Anais: Geomorfologia de encostas
A SUSCETIBILIDADE DE RISCOS GEOMORFOLÓGICOS EM ENCOSTAS URBANAS: UM ESTUDO DE CASO NO BAIRRO DE JACARECICA, MACEIÓ – AL
AUTORES
Ulisses dos Santos, J.R. (UFAL) ; Gomes do Nascimento, S.P. (UFAL) ; de Oliveira Santos, E. (UFAL) ; Oliveira dos Santos, E. (UFAL) ; Alves de Melo, N. (UFAL)
RESUMO
O presente trabalho traz uma abordagem do processo de ocupação de uma encosta no
bairro de Jacarecica, Maceió – AL, fazendo inferência sobre a ação antrópica na
modelagem dessa unidade de relevo. Como metodologia, realizamos levantamento
bibliográfico e de campo das características físicas da área estudada. E como meta
final, tentamos sensibilizar a comunidade da Vila Emater sobre a ocorrência de
movimentos de massa, que tem levado a perda de bens materiais e vidas humanas,
devido à alta suscetibilidade de riscos.
PALAVRAS CHAVES
Suscetibilidade; Risco; Urbano
ABSTRACT
This paper presents an approach to the process of occupation of a slope in the
neighborhood of Jacarecica, Maceió - AL, making inferences about human action in
the modeling of this unit of relief. As a methodology, we conducted literature
review and field of the physical characteristics of the studied area. And as a
final goal, we try to sensitize the community of Vila Emater on the occurrence of
mass movements, which has led to loss of material goods and human lives due to the
high susceptibility of risks.
KEYWORDS
Susceptibility; Risk; Urban
INTRODUÇÃO
O trabalho em questão tem como principal objetivo trazer um estudo do processo
de ocupação desordenada das encostas urbanas localizadas no bairro de Jacarecica
na cidade de Maceió – AL, especificamente sobre a encosta da comunidade Vila
Emater II. Estando essas inseridas no contexto litológico sedimentar da Formação
Barreiras, que apresenta uma grande suscetibilidade de riscos geomorfológicos
devido à elevada declividade das encostas, bem como da forma em que se
caracteriza o perfil e geometria do plano de ruptura (tipo convexo-retilíneo-
côncavo), que desenvolve deslizamentos do tipo translacionais característicos de
ambientes com essas especificidades físicas.
No nosso estudo de caso notamos que essa comunidade do bairro de Jacarecica está
inserida numa encosta considerada APP (Área de Preservação Permanente), com
declividade superior a 45º, que equivale a 100% na linha de maior declive. No
entanto, esse ambiente foi, e ainda está sendo, ocupado não só por pessoas de
baixo poder aquisitivo (principalmente os catadores do antigo lixão que foi
desativado), mas também por pessoas de elevado poder aquisitivo que escolheram
habitar numa área de fragilidade ambiental por se tratar de um ambiente com
visão panorâmica e privilegiada para o mar.
Portanto, é de competência dos gestores públicos elaborar medidas mitigadoras
com a finalidade de conter a ocupação desordenada em encostas urbanas íngremes,
viabilizando políticas de planejamento e infraestrutura habitacional que evite a
continuidade desse processo que degrada não só os solos e a vegetação contida
nessas vertentes, mas também causa desastres ambientais ocasionando tanto perdas
de bens materiais como de vidas humanos
MATERIAL E MÉTODOS
Para a realização dessa pesquisa seguimos os procedimentos metodológicos de MELO
(2007), no qual realizamos levantamento bibliográfico e cartográfico referente
ao quadro litológico, geomorfológico, pedológico, habitacional, de formações
vegetais e dos movimentos de massa ocorridos no bairro de Jacarecica em Maceió -
AL, bem como visitas de campo no âmbito de verificar o ambiente físico e
realizar entrevistas, debates, palestras e oficinas com os integrantes das
comunidades localizadas nas encostas urbanas. Além da produção de um material
iconográfico das principais áreas suscetíveis a deslizamentos e riscos
geomorfológicos envolvidos. Para elaboração dos mapas temáticos organizamos um
banco de dados geográficos digital em ambiente SIG. Utilizamos a base
cartográfica da Prefeitura de Maceió, em escala 1:2.000 e depois fizemos os
cruzamentos dos temas (geologia, geomorfologia, declividade, vegetação e solos)
para simular o ambiente das encostas, depois fizemos a checagem das áreas com
maior suscetibilidade a riscos em atividade de campo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como resultados das nossas discussões, percebemos um paradoxo no processo de
expansão (ocupação) urbana nas encostas do bairro de Jacarecica, pois de um lado
temos a ocupação por pessoas de baixa renda, que por não disporem de condições
financeiras tiveram de se instalar nas encostas (principalmente nas
remanescentes do antigo lixão da cidade) e de outro, essa ocupação ocorre por
pessoas de elevado poder aquisitivo, devido à peculiaridade paisagística, que o
lugar oferece a quem reside no topo das vertentes, com uma visão panorâmica para
o mar. No entanto, essas construções estão inseridas nas encostas íngremes
(sendo ambientes com grande vulnerabilidade de riscos de deslizamentos devido ao
contexto geológico-geomorfológico do bairro), como mostra o mapa 01 abaixo,
representado as formas de relevo do Bairro de Jacarecica.
