Anais: Outros
O uso de geotecnologias para avaliação da expansão urbana na cidade de Rio Claro (SP-Brasil)
AUTORES
Moraes, I. (UNESP-RIO CLARO (SP)) ; Albertino, H. (UNESP-RIO CLARO (SP)) ; Conceição, F. (UNESP-RIO CLARO (SP)) ; Moruzzi, R. (UNESP-RIO CLARO (SP))
RESUMO
O presente estudo objetivou-se em avaliar a evolução da ocupação urbana na cidade
de Rio Claro (SP-Brasil). A partir de fotografias aéreas onde está inserida a
bacia hidrográfica do Córrego da Servidão (na abrangência da área urbana) foram
realizados o mapeamentos do uso da terra para os cenários de 1958 e 1972. Por meio
do uso de geotecnologias e produtos de sensoriamento remoto visou-se contribuir
com metodologias para estudos referentes a expansão urbana.
PALAVRAS CHAVES
áreas urbanas; SIG; uso da terra
ABSTRACT
The present study aimed to evaluate the evolution of urban occupation in the city
of Rio Claro (SP-Brazil). From aerial photographs where it is inserted the
watershed of the stream Servidão (in the scope of the urban area) were performed
the mapping of land use for the sceneries of 1958 and 1972. Through the use of GIS
and remote sensing products, this work aimed to contribute with methodologies for
studies in urban areas.
KEYWORDS
urban areas; GIS; land use
INTRODUÇÃO
As técnicas de Sensoriamento Remoto (SR) e os Sistemas de Informações
Geográficas (SIG) constituem importantes ferramentas para a aquisição,
armazenamento, manipulação, análise e integração de dados de interesse temático,
e ferramentas para a análise da ocupação da terra e da evolução urbana. Nos
estudos acerca do uso e ocupação da terra e suas alterações, o IGBP -
International Geosphere-Biosphere Programme (1994) trata os impactos das
atividades humanas no ambiente por meio da compreensão das alterações espaciais
que ocorrem na superfície terrestre. Assim, os estudos sobre a temática uso da
terra têm como definição de seus objetivos: compreender a dinâmica humana de
alteração do uso da terra e seus impactos, e desenvolver modelos para avaliar o
uso e ocupação da terra e suas alterações como subsídio a projetos de arranjos
de ocupação territorial (IGBP, 1994). Fundamentados no suporte das
geotecnologias, Valério Filho et al. (2003) destacam o monitoramento do uso e
ocupação da terra:
“ser de grande valia para estudos relacionados aos processos de crescimento
urbano e suas conseqüências na impermeabilização dos terrenos, proporcionando
assim, a espacialização dos perímetros urbanos de maior criticidade e desta
forma oferecem indicações importantes para as ações mitigadoras. (...) o uso das
geotecnologias se oferecem como ferramentas eficientes para armazenamento,
tratamento, cruzamentos e espacialização de informações da superfície terrestre,
as quais proporcionam subsídios relevantes para o planejamento urbano” (VALÉRIO
FILHO, et al. 2003, p.1983)
Desta forma, o presente trabalho objetivou-se na avaliação da evolução
urbana da cidade de Rio Claro entre os cenários de 1958 e 1972, tendo o uso de
geotecnologias e produtos de sensoriamento remoto como suporte metodológico a
estudos de planejamento urbano.
MATERIAL E MÉTODOS
Os mapas temáticos de uso e ocupação foram gerados a partir da análise
interpretativa de aerofotografias. A separação dos objetos referentes às
coberturas vegetais e demais feições intra-urbanas exigiram o processamento de
imagens digitais, que foi dividido na etapa de pré-processamento e etapa de
processamento propriamente dito. Na etapa de pré-processamento, inserida nos
estudos realizados por Rossetti (2007), as imagens aerofotogramétricas
analógicas dos cenários de 1958 e 1972, em escala de 1:25.000 foram transpostas
para o meio digital e submetidas a procedimentos de georreferenciamento das
imagens e de redução das distorções radiométricas e geométricas. As classes de
uso e ocupação da terra foram definidas em arbórea, gramínea, gramínea com solo
exposto, solo exposto, arruamento com asfalto, arruamento com solo exposto e
edificação.
Para a geração dos mapas temáticos de uso da terra foram realizados
procedimentos de segmentação e classificação. A segmentação consiste em um
processo em que a imagem é dividida em regiões que correspondem à área de
interesse, sendo as regiões um conjunto de pixels contíguos e que apresentam
uniformidade. A segmentação das aerofotografias foi realizada a partir do
software SPRING 4.3.3. Os parâmetros de similaridade e de área (em pixels) para
as áreas rurais foram, respectivamente: 25-30 para o cenário de 1958; 12-28,
para o cenário de 1972. Para todos os cenários, as áreas urbanas foram
segmentadas com parâmetros 12-15, onde se obteve regiões que contemplaram as
classes de interesse. Para as áreas rurais optou-se pela classificação por
regiões de forma não- supervisionada, através do classificador Isoseg. Este
classificador é um algoritmo de agrupamento de dados não-supervisionado que se
utiliza dos atributos estatísticos das regiões. Para as áreas urbanas, devido às
feições de maior detalhe e a maior variação do nível de cinza, optou-se pela
classificação manual.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O mapeamento temático resultou em mapas de uso e ocupação da terra (figuras 1 e
2), possibilitando ainda quantificar a área ocupada para cada classe de uso da
terra.
