Anais: Outros
A RELAÇÃO ENTRE GEOMORFOLOGIA E O USO DA TERRA NA BACIA DO RIO SAPUCAIA – JAPARATUBA/PIRAMBU – SE
AUTORES
Valenzuela, G. (UFS) ; Alves, N. (UFS) ; Dias, M. (UFS) ; Pinheiro, L. (UFS) ; Santana, F. (UFS)
RESUMO
A bacia do Rio Sapucaia tem como unidades geomorfológicas os Tabuleiros Costeiros
e a Planície Costeira. Na paisagem da área é marcante a utilização dessas unidades
para distintas atividades econômicas. Este estudo baseou-se nos Geossistemas
(BERTRAND, 2004) e objetivou mostrar as relações entre a geomorfologia e o uso das
terras. A análise evidenciou a descaracterização das feições geomorfológicas,
estando sujeitas a processos erosivos irreversíveis.
PALAVRAS CHAVES
Geomorfologia; Uso da Terra; Bacia do Rio Sapucaia
ABSTRACT
The drainage-basin of the Sapucaia River has the geomorphological units the
Tabuleiros Costeiros and Planície Costeira. In the landscape of the area is marked
to use these units to different economic activities. This study was based on
Geosystems (BERTRAND, 2004) and aimed to show the relationships between the
geomorphology and land use. This analysis revealed the discharacterization of
geomorphological features and are subject to erosion processes irreversible.
KEYWORDS
Geomorphology; land use; river basin Sapucaia
INTRODUÇÃO
A Geomorfologia é a ciência que estuda o modelado terrestre, associando-o aos
processos morfogenéticos. As características das feições são definidas a partir
dinâmica que se estabelece na interface geologia e agentes da dinâmica externa,
principalmente, os do sistema climático. Esta dinâmica, através do tempo
geológico, resulta num produto – a paisagem. A compreensão dos processos
atuantes na superfície – pretéritos e atuais – é imprescindível para entender a
evolução da paisagem natural.
A utilização do modelado terrestre para o desenvolvimento das atividades
econômicas pelos grupos humanos pode causar mudanças significativas, tanto na
paisagem como na vida das pessoas. Os processos naturais atuais, quase sempre
têm sua dinâmica alterada em razão das intervenções antrópicas, decorrentes das
formas de uso da terra. Assim, são produzidas novas feições ou alteradas as
feições relíquias, determinando um novo sistema na evolução paisagem.
Neste trabalho, objetiva-se analisar a relação da geomorfologia e o uso das
terras na área da bacia do rio Sapucaia. A ênfase foi dada às alterações
ocorridas nos elementos da paisagem, em razão da relação socioeconômica que a
comunidade local estabelece com os recursos naturais da área, tendo em vista que
a paisagem é constantemente transformada pela ação humana em virtude do
desenvolvimento das atividades econômicas.
O presente estudo é baseado nos resultados de um projeto iniciação científica
desenvolvido na Bacia do Rio Sapucaia, inserida nos municípios de Japaratuba e
Pirambu, no estado de Sergipe.
MATERIAL E MÉTODOS
A presente análise apóia-se na abordagem sistêmica, que permite compreender a
paisagem na sua integralidade, como resultado da dinâmica natural e social. Os
pressupostos Geossistêmicos de BERTRAND (2004) serviram de base neste estudo,
pois o autor considera os condicionantes ambientais – representados pelo
potencial ecológico (clima, hidrologia e geomorfologia) e pela exploração
biológica (vegetação, solo e fauna) – em associação com o fator antrópico. Desta
forma, todas as mudanças naturais ou antrópicas, acarretarão num ajustamento dos
subsistemas representados pelos elementos condicionadores da paisagem.
Para subsidiar este estudo, foi utilizada ampla revisão bibliográfica, para
caracterização da área e, levantamento de documentos cartográficos: Mapas
topográfico, escala 1:100.000, folha – Japaratuba (SC.24-Z-B-V), da
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE,1974); Mapas temáticos
(geologia, geomorfologia, vegetação, recursos hídricos,entre outros), escala
1:1.000.000 e texto do Projeto RADAMBRASIL (BRASIL, 1983), além do Mapa de
Geologia e Recursos Hídricos do Estado de Sergipe, escala de 1:250.000 (SANTOS
et al., 1998); Mapas de solo, escala 1:100.000 folha Japaratuba e o Boletim de
Pesquisa nº 4, do Projeto de Levantamento de Reconhecimento de Média Intensidade
dos Solos da Região dos Tabuleiros Costeiros e da Baixada Litorânea do Estado de
Sergipe (EMBRAPA, 1999); Mapa de Uso da Terra dos municípios costeiros do
Litoral Norte de Sergipe, escala 1:100.000 (ALVES, 2010).
A pesquisa também contou com trabalhos de campo, os quais permitiram
complementar e corrigir as informações secundárias obtidas anteriormente. Os
percursos foram auxiliados por GPS (Global Positioning System), permitindo a
marcação de pontos para correção e elaboração de mapas. Para isto, foi realizada
fotointerpretação de aerofotos, escala 1:25.000. O mapeamento do uso das terras
foi feito diretamente na tela do computador a partir de ortofotocartas, escala
1.10.000.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A área da Bacia do Rio Sapucaia está inserida nos municípios de Japaratuba e
Pirambu, no Estado de Sergipe, correspondendo a 68,7 km².
O clima da região é subúmido, caracterizado por apresentar estação chuvosa no
outono-inverno (maio a julho) e déficit hídrico na primavera-verão (novembro a
março). As temperaturas médias durante o ano variam entre 23ºC e 28ºC. A
disponibilidade hídrica interfere nas atividades econômicas da área
principalmente na agricultura e aqüicultura.
