Anais: Outros
SUSCETIBILIDADE A EROSÃO DO SOLO NA CIDADE DE SALVADOR – BAHIA
AUTORES
Guimarães, T. (UEFS) ; Vale, R.M.C. (UEFS)
RESUMO
O presente trabalho pretende identificar, a partir de parâmetros físicos as áreas
mais suscetíveis ao desencadeamento de feições erosivas na cidade do Salvador –
Bahia. A metodologia para elaboração deste mapa foi balizada pelo método
sistêmico, para o qual a paisagem é um sistema aberto suscetível à trocas de
energia e matéria; tendo por orientação o trabalho de Crepani e Medeiros (2000),
estabelecendo três níveis de vulnerabilidade: baixo,médio e alto.
PALAVRAS CHAVES
Suscetibilidade; Ersão do solo; Cidade do Salvador
ABSTRACT
The present study aims to identify, based on parameters physical the areas most
susceptible to the triggering of erosive features in the city of Salvador - Bahia.
The methodology for the preparation of this map was limited by systemic method,
for which the landscape is susceptible to an open system exchanges energy and
matter, by taking orientation study Crepani and Medeiros (2000), establishing
threelevels of vulnerability: low, medium and high.
KEYWORDS
Sueceptibility; Soil erosion; City of Salvador
INTRODUÇÃO
A partir da década de 1960 com o crescimento das áreas urbanas proporcionado,
sobretudo, pelo êxodo rural, as relações econômicas e sociais passaram a
representar o principal agente das mudanças do espaço geográfico. Este processo
de ocupação das cidades acabou se dando de forma totalmente desordenada e
inadequada, onde sítios impróprios foram, em parte ou totalmente, ocupados,
modificando sua dinâmica natural. A paisagem já mutável em sua origem passou e
passa por um processo intenso de alteração para atender a lógica social e
econômica de produção, degradando o ambiente natural. Estes problemas são
relacionados à retirada da vegetação, ocupação de áreas de risco, além do uso
inadequado do solo, podendo provocar o surgimento de processos erosivos
acelerados. Salvador, capital da Bahia, está localizada à leste do estado, sendo
banhada pelo oceano Atlântico e, a oeste pela Baía de Todos os Santos. É uma
cidade extremamente privilegiada pela natureza, pois tem em seu conjunto o
litoral, remanescentes de mata atlântica, muitos riachos e um relevo que cria
contornos cênicos de beleza indiscutível. Possui grande importância econômica,
política e cultural, graças a sua história, associada aos campos militares,
comerciais, industriais e turísticos que favorecem a mobilidade de pessoas e
capital, configurando um espaço atrativo para investimentos público e privado.
No entanto, a cidade apresenta inúmeros sítios que passam pelo processo de
erosão acelerada devida ao crescimento urbano verificado na segunda metade do
século passado, onde a ocupação desordenada das “avenidas de vale”, topos de
morro e encostas trouxeram mudanças significativas para a dinâmica da água nesse
sítio urbano, se tornando um fenômeno recorrente a cada estação chuvosa. Neste
sentido, o presente trabalho pretende identificar, a partir de parâmetros
fiscos,as áreas mais suscetíveis ao desencadeamento de feições erosivas na
cidade do Salvador – Bahia.
MATERIAL E MÉTODOS
Para a elaboração deste trabalho foram usados o Arc Gis 9.3, o banco de dados do
SRH,as curvas de nivél de 5m da cidade(CONDER) e o arquivo forma de vertente
(INPE). A metodologia para elaboração deste mapa foi balizada pelo método
sistêmico, para o qual a paisagem é um sistema aberto suscetível à trocas de
energia e matéria, ou seja, uma relação de constante interdependência. Nesse
sentido, o mapa apresenta 5 variáveis: geologia, solo, uso/ocupação do solo,
declividade e formas de vertente, que foram analisadas posteriormente com o
cruzamento dos outros dados e informações (precipitações e processo de
urbanização). É válido ressaltar que os mapas retirados do banco de dados do SRH
apresentam escala de detalhe muito pequena (1: 1000000), havendo, nesse sentido,
limitações na elaboração do mapa de erosão, já que no mapa de declividade a
escala é muito maior (1: 10000). Essa incompatibilidade de escala está
relacionada a falta de dados mais acurados na cidade do Salvador.
Essas variáveis foram analisadas a partir da valoração atribuída a cada uma,
tendo por parâmetro o grau de suscetibilidade que as mesmas apresentam frente
aos processos erosivos; tendo por orientação o trabalho de Crepani e Medeiros
(2000) a partir do conceito de Ecodinâmica (Tricart, 1977). As características
analisadas a cada variável estão apresentadas no tabela 01, sendo os valores
imputados corresponderam a:
1 – suscetibilidade baixa
2 – suscetibilidade média
3 – suscetibilidade alta
Tabela 01: Características das variáveis analisadas
Variável Característica
Geologia (G) Grau de coesão dos minerais
Solo (S) Profundidade, maturidade e textura
Uso e ocupação do solo (U) Densidade de vegetação/Tecido urbano
Declividade (D) Grau de inclinação
Forma de vertente (FV) Tipo de vertente
O mapa de suscetibilidade a erosão foi elaborado a partir de álgebra de mapas
simples, onde as cinco variáveis foram somadas de divididas por cinco, obtendo
assim o grau de vulnerabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Salvador está situada sobre um substrato rochoso que possibilita elevados níveis
de suscetibilidade a erosão do solo quando submetida aos processos intempéricos
e erosivos, facilitando assim, o colapso do regolito, principalmente nas áreas
de encostas acentuadas. Considerando os litotipos deste substrato e o grau de
coesão entre os seus minerais constituintes, foi atribuido aos ortogranulitos
valor de suscetibilidade 1, pois, em relação aos demais litotipos, possuem maior
estabilidade. Os arenitos, folhelhos e demais, obtiveram valor intermediário – 2
– e as areias e sedimentos eólicos, 3 por serem mais friáveis e consequentemente
mais vulneráveis ao processo erosivo.
