Anais: Geomorfologia de encostas

A AÇÃO ANTROPOGEOMORFOLÓGICA COMO AGENTE MODIFICADOR DAS ENCOSTAS DO VALE DO REGINALDO: UM ESTUDO DE CASO NA COMUNIDADE GROTA DO CIGANO, BAIRRO DO JACINTINHO, MACEIÓ - ALAGOAS

AUTORES
Ulisses dos Santos, J.R. (UFAL) ; Francisco dos Santos, E. (UFAL) ; Oliveira dos Santos, E. (UFAL) ; de Oliveira Santos, E. (UFAL) ; Gomes do Nascimento, S.P. (UFAL) ; Alves de Melo, N. (UFAL)

RESUMO
No trabalho em questão, realizou-se um estudo de caso na comunidade Grota do Cigano, inserida no vale do Rio Reginaldo, Bairro do Jacintinho, Maceió-AL, sobre os processos de ocupação irregular nas encostas suscetíveis a ocorrência de riscos geomorfológicos. Como metodologia na produção desse trabalho, foi feito um levantamento de campo e bibliográfico da estrutura física nesta localidade. E como objetivo final, houve uma tentativa de sensibilizar a população sobre a problemática de ocupar as encostas íngremes.

PALAVRAS CHAVES
Antropogeomorfologia; Modelagem; Encosta

ABSTRACT
At work in question, we performed a case study of the Cigano community Grota, entered the valley of the Rio Reginald, District of Jacintinho, Maceió-AL, on the processes of irregular settlements on the slopes susceptible to occurrence of geomorphological hazards. The methodology used in the production of this work, was made a field survey and bibliography of the physical structure in this location. And as a final goal, an attempt was made to raise awareness about the problem of occupying the steep slopes.

KEYWORDS
Anthropogeomorphology; Modeling; Slope

INTRODUÇÃO
O presente estudo de caso tem como objetivo trazer um levantamento realizado na comunidade grota do Cigano, inserida no vale do Rio Reginaldo, localizada no bairro do Jacintinho, Maceió-AL, sobre as ações antropogeomorfológicas no processo de ocupação desordenada nas encostas do vale, bem como inferir sobre a formação geológica, pedológica e modificação das feições geomorfológicas vigentes no contexto da comunidade em questão. Inserida num fundo de vale entalhado na estrutura geológica da Formação Barreiras, cujos sedimentos são do tipo clásticos de origem continental, idade plio-pleistocênica (Terciário-Quaternário), inconsolidados, de cor amarela- avermelhada, e constituídos por uma alternância de áreas, siltes e argilas [...]. (SANTOS; LIMA; FERREIRA NETO, 2004 p. 255). E como solos predominantes, temos os latossolos vermelho-amarelos associados à presença de caulinita, no entanto sendo a composição argilosa a de maior destaque. Apresentando como feições geomorfológicas, temos vertentes encaixadas nos tabuleiros da Formação Barreiras, formando vales em forma de “V”, cuja amplitude (vertical) varia de 40 a 60 metros. É nessas formas de relevo que se implantaram grande parte das “grotas” da cidade – expressão para designar assentamentos precários encaixados em linhas de drenagem (PLANO MUNICIPAL DE REDUÇÃO DE RISCO - PRODUTO 2, 2007 p.20). Portanto, a localidade teve seu processo de ocupação iniciado por pessoas de baixa renda, que na ocasião não tiveram condições financeiras para se instalar em terrenos de topografia plana, porém nos últimos anos houve uma inversão desse processo, pois grandes empreendimentos imobiliários se instalaram no topo das encostas do vale, por ser um ambiente com visão estratégica e panorâmica para o mar. No entanto, é preciso se pensar em políticas públicas que atue de forma planejada, visando dar infraestrutura básica à comunidade, além de uma maior cobrança dos nossos governantes por medidas preventivas e eficazes

