Anais: Geomorfologia de encostas
ADEQUABILIDADE DAS CONTENÇÕES EM ENCOSTAS ARENOSAS NO TRECHO ENTRE MASSARANDUPIÓ E IMBASSAÍ, LITORAL NORTE DA BAHIA
AUTORES
Araújo de Brito, D. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA) ; Uchôa de Lima, C.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA)
RESUMO
Entre Massarandupió e Imbassaí, no litoral norte da Bahia, os taludes que bordejam
a rodovia BA099 são constituídos de sedimentos arenosos e argilosos da Formação
Barreiras. Foram realizados estudos evidenciando as contenções aplicadas para
evitar a desestabilização e recuo das encostas. Concluiu-se que as bermas,
canaletas e sacos de solo-cimento, não são suficientes para a contenção de
encostas arenosas. Essas contenções, associados à falta de manutenção geram
movimentos de massas e voçorocas.
PALAVRAS CHAVES
Contenção; Estabilidade; Encostas Arenosas
ABSTRACT
In the north coast of Bahia, the cliffs that border the highway BA099 are
constituted of sandy and clayey sediments of the Formação Barreiras. Studies were
accomplished evidencing the applied contentions to avoid the destabilization and
retreat of the hillsides. It was evidenced that the berms, channels and soil-
cement sacks, are not enough for the contention hillsides. These facts, associated
to the lack of maintenance have generated mass movements and the pluvial erosion
in the hillsides.
KEYWORDS
Contention; Stability; Sandy Hillsides
INTRODUÇÃO
O real conhecimento da estabilidade geológica é muito importante para a ocupação
do meio físico e planejamento de obras de engenharia (HASUI, 1990),
principalmente aquelas instaladas em áreas de risco. Nesse particular, o estudo
da geotecnia, voltado para a contenção de encostas em áreas urbanas, tem sido
cada vez mais requisitado, frente às grandes catástrofes que têm ocorrido em
vários estados do Brasil. Além de locais densamente povoados, os movimentos de
massa podem ocorrer em taludes de corte presentes nas margens das rodovias,
provocando transtornos para os que trafegam, requerendo, portanto, trabalhos de
contenção, que evitem obstrução das estradas, principalmente nos períodos
chuvosos. Nos últimos anos, vários trabalhos voltados para as causas do recuo de
encostas e, consequentemente movimentos de massa na BA099, litoral Norte da
Bahia, têm sido desenvolvidos (DANTAS ET AL, 2007; DANTAS & LIMA, 2008; LIMA ET
AL 2008; LIMA 2010). Tais estudos revelaram a presença de zonas de fraquezas em
encostas adjacentes às rodovias, como consequências da atuação do neotectonismo
nos sedimentos do Terciário e Quaternário da Formação Barreiras.
Nas condições de estabilização de taludes marginais às rodovias, os tipos de
contenções mais encontrados são bermas, muros de gravidade, cortinas e
canaletas, estas últimas como elemento de drenagem. Ao propor um projeto de
estabilização, é importante verificar o tipo de tecnologia mais adotada naquela
região, a fim de que a proposta tenha respaldo técnico necessário para sua
aceitação. Para isso foi desenvolvido um estudo específico nas encostas da
rodovia BA 099, entre Massarandupió e Imbassaí, com o objetivo de analisar as
fragilidades físicas e as contenções aplicadas para evitar a desestabilização e
recuo das encostas, garantindo uma maior durabilidade das contenções, evitando
transtornos para as comunidades que fazem o uso da rodovia e para os
responsáveis técnicos da via.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizado um levantamento bibliográfico acerca do tema de estudo, durante o
desenvolvimento do trabalho. Após esta etapa, foram realizadas etapas de campo
com o objetivo de identificar a constituição dos taludes de corte e,
consequentemente, o seu comportamento físico. Foram feitas também, observações e
medidas das estruturas geológicas ao longo da BA099, utilizando para isso a
bússola geológica de Brunton, o GPS para localizar os taludes estudados, a
câmera fotográfica, para registro de imagens, e a trena usada para medir a
espessura das camadas do respectivo afloramento, assim como para fazer
estimativas aproximadas do volume de sedimentos deslocado.
Findada a etapa de campo, reuniram-se as informações adquiridas (dados, fotos
digitais, anotações e perfis traçados) para a realização de uma detalhada
análise das formas de contenções empregadas nos afloramentos estudados.
Discutindo então os resultados encontrados. Os mesmos foram organizados de forma
compacta e então expostos no presente trabalho.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos vários taludes observados ao longo da BA 099, apenas dois foram analisados
detalhadamente, dando especial atenção às formas de contenção aplicadas,
verificando as condições de drenagem e geometria, as contenções realizadas e o
processo de recuo.
