Anais: Geomorfologia de encostas
Avaliação da Recuperação vegetal e respostas hidro-erosivas em cicatrizes de deslizamentos em área montanhosa de floresta Atlântica, Maciço da Tijuca, RJ.
AUTORES
Negreiros, A.B. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ) ; Lima, P.H.M. (GEOHECO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) ; Barbosa, L.S. (GEOHECO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) ; Coelho Netto, A.L. (GEOHECO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO)
RESUMO
Em ecossistemas florestais montanhosos, deslizamentos geram cicatrizes, resultando em erosão e
escoamento superficial, limitando o crescimento da vegetação e levando sedimentos para os
canais. Este
trabalho mensurou indicadores ecológicos, escoamento superficial e a produção de sedimentos em
uma
cicatriz gerada em fevereiro/1996. Os resultados mostraram que a revegetação está ocorrendo e o
escoamento superficial reduzindo, porém não há um efetivo retono das funções ecológicas e
hidrológicas.
PALAVRAS CHAVES
Restauração Florestal; Hidrologia Florestal; Cicatriz de deslizamento
ABSTRACT
In the mountain forest ecosystem,landslides produce scars. This condition results in surface runoff
and
erosion that limits vegetation, increasing the sediment in the river channels. This work measured
ecological indicators and runoff and sediment yield from landslide scar generated in February/1996.
The
results show that the vegetation are returning and surface runoff are decreasing, but don’t happen
effective return of ecological and hydrological functions inside the gap.
KEYWORDS
Forest Restauration; Forest Hydrology; Landslide Scar
INTRODUÇÃO
No ecossistema florestal montanhoso, os deslizamentos de solos e rochas deixam cicatrizes
erosivas que
constituem clareiras de vários tamanhos no meio florestal. Nestas clareiras de deslizamento ocorre
a total
destruição do sistema biota–solo–água, Estas mudanças levam a alteração da dinâmica hidrológica
e
potencializam a vulnerabilidade das encostas, tornando-as mais susceptível a novos movimentos de
massa adjacentes a estas cicatrizes. Esse distúrbio propicia o escoamento e a erosão superficial
que limita
a retomada do processo de revegetação da clareira, elevando a carga de sedimentos para os
canais
fluviais.
Outro efeito relevante prende-se a propagação dos chamados “efeitos de borda”, associados às
alterações
hidro-climáticas no entorno imediato das clareiras florestais, os quais promoveriam a expansão da
degradação florestal no entorno propiciando a maior susceptibilidade à erosão por ação
gravitacional e a
recorrência local de novos deslizamentos, tal como foi observado por Cruz et al. (1999). Pesquisas
desenvolvidas pelo Laboratório de Geo-Hidroecologia (GEOHECO- UFRJ), em diferentes clareiras
na
Floresta da Tijuca apontam que o processo de revegetação nestas clareiras não é uniforme,
variando
principalmente em função do tamanho, forma e do solo remanescente.
Frente ao exposto acima, considera-se fundamental compreender os processos afins a reabilitação
funcional das clareiras e a degradação florestal no entorno, especialmente na interface biota-solo-
águas.
Para isso estudou-se uma cicatriz-clareira (3,3 ha) de geração de 1996 localizada alto rio da
Cachoeira,
no maciço da Tijuca, Rio de Janeiro, podendo ser avaliada temporalmente quanto ao seu processo
de
recuperação, visto a existência de estudos anteriores, que possuem dados no qual avaliam os
processos
hidrológicos e erosivos abordados nesse trabalho.
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho avaliou quantitativamente o escoamento superficial e a produção de sedimentos
oriundos de
uma cicatriz de deslizamento de 1996 (3,3 ha) e sua borda, numa encosta íngreme florestada do
maciço
da Tijuca, Rio de Janeiro. A precipitação direta foi realizada através de pluviômetro digital localizado
em
área aberta, no interior da clareira instalou-se pluviômetros artesanais, onde foi possível indicar os
valores de intercepção florestal de água pelas copas arbóreas e precipitação direta na clareira.
Foram realizadas a mensuração do escoamento superficial e transporte de sedimentos em três
parcelas
hidro-erosivas, localizadas nos dominios que ocorreram revegetação natural, revegetação induzida
por
técnincas realizadas pela EMBRAPA - Agrobiologia logo após o envento erosivo e em área de
Borda
florestada. A água escoada e os sedimentos carreados nos eventos de precipiação, até um
reservatório
terminal era medido posterior a estes eventos e sub-amostras de 500 ml eram coletadas,
possibilitando
assim, inferir por pesagem em balança de alta precisão o material transportado, após secagem em
estufa
a 105 º C. Dessa forma, os valores destas sub-amostras foram extrapolados para o valor total de
escoamento ocorrido no evento de chuva. Já os levantamentos de características da estrutura da
vegetação e do topo do solo foram realizados através da construção de 8 parcelas amostrais (10
x10m),
localizadas em diferentes domínios, com diferentes estágios de sucessão florestal no processo de
recuperação da clareira; em suas bordas; e na área de deposição dos detritos e matéria orgânica
do
material transportado pelo deslizamento. Assim, foram levantados valores de diâmetro a altura do
peito
(DAP), altura estimada e descrição das características do interior da parcela. As análises físicas do
topo
solo e matéria orgânica, foram relalizadas nas profundidades de 0 a 5 cm e 10 a 15cm, além da
descrição física da estrutura da serrapilheira acumulada sobre o piso florestal.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram amostrados um total de 477 indivíduos arbóreos nos oito diferentes domínios sucessionais da
clareira estudada. Uma maior colonização vegetal foi observada nas bordas esquerdas de ambos os
dígitos. Os dados indicaram valores de área basal para essas bordas de 62,15 m2/ha e 64,01 m2/ha.
