Anais: Geomorfologia de encostas

Diagnóstico de morfodinâmicas nos padrões de relevo em morros, morrotes e colinas da bacia hidrográfica do arroio Feijó/ RS

AUTORES
Rehbein, M.O. (UFPEL) ; Ross, J.L.S. (USP)

RESUMO
Neste estudo se objetivou a identificação e análise das morfodinâmicas nos padrões de relevo em morros, morrotes e colinas da bacia hidrográfica do arroio Feijó/ RS. Apresentam-se Ab’Saber (1969), Ross (1992) e Fujimoto (2001) enquanto orientações metodológicos da pesquisa. As mudanças promovidas pelas atividades antrópicas sobre as vertentes da bacia do Feijó alteram significativamente processos hidro- geomorfológicos. Apresentam-se algumas dessas atividades e alterações de processos.

PALAVRAS CHAVES
Geomorfologia urbana; Morfodinâmincas de relevo; Bacia do arroio Feijó/ RS

ABSTRACT
This study aimed to identify and analyze the morphodynamics in standards of relief in high hills, hillock and small hills of the watershed of the stream Feijó/ RS. Is presents Ab'Saber (1969), Ross (1992) and Fujimoto (2001) as methodological orientations of this research. The changes promoted by anthropogenic activities on the slopes of the basin Feijó significantly alter hydro-geomorphological processes. It is introduced some of these activities and process changes.

KEYWORDS
Urban geomorphology; Morphodynamics relief; Basin of the stream Feijó

INTRODUÇÃO
A bacia hidrográfica do arroio Feijó cobre uma área de 53,50 Km² e abrange áreas urbanas de Porto Alegre, Alvorada e Viamão; municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), no Rio Grande do Sul/ RS. Pode-se afirmar que o acelerado processo de urbanização, convém destacar que associado à má distribuição de renda e há quase total inexistência de uma política de uso e ocupação do solo, induziu na bacia hidrográfica do arroio Feijó uma expansão urbana extremamente precária, sobretudo do ponto de vista infra-estrutural e da ocupação de áreas impróprias (RIGATI, 1983; MEUCCI, 1987; METROPLAN, 2001). A ocupação “desordenada” em áreas da bacia se configura por uma série de impactos ambientais urbanos, expressos excepcionalmente nas sucessivas inundações, que, progressivamente mais abrangentes e recorrentes, colocam periodicamente em situação de risco centenas de domicílios (COMDEC, 2009). As inundações periódicas trazem prejuízos os mais diversos, desde vultosas perdas materiais ao comprometimento da integridade física e moral dos cidadãos que vivenciam direta e ou indiretamente tais acontecimentos. A atual pesquisa anseia contribuir às políticas de planejamento dos órgãos governamentais e não governamentais preocupados com a melhoria da qualidade de vida na bacia hidrográfica do arroio Feijó. Os impactos ambientais, dados riscos que promovem à população da bacia hidrográfica, requerem análises, a fim de futuras intervenções e reordenações ambientais, que possibilitem melhorias imediatas, mas que também repercutam em longo prazo. Neste sentido que se objetiva a identificação e análise das morfodinâmicas nos padrões de relevo em morros, morrotes e colinas da bacia hidrográfica do arroio Feijó/ RS, enquanto subsídios ao entendimento dos significativos impactos ambientais na área em questão.

