Anais: Geomorfologia de encostas
APLICAÇÃO DE BIOTEXTEIS NO CONTROLE EROSIVO DE ENCOSTAS NA CIDADE UNIVERSITARIA DA UFMA
AUTORES
Cutrim Junior, V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Pereira, P.R.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Passinho, D.C.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Feitosa, A.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO)
RESUMO
Os processos erosivos estão relacionados à degradação da vegetação que altera as
estruturas superficiais tornando as encostas instáveis. A área estudada compreende
ao setor noroeste da Cidade Universitária da UFMA, onde se evidenciam impactos
ambientais relacionados à construção de vias. O objetivo deste trabalho é avaliar
a aplicabilidade das biotexteis para a contenção de erosão em conjunto com
gramíneas. Como resultado mostrou-se a eficácia da técnica para contenção de novos
deslizamentos.
PALAVRAS CHAVES
Biotexteis; encostas; Cidade Universitária-UFMA
ABSTRACT
The erosive processes are related to the degradation of the vegetation that
changes the surface structures making the slopes unstable. The study area
comprises the northwestern sector of the City University of UFMA, show where
environmental impacts related to road construction. The objective of this study is
to evaluate the applicability of biotexteis to contain erosion together with
grasses. The result showed the effectiveness of the technique for containment of
new landslides.
KEYWORDS
Biotextiles; Slopes; City University-UFMA
INTRODUÇÃO
As atividades humanas se configuram como as principais causas de processos
erosivos em áreas urbanas, principalmente quando relacionadas à degradação da
cobertura vegetal que altera a estrutura das formações superficiais e tornam as
encostas instáveis.
A área de estudo compreende a Zona de Preservação Ambiental 3 - PAZ, no setor
noroeste da Cidade Universitária da Universidade Federal do Maranhão, onde se
evidenciam fortes impactos ambientais diretamente relacionados com a utilização
da área para a construção de vias para o acesso ao seu entorno.
A litologia da área é composta por materiais sedimentares argilosos e arenosos
cuja geomorfologia apresenta setores com topos tabulares e subtabulares com
bordas que decaem em forma de colinas suavemente onduladas a abruptas, modeladas
pelo escoamento dos altos índices pluviométricos anuais em tornos dos 2000 mm
anuais.
A perda da cobertura vegetal para a construção de acessos vicinais ocasionou a
remoção de sedimentos que, associados a altos índices pluviométricos e a
fragilidade litológica da área, desencadearam processos erosivos responsáveis
pelo assoreamento de uma lagoa próxima com perda parcial da qualidade biológica.
A situação descrita motivou a inserção de técnicas alternativas para controle
erosivo e recuperação das áreas em processo de degradação, que se configuram
como ferramentas para o controle hidrológico e estabilização das encostas
evitando perda de agregados do solo, facilitando a proliferação da microfauna
para a estabilização dos componentes ambientais. Foram utilizadas biotexteis
feitas de fibras de buriti e babaçu, com introdução de herbáceas nativas da
área, buscando inserir processo de sucessão ecológica e recuperação para o
local.
Com este trabalho propõe-se a análise dos processos responsáveis pela degradação
da encosta, além de prover a sua estabilização e monitoramento com o objetivo de
minimizar os impactos ambientais ocorridos na PAZ 3 da Cidade Universitária e
resgatar a sua beleza paisagística.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho fundamentou-se no método dedutivo, buscando identificar e relacionar
os elementos que ocasionaram o processo de degradação da encosta da lagoa do
campus da UFMA através da bibliografia consultada, e com o método indutivo, ao
analisar os impacto das atividades humanas gerados na área estudada. Após as
análises, foram aplicadas técnicas de estabilização da encosta, em outubro de
2011 na seguinte ordem: 1) reconhecimento da área, identificação dos elementos
desencadeadores da erosão e elaboração de estratégias para a reabilitação da
encosta 2) inserção de estacas de bambu e sacos de areia para conter de forma
imediata a erosão, em seguida, fez-se a introdução das gramíneas nativas com
sementes para facilitar a recolonização do solo exposto e contribuir para o
controle erosivo 3) uso de 38 telas vegetais de fibra do buriti e babaçu 1 x 1
m2 provenientes da Cooperativa de Trabalhadores Artesanais de Barreirinhas,
aplicados sobre uma área coberta anteriormente com as gramínias 4)monitoramento
semanal e/ou após a cada evento chuvoso para detecção de mudanças, como novas
erosões na encosta até maio de 2012. A área degradada da encosta corresponde a
18 x 16.40 m2, nesta área as biotexteis foram aplicadas em uma superficie de 6 x
4.40 m2.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os condicionantes climáticos associados à fragilidade litológica da área
demonstram certa vulnerabilidade aos processos erosivos, que se tornam
acelerados quando diretamente ligados a atividades humanas com emprego de
máquinas pesadas. A área afetada ocorreu em função da construção da via
perimetral interna de circulação da Cidade Universitária, com terraplenagem nas
bordas de encostas abruptas do setor oeste da área que apresenta alta
instabilidade devido à retirada da cobertura vegetal para execução de obras
engenharia urbana.
