Anais: Geomorfologia de encostas
MONITORAMENTO DO POTENCIAL MATRICAL E SUA RELAÇÃO COM A PRECIPITAÇÃO EM ÁREA DE POUSIO ASSOCIADO AOS EVENTOS DOS DIAS 11 E 12/01/2012 NO DISTRITO SÃO PEDRO DA SERRA/RJ
AUTORES
Soares, I.L.P. (UERJ/FFP)  ; Bertolino, A.V.F.A. (UERJ/FFP)
RESUMO
O Sistema de Pousio visa à recuperação da qualidade do solo parcialmente degradado 
após anos de cultivo. O objetivo do trabalho é compreender o comportamento 
hidrológico em encosta com diferentes usos do solo (Pousio e Sem Cobertura). Após 
as análises do regime pluviométrico e do potencial matricial da água no solo, as 
parcelas POI e SC apresentaram médias gerais de - 70 kPa e – 40 kPa, comprovando 
uma boa estruturação e distribuição da água no solo no sistema de Pousio em 
relação à parcela SC.
PALAVRAS CHAVES
Pluviosidade; Comportamento hidrológico; Manejo
ABSTRACT
The fallow system aims to recover the quality of partly degraded soil after years 
of farming. The objective is to understand the hydrological behavior of slopes 
with different land uses (fallow and without cover). The analysis of rainfall and 
matric potential of soil water on the SC and POI plots showed, respectively, 
averages of -70 kPa - 40 kPa, showing a good structure and distribution of water 
in the soil on the plot POI in relation to plot SC.
KEYWORDS
Rainfall; Hydrological behavior; Tillage
INTRODUÇÃO
Os solos sob cultivo devem ser preparados de modo a alterar o mínimo possível as 
suas características físicas e químicas originais, especialmente aquelas que 
afetam a infiltração e retenção de água, como porosidade e agregação (CASTRO et 
al., 1986). 
O sistema de plantio convencional compreende um conjunto de atividades que 
provocam mudanças bruscas no perfil do solo e, durante o preparo da terra, o 
solo encontra-se desnudo e não possui nenhum período de descanso, sendo 
utilizado ao longo do ano. Já no sistema de Pousio, as áreas são cultivadas por 
períodos curtos, seguidos de um período de descanso dos solos (CONKLIN, 1957) 
para repor os nutrientes exportados pela produção agrícola, a partir da elevada 
deposição de serapilheira propiciada pelos sistemas florestais, permitindo 
melhorias nas características físicas e biológicas dos solos (MENDES, 2005). 
O pousio mantém a sustentabilidade ambiental da exploração agrícola ao longo do 
tempo, já que os processos erosivos são minimizados (OLIVEIRA, 1999). Nas 
regiões tropicais e de vertentes íngremes e relevo movimentado, a prática de 
pousio é uma das mais adaptadas para pequenas propriedades agrícolas, devido aos 
baixos níveis de insumos e elevada disponibilidade de mão-de-obra (REIS, 2002). 
As atividades agrícolas, com destaque para a olericultura, ocupam as restritas 
planícies fluviais e as vertentes do domínio montanhoso. A Região Serrana 
apresenta uma ocupação humana que remonta ao século XIX, nas cidades que se 
assentaram em alvéolos intramontanos, como Petrópolis, Teresópolis e Nova 
Friburgo. Tais áreas apresentam também solos pouco espessos e lixiviados, 
indicado para o turismo e o incremento do sistema agroflorestal (DANTAS, et al., 
2001.
MATERIAL E MÉTODOS
O distrito São Pedro da Serra, situado no município de Nova Friburgo no Estado 
do Rio de Janeiro, apresenta topografia íngreme com remanescentes de Mata 
Atlântica, clima Tropical de Altitude e a classificação dos solos é CAMBISSOLOS, 
seguido dos LATOSSOLOS Vermelho-Amarelo e afloramentos rochosos (EMBRAPA, 1999). 