MATERIAL E MÉTODOS
Estrutura-se essa pesquisa a partir das ideias de Ab’Saber (1969); Ross (1992) e Fujimoto (2001). A operacionalização da mesma se dá com base na utilização de materiais específicos e de atividades alternadas entre o gabinete e o campo. Dentre os principais materiais utilizados se destacam: Cartas temáticas pedológicas, geomorfológicas e de suscetibilidade a erosão (em 1:50.000 - da Companhia de Recursos Minerais e Fundação de Planejamento Metropolitano e Regional, de 1994); Cartas topográficas (em 1:10.000, de 1972) e fotografias aéreas (em 1:8.000, de 1973 e 1991, do Grupo Executivo da Região Metropolitana); Imagem do satélite (CBERS-2, HRC, do INPE, resolução espacial de 2,7 metros, de 2008); Arquivos com informações dos setores censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (de 2000); Estereoscópio; Softwares para Sistema de Informações Geográficas e Sistema de Posicionamento Global; As atividades alternadas entre o gabinete e o campo fundamentalmente compreenderam: Levantamentos bibliográficos, que embasam discussões referentes à caracterização ambiental física e à caracterização sócio-espacial da área da bacia hidrográfica do arroio Feijó e entorno; A partir de fotointerpretação, da construção de SIG e geoprocessamento, a elaboração de documentos cartográficos, de base e temáticos; Verificações de campo, a fim de se confirmar e ou corrigir informações dos mapeamentos realizados para bacia hidrográfica do arroio Feijó/ RS; A localização e o registro fotográfico de formas de processos atuais, indicadoras de morfodinâmicas do relevo; Análises visuais e táteis de materiais pedogenéticos e ou de coberturas superficiais em diferentes padrões e setores de vertentes do relevo; Realização de entrevistas com moradores e ou funcionários de Organizações não Governamentais, de Entidades Municipais e Estadual; Identificação e análise das morfodinâmicas nos padrões de formas semelhantes do relevo da bacia.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
As mudanças promovidas pelas atividades antrópicas sobre as vertentes das colinas, morrotes e morro da bacia do Feijó alteram significativamente processos hidro-geomorfológicos: Durante as atividades de loteamento, pela eliminação da cobertura vegetal e pelo revolvimento do solo, acentuam-se processos de salpicamento e de selamento superficial do mesmo; Há redução da permeabilidade do solo a partir dos usos urbanos, tanto pelo asfaltamento e ou compactação da superfície na abertura de arruamentos, como pelas coberturas das residências, concretamentos e ou compactações dos espaços intra-lotes particulares; As formas suaves convexas e planas de topos de morrotes, do relevo da bacia do Feijó, favorecem a ocupação urbana dos mesmos. As transformações nos usos e coberturas do solo reorientam a circulação hídrica pluvial nesses segmentos de vertentes e, por conseguinte, nos adjacentes; Os lotes, em geral, apresentam pequenas dimensões, estruturando-se conjuntamente enquanto loteamentos de expressiva densidade de coberturas edificadas. O uso urbano do solo de alta densidade de coberturas edificadas reduz drasticamente o processo de infiltração d’água pluvial nos solos, intensificando, também de modo drástico, o escoamento superficial das águas; O escoamento superficial nas vertentes urbanizadas é reorientado por uma rede pluvial que, na maioria dos casos, interligada a rede de esgotos, em sentido aos canais fluviais adjacentes. Todavia, nem todas as áreas urbanas na bacia do Feijó dispõem dessa infra-estrutura e os escoamentos pluviais e cloacais também ocorrem a “céu aberto”; Em praticamente todos os padrões de relevo, em colinas, morrotes e morro, identificam-se superfícies planas criadas pela ocupação urbana. Muitas dessas superfícies planas se estruturam pela remoção da vegetação original, pela realização de cortes no terreno e pelo desenvolvimento de rampas de aterro. Os cortes no terreno instituem taludes das mais diferentes dimensões; alguns taludes de cortes favorecem o desenvolvimento de processos erosivos, outros, por sua vez, desamparados de infraestruturas de apoio/ sustentação, colocam em teste a estabilidade gravitacional do material da encosta e, quando da proximidade de ocupações, geram situações de risco; Identificam-se áreas de loteamentos abandonados sobre vertentes do relevo da bacia. Nesses casos, as atividades de loteamento não foram além da abertura de arruamentos, da delimitação de quadras e da remoção da cobertura vegetal, expondo o solo diretamente aos elementos climáticos e variáveis meteorológicas; acentuam-se, nesses segmentos de vertentes, processos de salpicamento e de selamento superficial do solo; Sobre arruamentos de precárias condições infra-estruturais, quando estes acompanham os declives das vertentes, observam-se formas de processos erosivos lineares, sulcos, ravinas e ou voçorocas; No interior de algumas voçorocas ocorrem dutos; feições erosivas lineares indicam conexões dos dutos, além dos escoamentos subsuperficiais, também aos escoamentos superficiais concentrados, os quais nitidamente orientados por cortes adjacentes e solos expostos compactados, resultantes da abertura de arruamentos; Também se observam, comumente, ocupação urbana das vertentes adjacentes aos hollows. Muitas das quais visivelmente áreas de preservação permanente, pois, vertentes de acentuadas declividades e ou próximas às nascentes, “olhos d’água”, de cursos fluviais; Os processos erosivos que se desenvolvem a partir da ocupação antrópica mobilizam significativa quantidade de material sedimentar das vertentes de colinas, morrotes e morro. A jusante dos processos erosivos lineares se observa depósitos sedimentares que carreados das vertentes adjacentes. Assentados sobre superfícies mais planas, esses depósitos são retrabalhados a cada evento pluviométrico de expressivo índice em sentido aos leitos de cursos fluviais próximos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Objetivou-se nesta pesquisa o reconhecimento de morfodinâmicas dos padrões de relevo em morro, morrotes e colinas da bacia hidrográfica do arroio Feijó. O êxito na investigação realizada se deve a consultas a trabalhos antecessores, proponentes metodológicos e a trabalhos outros que agregam a área de estudos como objeto de pesquisa. Os resultados e discussões apresentados fomentam a necessidade de políticas de planejamento, sobretudo públicas, em virtude das precariedades socioeconômicas regionais verificadas; também, fomentam a necessidade de ações eminentes, de medidas preventivas de curto prazo e, fundamentalmente, de longo prazo. Os diagnósticos concebidos, a cerca das morfodinâmicas de relevo nos padrões em morro, morrotes e colinas da bacia hidrográfica do Feijó, acredita-se, podem servir de base de reflexões para tomada de medidas necessárias e cabíveis em áreas da bacia hidrográfica do arroio Feijó, a fim de se qualificar o atual cenário ambiental.

AGRADECIMENTOS
À Universidade de São Paulo(USP) pelo ensino público, gratuito e de qualidade; Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), como bolsista, pelo imprescindível auxilio financeiro na realização deste trabalho.

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