Anais: Geomorfologia de encostas
Análise de risco geomorfológico em áreas de expansão urbana de Garanhuns - PE: Avaliação expedita.
AUTORES
Marcos de Lima, (UFPE) ; Otaviano Praça de Souza, J. (UFPE) ; Gomes da Silva, D. (UFAL) ; Carlos de Barros Corrêa, A. (UFPE)
RESUMO
A identificação de pontos de risco geomorfológico é precedida pela contemplação de
uma gama de informações acerca da região estudada. Neste trabalho observa-se a
interação entre metodologias de análise do ritmo climático, banco de dados
geográfico e SIG a fim de identificar alguns pontos de risco no município de
Garanhuns – PE. Foi perceptível a existência de áreas de risco, sobretudo, em de
encostas habitadas com a contribuição de eventos chuvosos de grande magnitude.
PALAVRAS CHAVES
Risco Geomorfológico; Expansão Urbana; Garanhuns - PE
ABSTRACT
The recognition of points of geomorphological risk is preceded by several data
about of the researched region. In this paper was observed the interaction between
methodologies of climatic rhythm analysis, geographic database and GIS to identify
some risk points in inhabited with contribution of rains events of high magnitude.
KEYWORDS
geomorphological risk; urban expansion; Garanhuns - PE
INTRODUÇÃO
Este trabalho trata-se de uma fração do projeto “Análise de Depósitos
Quaternários e Áreas de Risco Geomorfológico: O Caso do Altiplano de Garanhuns –
PE”, englobando uma rede de estudos referente à Geomorfologia do quaternário com
ênfase em ambientes secos (subúmidos e semiáridos), no âmbito do Grupo de
Estudos do Quaternário do Nordeste do Brasil – GEQUA, ligado ao Departamento de
Ciências Geográficas – DCG e ao Programa de Pós-graduação em Geografia – PPGEO,
ambos da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE.
O município de Garanhuns - PE está situado sobre o Planalto da
Borborema, agreste pernambucano, comportando uma população estimada de cerca de
130 mil habitantes (IBGE, 2011). Sua altitude média varia de cerca de 900m a até
1026m. Esta característica é um dos fatores de influência nas baixas
temperaturas deste município em detrimento dos outros da região, importante
atrativo de turistas para a cidade.
Como grande parte do Brasil, o município de Garanhuns passa por um processo de
crescimento econômico o que abarca modificações nos padrões sociais e o
conseqüente aumento da mancha urbana. Nos últimos anos, foram registrados
diversos casos de desastres e problemas estruturais gerados por eventos ligados
à dinâmica geomorfológica local, sobretudo nas paisagens de encostas, que foram
e continuam sendo povoadas sem planejamento adequado.
O presente artigo busca evidenciar algumas dessas zonas de risco, posicionadas
na porção Norte da Cidade, área de concentração de projetos habitacionais, que
sofre com a constante ocorrência/ameaça de eventos de grande magnitude, capazes
de modificar as paisagens e provocar diversos danos materiais. Para tanto, as
análises, se detiveram ao campo da análise rítmica do clima, elaboração do banco
de dados com informações da superfície dessas paisagens e a construção de um
Modelo Digital de Elevação e de um Mapa de Declividade que pretende mapear os
pontos de risco.
MATERIAL E MÉTODOS
A partir da abordagem da teoria de análise do ritmo climático proposta por
Monteiro (1971), que consiste na observação diária das variantes meteorológicas,
tais como, precipitação, umidade relativa do ar, temperaturas – máxima, média e
mínima – e os sistemas atmosféricos atuantes, observa-se a existência de eventos
climáticos de alta magnitude que promovem a desestabilização dos elementos
naturais. Dessa forma foram obtidos dados climáticos diários dos últimos 19 anos
(período no qual as informações diárias são disponibilizadas) a partir de uma
estação meteorológica gerenciado pelo IMET localizada no município de Garanhuns.
Pretendendo, assim montar um quadro com todas as informações climáticas que
possam favorecer a construção do modelo de escoamento superficial da região
supracitada.
A visita ao campo de trabalho permite a visualização e a identificação precisa
de informações que alimentam um banco de dados elaborado para sintetizar as
análises a cerca de todo o material de superfície que compõe os pontos de risco
da área analisada (CARDINALI et al, 2002), além de viabilizar a elaboração de um
Modelo Digital de Elevação – MDE, na porção norte da mancha urbana do município
de Garanhuns. Este banco de dados segue o modelo elaborado por Morelli (2012),
para monitoramento, análise e controle de pontos de risco na província de
Florença, Itália. Como também identificar os limites da expansão urbana e a
localização dos novos conjuntos habitacionais
A partir da utilização do software ArcGis 9.3, será confeccionado um Modelo
Digital de Elevação e um mapa de declividade, a partir de dados TOPODATA,
objetivando identificar pontos e/ou áreas que possam apresentar risco
geomorfológico. Posteriormente as informações obtidas em campo foram sobrepostas
ao MDE e mapa de declividade para avaliar as áreas que apresentam a
possibilidade de risco geomorfológico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise do ritmo climático do município de Garanhuns foi realizada com a
coleta e catalogação dos dados diários e mensais das informações sobre
temperaturas (máximas e mínimas), volume de precipitação (em mm), Densidade de
Água Acumulada no Solo – DAAS (em mm) e evapotranspiração (em mm). Esses dados
permitem, em contribuição com a pesquisa de campo, a elaboração do banco de
dados geográfico dessas paisagens. A análise dessas informações permitiu
conhecer sobre a dinâmica climática da cidade nos últimos 19 anos, período em
que foram coletados os dados. Foi verificado que no período de 2001 até 2011
houve uma tendência maior à ocorrência de eventos chuvosos e mesmo os anos mais
secos não foram caracterizados como anos de seca. Esta década (2001-2010)
contracena opositivamente com a década anterior, onde a maior frequência de anos
secos caracterizou a dinâmica climática local.