O distrito é caracterizado por ser essencialmente agrícola onde a prática de 
Pousio é tradição de alguns agricultores da região. 
Foram construídas duas parcelas experimentais com 10 x 2 m (totalizando 20 m²), 
instaladas em diferentes sistemas de manejo (Pousio de 4 – 7 anos e área Sem 
Cobertura) distanciadas 5 m uma da outra (BERTONI e LOMBARDI NETO, 1999).
Os valores de precipitação diária (intervalo de 24h) foram avaliados através de 
pluviômetros convencionais em área Sem Cobertura (SC), com abertura de 100 mm de 
diâmetro. Os coletores foram instalados com as bordas a 1,5 m da superfície do 
solo, com a finalidade de minimizar o efeito do salpico (FREITAS, 2003).  
Para verificar a acurácia dos dados e buscando-se classificar a intensidade dos 
eventos, foi instalada uma Estação Automatizada Meteorológica THIES TLX-MET para 
fins de comparação, responsável pela coleta de dados de precipitação a cada 10 
minutos.
A intensidade de chuva foi analisada segundo os parâmetros da Fundação Geo-Rio. 
Segundo a Geo-Rio as chuvas podem ser classificadas em: insignificante (< 1,0 
mm/h), leve (1,1 a 5,0 mm/h), moderada (5,1 a 25 mm/h), forte (25,1 a 50 mm/h) e 
muito forte (> 50 mm/h).
O comportamento hidrológico é monitorado através de dois Blocos de Matriz 
Granular (GMS`s) (SHOCK, 1998) nas profundidades de 15 e 30 cm, em cada parcela 
com um declive de 26%. As leituras foram realizadas diariamente 
concomitantemente com os dados de precipitação.
O presente trabalho tem como objetivo compreender o comportamento hidrológico em 
encosta com diferentes usos (Pousio e Sem Cobertura), analisando a eficácia do 
sistema de pousio quando comparado ao manejo convencional.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Desde 2005, São Pedro da Serra passou a abrigar uma Estação Experimental e 
estudos são realizados em diferentes tipologias de coberturas (floresta, pousio 
e plantio convencional) (PEREIRA, 2005; CARVALHO, 2005; SILVA, 2005; BARROS, 
2008; LIMA et al., 2006; QUEIROZ, 2007; SANTOS et al., 2008; CHAVES, 2009; 
BERTOLINO e BERTOLINO, 2010; SALGADO, 2010; ASEVEDO, 2010; SOUZA, 2011; SOARES, 
2011). Em 2012, estão sendo desenvolvidos trabalhos afim de compreender o 
comportamento hidrológico e o regime pluviométrico ao longo dos oito anos de 
pesquisa na área.
Os valores de precipitação diária foram coletados e registrados por pluviômetros 
durante os anos de 2006 a 2011, com totais pluviométricos de 1.707 mm, 1.393 mm, 
1.989 mm, 2.050 mm, 1.802 mm e 2.014 mm, respectivamente, apresentando uma média 
de 1.826 mm (Figura 1 A).
A partir da média mensal de todos os anos (2006 a 2011) observam-se dois 
períodos distintos: um período úmido (novembro a abril), de maior ocorrência de 
chuvas; e um período seco (maio a outubro), de menor ocorrência de chuvas 
(Figura 1 B).
Através do total de precipitação mensal de todos os anos (Figura 1 C), verifica-
se que o mês de novembro de 2010 possui índice de 378,7 mm, superior a média de 
2006 a 2011 de precipitação da região (300,3 mm), e em dezembro de 2010 o índice 
chegou a 371,5 mm, ficando novamente acima da média (365 mm). No mês de janeiro 
de 2011, o valor total de precipitação foi de 332 mm, ultrapassando 25,3 mm da 
média de precipitação da região. 
