Anais: Geomorfologia de encostas
ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA DO PERFIL TOPOGRÁFICO E SITUAÇÃO GEOLÓGICA DA CARTA TOPOGRÁFICA DE ITAPOROROCA – PB, BRASIL.
AUTORES
dos Santos Souza, A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; Furrier, M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; Ramos Nóbrega, W. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA)
RESUMO
Este trabalho visa apresentar características morfogênicas do relevo que
compreende a carta topográfica de Itapororoca, Nordeste do Brasil. Toda área
encontrasse inserida na faixa de dobramentos do Ciclo Brasiliano e as feições
averiguadas revelaram como estão dispostos os fatores da geomorfologia do
terreno. A morfometria da área, aplicada a partir da carta topográfica,
apresentou feições irregulares, fruto da interação morfotectônica que atua no
modelado do relevo da região.
PALAVRAS CHAVES
Itapororoca; Geomorfologia; Morfotectônica
ABSTRACT
This research aims to present the morphogenetic characteristics found in the
terrain that encompass the topographic map of Itapororoca, Northeastern Brazil.
This whole area is inserted in the folding strips of the Brazilian Cycle and the
examined features revealed how available the morphological and the geological
factors are. The morphometric measurements of the area, applied with bases on the
topographic map, revealed uneven features, due to the morphotectonic interaction
that takes place in the modeled terrain of the area.
KEYWORDS
Itapororoca; Geomorphologic; Morphotectonic
INTRODUÇÃO
Estudar as interações entre os processos formadores do relevo a partir de cartas
topográficas e estudos quantitativos visando compreender como a litosfera pode
sofrer alterações de natureza tectônica, erosiva ou de acumulação, representa um
meio eficaz e indispensável, através do qual é possível interpretar as formas de
um terreno.
Segundo Christololetti (1980), o emprego de métodos quantificativos em
Geomorfologia é antigo e vem sendo sucessivamente ampliado e melhorado. Para
este autor os processos morfogenéticos não são estudados somente em função das
observações de campo, mas também pela confecção dos mesmos em modelos escalares,
criando condições para a experimentação.
Nesta perspectiva é importante saber que ao estudar as formas de relevo e
imprescindível que se busque no subsolo explicações que possam ser
correlacionadas aos fatores externos que interagem dando origem as variadas
feições morfológicas (Guerra e Guerra, 1997). Na região compreendida pela carta
topográfica de Itapororoca, foi possível apresentar através dos parâmetros
utilizados, formas distintas de um relevo trabalhado por movimentos tectônicos e
por desgastes erosivos das bases litológicas.
Desta forma, o objetivo principal deste trabalho é apresentar uma caracterização
da unidade geomorfológica em questão, partindo de sua base geológica e
correlacionando-a com a morfogenia do relevo que demonstra estar sobre forte
controle morfotectônico. Para tanto, a produção dos perfis topográficos (Figura
2.a), Modelo Digital do Terreno (MDT – Figura 2.b) e análise do Mapa Geológico
da Paraíba (Brasil, 2002; figura 1.b), foram de grande relevância, pois
possibilitaram a constatação de feições típicas de áreas onde a morfotectônica
teve grande influência na formação do relevo.
MATERIAL E MÉTODOS
A proposta de análise deste trabalho está balizada em parâmetros geomorfológicos
aplicados sobre a carta topográfica compreendida pela Folha de Itapororoca
(SB.25-Y-A-V-4-NO), na escala de 1:25.000, com equidistância entre as curvas de
nível de 10 m. O primeiro procedimento utilizado foi a digitalização da carta
supracitada, viabilizando assim sua exportação para softwares específicos.
A vetorização da carta topográfica foi imprescindível, pois possibilitou
a produção do Modelo Digital do Terreno (MDT – Figura 2.b) através do SPRING
5.1.7. Para confecção dos perfis topográficos foram delimitadas as curvas de
nível considerando-se coordenadas UTM especificadas no mapa geológico, seguindo
as orientações N/S (perfis A e B) e W/E (perfis C e D), conforme (Figura 1.b).
Os dados obtidos foram transferidos para planilha do Excel viabilizando a
precisão da confecção e análise da morfometria do terreno por intermédio dos
perfis topográficos (Figura 2.a). O estudo também está fundamentando em
consultas a literaturas e trabalhos especializados que contribuíram
significativamente no processo de caracterização do contexto geomorfológico da
área de estudo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A carta topográfica objeto deste estudo representa parte da zona limítrofe onde
terminam os terrenos sedimentares e se inicia a faixa do embasamento cristalinos
do estado da Paraíba. A região compreendida pela carta esta situada entre os
lineamentos Patos e Pernambuco na megaestrutura da Zona Transversal, onde se
insere o Terreno Alto Pajeú que é constituído por unidades gnáissicas
paleoproterozóicas, metavulcanossedimentares e metaplutônicas e granitóides, que
estão postas entre zonas de cisalhamento transcorrentes associadas ao evento
Brasiliano conforme documentado nos litotipos apresentados na (Figura 1),
(Santos, 2004).