Afloramento A: A Figura 1a é mostra uma visão panorâmica do afloramento A, o
primeiro afloramento analisado, com localização dada pelas coordenadas UTM
24L0613271; 8621.606.
Esse afloramento é predominantemente arenoso, contendo uma capa ferruginosa
superficial, que varia em espessura ao longo de toda encosta. Na base aparece
uma camada de argila possuindo 40cm de espessura. Todas as demais camadas são
constituídas de areia, variando na granulometria, na seleção dos grãos e na
quantidade de óxido de ferro.
A forma de contenção aplicada é muito comum nas rodovias baianas, com os taludes
cortados em bermas, possuindo canaletas na base. A fragilidade do talude, fez
com que os técnicos responsáveis, também colocassem sacos de solo-cimento como
forma de contenção. A condição de drenagem é péssima, pelo fato da canaleta não
ter sido submetida a uma manutenção regular, o que a obstruiu e fez com que a
mesma se fragmentasse e perdesse a funcionalidade para qual foi projetada. A
Figura 1b mostra o que restou da canaleta projetada para drenar a água.
O tipo de movimento de massa predominante é o escorregamento translacional. Além
disso, a ação pluvial, facilitada pelas zonas de fragilidades, representadas por
juntas neotectônicas (LIMA, 2010), tem provocado processos erosivos
representados por voçorocas. Além dos grandes deslizamentos de detritos
observados e das voçorocas, pode-se notar outros indícios de muita instabilidade
local, como a deformação nas obras de alvenaria. Ainda no afloramento A, para
fins quantitativos, foi feita uma estimativa da quantidade de material que já
foi deslocado em apenas uma voçoroca no talude superior, o volume foi de
aproximadamente 160m³ de material friável.
Afloramento B (UTM24L 0613810; 88622638): Esse afloramento possui uma maior
quantidade de camadas arenosas,mostrando, em alguns níveis, uma capa ferruginosa
espessa. Apesar de o material predominante ser a areia, foram observadas
quantidades significativas de camadas argilosas, distribuídas de forma
intercalada entre as camadas de areia. Essas condições, em princípio, garantem
uma maior estabilidade à encosta. A Figura 2a mostra do segundo afloramento
estudado, evidenciando uma maior estabilidade, em relação ao afloramento 1.
A forma de contenção encontrada é semelhante ao afloramento anterior, exceto
pela ausência de solo-cimento. Entretanto o recuo desta encosta é bem menor já
que a presença de camadas argilosas garante uma menor erodibilidade à encosta. A
manutenção da canaleta também não é efetuada de maneira eficaz, mas a degradação
da mesma é menor e, apesar de obstruída, ainda permanece com a sua alvenaria
inteira, como é notado na Figura 2.b
O tipo de movimento de massa decorrente nessa encosta é o escorregamento
translacional. A ação pluvial provoca ravinamentos, mas voçorocas não são
observadas. As camadas arenosas do afloramento B possuem matriz argilosa, além
disso, existem também nesse talude, camadas exclusivamente argilosas.
Após a análise dos afloramentos, pode-se afirmar que as encostas compostas
predominantemente por sedimentos arenosos são extremamente instáveis o que lhes
conferem um recuo mais acentuado quando comparado às encostas que possuem
camadas argilosas em quantidade significativa. Outros fatores que também ajudam
na resistência dos taludes, garantindo maior estabilidade, é a capa ferruginosa
presente na superfície das bermas, além da vegetação de médio porte, que quando
presente, desempenha um papel fundamental na conservação dos taludes.
Figura 1
a – Foto panorâmica do afloramento A.b – Local onde
se encontrava a canaleta da contenção aplicada.
Figura 2
a – Vista do afloramento B (24L 0613810; UTM
88622638). b – Canaleta proveniente da contenção
tipo: Berma/canaleta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatou-se que as encostas estudadas são constituídas de sedimentos da Formação
Barreiras, em uma área litorânea, de índice pluviométrico alto, o que confere a
essa região uma intensa atividade erosiva. Assim, a adequabilidade das contenções
torna-se algo relativo, quando se leva em conta a relação custo benefício, uma vez
que as encostas não se encontram em regiões densamente povoadas. Contudo, as
mesmas margeiam uma rodovia estadual de grande fluxo, o que muitas vezes não é
assistido com a relevância necessária.
Os processos erosivos observados são responsáveis pela desestruturação das bermas
e canaletas empregadas no sistema de contenção. A fragilidade das encostas requer
a adoção de inclinações compatíveis, optando, em alguns casos, pelo retaludamento.
É importante ressaltar que áreas retaludadas ficam frágeis, em virtude da
exposição de novas áreas cortadas, razão pela qual, o projeto de retaludamento
deve incluir, indispensavelmente, proteção das faces do talude alterados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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