Anais: Geomorfologia de encostas
Revisão bibliográfica para estudo da gênese das linhas de pedra em Guarapuava – Paraná
AUTORES
Rodrigues dos Passos, J. (UNICENTRO - PR) ; Camargo Filho, M. (UNICENTRO - PR) ; Willian da Silva, D. (UNICENTRO - PR)
RESUMO
Na literatura pertinente às linhas de pedra encontra-se duas teorias principais
que correspondem as características encontradas no município de Guarapuava-PR,
estas teorias descrevem as linhas de pedra, como indicativo de paleoambiente seco
ou como produto da pedogênese. No município de Guarapuava-PR, as linhas de pedra
são encontradas entremeando afloramentos de Latossolo e Latossolo Bruno, embora
relativamente comuns no município, não há consenso sobre sua origem.
PALAVRAS CHAVES
Linha de pedra; Paleopavimento; mudanças ambientais
ABSTRACT
In the literature related to stone lines is two main theories that match the
features found in Guarapuava-PR, these theories describe the stone lines, is
indicative of paleo dry or as a product of pedogenesis. In Guarapuava-PR, the
lines are found interspersed stone outcrops and dystrophic Oxisol, although
relatively common in the city, there is no consensus about its origin.
KEYWORDS
Stone lines; Paleopavimento; environmental changes
INTRODUÇÃO
As linhas de pedra são consideradas em estudos de Mousinho e Bigarela (1965)
como indicadoras de clima semiárido, no qual a paisagem esteve no passado, ou
seja, as linhas de pedra formariam um paleopavimento “camada de cascalho
acompanhando em subsuperfície grosseiramente a topografia atual” Mousinho e
Bigarela (1965, p.11). Segundo Hiruma (2007, p.53) as linhas de pedra “refere-se
a um horizonte de fragmentos angulosos a subangulosos, às vezes arredondados, de
quartzo de veio, quartzitos, couraças lateriticas, minerais pesados, ou de
outros materiais resistentes a alteração”. No município de Guarapuava, Paraná,
localizado no centro sul do estado, terceiro planalto paranaense, encontra-se
com grande facilidade linhas de pedra expostas em cortes de estrada,
acompanhando o perfil. As linhas de pedra frequentemente entremeiam os
afloramentos de Latossolo ou, mais raramente, próximo à superfície de solos
Litólicos (figura1 e figura2). O material constituinte dessas feições são
areias, grânulos e seixos de quartzo, calcedônia, basalto. Santos, et al. (2010)
agrupa as varias hipóteses para origem das linhas de pedra em dois núcleos, um
engloba as teorias de origem autóctone e outro alóctone, mas este trabalho se
restringirá a tratar apenas de duas teorias, devido as características
encontradas em Guarapuava, a de Mousinho e Bigarella, (1965) propõem que a
origem das linhas de pedra estaria relacionada ao coluviamento. Collinet (1969),
por outro lado, considera-as como produto do intemperismo residual.Todavia os
afloramentos de sedimentos e solos que possuem linhas de pedra em Guarapuava,
não apresentam claros indícios de coluvionamento e formação de paleopavimento
(figura 2). Entretanto a aparente homogeneidade litológica, associada aos
Latossolos torna difícil a distinção entre o material colúvial do produto
autóctone. A confirmação de uma ou de outra hipótese para linhas de pedra de
Guarapuava-PR contribuirá na elucidação do ambiente pretérito da área de estudo.
MATERIAL E MÉTODOS
Como afirma Hiruma (2007) ás linhas de pedra devem ser analisadas de forma
multidisciplinar, com o envolvimento das visões de pedólogos, geólogos,
geomorfólogos e biólogos. Destacando que a abordagem, geomorfológica deverá ser
regional não apenas no local da linha de pedra, a utilização de experimentos in
situ, além de analises micromorfologicas e químicas, Hiruma (2007). Para
compreender a gênese das linhas de pedra em Guarapuava – PR, serão necessárias
metodologias de campo, laboratório e gabinete para deste modo comprovar qual
hipótese poderá ser aplicada às linhas de pedra em Guarapuava. Os trabalhos de
campo serão destinados à coleta de amostras deformadas, indeformadas e a
construção de seções sistemáticas. No caso em tela serão eleitas seis encostas
representativas, as seções sistemáticas serão construídas com o uso de nível de
mão, linha e fixadores de metal. Estabelecido os dados numéricos dos
afloramentos, as informações serão transferidas para desenho em escala. A
disposição das linhas de pedra em relação às encostas será determinada por
levantamento topográfico. Os afloramentos serão amostrados desde a sua base até
o seu topo. Dentre os ensaios laboratoriais efetuar-se-á análise granulométrica
segundo a rotina convencional de separação de grosseiros, via peneiramento, e
finos, pelo sistema de pipetagem, método 1.16.1 da EMBRAPA (1979) adaptado. Os
dados granulométricos permitirão identificar o tamanho dos grãos, necessária ao
estabelecimento da distribuição quantitativa das partículas no perfil estudado.