De acordo com o Mapa Geológico da Paraíba (Brasil, 2002) são encontradas na
região estudada, rochas do Complexo Gnássico-Migmatito (Pgm/pγ - Retrabalhados
no Meso e Neoproterozóico); Vulcânica Félsica Itapororoca (Ki - Sem dados
geocronológicos, sendo atribuída uma idade Cretácea por correlação com o
vulcanismo da Bacia do Cabo); Granitóide de quimismo indiscriminado (Nγi);
coberturas eluvio-coluviais (Qe - Associados ao sistema tafrogênico paleógeno do
Saliente Oriental Nordestino, apud Brito Neves et al., 1999); aluviões (Qa -
Representados pelos aluviões do rio Mamanguape; e Formação Barreiras (ENb -
Apresentando estratificações tabulares/planares de forte ângulo, indicando alta
descarga de um sistema fluvial em canais confinados que migram formando as
barras.
O perfil A, orientação (N/S), traçado na borda esquerda da carta possui número
significativo de vales em toda extensão do perfil, demonstrando uma topografia
falhada, com drenagem visivelmente controlada pelo gradiente altimétrico do alto
topográfico do Episódio Vulcânico Itapororoca. Na porção sul, destaca-se o
rifteamento do rio Mamanguape, onde ocorre um aluvionamento (Vide mapa geológico
da Paraíba, 2002) com presença de blocos soerguidos e dissecados por processo
erosivos.
O perfil B, orientação (N/S), delimitado na borda direita da carta apresenta uma
morfologia aplainada, pouco dissecada e levemente ondulada nos 5.5 km iniciais
da porção norte, com extensa área escalonada em degraus que segue para a porção
sul em direção ao vale do Rio Mamanguape onde também foram encontrados
basculamentos e superfícies tabulares comuns à Formação Barreiras que segundo
Furrier et al. (2006), apresenta aspectos estruturais e morfológicos que se
desenvolveram, predominantemente, sobre sedimentos areno-argilosos mal
consolidados.
O perfil C, orientação (W/E), porção superior da carta, inicia-se com a formação
do domo do Episodio Vulcânico Itapororoca. No percurso do seu traçado estão
projetados os principais canais que afluem para o rift do rio Mamanguape. Neste
perfil, foi averiguado o maior gradiente altimétrico da carta, chegando a
superar 160 m em alguns pontos, compreendendo blocos ondulados e desgastados por
processos de erosão diferencial.
No perfil D, orientação (W/E), parte inferior da carta, foram identificadas as
menores altimetrias não excedendo 80 m, compreendendo uma linha de cristas.
Neste trecho, ocorre um número expressivo de canais delimitados por interflúvios
assimétricos, configurando um circuito de vales paralelos e alongados como o que
ocorre no início do perfil na planície do vale do rio Mamanguape, onde estão
postas ombreiras em ambas as orlas.
FIGURA 1. SITUAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Figura 1.a. Localização da área de estudo no
compartimento tectônico da Subprovíncia da
Borborema; Figura 1.b. Mapa geológico da área.
FIGURA 2. PERFIS TOPOGRÁFICOS E MODELO DIGITAL DO TERRENO
Figura 2.a. Perfis topográficos (longitudinal e
latitudinal); Figura 2.b. Modelo Digital do Terreno
(MDT).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A porção estudada apresenta um modelado condicionado por forte controle
estrutural que interage com os mecanismos de erosão diferencial. Este fato está
constatado nas nuances apresentadas nos perfis topográficos, que revelaram uma
série de peculiaridades geomorfológicas típicas da atuação neotectônica sucedida
no local.
Tais situações foram verificadas a partir da visualização de basculamentos,
terrenos escalonados, vales distintos, rifteamento, linhas cumeadas (agudas e
suavizadas) e superfícies tabulares. Os resultados aqui apresentados tem o
intuito de ampliar a investigação da área através de pesquisas posteriores, uma
vez que, é perfeitamente possível e necessário o emprego de outros parâmetros de
análise para o estudo e compreensão da porção estudada, visando desta forma,
contribuir com o planejamento técnico da região.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. CPRM. Geologia e recursos minerais do Estado da Paraíba. Recife: CPRM, 2002.
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SANTOS, E. J.; NUTMAN, A. P.; BRITO NEVES, B, B. Idades SHRIMP U-Pb do Complexo Sertânia: Implicações Sobre a Evolução Tectônica da Zona Transversal, Província Borborema. Geol. USP: Série Científica. São Paulo, v.4, n.1, p.1-12, abril 2004.
SUGUIO, K. Dicionário de geologia sedimentar e áreas afins / Kenitiro Suguio. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. 1.222p.