Estes valores são elevados quando comparado aos demais domínios sucessionais para áreas preservadas
e no interior dos demais domínios, Foi observado nestes domínios indivíduos de grande porte, como
exemplo de um com 69,5 cm de DAP e 30 m de altura estimada localizado numa das bordas. Atribui-se a
isso, a diferenciação no aspecto da encosta, que é voltada para sudeste, recebendo assim menos
insolação e gerando condições diferenciadas micro-climáticas , tais como, umidade, luminosidade e
temperatura, na borda oposta que tem aspecto da encosta voltada para noroeste. Os solos dos
diferentes domínios da clareira de deslizamento na profundidade entre 0 a 5 cm superam em 70% a
fração areia em todos os domínios. Já os valores entre 10 a 15 cm, mostram uma redução nos percentuais
de areia e argila, e aumento nos percentuais de silte, cerca de 10% a mais desta fração, Os solos
apresentaram a maior concentração de classes de agregados de solos entre entre 0,5 e 2 mm. Os dados
de intercepção apontaram para valores médios de 25,8% na Borda florestada (BF); 17,2% na área de
revegetação induzida (RI) e apenas 6,8% na área de revegetação espontânea (RE), seguido de valores de
74,2%, 82,8 e 93,2% de atravessamento para os domínios respectivamente. Os valores da razão (Q)
escoamento/ (P) precipitação total foram de 3,98% para RI, 3,23% para RE e 1,52% para BF. Coelho Netto
(1987) achou valores para essa razão na floresta da Tijuca, variando entre 0,3 a 4,4% e média de 1% em
áreas conservadas. Os dados de escoamento superficial da razão Q/At obtiveram um ligeiro decréscimo
dos valores percentuais nos domínios de revegetação induzida (RI) e na borda florestada (BF) de um
período chuvoso para o outro. Isto mostra um processo gradativo da recuperação das funções
hidrológicas da vegetação, a partir de seu avanço sucessional, e reestruturação física do topo do solo.
Porém o domínio de Revegetação Espontânea (RE) teve um aumento nos valores da razão. Possivelmente,
isto ocorreu pelo efeito da alteração da cobertura vegetal próxima ao solo nesse domínio, dada a morte
das espêcies vegetais Gleichenias, que agiam em seu recobrimento como uma proteção maior ao solo,
frente ao impacto direto da precipitação, já que nesse domínio, por ter indivíduos arbóreos de médio
porte espaçados, o dossel florestal e bastante descontínuo. Os resultados de transporte de sedimentos
mostram uma maior concentração de sedimentos nos primeiros eventos, que foram amostrados no
período chuvoso de 2010, como visto na figura 1. A carga de sedimentos aumenta na mesma proporção
que a quantidade de escoamento superficial. Isto acarretou uma grande amplitude dos valores
encontrados. Estes resultados quando comparados ao estudo de Oswaldo Cruz (2004) aponta um
decréscimo em todos os domínios na carga de sedimentos transportados por escoamento superficial
(Figura 2) para o período de 7 anos.
Escoamento superficial temporal
Valores percentuais médios de escoamento superficial nos
diferentes domínios sucessionais da clareira estudada e em três
diferentes estudos.
sedimentos temporal
Valores médios de cargas de sedimentos transportados (g/L) nos
diferentes domínios sucessioanis da clareira estudada e estudos
anteriores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se que a recuperação da funcionalidade hidrológica e ecológica da clareira laboratório,
observou-se que vem ocorrendo o processo de revegetação, porém, esses dados, quando comparados a
áreas de floresta climácica e áreas de floresta secundária tardia, mostram-se ainda com valores
estruturais inferiores ao que é esperado após 14 anos de sua geração. Ressalta-se que, mesmo havendo o
recobrimento vegetal, a mesmo ainda não retomou a plenitude das funções ecológicas e hidrológicas,
dada pela reestruturação física do solo. As taxas encontradas de valores de escoamento superficial são
baixas frente à presença de forte distúrbio no sistema florestal neste estudo e com ligeiro decréscimo
quando comparada a estudo desenvolvido por Cruz (2001) e Oswaldo Cruz (2004). Este estudo destaca a
necessidade da preservação de fragmentos florestais , visto que a degradação florestal em seu interior e
em suas bordas pode desencadear processos erosivos cada vez mais frequentes.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Instituto Chico Mendes (ICM-BIO), por todo apoio durante a realização desta
pesquisa e aos orgãos de fomento CNPq, CAPES e FAPERJ pelo apoio financeiro e aos companheiros de
laboratório pelos auxílios nos trabalhos de campo e análise laboratoriais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
CRUZ, E. S. (2001) Reativação erosiva e revegetação em cicatrizes de movimento de massa nas encostas florestais: Maciço da Tijuca, RJ, Dissertação de Mestrado, Programa de Pós Graduação em Geografia, UFRJ, 128 p.
CRUZ, E. S.; VILELA C.; COELHO NETTO, A. L. (1999) Spatial distribution of the 1996 – Landslide scars at the Tijuca massif and subsequent erosion: the Influence of topography and vegetation changes. In: Anais IGU – GERTEC Meeting; Rio de Janeiro, pp.15-29.
COELHO NETTO, A. L. (1987) Overlandflow production in a tropical rainforest catchment: the role of liter cover, in: CATENA, vol. 14, p. 213-231.
OSWALDO CRUZ, J. C. H. (2004) Dinâmica hidro-erosiva superficial e revegetação em uma cicatriz de movimento de massa. Maciço da Tijuca, RJ. Ciência e Natura, Edição Especial Simpósio Nacional de Geomorfologia, 343-364.