Anais: Outros
PARÂMETROS INDICADORES DE IMPACTO EROSIVO NA TRILHA DO QUILOMBO NO PARQUE ESTADUAL DA PEDRA BRANCA – RJ
AUTORES
Pereira Triane, B. (UFRJ)
RESUMO
O objetivo do estudo é identificar e analisar alguns parâmetros indicadores de
processo erosivo na trilha do Quilombo. Cinco pontos foram analisados, onde se
observou a largura da trilha, declividade, área da seção transversal e resistência
mecânica do solo. Os pontos mais impactados na trilha foram 1-A e 3, pois
apresentaram uma maior área transversal (perda de solo) e maior compactação. A
elevada declividade, a textura do solo e a compactação favorecem o escoamento
superficial pela trilha.
PALAVRAS CHAVES
trilha; erosão; solo
ABSTRACT
The purpose of this study is to identify and analyze some parameters indicative of
erosion on the trail of Quilombo. The analysis was made on five points, which were
observed the width of the track, slope, cross-sectional surface area and soil
mechanical strength. It was found that the most impacted were on track 1-A and 3,
because they showed a greater cross-sectional area and higher compaction. The
steep slopes combined with the soil texture and compaction provides runoff along
the trail
KEYWORDS
trail; erosion; soil
INTRODUÇÃO
As escalas onde ocorre a degradação do meio ambiente variam numa complexidade
inerente à própria natureza, se manifestando na escala global (aumento do efeito
estufa) até o desencadeamento de processos erosivos em trilhas de uma unidade de
conservação, numa escala local.
Andrade (2005) ressalta que as trilhas são meios de acessos às unidades de
conservação e afirma que, algumas delas utilizadas atualmente, foram
tradicionalmente abertas e utilizados por determinadas comunidades para se
locomoverem.
Dentre as alterações mais perceptíveis na trilha, encontram-se o seu
alargamento, processos erosivos e a composição da flora diferenciada
(COSTA,2006A, YODA e WATANABE, 2000; NEPAL e AMOR-NEPAL, 2004; ANDRADE e ROCHA,
1990; COLE, 1991; JEWELL e HAMMITT, 2000; MARION, 2003; FEOLA, NUCCI e SANTOS,
2008). Desta forma, as alterações e a intensidade dos efeitos do uso da trilha
dependem do tipo de atividade realizada, do comportamento dos visitantes,
resistência local aos impactos, entre outros.
Alguns autores, como Salvati (2001), afirmam que a fragilidade dos ecossistemas
naturais, muitas vezes, não comporta os usos estabelecidos. Por outro lado, a
infra-estrutura necessária, se não atendidas às normas pré-estabelecidas, pode
comprometer de maneira acentuada o meio ambiente, com alterações na paisagem, na
topografia, no sistema hídrico e na conservação dos recursos naturais
florísticos e faunísticos
Sendo assim, o presente trabalho tem por objetivo identificar e analisar alguns
parâmetros indicadores de processo erosivo na trilha do Quilombo (Parque
Estadual da Pedra Branca – PEPB) causado pela passagem de equestres, com base na
adaptação dos trabalhos desenvolvidos por Bayfield & McGowann (1986), Bayfield
(1988) e Cole (1991).
MATERIAL E MÉTODOS
A trilha do Quilombo está inserida na vertente leste do PEPB, próximo à sede do
Parque que corresponde a toda área elevada acima da cota 100 m do maciço do
mesmo nome que situa-se na zona oeste do município do Rio de Janeiro abrangendo
cerca de 16% da área do município.
A trilha possui 3.100 metros de extensão, no entanto, o presente
trabalho, analisou somente até a extensão de 2.123 metros da trilha que
corresponde ao ultimo sítio.
A área de estudo possui um patrimônio histórico-cultural presente pelas
ruínas e vestígios dos quilombos, em contraste com áreas de florestas, e pontos
com cultivos agrícolas (principalmente banana), além de áreas com capim/campo
(fruto de pastagens e queimadas) e macega, entremeados à floresta.
Como parcelas de estudo, cinco pontos foram selecionados ao longo da
extensão da trilha (corredor – leito e bordas, LECHNER, 2004), onde procurou-se
abranger a área de influência do pisoteio dos animais utilizados pelos sitiantes
(burros ou mulas). Estes foram selecionados a partir da observação dos pontos
visivelmente mais impactados da trilha.
Desta forma, os pontos selecionados foram: Ponto 1 (A e B a 232 metros
do início da trilha); Ponto 2 (a 987 metros); Ponto 3 (a 1.125 metros) e Ponto 4
(a 2.123 metros).
