Anais: Geomorfologia de encostas
OCUPAÇÃO EM ÁREA DE RISCO AMBIENTAL RELACIONADO A MOVIMENTOS DE MASSA: O CASO DO BAIRRO ALTO DA ESPERANÇA NO MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS – MA.
AUTORES
Conceição, A.O. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Farias Filho, M.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Gonçalves, C.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Pereira, C.R.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Pinto, K.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Santos, J.N. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO)
RESUMO
Os movimentos de massa são eventos que ocorrem naturalmente em função de diversas
variáveis fisiográficas agravadas pelas atividades antrópicas e conduzidas pela
ocupação do solo. As áreas sujeitas a isso estão na categoria de risco geológico
que aliado a outros fatores implicam em sérias consequências às populações que
nelas habitam. Este trabalho analisa o processo de ocupação do bairro Alto da
Esperança para detectar a natureza de tais eventos e sugerir medidas que minimizem
tal problema.
PALAVRAS CHAVES
Área de Risco ; Movimento de Massa ; Alto da Esperança
ABSTRACT
Mass movements are events that occur naturally as a function of several variables
physiographic compounded by anthropogenic activities and conducted by the
occupation. The areas that are subject to the risk category together with other
geological factors imply serious consequences to the people who inhabit them. This
paper analyzes the process of occupation in the neighborhood of High Hope to
detect the nature of such events and to suggest measures to minimize this problem
KEYWORDS
Risk Area ; Mass Movement ; High Hope
INTRODUÇÃO
O processo de formação de uma parcela do território brasileiro é marcado por um
histórico onde a constante ocupação do solo ocorre de maneira inadequada. Isso
fica evidente quando se observa que a expansão de áreas urbanas em todo país
ocasionaram o adensamento de espaços desprovidos de infraestrutura básica,
contribuindo para o agravamento da perturbação antropogênica dos recursos
naturais e ecológicos que condicionaram sua degradação.
Nessa perspectiva, nota-se que a rápida evolução do meio urbano com a ausência
de planejamento, gerou para as cidades, problemas ambientais de origens
distintas. Prova disso, é a existência das áreas de riscos ambientais, onde são
percebidos eventos relacionados a movimentos de massa e inundações. Estas
resultam das associações entre processos adversos decorrentes da aceleração das
dinâmicas naturais, que são agravadas, sobretudo pelas atividades humanas.
Estas áreas estão enquadradas na categoria de risco geológico, que por sua
condição geomorfológica e de localização, aliada aos fatores pluviométricos e à
ocupação inadequada do território implicam em sérias consequências às populações
que nelas habitam. SOUZA e ZANELLA (2009)
Dentro desse contexto enquadra-se o município de São Luís que nas últimas quatro
décadas passou por um acelerado crescimento urbano e populacional, mas
desprovido de uma política de planejamento DINIZ (2007). A cidade atualmente
apresenta um número bastante considerável de áreas de risco dentre as quais,
destaca-se o bairro Alto da Esperança, São Luís (MA), que sofreu eventos de
deslizamentos que ocasionaram transtornos e alerta para a comunidade. Desse
modo, o objetivo geral deste trabalho é analisar o processo de ocupação da
referida área a partir de um estudo de caso, no intuito de detectar as causas e
os efeitos de tais eventos e assim sugerir medidas que visem minimizar tal
problema.
MATERIAL E MÉTODOS
O desenvolvimento do estudo foi realizado com fundamentação nos métodos
dedutivos e indutivos e apoio dos métodos qualitativo e fenomenológico buscando
alcançar os objetivos propostos. Sendo assim o método dedutivo auxiliará a fase
de gabinete, visando solidificar o referencial teórico, revisão bibliográfica.
Já o método Indutivo será um suporte na observação dos elementos naturais, aos
métodos: qualitativos e fenomenológico, com base na percepção ambiental,
observação, interpretação de dados e explicação de fenômenos de caráter geral a
local. Dessa forma a pesquisa foi dividida em três fases utilizando os seguintes
procedimentos metodológicos. A primeira fase correspondeu em fazer um
levantamento bibliográfico, referente à problemática estudada no intuito de
conhecer a formação do bairro Alto da Esperança; seleção cartográfica a partir
de fotografias aéreas e imagens de satélite buscando conhecer de forma minuciosa
a área de estudo; produção de mapas temáticos a partir do uso do software Arcgis
9.3; Levantamento das características do meio físico para assim analisar a
evolução física do terreno e de sua ocupação, destacando as características
fisográficas como: geologia, geomorfologia, cobertura vegetal, clima, drenagem.
A segunda etapa correspondeu aos trabalhos de campo, onde se pode averiguar com
mais veracidade as alterações percebidas na fase anterior; aplicação de 60
questionários com perguntas estruturadas, seguindo um roteiro previamente
estabelecido e com perguntas não estruturadas junto à comunidade; registros
fotográficos das principais características ambientais presentes; visitas a
órgãos públicos como Defesa Civil de São Luís e CREA-MA em busca de informações
técnicas e detalhadas a respeito dos eventos relacionados a movimento de massa
na área de estudo e por fim na terceira fase fez-se a análise dos dados
coletados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O processo de ocupação no bairro Alto da Esperança, antes conhecido como “morro
pelado”, deu-se no período em que a cidade de São Luis sofreu um incremento em
seu desenvolvimento a partir da implantação dos projetos industriais como a
Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), atual VALE, nas décadas de 1970 a1990.