Na classificação dos eventos chuvosos dos dias 11 e 12 de janeiro de 2011, 
observa-se que no dia 11/01/2011 ocorreram ao longo de 24h 09 chuvas com 
intensidades diferenciadas, sendo as mais expressivas de 7,2 mm/h moderada, 10,9 
mm/h moderada e 15,6 mm/h moderada. A precipitação moderada mais longa ocorreu 
entre às 21:50h e 7:10h (12/01/2011) representando uma intensidade total de 
chuva de 145,2 mm distribuídas em 9h, com intensidade de 15,6 mm/h. O total 
pluviométrico no dia 11 foi de 75,8 mm e no dia 12/01/2011 foi de 179,6 mm.
De acordo com o potencial matricial foi possível avaliar as condições de recarga 
e drenagem do solo (2008 a 2011). Na média geral, verifica-se que a parcela de 
Pousio demonstrou drenagem mais eficiente (-70 kPa) quando comparada a parcela 
Sem Cobertura vegetal (-40 kPa).
Na média geral do potencial matricial da água no solo no período úmido, a 
parcela POI apresenta valores médios inferiores (–49 kPa), enquanto que a 
parcela SC apresenta valores médios ainda superiores (–21 kPa), demonstrando a 
retenção de umidade, favorecendo a predominância dos fluxos superficiais, 
podendo ocasionar os fenômenos erosivos. 
Foi isolado o potencial matricial diário da água no solo (Figura 2 A) e o regime 
pluviométrico diário da região (Figura 2 B) no período de outubro de 2010 a 
janeiro de 2011.  É importante destacar, que o período em questão se insere nos 
meses de maior concentração de chuvas (de novembro a abril). Durante todo o 
período, a parcela SC apresenta pouca variação, mesmo diante de oscilações 
pluviométricas, demonstrando uma dificuldade de infiltração e percolação da água 
dentro da matriz do solo no período chuvoso. Já a parcela POI, possui variações 
constantes em todo o período analisado, demonstrando uma drenagem eficiente 
quando comparada ao sistema SC, mesmo no período de concentração de chuvas.
Verifica-se que a parcela SC, do dia 12 de novembro de 2010 a 23 de janeiro de 
2011, variou de -4 kPa a -10 kPa, enquanto que a parcela POI, durante o mesmo 
período apresentou variações de -17 kPa a -145 kPa, mostrando uma grande 
amplitude nos valores. No dia 11/01/2011 o potencial matricial da água no solo 
na parcela SC foi de –4 kPa enquanto que na parcela POI foi de –141 kPa, e no 
dia 12/01/2011 o potencial matricial da parcela SC se manteve (–4kPa) enquanto 
que a parcela POI obteve –145 kPa.
Gráficos de Precipitação
Figura 1: A)Total anual de precipitação de 2006 a 
2011. B)Média mensal de precipitação de 2006 a 2011. 
C)Total mensal precipitado de 2006 a 2011.
Gráficos de Potencial Matricial e Pluviosidade

Figura 2: A) Potencial matricial diário de outubro 
de 2010 a janeiro de 2011. B) Precipitação total 
diária de outubro de 2010 a janeiro de 2011.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após as análises do potencial matricial da água no solo, observou-se que a parcela 
POI mostrou-se com boa drenagem nos períodos seco e úmido, comprovando uma boa 
distribuição da água ao longo do solo em relação à parcela SC. 
Diante disso, a prática do manejo conservacionista de Pousio mostra-se eficiente 
quanto à qualidade do solo e dinâmica da água em áreas de encostas íngremes e 
reforçam a problemática da exposição do solo as intempéries climáticas quando se 
faz uso de práticas agrícolas conservacionistas.
AGRADECIMENTOS
As autoras agradecem a FAPERJ pelo apoio financeiro a Bolsa de Iniciação 
Científica com o processo de número: E-26/111.548/2011 do projeto “Diferenciação 
dos processos hidrológicos e erosivos em áreas de pousio com diferentes idades em 
ambiente de Mata Atlântica: São Pedro da Serra (Nova Friburgo) – RJ” e aos demais 
companheiros do Laboratório de Geociências da UERJ/FFP pelo apoio e auxilio 
incondicional durante todas as etapas das pesquisas.
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