A metodologia utilizada neste trabalho analisou parâmetros e indicadores
do meio físico, tais como: largura da trilha (distancia entre as duas bordas),
declividade paralela e perpendicular (através do Clinômetro de chão), área da
seção transversal (grau de erosão laminar do leito trilha, medida através da
largura e profundidade da mesma) e resistência mecânica da camada superficial do
solo onde foi medida a compactação através do “Penetrômetro de Lang” (MAGRO,
1999).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A trilha do Quilombo possui oito sítios no seu entorno que variam de três a mais
de trinta anos de posse, sendo que três sitiantes são proprietários a mais de 20
anos. A propriedade mais antiga possui mais de 100 anos. Na figura 1 é possível
observar o mapa de localização do Maciço da Pedra Branca onde a trilha está
inserida
A trilha é utilizada para escoar a produção e a passagem por ela é feita
uma a duas vezes por dia pelo sitiante que reside no local. E em média, os
outros transportam a produção semanalmente.
A área da seção transversal, a largura da trilha, a declividade e a
compactação foram utilizadas como indicadores de impacto decorrentes do efeito
direto do uso (pisoteio).
A área da seção transversal forneceu uma dimensão da área de solo
perdido por erosão em m2, a largura da trilha e a compactação indicaram a área
afetada diretamente pelo pisoteio. As áreas das seções do leito da trilha
variaram entre 1,04 e 3,19 m2 nos pontos avaliados ao longo dos seus 2.300
metros.
O resultado da resistência a penetração do solo é um bom indicador para a
avaliação dos efeitos do pisoteio na trilha. Foram mensurados valores tanto no
leito da trilha como nas suas bordas, visando compará-los. Os valores obtidos
fora da trilha indicam uma condição não alterada pelo pisoteio e favorecida pela
presença da cobertura vegetal e sem pisoteio.
As medidas determinadas pelo Penetrômetro de Lang foram convertidas para Kgf/cm2
para cada ponto de amostragem dentro e fora da trilha. O ponto 1-B apresenta o
maior índice de resistência a penetração no leito da trilha (60,94 Kgf/cm2),
enquanto o ponto 2 apresenta o menor índice (53,5 Kgf/cm2). A compactação
pode estar relacionada com a ocorrência de solo exposto (sem serrapilheira), a
quantidade de raízes neste trecho e pelo pisoteio de animais e pessoas,
intensificado pelo leito estreito da trilha.
Os valores elevados da compactação denotam ao solo uma menor infiltração da água
da chuva, conseqüentemente aumentando o escoamento superficial difuso,
ocasionando e acelerando a formação de ravinas na trilha e a perda de solo.
Quando a largura da trilha foi observado grande variação onde o trecho mais
largo apresentou 2,52 metros (Ponto 3) e o mais estreito 1,74 metros (Ponto 1
B).
A declividade das encostas pode ser considerada como um dos principais fatores
do relevo condicionante da erosão. Sua variação determina formas e feições da
paisagem, ditando também potencialidades de uso e restrição ao aproveitamento
das terras.
As classes de declividade, adotadas neste trabalho, levaram em consideração as
características particulares da área quanto ao escoamento das águas superficiais
e a morfologia local de acordo com LEMOS & SANTOS (1996). A declividade
perpendicular tem maior efeito na largura da trilha do que a declividade
paralela, porque facilita a criação de poças nas laterais do leito da trilha.
Contudo, o impacto gerado é aumentado devido a existência de buracos gerados
pelo solapamento do solo por causa do pisoteio dos animais. Ainda, o efeito
Splash aumenta a selagem do solo nessas áreas, tornando fácil a formação de
processos erosivos e criando o alargamento da trilha.
SETTERGREN & COLE (1970), observaram as diferenças nas características do solo
resultantes da pressão do uso, definindo certas limitações para o crescimento e
desenvolvimento normal da vegetação. Dentre as diferenças encontradas, as mais
significativas foram à compactação do solo e a destruição da serrapilheira que
protege a superfície do mesmo.
Em síntese a tabela 1 demonstra de forma otimizada, os resultados obtidos em
campo, onde é possível observar as diferentes variáveis e sua correlação com os
processos erosivos.
Mapa de localização do Maciço da Pedra Branca
Figura 1: Localização do Maciço da Pedra Branca,
Município do Rio de Janeiro (RJ)
Fonte: Elaborado por COSTA (2006)
Tabela 1
Resultados dos dados coletados nos cinco pontos
amostrais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A alta declividade de alguns trechos da trilha do Quilombo, aliada a outras
propriedades do solo, como a textura e densidade favorecem a ocorrência de erosão
laminar que resulta na perda de solo.
A identificação e avaliação dos parâmetros físicos como determinantes do impacto
decorrentes do uso (pisoteio de animais) em trilhas, através de métodos
eficientes, devem ser considerados como formas eficazes de reconhecimento de
processos erosivos em trilhas.
A profundidade do leito da trilha e a dificuldade para caminhar, devem representar
muito mais que simples aventura e emoção para os visitantes em um parque. Na
verdade, devem ser analisados como reflexos de um manejo ineficiente e representam
um risco potencial para os visitantes.
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