A aplicação das biotéxteis a base da fibra de Babaçu e Buriti (Foto 1) aparece
como ferramenta altamente eficaz por ser um material facilmente absorvido pelo
solo, além de sua abundância no estado do Maranhão. O material utilizado é
constituido por rejeito da produção artesanal, representando o reaproveitamento
de produtos descartados dessa atividade, e sua confecção é facilitada pelo uso
tradicional da população do estado na criação de artesanato, produção de
alimentos, roupas, tecidos entre outros.
A reabilitação e contenção de processos erosivos visando o reestabelecimento da
dinâmica ecobiótica, é inserida primeiramente como fator de recuperação do solo
e de suas características edáficas (MENDONÇA, 2006; BEZERRA, 2008). A aplicação
das biotexteis ocorreu no mês de outubro de 2011, período de estiagem no norte
do Maranhão, em que ocorreram chuvas fora de época com preciptações bastante
concentradas dentro dos meses incidentes. O plantio das gramíneas foi feito com
espécies locais, onde se destaca a família das poáceae e cyperáceae. Em seguida,
procedeu-se o acompanhamento do grau de germinação das sementes e recomposição
da cobertura vegetal, com a finalidade de verificar o comportamento dos
agregados do solo através da incorporação das raízes e reduzir sua perda por
erosão pluvial.
A quantidade de telas vegetais usadas não foram o suficiente para cobrir toda a
parte degradada da encosta e portanto, optou-se pelo uso das telas no setor
superior da vertente abrangendo uma área de 24.40 m2 sobre uma superfície
degradada de 96.40 m2, utilizando como auxilio o uso de estacas de bambu e sacos
de areia para conter o excesso de erosão e sedimentação da logoa, estas técnicas
contribuiram para a fixação e proliferação da cobertura vegetal (Foto 2), bem
como, a promoção da estabilidade da vertente e redução da perda de agregados do
solo, mostrando-se altamente eficaz para o controle de processos erosivos, além
de promover o processo de sucessão ecológica e recuperação da vegetação de
características arbustiva. Em contra partida, constata-se que a vegetação não se
proliferou de maneira significativa nas áreas com baixa taxa de material
orgânico no solo e presença de argilas expansivas e alta declividade.
De acordo com Farias Filho (2011), solos com alta concentração de argilas tendem
a diminuir a quantidade de água do solo e aumento da ácides que diminui a
capacidade de trocas entre solo e planta. Portanto, há de se ressaltar a
necessidade de se introduzir solos com materia orgânica para fixação das
gramineas, pois em alguns pontos observou-se a dificuldade do seu
desenvolvimento devido a insuficiência de nutrientes no solo para o seu imediato
crescimento.
Foto 1: Inserção das Biotexteis na Vertente
Aplicação das biotexteis da fibra do buriti e babaçu
na encosta da área de preservação ambiental 3 da
cidade universitária, em 8 de outubro de 2011
Figura 2: Vertente vegetada
Vista da encosta recuperada da área de preservação
ambiental 3 da cidade universitária da UFMA, em 25
de maio de 2012.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Universidade Federal do Maranhão vem passando por obras de infraestruturas
como a ampliação e construção de prédios e expansão do sistema viário. A falta
de espaço dentro do Campus para novas construções condiciona a utilização máxima
do espaço disponível, incorporando grande parte das áreas vegetadas ao processo
de uso e ocupação do solo urbano, restando apenas pequenas manchas de vegetação
de composição arbustiva.
O constante movimento de equipamentos pesados causa compactação e
impermeabilização do solo, a retirada e deposição de sedimentos e a
impermeabilização do solo alteraram a dinâmica ambiental da área do Campus da
UFMA de São Luís principalmente nos processo de infiltração e drenagem pluvial
tornando o campus altamente susceptível a novos processos erosivos. Ademas, a
falta de um plano de controle ambiental para a UFMA antes das obras de
infraestrutura configura-se como o grande problema e ameaça a qualidade
ambiental da Cidade Universitária da UFMA.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a participação do estudante de geografia Ozimo Medonça Neto, Hellen
Mayse Paiva, Elys Cunha e Leandro Feitosa (Biologia) pela ajuda nas jornadas de
campo e aplicação das biotexteis, e dos estudantes de biologia Ítalo Aguiar e
Antonio Fernando Costa da Silva pelo auxílio na identificação das plantas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
ARAUJO, Gustavo Henrique de Souza, ALMEIDA Josimar Ribeiro de e GUERRA, Antonio José Teixeira. GESTÃO AMBIENTAL DE ÁREAS DEGRADADAS. 2º Ed Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2007.
CUNHA, Elys Correia. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS DO CAMPUS DO BACANGA. São Luís. UFMA, 2012.
FARIAS FILHO, Marcelino Silva. O ESPAÇO GEOGRÁFICO DA BAIXADA MARANHENSE. São Luís, MA. JK Gráfica Editora, 2012.
GUERRA, Antonio José Teixeira. CUNHA, Sandra Maria Baptista da. Geomorfologia: uma Atualização de Bases e Conceitos. Rio de Janeiro. Bertrand, 2005.