A geologia da área está representada pelo Grupo Barreiras e outros litotipos.
Esta Formação Continental está associada à unidade geomorfológica Tabuleiros
Costeiros, estando constituída por sedimentos terrígenos, pouco ou não
consolidados, com cores variando entre o amarelo-ocre e o vermelho-acastanhado.
Na área, são encontradas lavras nas área de topo e vertente dos Tabuleiros, de
onde são extraídos os sedimentos do Barreiras, principalmente areia e cascalho,
destinados à construção civil. Esta atividade degrada intensamente a paisagem,
modificando a dinâmica natural dos processos e gerando formas erosivas.
Localmente, os topos dos Tabuleiros Costeiros são planos e capeados por
espraiamentos arenosos e/ou depósitos eólicos continentais identificados como
dunas (SANTOS et al. 1998). As formações superficiais possuem grande
permeabilidade e porosidade, porém pouca fertilidade, favorecendo a cultura do
coco-da-baía (Cocos nucífera). Nesta área são encontradas conjuntos florísticos
complexos que associam espécies de Cerrado e Restinga, além de cactáceas,
principalmente em razão das características edáficas.
Nas vertentes dos Tabuleiros Costeiros são encontradas as formações superficiais
de textura mais argilosa, cujo uso corresponde às pastagens para o
desenvolvimento da pecuária. De modo geral, estas feições são alongadas,
predominantemente convexas e a concavidade no terço inferior suaviza o contato
com a planície de inundação. A vegetação típica desta subunidade é a Floresta
Estacional Semidecidual, que se encontra em estágio avançado de antropização, em
razão do uso das terras para a agricultura e pecuária, favorecendo a ação do
escoamento superficial.
A Planície Costeira caracteriza-se por sedimentos arenosos holocênicos, que
constituem os terraços marinhos e os campos de dunas do tipo barcana (SANTOS, et
al. 1998). As areias possuem cores que variam do ocre-claro ao branco. A
vegetação típica desta unidade é a Restinga, que tem sido substituída pela
cocoicultura nos cordões litorâneos. Esta formação vegetal cobre topos das dunas
contribuindo para reduzir os efeitos da deflação eólica. O lençol de areia no
contato com a faixa praial apresenta pequenos montículos parcialmente vegetados.
A principal atividade econômica, a agricultura, destina-se basicamente aos
sustentos das famílias e o excedente é comercializado nas feiras livres. O
cultivo comercial que se destaca é a cocoicultura, voltado para o abastecimento
do mercado regional e nacional favorecendo o Produto Interno Bruto dos
municípios da bacia.
A ocorrência de Mangabeiras (Harconiaspeciosa) tem um significado importante
para a população local, pois propicia renda complementar para as mulheres da
Associação das Catadoras de Mangaba – projeto que incentiva à produção e
comercialização de derivados do fruto: bombons, licor, geléias, entre outros.
A pecuária destina-se ao corte e a comercialização ocorre nas feiras livres e/ou
pequenos estabelecimentos. Como as áreas de pastagem plantada ocupam setores das
vertentes, constata-se a presença de formas erosivas – os terracetes, devido a
compactação o solo em razão do pisoteio do gado.
Por sua vez, a aquicultura se desenvolve nas áreas da planície de inundação, com
o barramento de pequenos riachos, para a instalação de viveiros de piscicultura.
Este tipo de intervenção altera a hidrodinâmica da rede de drenagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da análise realizada observou-se que a paisagem da área reúne feições
morfológicas herdadas – topos de Tabuleiros Costeiros – que estão sujeitas às
alterações decorrentes do atual sistema morfoclimático e, feições atuais –
voçorocas, ravinas, sulcos – resultantes da ação de processos morfogenéticos
intensificados pelos tipos de uso das terras.
O desenvolvimento desse estudo na Bacia do Rio Sapucaia permitiu constatar que as
terras são ocupadas por atividades econômicas que descaracterizam a paisagem,
gerando feições morfológicas que revelam o forte grau de antropização. Desta
forma, conclui-se que a dinâmica do sistema ambiental atual na área está
fortemente relacionada com o aproveitamento das terras e com o desenvolvimento da
morfogênese, tornando a área suscetível a impactos ambientais.
A identificação e compreensão da dinâmica dos processos morfogenéticos podem
contribuir para orientar o uso dos recursos naturais e, principalmente, o uso das
terras, reduzindo os impactos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
ALVES, N.M.S. Análise geoambiental e socioeconômica dos municípios costeiros do litoral norte do estado de Sergipe – Diagnóstico como subsídio ao ordenamento e gestão do território. 2010, 382f. ; II. Tese de Doutorado ( Doutorado em Geografia) – NPGEO, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2010.
BERTRAND, G. Paisagem e geografia física global: esboço metodológico. In: RA’E GA, Curitiba, UFPR, nº 8, p. 141-152, 2004.
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LOPES, O. F.; OLIVEIRA NETO, M. B. de. Levantamento de reconhecimento da mádia intensidade dos solos da região dos tabuleiros costeiros e da baixada litorânea do Estado de Sergipe. Japaratuba: SC.24-Z-B-V. Aracaju: EMBRAPA Tabuleiros Costeiros, 1999. 1 mapa color. Escala 1:100.000.
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RODRIGUEZ, J. M. M.; SILVA, E. V.; CAVALCANTI, A. P. B. Geoecologia das Paisagens: Uma visão geossistêmica de análise ambiental. 2ª Ed. Fortaleza: Edições UFC, 2007. 222p.