Com a finalidade de comparar os dados já organizados no SIG, fizemos uma
comparação com dados obtidos na Coordenadoria Municipal de Defesa Civil de
Alagoas (COMDEC), onde foram mapeados 570 setores de risco em 72 assentamentos
precários na cidade de Maceió gerando um total de 7 complexos de risco como pode
ser verificado na tabela 01, com destaque para o Complexo Litoral Norte onde
está localizada a área estudada. Visto que, desses setores, 172 são de Risco
Muito Alto, 180 são de Risco Alto, 162 são de Risco Médio e 56 são de Risco
Baixo.
A cidade de Maceió é composta por 8 Regiões Administrativas (RA) e o bairro de
Jacarecica está localizado na RA1, que, em 2007, tinha uma população de 4.436
habitantes, cuja a área vulnerável a riscos de movimento de massa é toda a
encosta que compreende a comunidade Vila Emater (antigo lixão), apresentando um
nível de ameaça III, ou seja, muito alta. Isso é caracterizado nos indicadores
de vulnerabilidades de riscos de deslizamentos devido à alta declividade onde
está inserida a comunidade. Comparando os setores analisados com o relatório
final da Defesa Civil da prefeitura de Maceió houve uma adequação, pois a
diferença dos valores foi menor que 5%. Na nossa avaliação 441 edificações
encontram-se em setores de risco, no entanto nenhuma edificação está ameaçada,
com uma estimativa de 25 edificações a serem removidas numa área de 5,5 hectare
e com uma população de 1.764 (esse número de habitantes pode ter aumentado desde
a realização do mapeamento, já que a ocupação/invasão urbana na Vila Emater é
constante). Sendo assim, o bairro Jacarecica possui 75% de sua área constituída
por áreas de risco, que variam dos índices baixo a muito alto. Já a comunidade
Vila Emater inserida no bairro Jacarecica é toda constituída por áreas de risco,
prevalecendo as áreas com risco alto a muito alto, pois as encostas foram
ocupadas de forma irregular, com muitas invasões, e não possuem infraestrutura
adequada, onde percebe-se o lançamento de esgotos a céu aberto e construções que
não foram aprovadas pelo pessoal da Defesa Civil da prefeitura de Maceió.
Mapa das formas de relevo do bairro de Jacarecica, Maceió-AL
Mapa -01 –Representação das Formas de Relevo do
Bairro de Jacarecica, Maceió-AL.
Tabela dos setores de risco e das localidades
Tabela 01- Número de Setores de Risco e
Localidades, por Complexo de Risco. Fonte: Plano
Municipal de Redução de Riscos – Produto 2.
Relatório de Mapeamento de Risco. Maceió, Julho de
2007.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de ocupação desordenada nas encostas urbanas no bairro de Jacarecica na
cidade de Maceió tem se apresentado de forma dicotômica, visto que, quase a
totalidades das moradias desse tipo de ambiente são constituídas por pessoas
carentes, porém o que pudemos verificar ao lado dos barracos de lona são
residências de pessoas de grande padrão aquisitivo, localizadas no topo das
encostas, notável pela qualidade e porte dos empreendimentos. E esse fato sendo
legitimado por se tratar de uma área privilegiada de frente à orla litorânea.
Entretanto, é necessário que se adote ações de melhoria na qualidade de vida das
pessoas carentes que residem nas encostas urbanas, com políticas públicas que
viabilizem infraestrutura habitacional, bem como não permitir a ocupação dessas
feições geomorfológicas, por se tratar de uma área de estrutura sedimentar com
grande suscetibilidade de riscos.
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