Os solos desenvolvidos nestes litotipos apresentam suscetibilidades
contrastantes: os LATOSSOLOS, que compõem a maior parte da área em estudo
possuem textura argilosa, com boa permeabilidade e porosidade, além de bastante
espessos e bem desenvolvidos o que dá determinado equilíbrio a sua estrutura
física; ademais em sua base ocorrem ortogranulitos, que aumentam sua
estabilidade por serem mais coesos. Os ARGISSOLOS possuem maior teor de argila,
o que reduz sua estabilidade, tornando-os mais pesados e fluídos, quando
saturados, o que segundo Lepsch (2002, p.84) possuem suscetibilidade moderada à
erosão. Os NEOSSOLOS por se constituírem basicamente de areia quartzosa são
extremamente vulneráveis ao processo de erosão, sendo facilmente desagregados e
transportados.
No que concerne ao modelado da cidade do Salvador encontra-se relevo bastante
movimentado com declividades acentuadas o que favorecem o processo erosivo,
principalmente nos períodos de chuvas intensas, quando a erosão é considerada
como escorregamentos de terra (trimestre de abril, maio e junho), tornando-as
altamente vulneráveis a esse processo; 45,4% das encostas estão acima dos 25º de
declividade, o que motivou considerá-lo como referência para suscetibilidade 3.
As formas de vertente estão intimamente relacionadas ao processo erosivo,
podendo acentuá-lo quando se apresentarem convergentes e côncavas, uma vez que
estas têm a capacidade de convergir o fluxo de água e criar canais
hidrográficos, temporários e/ou permanentes, facilitando a erosão das encostas
nos períodos de chuva. Salvador dispõe de grande superfície com formas de
vertente côncavo-convergentes que, diante do exposto, foram incluídas na
suscetibilidade 3.
O processo de ocupação da cidade tende a aumentar a suscetibilidade do ambiente
aos processos erosivos, afinal, tal processo de antropização, sem os devidos
critérios de uso e ocupação do solo favoreceu, mormente, a instabilização das
encostas, com cortes de talude, impermeabilização do solo e retirada da
vegetação. Salvador possui 695. 670 habitantes, ocupando encostas, cerca de 26%
da população total (CONDER, 2010).
A partir das características expostas, observa-se que a cidade do Salvador
apresenta níveis de suscetibilidade à erosão do solo entre médio e alto.
Aproximadamente 78,2% de sua área estão incluídas nessas classes, sendo
observadas, principalmente, à noroeste, na região central, e à nordeste. Estas
são áreas que concentram as mais altas declividades, os solos mais argilosos e
arenosos, e as formas convergentes e côncavas do terreno.
As áreas mais suscetíveis a este processo concentram-se nos bairros de São
Caetano, Cajazeiras, Pau da Lima, a região do Subúrbio, Engenho Velho de Brotas
e Mussurunga. Nesse sentido, pode-se verificar que o sítio de Salvador apresenta
em sua estrutura física uma suscetibilidade natural ao processo erosivo,
potencializado pela ocupação inadequada, verificada nas encostas com
declividades acentuadas, e que se intensifica nos meses de abril a junho, quando
os índices pluviométricos chegam a ultrapassar os 800 mm no período, deixando o
solo saturado e pesado, aumentando sua fluidez, e o risco de escorregar encosta
abaixo; afetando intensamente a população que se encontra nesses espaços.
Mapa 01: Suscetibilidade a erosão
O mapa apresenta os níveis de suscetibilidade a
erosão nas áreas da cidade do salvador
Quadro 01: Síntese das classes de suscetibilidade
O quadro apresenta os valores de suscetibilidade
atribuída a cada classe utilizada para elaboração do
mapa
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cidade do Salvador apresenta em seu sítio grandes áreas com alta suscetibilidade
a erosão do solo, o equivalente a 28,9 %, ou seja, 93,8 km², resultado de uma
estrutura de base areno-argilosa, relevo movimentado, com declividades acentuadas,
favorecendo o processo de morfogênese, além da disposição da ocupação do solo,
através da impermeabilização dos fundos de vale, e o adensamento nas encostas,
agravando as consequências no trimestre chuvoso, abril a junho, saturando o solo e
deixando mais fluído.
A falta de dados mais concretos referente a estrutura física do terreno de
Salvador, em escalas mais detalhadas, resultou em um mapa generalizado, mas que
não extingue sua importância, verificando a necessidade de validação desse
resultado, além de demonstrar que novos trabalhos em escalas maiores se fazem
necessários para o sítio da respectiva cidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO URBANO DO ESTADO DA BAHIA. http://www.conder.ba.gov.br/webnews/news/noticia_externa. Acesso em 10 de julho de 2010.
CREPANI, Edison & MEDEIROS, José Simeão de. Sensoriamento remoto e geoprocessamento aplicados ao estudo da vulnerabilidade aos movimentos de massa no município de São Sebastião-SP. INPE, 2000.
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS. http://www.obt.inpe.br/pgsere/Sestini-M-F-1999/cap2.pdf. Acesso em 05 de setembro de 2010.
LEPSCH, Igo F. Formação e Conservação dos Solos. São Paulo: Oficina de Textos, 2002.
SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEORREFERENCIADAS – SIG – BAHIA. Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos – SIRH. Salvador: Superintendência de Recursos Hídricos, 2003. 2 CD – Rom.