MATERIAL E MÉTODOS
Como ferramenta metodológica concernente à produção desse trabalho, dividimos as tarefas da seguinte forma: 1) Realizou-se um levantamento bibliográfico referente as características físicas, sociais e ambientais da área estudada; 2) Foram feitas visitas de campo na comunidade grota do Cigano, pois só com a aquisição de informações teóricas não é possível desenvolver um trabalho conciso, sendo através do contato com os residentes que percebemos a real situação em que os mesmos se encontram; 3) Por fim, entrevistou-se algumas pessoas da comunidade com a finalidade de adquirir informações acerca de como se deu o processo de ocupação da região e dos eventos de movimento de massa que ocorreram na localidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como resultados das nossas discussões no concernente à pesquisa, chegou-se à conclusão de que o processo de ocupação de todo o complexo vale do Reginaldo, em especial a comunidade supracitada, se deu por conta da falta de recursos financeiros por parte de pessoas (grande percentagem vindas do interior do Estado, resquícios do êxodo rural) que começaram a construir suas casas em áreas de topografia irregular suscetíveis a riscos extremos, que são as encostas desvalorizadas pelo mercado imobiliário. Esse processo causou, ao longo do tempo, transformações significativas na geometria das vertentes, (Fig. 01) principalmente no meio ambiente urbano, cabendo aqui inferir sobre um novo campo de estudo que é da antropogeomorfologia urbana, sendo o estudo do ambiente que resulta da presença e da intervenção antrópica no meio natural (SANTOS FILHO, 2011, apud RODRIGUES, 2005 p.230). Caracterizando-se ainda na perspectiva do mesmo autor, [...] aproxima o fenômeno de construção da cidade aos estudos da geomorfologia clássica e inaugura um campo de investigação sobre a interface o ambiente construído e o natural em uma antropogeomorfologia urbana (SANTOS FILHO, 2011 p.231). No entanto, nos últimos anos houve uma inversão no processo de ocupação da área, não necessariamente no fundo do vale, mas sim no topo das encostas, ocasionando a construção de grandes empreendimentos por possibilitar uma vista exuberante para o oceano. Esse fator vem atraindo cada vez mais a especulação imobiliária para esse ambiente, e trazendo alta suscetibilidade de riscos de deslizamentos. Para exemplificar essas edificações temos a construção dos Edifícios Alto das Alamedas, (Fig. 02) que foi construído de forma irregular num contexto geomorfológico propício a ocorrência de eventuais movimentos de massa. Além da dicotomia que é a implantação de edificações desse porte ao lado de casebres rudimentares. Fatos como esse são decorrentes da falta de políticas públicas voltadas para o planejamento urbano, que não elabora um plano diretor priorizando a preservação das encostas urbanas e proibindo a instalação de novas residências, bem como, remanejando ou dando infraestrutura básica para a população que habitam esses espaços de vulnerabilidade e fragilidade ambiental.

Fig. 01

Vista do processo de ocupação irregular nas encostas da comunidade Grata do Cigano, Bairro do Jacintinho, Maceió-AL

Fig. 02

Paisagem contrastante do processo de ocupação das encostas no Bairro do Jacintinho, Maceió -AL

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ação antrópica tem sido na atualidade o principal agente na modelagem das feições geomorfológicas existentes na superfície terrestre; ação esta que vem causando modificações no formato das encostas, além dos problemas ambientais como os movimentos de massa, por se tratar de estruturas físicas com forte dinamismo. É preciso no estudo dos processos antropogeomorfológicos, como no caso da área em questão, levar os trabalhos produzidos na academia aos órgãos públicos responsáveis no intuito de elaborar medidas mitigadoras, bem como políticas que atenda as carências da população residente na localidade. Além de ações voltadas para a melhoria na infraestrutura de saneamento básico, canalizando e tratando a rede de esgoto, não permitindo que a mesma se misture com as águas pluviais e, principalmente, proibir de forma mais severa a instalação de empreendimentos nesse ambiente frágil que deveria ser preservado

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
FERNANDES, Nelson Ferreira; AMARAL, Cláudio Palmeiro do. Movimentos de Massa: uma abordagem Geológico-geomorfológico. In: GUERRA, Antonio José Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista da. (Organizadores). Geomorfologia e Meio Ambiente – 6ª ed. – Rio de Janeiro Bertrand Brasil, 2006. 372p.
FLORENZANO, Tereza Gallotti (org.). Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo, Oficina de Textos, 2008.
GUERRA, Antônio José Teixeira. Encostas Urbanas. In: Geomorfologia Urbana/ Antônio José Teixeira Guerra (org). – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011. 280p.
GUERRA, Antônio Teixeira Guerra. Dicionário geológico-geomorfólogico. 6ª ed./revista e atualizada pelos geógrafos Ignez Amélia Leal Teixeira Guerra; e Antônio José Teixeira Guerra – Rio de Janeiro: IBGE, 1978. 448p.
LIMA, Ivan Fernandes. Maceió a cidade restinga: contribuição ao estudo geomorfológico do litoram alagoano. – Maceió: EDUFAL, 1990. 255p.
ROSS, Jurandyr Luciano Sanches . Geomorfologia Ambiental. In: Geomorfologia do Brasil/ Sandra Baptista da Cunha, Antônio José Teixeira Guerra. Org. – 7ª ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
Plano Municipal de Redução de Riscos – Produto 2. Relatório de Mapeamento de Risco. Maceió, Julho de 2007.
Plano Municipal de Redução de Riscos- Produto 5, Vol 1. Versão Final Texto Básico. Maceió , Setembro de 2007.
SANTOS FILHO, Raphael David dos. Antropogeomorfologia Urbana. In: Geomorfologia Urbana/ Antônio José Teixeira Guerra (org). – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011. 280p.
SANTOS, Ricardo José Queiroz dos; LIMA, Rochana Campos de Andrade; FERREIRA NETO, José Vicente. A Geomorfologia do Tabuleiro como Consequencia do Neotectonismo. In: Geografia: espaço, tempo e planejamento/ Lindemberg Medeiros de Araújo: organizador. – Maceió: EDUFAL, 2004 320p.: il.