É importante ressaltar que a instalação da empresa Vale em São Luís afetou
comunidades de forma direta ou indireta e proporcionou uma série de impactos na
configuração socioambiental da cidade. Como exemplo tem-se o bairro Alto da
Esperança, criado para assentar uma comunidade tradicional de pescadores. Tais
famílias foram remanejadas por iniciativa da mineradora que teve interesse
naquela área por ser um ponto estratégico para expansão do seu porto.
De acordo com os levantamentos observou-se que o bairro Alto da Esperança é
considerado área de risco ambiental, pois o terreno é propício a eventos de
escorregamento terra, uma vez que, já foi detectada a ocorrência de episódios
similares na década de 2000. É importante considerar que a área doada para
assentamento das famílias apresenta uma infraestrutura precária, pois fora
aterrada incorretamente sem que houvesse uma análise prévia das condições do
terreno e nem preparação das bases utilizando materiais inapropriados, sem
drenagem eficiente e com habitações construídas irregularmente, além disso, a
obra de aterro contemplou apenas a compactação da última camada do terreno
deixando as camadas mais inferiores livres e propensas a recalcarem ao longo do
tempo como mostra a figura 1 (CTDEC e CREA-MA, 2009).
Conforme outro fator importante a considerar é que os escorregamentos,
geralmente, estão associados à dinâmica das encostas, caracterizadas por
diferentes energias potenciais dependendo de sua declividade GUIDICINI e NIEBLE
(1976), além desse, as características geológicas-geotécnicas e geomorfológicas
associadas a fatores pluviométricos tornam esta área bastante instável uma vez
que o solo dessa região possui uma significativa quantidade de tabatinga -
argila mole, inconsistente de colorações diversas - em sua granulometria e com a
presença de chuvas intensas, decorrentes no período que vai de janeiro a junho,
sofre um encharcamento excessivo deflagrando a movimentação do terreno. Somados
a isso é importante ressaltar que a estrutura de algumas casas apresenta severas
fissuras, assim como a quebra dos pisos e azulejos, além de muitas infiltrações
que surgiram do solo o que propicia ainda mais o acontecimento de possíveis
acidentes.
Deste modo comprovou-se que a ocorrência de escorregamentos de terra na área de
estudo deu-se em um período em que a cidade de São Luís obteve índice
pluviométrico acima do normal, quando comparado aos anos anteriores, propiciando
um excessivo armazenamento de água no solo inconsistente, tal processo foi
fundamental para que o mesmo sofresse recalque, deflagrando o escorregamento do
aterro. Portanto tal episódio implicou em uma série de consequências de caráter
negativo, como por exemplo, a destruição de uma rua inteira resultando com a
queda de boa parte das residências, afetando direta e indiretamente a população
que reside ali, o que acaba sendo um grande problema e que ganha maior proporção
quando se observa a situação socioeconômica dos moradores, estes não detém de
recursos financeiros que proporcione a busca de um lugar mais seguro para viver
e isso faz com que sejam resistentes em permanecer em uma área de risco.
Escorregamento de massa na área de estudo
Ruptura na estrutura do terreno aterrado. Fonte:
Arquivo da pesquisa 2011
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O resultado da pesquisa permitiu comprovar que o Bairro Alto da Esperança é uma
área de risco ambiental caracterizado por apresentar uma ocupação forçada. Dessa
forma as afirmativas ora citadas, são ratificadas quando se observa que o trabalho
de terraplenagem executado pela empresa citada não obedeceu às especificações
técnicas orientadas pela ABNT e pelo Código de Obras do município tornando a área
propícia a eventos de escorregamentos. É importante esclarecer que foram tomadas
apenas medidas emergências como o apoio da Defesa Civil municipal e o pagamento de
aluguel social pela mineradora e a prefeitura de São Luís, mas em janeiro de 2012
a Vale suspendeu o pagamento passando a responsabilidade para prefeitura
municipal. Contudo nada se tem feito no tocante às medidas preventivas. Assim, são
necessárias ações de caráter urgente que visem à recuperação do terreno, além de
uma ampla assistência às famílias visando reassentá-las em uma área estável que
ofereça segurança para habitação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
CREA/MA. Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Maranhão. Relatório de Vistoria Técnica, 2009.
CTDEC/ SÃO LUÍS. Defesa Civil de São Luís – Coordenação Técnica da Defesa Civil. Imóveis em estado de risco, 2008.
DINIZ, Juarez Soares. Ciências Humanas em Revista/ Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2007. V 5, n.1
GUIDICINI, G; NIEBLE, C. M. Estabilidade de Taludes Naturais e de Escavação. São Paulo: Edgard Blücher, Ed da Universidade de São Paulo, 1976.
SOUZA, Lucas Barbosa e ZANELLA, Maria Elisa. Percepção de Riscos Ambientais: Teoria e Aplicações. – Fortaleza: Edições UFC, 2009. 240p.