Os eventos de elevada magnitude foram ordenados de acordo com a sua
ocorrência, onde meses com grande volume de precipitação, caracterizaram aqueles
com acumulo maior que 200 mm/mês, além da classificação de eventos diários, que
foi realizada em função da relação ocorrência/volume precipitado. De acordo com
os dados obtidos em gabinete, as precipitações que ultrapassaram 50 mm/dia
somaram 12 ocorrências parra o período de 10 anos (2001 – 2011), neste mesmo
período apenas uma ocorrência verificou uma precipitação maior que 100 mm/dia
(18/06/2010), os dias que marcam eventos de grande magnitudes como estes
apresentam, em sua maioria, algum tipo de desastre, o que valida a teoria da
relevância do volume de precipitação na ocorrência de eventos danosos à
sociedade. Contudo, a atuação da dinâmica climática funciona, em muitos casos,
como o catalisador do problema que por vezes faz-se agravado/gerado pela atuação
do homem no espaço, tal fato foi verificado na visita ao campo.
O Modelo Digital de Elevação – MDE permitiu a identificação dos pontos
de risco, limitando a expansão urbana da cidade. As áreas de urbanização já
consolidadas estão, em sua maioria, situadas por sobre o terreno menos
inclinado. A estabilidade do terreno, que tem sua angulação variando de 0,5º à
10º, é um fator negativo para a ocorrência de desastres naturais, desde que
outros fatores de relevância não comprometam estas paisagens. Algumas das áreas
de expansão urbana, seja por programas habitacionais do governo, seja por
iniciativa privada, aportam em sua maioria com o limite dos pontos de risco
geomorfológico, onde o fator declividade acentua a susceptibilidade à ocorrência
de desastres naturais, sobretudo quando esta característica está atrelada a uma
má gestão do espaço.
Áreas de declividade média (maior que 10º) margeiam a mancha urbana da
cidade. Este fato merece atenção, pois, a identificação de pontos de risco surge
após a avaliação de uma gama diversa de fatores, dentre eles, a declividade
(para o caso de encostas), edificações e outras intervenções humanas, vegetação,
dinâmica climática. Desta forma, Hetú (2003) salienta que a displicência com
relação a suscetibilidade de ocorrência de eventos desastrosos, como sendo um
fator agravante nos prejuízos. O planejamento urbano deve pautar ações que
viabilizem a expansão urbana diante das limitações impostas pelo ambiente, a
qualidade de vida e manutenção das paisagens é o respaldo para a correta gestão
do espaço.
Mapa de Declividade
Mapa ilustrando a relação das áreas de expansão
urbana e pontos de risco geomorfológico ligados à
declividade de encostas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O município de Garanhuns-PE apresentou uma ligação entre os pontos de risco e as
características da sua topografia, dentre os fatores mais importantes que ativam e
modelam esse risco, como também a dinâmica climática, no que tange a ocorrência de
eventos de grande magnitude (precipitação) e a atuação do homem com relação a sua
ocupação, sobretudo nos últimos anos. Foi verificado que as condições ambientais
ainda são fatores limitantes da expansão urbana, mas esta empurra suas margens
para possíveis situações de risco geomorfológico. A utilização das metodologias
atreladas, a fim de elaborar um quadro geral da situação, se mostrou eficiente,
embora é válido salientar que, em se tratando de risco de desastre natural quanto
maior o número de fatores analisados maior também será o grau de confiabilidade
das informações expostas. Estudos de identificação de risco são de imprescindível
relevância para a elaboração de ações de planejamento e gestão do espaço urbano.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à UFPE, através do Programa de Pós-graduação em Geografia - PPGEO, ao órgão de fomento do meu curso de mestrado (FACEPE), à Profa. Ms. Daniele Gomes da
Silva, ao Prof. Ms. Jonas Otaviano Praça de Souza, pela inestimável contribuição,
e ao Prof. Dr. Antonio Carlos de Barros Corrêa, pela constante orientação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
CARDINALI, M.; REICHENBACH, P.; GUZZETTI, F.; ARDIZZONE,F.; ANTONINI, G.; GALLI, M.; CACCIANO, M.; CASTELLANI, M. A geomorphological approach to the estimation of landslide hazards and risks in Umbria, Central Itay. Natural Hazards and Earth System Sciences. European Geophysical Society. n.2, 2002, 57 – 72.
HETÚ, B. Uma geomorfologia socialmente útil: Os riscos naturais em evidência. Revista de Geografia da Universidade Federal do Ceará. Mercator. Fortaleza, CE. Ano 02, n. 03, 2003.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Estimativa para o ano de 2011, CENSO 2010.
MONTEIRO, C.A.F. Análise rítmica em climatologia: problemas da atualidade climática de São Paulo e achegas para um programa de trabalho. São Paulo: Universidade de São Paulo, Instituto de Geografia, 1971, Climatologia, 1.
MORELLI, S.; SEGONI, S.; MANZO, G.; ERMINI, L.; CATANI, F. Urban planning, flood risk and public policy: The case of the Arno River, Firenze, Italy. Applied Geography. Elsevier. n. 34, 2012, 205 – 218.