Em 1958 a área ocupada da bacia era de 5,843 Km2, em 1972 era de 7,133 Km2, de
uma área total de 13,650 Km2. Por meio da análise da distribuição espacial é
notória a concentração populacional e, por conseguinte, dos elementos urbanos
principalmente às margens do Córrego da Servidão. Os primeiros impactos da
ocupação urbana são identificados pela diminuição drástica da cobertura vegetal
arbórea, em 58, que foi substituída por edificações e gramíneas. A cobertura
vegetal gramínea manteve-se de 58 a 72.
As imagens aerofotogramétricas dos períodos analisados (1958 e 1972) permitiram
identificar a supressão dos corpos d’água pela expansão das áreas ocupadas para
fins residenciais. A análise de produtos de sensoriamento remoto mostraram-se
bastante relevantes na medida em que se caracterizaram elementos de cobertura
vegetal e intra-urbanos sob a perspectiva multitemporal da evolução urbana. De
1958 a 1972, verificou-se uma expansão urbana com crescimento de aproximadamente
20% em área. Neste período, a cobertura vegetal arbórea teve sua área retraída
em 25%, ocupação esta que cedeu espaço para o aumento das áreas destinadas à
edificação, em torno de 12%, ao arruamento de solo exposto e à gramínea, de
aproximadamente 4% de área cada, e demais classes de uso da terra, como
gramíneas com solo exposto e as vias asfaltadas. As áreas impermeabilizadas por
residências e ruas de asfalto passaram de 13,5% para 27,5%, ou seja, mais que
dobrou. Destaca-se a diminuição da densidade da vegetação, que se torna mais
esparsa e rasteira, até a exposição total da superfície. O setor da nascente do
Córrego da Servidão apresentou em 1958 áreas ocupadas por vegetação arbórea na
mesma proporção das áreas ocupadas por edificações e asfaltamento nos dias
atuais, verificados pela fotografia aérea de 2006 (escala de 1:30.000).
Desta forma, confirma-se o processo de expansão urbana, a começar pela retirada
da cobertura vegetal e o início do parcelamento do solo até o estabelecimento de
residências e da malha viária. Neste processo há a perda de proteção da
cobertura superficial, diminuição da capacidade de infiltração e aumento do
volume e da velocidade dos fluxos superficiais. A expansão urbana desvinculada
da dinâmica ambiental provoca a supressão dos corpos d’água, assoreamento de
nascentes, redução da quantidade e qualidade dos recursos hídricos. Tais fatores
se confirmam na medida em que constata-se problemáticas como inundações,
poluição de mananciais, doenças por veiculação hídrica, ausência de estruturas
urbanas adequadas e prejuízos diversos às populações em diversos centros urbanos
brasileiros.
Uso da terra em 1958
Uso da terra em 1972
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mapeamento do uso da terra mostrou-se como uma metodologia adequada no processo
de aquisição de informações referentes à cobertura de superfície. Da mesma
maneira, a análise multitemporal por meio do mapeamento de diferentes cenários é
importante para estudos que envolvem a evolução da expansão urbana e os impactos
da urbanização no contexto ambiental de bacias hidrográficas. Além disso, o
software Spring mostrou-se adequado tanto para o pré-processamento quanto para o
processo de classificação das imagens. A metodologia empregada mostra-se como
ferramenta significativa em estudos que visem a gestão territorial, e considera-se
também a necessidade de mapeamentos de uso da terra recentes como forma de
abranger maior escala temporal no subsídio a estudos de planejamento urbano. O
mapeamento do uso e ocupação da terra sob a perspectiva da evolução da ocupação
urbana foi realizada no intuito de somar reflexões para uma melhor abordagem no
planejamento da ocupação urbana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
IGBP -International Geosphere-Biosphere Programme (1994) (Disponível em: <http://www.igbp.net/page.php?pid=250> Acesso em:22 ago.2011).
ROSSETTI, L.A.F.G. Geotecnologias aplicadas à caracterização e mapeamento das alterações da cobertura vegetal intra-urbana e da expansão urbana da cidade de Rio Claro (SP). 2007. 115 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exata, UNESP, Rio Claro-SP, 2007.
TROPPMAIR, H. Rio Claro: ontem e hoje. Secretaria Municipal de Educação (2008). p.105.
VALÉRIO FILHO, M.; ALVES, M.; GARCIA, R.; FANTIN, M. Caracterização de bacias hidrográficas impermeabilizadas pelo processo de urbanização com o suporte de geotecnologias. In: XI SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO. Anais... - SBSR, 04, 2003, Belo Horizonte. São José dos Campos: INPE, 2003. Artigos, p. 1977–1983. CD-ROM, On-Line. ISBN 85- 17-00017-X. Disponível em: <http://www.ltid.inpe.br/sbsr2005/biblioteca/>. Acesso em: 23 ago. 2011.