulo, Rio Claro, SP, 1992.
MELO, D. R de. Evolução das Veredas sob Impactos Ambientais nos Geossistemas Planalto do Buritizeiro/MG. 2008, 353f. Tese de doutorado em Geografia, Instituto de Geociências-Universidade Federal de Minas Gerais. 2008.
SAMPAIO, T. V. M. Parâmetros morfométricos para melhoria da acurácia do mapeamento da rede de drenagem – uma proposta baseada na análise da Bacia Hidrográfica do Rio Benevente-ES. Tese de doutorado. Departamento de Geografia, Instituto de Geociências, UFMG. Belo Horizonte, MG,2008 , 147p.
SCOLFORO, J. R. S.; CARVALHO, L. M. T. Mapeamento e inventário da flora nativa e dos Reflorestamentos de Minas Gerais. Lavras: IEF/UFLA, 2006. 288p.
THOMAS M. F Geomorphology in the Tropics: A Study of Weathering and Denuation in Low Latitudes. Wiley; 1 edition, 1994.
TRICART, Jean. A Geomorfologia nos estudos integrados de ordenação do meio natural. Boletim Geográfico, v. 34, n. 251, p. 15-42, 1976.
VIANA, M. B. Programa de preservação de veredas na área de influência da UEH de Miranda. 1987, 25f. Monografia (Curso de Especialização em Análise Ambiental), Departamento de Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo horizonte. 1987.
XAVIER, R. A.; COELHO NETO, A. L. Ocorrência de depressões fechadas em divisores de drenagem no médio vale do rio Paraíba do sul. Geografias, Belo Horizonte, vol. 4, n° 2, 2008, p.61-68.