A mineralogia de argilas (DRX) possibilitará caracterizar o processo de evolução
do ambiente, e as descontinuidades mineralógicas no perfil. A identificação
morfométrica das linhas de pedra destina-se a caracterizar a forma do material
que compõe a linha de pedra, este procedimento contribuirá na distinção dos
processos que agiram na sua gênese. Além da importância da análise microscópica
a da datação a serem designadas por sua representatividade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A origem das linhas de pedra em Guarapuava-PR tem sido relacionada a mudanças
climáticas (CAMARGO FILHO, 1997), mais ao analisar a bibliografia e os perfis
expostos, torna-se necessário a análise sobre outra ótica, as linhas de pedra em
Latossolos são indicadores de paleoambientes ou estas são produto da pedogênese.
De fato, várias são as hipóteses que podem ser levantadas sobre a origem dessas
feições e o seu significado. Dentre os principais estudos a respeito das linhas
de pedra, realizados no Brasil estão os de Mousinho e Bigarella, (1965) estes
conceituam linhas de pedra como feições encontradas em superfície que
normalmente acompanham a morfologia das vertente. Bigarella e Andrade (1965)
apud Casseti (2005, p.21), consideram as linhas de pedra (Stone lines) como “à
forma de ocorrência de depósitos subsuperficiais rudáceos transportados em
condições torrenciais dos climas secos, como aqueles relacionados à última fase
glacial pleistocênica, podendo estar associados a sucessivos retrabalhamentos do
material”. Assim sendo, o material segundo os autores citados, que estaria
disponível na alta encosta seria transportado por coluvionamento encosta abaixo,
compondo um paleopavimento rudáceo. Este paleopavimento, seria novamente
recoberto por material rudáceo coluvionado. Dessa forma, ocorreria a feição de
linha no relevo (SANTOS, et al. p. 104, 2010). Segundo Bigarella (2003, p.1077)
“as rampas de colúvio-aluvionares foram originadas essencialmente por processos
de solifluxão (ou equivalentes) e de escoamento superficial difuso ou
torrencial”.
Figura 1. Perfil sob ação do intemperismo, solos Litólicos.
Collinet (1969) em estudo realizado no Gabão, através da descrição minuciosa dos
perfis encontrados e de analise granulométrica, aponta para a interpretação das
linhas de pedra, em climas quentes e úmidos como sendo de origem autóctone,
através da percolação da água no perfil e da evolução dos solos, pois o material
que compõem a linha é derivado do intemperismo da rocha matriz (figura 1 e 2).
Segundo o autor, as linhas de pedra acompanham a topografia e podem ser formados
por quartzo e concreções ferruginosas, materiais que lideram a formação das
linhas, por serem mais resistentes ao intemperismo químico. Para Collinet (1969)
esses materiais ficariam evidenciados no perfil por mais tempo,devido sua
resistência ao intemperismo químico. Dessa forma as linhas de pedra não seriam
necessariamente formadas por seixos e sim por grânulos e veios de quartzo.
Para Collinet (1969) as linhas de pedra são produto do intemperismo químico
(figura 1), em regiões onde o clima e a temperatura propiciam água e calor
suficientes para o intemperismo atuar sobre o maciço rochoso, levando a
alteração e remoção em solução de minerais menos resistentes, permanecendo no
perfil as feições em linha dos materiais mais resistentes (figura 2).
Figura 2. Linha de pedra entremeando o afloramento.
No caso da área de estudo a hipótese apresentada por Collinet (1969) não pode
ser descartada, pois a área está sob condições de clima sobtropical, com média
pluviométrica anual em torno de 1961 mm e temperatura média de 16,9°C (THOMAZ E
VESTENA, 2003). Entretanto, a posição das linhas de pedra em relação à
topografia, associadas ao material que as compõem, ao tipo de solo, não permitem
a adoção de qualquer hipótese apresentada como elemento de verdade para a área
de estudo. Ainda é necessário estudos detalhados em campo, laboratório e
gabinete sobre a temática para que se possa compreender o real significado das
linhas de pedra em Guarapuava –PR.
Figura 1.
Perfil sob ação do intemperismo, solos Litólicos.
Figura 2.
Linha de pedra entremeando o afloramento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não há dúvida que linhas de pedra têm instigado o pensamento científico sobre sua
origem. Também não existem dúvidas que estas feições são indicativas de intensa
pedogênese ou de mudanças climáticas ou mesmo de ambos. O fato é que na área de
estudo não existe uma clara conclusão sobre a existência dessas feições. Portanto
a elucidação dos processos que levaram a sua formação permitirá compreender a
evolução geomorfológica das encostas na região de Guarapuava - PR.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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COLLINET, J. Contribution a l’étude des “stone-lines” dans la région du Moyen-ogooué (Gabon). Cahiers ORSTOM, sér. Pédol., vol. VII, nº. 1, 1969.
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